Discurso durante a 88ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem à memória de Leonel Brizola.

Autor
Renan Calheiros (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AL)
Nome completo: José Renan Vasconcelos Calheiros
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem à memória de Leonel Brizola.
Publicação
Publicação no DSF de 24/06/2004 - Página 19369
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LEONEL BRIZOLA, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT).

O SR. RENAN CALHEIROS (PMDB - AL. Sem apanhamento taquigráfico.) -

            MORTE DE LEONEL BRIZOLA

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o engenheiro Leonel Brizola soube, como poucos, construir uma o futuro do nosso País. Ele não precisou deixar a vida para entrar na história. Já tinha garantido seu lugar por sua biografia de batalhador, de defensor da Constituição, de homem público compromissado com bandeiras como a da educação.

Brizola foi um grande estadista, um trabalhista, um legalista, uma pessoa com fortes convicções democráticas. Sem ele, a história do Brasil teria sido outra. Suas memórias vão ficar para as gerações futuras como um exemplo de dignidade, de combatividade, de moralidade.

Sua formação política era de um tempo em que prevalecia o Estado forte, a defesa das nossas instituições e das nossas empresas. Suas posições são um importante contraponto na discussão em torno da globalização, do liberalismo excessivo, selvagem, sem fronteiras ou limites. Leonel de Moura Brizola fez política até o último momento da sua vida, coerente com suas posições. Brasileiro, mais do que ninguém, pensava num País construído pelos brasileiros.

            Na economia, era de uma geração que viu a industrialização do Brasil sendo puxada por empreendimentos e viu o acerto da campanha "O petróleo é nosso", semente para a que é ainda hoje a maior empresa nacional, a Petrobras. Foram suas convicções que o levaram a encampar a a Companhia Telefônica Nacional, subsidiária de uma empresa internacional. Por isto, foi um adversário ferrenho da privatização e da abertura ao capital estrangeiro que resumia numa de suas famosas expressões: “as perdas internacionais”.

Na política, Brizola foi pioneiro ainda não superado numa questão que só agora começa a ser encarada mais seriamente: a busca de uma representação política com diversidade. Era uma referência para as esquerdas e um adversário respeitado pelos conservadores.

O PDT que Brizola fundou logo que retornou do exílio era multifacetado étnica e ideologicamente. Não era como tantos partidos formados exclusivamente por homens e brancos. No Governo do Rio de Janeiro, ele elegeu como mais importante um ponto que é de fato um dos principais desafios do Brasil - a educação de qualidade para os pobres.

Os Cieps foram uma tentativa de construir boas escolas, sólidas e com espaço para esporte e lazer, que mantenha as crianças das áreas de periferia durante todo o dia em salas de aula. Essa preocupação tinha uma razão: ele mesmo fora uma criança pobre que chegou aonde chegou por acreditar na educação. Além disso, a cultura popular sempre mereceu sua atenção. Basta lembrar o sambódromo...

A vida de Leonel Brizola sempre estará marcada pela cadeia da legalidade e sua luta contra a Ditadura Militar. Num momento decisivo da vida nacional, ele foi a voz que se levantou com mais força na luta para que a Constituição fosse respeitada e o então vice-presidente, João Goulart, tomasse posse no lugar do Presidente Jânio Quadros, que renunciara.

Por suas escolhas e posições foi punido com longo exílio. Líderes são aqueles que em momentos decisivos ficam do lado certo, das instituições, das leis e da Constituição. Leonel de Moura Brizola entra para a história deixando ao País este legado: em qualquer situação, por maior que seja a crise, o caminho é sempre o da legalidade.

            Ele foi uma das maiores lideranças políticas do Brasil durante quatro décadas - uma figura central no processo de redemocratização do País. Foi líder combativo de seu partido. Criou uma corrente política própria, o Brizolismo.

            Brizola dedicou a vida à manutenção da idéia do trabalhismo concebida por Getúlio Vargas. Uma forma de aliança entre trabalhadores, funcionários públicos e empresários nacionalistas, que nasceu no tempo da industrialização e da formação do Estado Forte nos anos 50.

Ele deixa uma marca de patriotismo, de amor - sem dúvida - ao Brasil. Foi um exemplo daquilo que nós mais precisamos: seriedade e honestidade na coisa pública. Fica uma lembrança para as novas gerações de que é preciso tratar a coisa pública como coisa séria, muito séria.

Foi um homem que viveu intensamente seu tempo. Uma das grandes figuras políticas do século 20, sem deixar de manter a mesma garra de quando era um político jovem. Que tenha, lá em cima, a paz que os grandes homens merecem. Foi uma pessoa sempre preocupada com os pobres, os menos favorecidos. Tinha suas idéias voltadas para a gente mais simples, necessitada.

Brizola tinha a vantagem de ser um eterno batalhador. Lutava e não queria saber contra quem. Era um sujeito vocacionado para o confronto e viveu grande parte da vida nas trincheiras. E o povo lhe deu a glória de ser considerado um político respeitado tanto aqui dentro como lá fora.

Com ele, se encerra uma época em que a política era feita com idealismo, com paixão e até com uma certa dose de romantismo. Ele foi um protagonista de seu tempo. Hoje nós temos muitos coadjuvantes, mas ele participou de uma geração de homens realmente excepcionais, que faziam a história.

Ao lado de Tancredo, de Ulysses, de Teotônio, de Jango, Brizola vai se juntar à galeria dos que mudaram os rumos do Brasil.

Era o que tinha a dizer. Muito obrigado!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/06/2004 - Página 19369