Discurso durante a 88ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à criação de Casa da Amazônia. (como Líder)

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PPS - CIDADANIA/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ENSINO SUPERIOR.:
  • Críticas à criação de Casa da Amazônia. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 24/06/2004 - Página 19258
Assunto
Outros > ENSINO SUPERIOR.
Indexação
  • PROTESTO, INICIATIVA, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB), APOIO, SENADO, UTILIZAÇÃO, DENOMINAÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, CRIAÇÃO, ENTIDADE, AUSENCIA, GESTÃO, BENEFICIO, UNIVERSIDADE, REGIÃO NORTE.
  • DEFESA, AUXILIO, DESENVOLVIMENTO, UNIVERSIDADE, REGIÃO AMAZONICA, SUGESTÃO, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB), REPASSE, REITOR, REGIÃO NORTE, COMANDO, ENTIDADE.

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PPS - RR. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs. Senadoras e Srs. Senadores, o nome Amazônia tem um charme todo especial. Quando se fala em Amazônia, passa no imaginário coletivo da Nação e até do mundo uma série de imagens, desde as matas, os animais, mas muito poucos se preocupam com os 20 milhões de habitantes que lá estão.

Ontem, fiquei muito surpreso, Sr. Presidente, com o lançamento, aqui, com o apoio do Senado, da Casa da Amazônia, capitaneada pela Universidade de Brasília. Fiquei surpreso e curioso. Liguei, então, para alguns reitores da Amazônia, e, dos dois com que consegui falar - o reitor da Universidade do Acre e o reitor da Universidade do Pará, a mais antiga universidade da Amazônia -, ouvi que eles não foram consultados. Nenhum dos dois concordou com essa história.

O que a UnB está fazendo? Charme com o nome da Amazônia. Um terreno será doado pelo Governo do Distrito Federal para que se construa a Casa da Amazônia, obtendo-se, assim, recursos para a UnB, que já é uma universidade riquíssima, talvez a mais rica do Brasil. Quando construiu Brasília, Juscelino Kubitschek deixou para a UnB uma quantidade enorme de terras na cidade. Só os terrenos e imóveis que a UnB possui já seriam suficientes para que aquela universidade ficasse tranqüila o resto da vida.

Não estou condenando a UnB por ter todos esses recursos. Eu gostaria que todas as universidades federais, as universidades públicas estaduais e as municipais tivessem o mesmo patrimônio. Não concordo é com essa espécie de biopirataria, de pirataria com o nome da Amazônia, como a feita pela UnB.

Quero lançar, aqui, como amazônida, como um Senador representante do Estado da Amazônia, nascido na Amazônia, este meu protesto. Não é possível que o Senado tenha chancelado essa história. E é por isso que estou aqui protestando. Espero que possamos corrigir essa situação, para que a Casa da Amazônia seja efetivamente comandada pelas universidades da Amazônia. E, se algum lucro advier dessa iniciativa, este deve ser destinado às universidades da Amazônia e não à UnB.

A parceria com a UnB é muito boa, excelente. Quem dera a UnB tivesse a preocupação, por exemplo, de mandar professores para as nossas universidades da Amazônia, que precisam de professores com doutorado, com mestrado, com pós-doutorado! Quem dera a UnB se preocupasse, por exemplo, em apoiar os diversos cursos das nossas universidades da Amazônia! Espero que isso aconteça, até porque, curiosamente, o atual reitor da UnB é, segundo informações de que disponho, nascido no Acre e formado em Belém, no Pará. Ele tem, portanto, raízes amazônicas profundas. Desculpe-me o senhor reitor da UnB, mas essa iniciativa, da forma como foi feita, está me cheirando muito mal. Parece mesmo uma pirataria com o nome da Amazônia para beneficiar uma universidade que não é da Amazônia.

A partir deste dia, quero pedir a V. Exª, Sr. Presidente, que é um Senador da Amazônia, que nos ajude a ir fundo nessa história. A idéia é maravilhosa, mas não pode ser implementada para beneficiar somente a UnB. Deve haver a participação de todas as universidades da Amazônia, e o benefício deve ser dado às universidades da Amazônia. Se quer dar exemplo de defensora da Amazônia, a UnB deve começar por ajudar as universidades da Amazônia, não ficando aqui apenas com um sectarismo ideológico que defende cegamente determinado tipo de posição e aproveitando essa situação para lançar, com estardalhaço, a Casa da Amazônica, como foi feito ontem.

Repito: não está perdida a iniciativa, desde que ela seja corrigida, passando-se esse comando para as universidades da Amazônia. Devem existir convênios claros, e cada uma das universidades da Amazônia deve se beneficiar com essa iniciativa. Não se pode usar o nome da Amazônia em benefício de uma universidade que não é da Amazônia.

Lanço um desafio e um apelo ao reitor da UnB: se quer usar bem o nome da Amazônia, que ajude as universidades da Amazônia, que ajude os estudantes da Amazônia, que não fique aqui enclausurado num academicismo glorioso, como é realmente. Não estou aqui criticando a UnB, mas apenas querendo que a UnB não usurpe o nome da Amazônia e deixe as nossas universidades a ver navios.

Não compareci à solenidade ontem, porque, quando liguei para os dois reitores, fiquei sabendo que tudo estava sendo feito à revelia deles ou, pelo menos, sem a participação efetiva deles. Não posso concordar com isso.

Como amazônida, quero deixar este registro, este protesto e, ao mesmo tempo, o desafio ao reitor da UnB e aos reitores das universidades da Amazônia.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/06/2004 - Página 19258