Discurso durante a 87ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola.

Autor
Paulo Octávio (PFL - Partido da Frente Liberal/DF)
Nome completo: Paulo Octávio Alves Pereira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento do ex-governador Leonel de Moura Brizola.
Publicação
Publicação no DSF de 23/06/2004 - Página 19058
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LEONEL BRIZOLA, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), ELOGIO, VIDA PUBLICA.

O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF. Para encaminhar. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente José Sarney, Srªs e Srs. Senadores, desembarquei hoje de uma viagem de cinco dias à Holanda e não poderia imaginar que, ao chegar ao Brasil, receberia essa triste notícia.

Por sinal, ao desembarcar hoje no aeroporto de São Paulo, fiquei perplexo porque mais de seiscentos estrangeiros aguardavam, às seis horas da manhã, numa fila interminável, para serem atendidos por apenas dois agentes alfandegários da Polícia Federal. É o que não queremos para o País. Imagino a irritação daqueles estrangeiros em uma fila humilhante, aguardando serem atendidos por apenas dois policiais! O Senador Romeu Tuma, que conhece o assunto, sabe como isso é triste, Senador Mão Santa, para o turismo que queremos. Imaginem um turista, depois de uma viagem longa de 11 ou 12 horas de vôo, chegando a São Paulo e tendo que enfrentar uma fila de uma ou duas horas para mostrar o passaporte. Foi a isso que assisti, hoje, em São Paulo.

Desembarquei, e, tão logo fui à sala de espera para o meu vôo para Brasília, começava, então, o primeiro jornal da Globo, quando, para espanto de todos, foi dada a notícia da morte de Leonel Brizola.

Comigo havia brasileiros de vários cantos do País que desembarcavam de vôos vindos de todos os lugares do mundo, àquela hora da manhã, e que pegariam o vôo para Brasília e Manaus. E pude observar como a notícia pegou de surpresa todos aqueles brasileiros! Alguns eram jovens que não conheceram Leonel Brizola, não tiveram ligação com a história política desse homem, outros eram pessoas de maior idade, mas todos os brasileiros, de todas as camadas sociais, de todas as regiões brasileiras, estavam ali assistindo à televisão com pesar, com tristeza, porque todos tinham o sentimento de que o Brasil perdia um grande líder político! E assisti a depoimentos de vários Senadores, de Governadores, sobre a trajetória política de Leonel Brizola.

E agora, aqui, no Senado da República, que interrompe as suas deliberações para prestar esta justa homenagem ao grande estadista, quero, em meu nome e em nome do Partido da Frente Liberal, no Distrito Federal, expressar nossas homenagens, nossa solidariedade e nosso sentimento de consternação a todos os seus familiares pelo seu falecimento ocorrido na noite de ontem, no Rio de Janeiro.

Testemunhei, no dia de hoje, inúmeros depoimentos de parlamentares das mais diferentes ideologias que, uníssonos, reverenciaram a sua vida pública, o seu destemor nacionalista e, principalmente, a sua coerência política. Como registrado nos jornais de hoje, ao Governador Brizola bastava um microfone para derrotar seus adversários. Sua verve política se transformou em uma marca enaltecida por seguidores de norte a sul do País.

Brizola era um líder nato. Suas tiradas de efeito, suas posições firmes e sua transcendência política romperam as barreiras do regionalismo e lhe permitiram liderar ações políticas em Estados como o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro, até se transformar em um ícone da política nacional. Seu nacionalismo incomodava, mas enriquecia o debate.

Não há dúvida de que o País perde com sua ausência. Nascido na pequena cidade de Carazinho, no interior do Rio Grande do Sul, formou-se engenheiro em 1949. Eleito Deputado Estadual aos 25 anos, denominava-se porta-voz das camadas mais pobres da população. Elegeu-se Prefeito de Porto Alegre, em 1955; e Governador gaúcho, em 1958, de onde liderou a Cadeia da Legalidade, garantindo a posse do Presidente João Goulart, após a renúncia de Jânio Quadros.

Depois de tentar resistir ao golpe de 64, exilou-se no Uruguai, nos Estados Unidos e em Portugal, de onde continuava acompanhando a política nacional. Ao retornar do exílio, elegeu-se por duas vezes Governador do Rio de Janeiro, participou ativamente da campanha das diretas e do plebiscito pela continuidade do presidencialismo.

Embora não tenha alcançado o seu grande sonho de governar o País, deixou marcar indeléveis de seu amor pelo Brasil e pelo nosso povo. Ao lado do saudoso Senador Darci Ribeiro implantou os Ciep’s, em uma verdadeira revolução do setor educacional, a partir do seu Governo no Rio de Janeiro, mesma prioridade de sua gestão à frente do Governo do Rio Grande do Sul.

Seus exemplos, sua trajetória como homem público e sua paixão pelo Brasil fazem por merecer nossa reverência, e, quem sabe, guiados pelos seus ideais, possamos transformar o Brasil em um País mais justo econômica e socialmente, como era o sonho de Leonel Brizola.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/06/2004 - Página 19058