Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola.

Autor
Sergio Guerra (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PE)
Nome completo: Severino Sérgio Estelita Guerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola.
Publicação
Publicação no DSF de 23/06/2004 - Página 19049
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LEONEL BRIZOLA, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), ELOGIO, VIDA PUBLICA.

O SR. SÉRGIO GUERRA (PSDB - PE. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, muitos Parlamentares falaram hoje sobre o Governador Leonel Brizola. Sinceramente, penso que não há muito o que acrescentar a tudo que já foi dito, mas, como brasileiro, homem público e pessoa que teve o privilégio de conhecer o Governador Brizola, senti-me, de certa forma, compelido a dizer algumas palavras neste dia no Senado da República.

O Governador marcou a vida brasileira pela sua palavra e pela sua ação. Ele faz parte de certo grupo de políticos brasileiros que se afirmaram pela capacidade de explicitar os seus pontos de vista e de defendê-los.

Pessoalmente, nunca fui simpático a políticos que tenham se afirmado mais pela omissão, pela cautela, do que pela decisiva capacidade de combate. Não é uma lembrança udenista - sou de uma família de antigos udenistas -, mas é uma convicção íntima que desenvolvi na vida pública. Creio que aqueles que combatem, que afirmam o seu ponto de vista, em um País como o Brasil, que não cultivam a astúcia pela astúcia, a prudência pela prudência, que têm as suas próprias idéias e as defende de forma concreta, são homens que podem ajudar o Brasil a melhorar.

Não é que os outros não tenham as suas virtudes, que eu respeito, mas a minha admiração será sempre por homens como Leonel Brizola, que nunca se calaram, sempre expressaram os seus pontos de vista, sempre defenderam as suas opiniões. Substantivamente, era alguém que tinha compromisso popular. A Brizola nunca interessou as elites, sempre interessou a maioria do povo brasileiro. Verdadeiramente, tinha compromisso com elas, compromisso que honrou a vida inteira e que muitos daqueles que fizeram por toda a vida o discurso popular não honraram com trinta minutos de poder.

Tinha também compromisso nacionalista, muitas vezes equivocado, exacerbado, mas substantivo. Um País como o Brasil não será o que precisa ser se não tiver, na sua defesa, homens que acreditem num determinado sonho, numa determinada utopia. O Governador Leonel Brizola foi, a vida toda, alguém que fez isso. Quando muitos se omitiam, ele se afirmava. Denunciado, às vezes, como anacrônico ou dinossauro, de fato, sempre foi um brasileiro dos melhores. Equivocado ou não, defendia o seu País.

Eu diria que o Governador Brizola foi um homem notável e não se reproduzirá no Brasil, no curto ou médio prazos, lideranças como a dele, criadas no combate, no desafio, com um passado concreto de compromissos históricos.

Vindo do Rio Grande do Sul, homem ligado a terra, ao solo, à plataforma de um País como o Brasil, repleto de convicções e sonhos, ele foi a vida inteira um exemplo para tantos quantos no Brasil se omitem e defendem seus interesses pessoais, não têm compromisso político de envergadura, compromisso verdadeiramente com o seu País e com a questão pública. Faz uma imensa falta ao Brasil. Nunca foi atraído pelos modismos. Se era democrático ou não, não sei com certeza, mas tenho a convicção de que era a favor do povo. Na gestão pública e política teve sempre um pouco a marca do autoritarismo, que eu próprio conheci, mas isso jamais deformou o seu padrão popular, brasileiro e progressista, do ponto de vista da maioria do povo brasileiro.

Quero dizer, em meu nome e como Líder da Minoria, que o Brasil, seguramente, é um País muito mais pobre hoje do que era ontem, que não há ninguém nomeado para substituir Brizola, até por que seria impossível substituir uma vida daquelas, vida feita na luta, no combate, na afirmação, na dificuldade, de um homem que jamais desejou ser rico, que nunca sonhou com o poder no sentido pessoal, mas sempre com a capacidade de fazer do seu um grande País.

Homem de utopias, de sonhos e de verdades, de equívocos, mas de grandes acertos. Como brasileiro, sinto profundamente a morte do Governador Brizola, que fará falta ao Brasil por muitos e muitos anos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/06/2004 - Página 19049