Pronunciamento de Jorge Bornhausen em 22/06/2004
Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola.
- Autor
- Jorge Bornhausen (PFL - Partido da Frente Liberal/SC)
- Nome completo: Jorge Konder Bornhausen
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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HOMENAGEM.:
- Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola.
- Publicação
- Publicação no DSF de 23/06/2004 - Página 19055
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
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- HOMENAGEM POSTUMA, LEONEL BRIZOLA, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), ELOGIO, VIDA PUBLICA.
O SR. JORGE BORNHAUSEN (PFL - SC. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, acabo de chegar do Rio de Janeiro, onde, em meu nome pessoal e em nome de toda a Executiva Nacional do Partido da Frente Liberal, fui levar o abraço, a solidariedade à família do Governador Leonel Brizola.
Fizemos política em campos opostos. Ele, mais velho, com mais vitórias, ingressou no PTB; e eu comecei a minha vida pública na UDN. Nunca estivemos perto. Nossas posições, normalmente, eram opostas. Vim conhecer o Governador Leonel Brizola em 1992. Eu era Ministro de Estado e ele Governador do Rio de Janeiro. Tratamos de assuntos relativos ao Estado que ele Governava e aos interesses do Rio de Janeiro junto à União. Foi a primeira oportunidade que tive para conhecê-lo. Um homem afável, educado, inteligente; um grande couseur, um conhecedor em detalhes da história política brasileira. Passei a respeitá-lo e até mesmo a admirá-lo. Voltamos a ter novos contatos. Lembro-me ainda de que em 1994 fui conversar com ele sobre a sucessão presidencial. Uma conversa longa no palácio que abriga o governo do Rio de Janeiro. Cinco horas de conversa. No final ele me dizia: eu não fiz meu sucessor e não deixo companheiros na estrada; por isso, vou para o sacrifício e vou ser candidato pelo PDT à Presidência da República.
Novamente nos encontramos com mais freqüência na campanha eleitoral de 2002 - em momentos agradáveis, em momentos difíceis. A sua palavra, ao contrário da sua vida política de coragem e destemor, era sempre de equilíbrio, orientando o candidato a Presidente da República que apoiávamos.
No segundo turno, Brizola tomou um caminho diferente do meu. Depois da eleição e já no início da atual administração, voltamos a nos encontrar. Era nítido, era claro o seu dissabor em relação ao que estava ocorrendo no atual Governo. Era um crítico, mas sempre um crítico que ainda tinha esperanças de uma melhora no gerenciamento da administração que hoje impera no Brasil. Aos poucos, nas conversas seguidas, essa esperança foi desaparecendo, foi se esmaecendo e, em longos telefonemas que ele costumava ter, em encontros e conversas em que convivíamos de forma muito amena e fraterna, ele revelava o seu desencanto profundo com o que estava ocorrendo no Brasil.
Quando fomos fazer o Fórum das Oposições, eu o procurei no Uruguai e ele me disse: “Não posso ir. Vai o Líder do Partido, Senador Jefferson Péres. Mas, cuidado! O corte, o desbaste da árvore tem que ser pequeno, porque ela não pode morrer”. Isso no sentido de que, tendo vivido a História, preocupava-se com a democracia e com a maneira que a Oposição deveria reagir às ações do Governo.
Marcamos um encontro para segunda-feira da semana passada. Do Uruguai ele me telefonou dizendo que estava gripado, mas que eu enviasse um fax sobre os assuntos que estávamos tratando em relação às eleições municipais. Assim o fiz. E, na quarta-feira, recebi um novo telefonema dizendo que já não poderia retornar para o encontro, retardado para quinta-feira. Ele chega ao Brasil, sua saúde piora, e vou encontrá-lo, já falecido, no velório que hoje presenciei.
Quero, com esse testemunho a um homem que foi um combatente, a um homem que ainda me mandou, por meio de um amigo comum que o visitou ontem pela manhã, Gastão Von Mühlen, um abraço e uma recomendação de que iríamos conseguir ajustar os dois partidos onde havíamos programado antecipadamente, a um homem que sempre teve força para seguir o seu caminho e que, certo ou errado, tinha elevado espírito público.
A minha homenagem ao engenheiro, ao Governador Leonel de Moura Brizola.