Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola.

Autor
José Maranhão (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: José Targino Maranhão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola.
Publicação
Publicação no DSF de 23/06/2004 - Página 19054
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LEONEL BRIZOLA, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), ELOGIO, BRAVURA, DEFESA, SOBERANIA NACIONAL.

O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, sendo praticamente um dos últimos Senadores a me pronunciar nesta sessão de homenagem ao grande líder Leonel Brizola, devo primar pela economia de tempo, já que todos os atributos de Leonel Brizola já foram ressaltados pelos oradores que me antecederam na tribuna.

Leonel Brizola foi, sem dúvida, o último grande líder civil nacional e aquele que, não somente após deflagrado o golpe de 64, mas muito antes disso, já alertava a Nação para o golpe militar que se esboçava como um modelo encomendado pelo Departamento de Estado americano para toda a América do Sul, para toda a América Latina.

E isso ficou provado nos registros históricos nacionais e internacionais, inclusive nos arquivos do Departamento de Estado americano, que, após cinco anos do fato, foram liberados por imperativo constitucional dos Estados Unidos da América do Norte.

Na verdade, a partir daquele momento infeliz da história política brasileira, o País foi mergulhado em uma noite de 21 anos de retrocesso político, de desrespeito aos direitos humanos, de cassação não somente de mandatos eletivos, mas de inteligências, pois houve uma migração em massa de professores universitários, de intelectuais e de pensadores brasileiros, que se exilaram, espontânea ou compulsoriamente, em outros países democráticos. E Leonel Brizola foi o maior expoente da política nacional a enfrentar a situação.

Gostaria de destacar sua coerência, seu compromisso com a democracia e, sobretudo, com a soberania nacional. Tive a honra de ser companheiro de partido de Leonel Brizola. Àquela época, seu partido era o PTB - a que pertenci também, quando o PTB era uma proposta social democrática, razão pela qual atraía o interesse e a adesão da juventude brasileira em todos os seus segmentos.

Acompanhei de perto a sua luta e dela participei, motivo pelo qual também fui cassado em 1969, quer dizer, cinco anos depois da cassação e exílio de Leonel Brizola.

Conheci de perto o homem público, o cidadão dotado de uma coragem extraordinária - de coragem cívica também. E, como muitos registros históricos mostram, Leonel Brizola costumava dizer que, se o Presidente João Goulart - outro grande líder da resistência democrática deste País - o tivesse ouvido, o golpe não teria sido consumado. E, hoje, até acredito que o golpe não teria acontecido com tanta facilidade, que teria havido confrontos mesmo, se o Presidente João Goulart, por sua natureza pacífica, extremamente humana, não tivesse renunciado a esse esforço de resistência em nome da paz.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. JOSÉ MARANHÃO (PMDB - PB) - Sr. Presidente, agradeço a advertência e já percebo que devo encerrar.

Pois bem; não fosse a magnanimidade, o espírito pacífico do Presidente João Goulart, talvez o curso da história tivesse sido outro inteiramente diferente, porque Leonel Brizola era um homem de coragem e que tinha na sua vida, nos seus atos, nos vários cargos que exerceu, a marca do nacionalismo; talvez a mais forte qualidade de Leonel Brizola: nacionalista por convicção, defensor da soberania nacional, com aquela coragem que lhe era caracterizada.

Foi este homem, este líder que a política nacional perdeu. Mas o seu exemplo, que está registrado na História atual do nosso País, certamente, haverá de inspirar outros brasileiros numa luta que o Brasil ainda tem que enfrentar. Talvez não seja agora o momento da grande afirmação nacional do povo brasileiro, mas esse momento ainda chegará, porque ele é ansiado por todos aqueles que realmente querem ver um Brasil realmente livre, um Brasil realmente independente, um Brasil que possa determinar as suas políticas e fazer a construção da grande Nação que este País terá que ser no futuro.

Era só isso, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/06/2004 - Página 19054