Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola.

Autor
Antero Paes de Barros (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MT)
Nome completo: Antero Paes de Barros Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola.
Publicação
Publicação no DSF de 23/06/2004 - Página 19042
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LEONEL BRIZOLA, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), ELOGIO, INTEGRIDADE, ETICA, VIDA PUBLICA, LIDERANÇA, ATIVIDADE POLITICA, RESTABELECIMENTO, DEMOCRACIA, PAIS, EMPENHO, TRANSFORMAÇÃO, EDUCAÇÃO.

O SR. ANTERO PAES DE BARROS (PSDB - MT. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Brasil acaba de perder Leonel Brizola, um político sobre quem existem convergências e divergências, mas, acima de tudo, um político coerente. Pode-se discordar de algumas de suas idéias, mas é difícil discordar do conceito de coerência do Governador Brizola. Ele foi um dos grandes líderes para garantir a democracia em 1961, formando uma cadeia da legalidade de rádio, para impedir, três anos antes, o golpe que se consumou apenas em 1964.

Lembro-me de que, logo após a anistia, começando no jornalismo, tive uma raríssima oportunidade de, como repórter, fazer perguntas à população. Essas perguntas iam ao ar, o Governador Brizola respondia. Depois daquele entrevista, fomos a uma casa que servia sopa em Cuiabá, a fim de jantarmos, e o Governador Brizola manifestava, com convicção, aquilo que não disse no ar: “Se eu estivesse no Rio de Janeiro não teria acontecido o golpe de 1964”. Ele falava isso com convicção, do fundo da alma, porque acreditava que, reagindo a 64, não teríamos tido o golpe de 1964.

Foi prefeito, governador do Rio Grande do Sul. O meu Estado, Mato Grosso, tem a característica de ser o lugar onde o Brasil se encontra. Na campanha de 1994, estava eu no PDT e, durante três dias, andei o Estado de Mato Grosso com o Governador Leonel Brizola. Era impressionante a forma como os gaúchos que migraram para Mato Grosso o reconheciam, como o veneravam, como o admiravam. Governador do Rio Grande Sul, Brizola ensinava, desde aquela época, a obra que continua faltando aos governos brasileiros. Brizola é o responsável por uma frase extraordinária, que deveria ser a frase do Brasil e que fez com que fosse a frase do Rio Grande do Sul. Brizola cunhou: nenhum gaúcho analfabeto. Brizola fez seis mil escolas. Brizola foi um político que se dedicou à educação e era por isso acusado de populista. Os seus Cieps, que ele fez com tanta veneração, com tanta dedicação, eram a demonstração de que a escola integral, a escola boa, a escola democrática, a escola de qualidade era para ser oferecida aos filhos dos operários brasileiros. Brizola é o político que criou o Sambódromo. É o político que mostrou que não haverá mudanças significativas no Brasil se não investirmos na cultura e na cultura popular. Quantos sambódromos não aconteceram para reforçar esse importante traço cultural do povo brasileiro depois de Leonel Brizola no Rio de Janeiro?

Três situações definem Brizola. Primeiro, a sua coragem. Não havia luta perdida. Ele sabia que, às vezes, não ia ganhar, mas sabia que, às vezes, ia acumular conceitos para continuar defendendo-os. Não tenho a menor dúvida de que Brizola morreu acreditando que o grande mal deste País são as perdas internacionais. Brizola teve coragem para enfrentar todas as lutas. Brizola é alguém que, morto, valoriza a política, a coerência. Nos cargos que ocupou no Executivo, nunca fez diferente daquilo que ele havia pregado em praça pública. Para ele, a pregação em praça pública era um contrato social que não poderia ser revogado, pois era assinado com o povo brasileiro.

Por último, Brizola provou que é possível fazer política com coragem, que é possível fazer política com coerência, que é possível fazer política com ética e com honestidade. Quando, na quinta-feira, na sua cidade do Rio Grande do Sul estiver sendo enterrado Leonel de Moura Brizola, os que falam tão mal da política poderão dizer: “Está descendo ali, para o seu encontro definitivo, um homem honrado, um homem honesto, um homem que fez política com mãos limpas”.

Essa é a nossa homenagem ao Governador Leonel Brizola.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/06/2004 - Página 19042