Discurso durante a 89ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários sobre a aprovação do novo salário-mínimo pela Câmara dos Deputados. (como Líder)

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SALARIAL. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Comentários sobre a aprovação do novo salário-mínimo pela Câmara dos Deputados. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 25/06/2004 - Página 19432
Assunto
Outros > POLITICA SALARIAL. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • FRUSTRAÇÃO, POPULAÇÃO, VOTAÇÃO, CAMARA DOS DEPUTADOS, SALARIO MINIMO, DERRUBADA, VALOR, APROVAÇÃO, SENADO, DESCUMPRIMENTO, PROMESSA, ELEIÇÃO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • CRITICA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, INEXATIDÃO, DECLARAÇÃO, PREVISÃO, ENTRADA, INVESTIMENTO, CAPITAL ESTRANGEIRO.

O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Pela Liderança do PSDB. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srs. Senadores, uma empresa britânica de nome Today Translations colheu a opinião, junto a mil tradutores profissionais, sobre quais seriam as palavras mais difíceis do mundo de serem pronunciadas. E a palavra que encabeçou a listagem é do idioma africano tshiluba, falado no sudoeste da República Democrática do Congo. A palavra é ilunga.

Ilunga significa uma pessoa que está disposta a perdoar quaisquer maus-tratos pela primeira vez, a tolerar maus-tratos pela segunda vez, mas nunca pela terceira vez.

Faço referência a ilunga, Srª Presidente, Srs. Senadores, porque cabe uma indagação ao Governo brasileiro: até quando o povo brasileiro haverá de tolerar os maus-tratos do Governo?

Ontem foi um dia de perversidade para o trabalhador. A frustração foi maior por que se tratou de tomar R$15,00 do salário mínimo conquistados pela votação no Senado Federal. O Governo vai submetendo o povo brasileiro a maus-tratos na medida em que não cumpre os seus compromissos, sepulta dogmas e postulados e esquece as promessas.

A renda caiu, no ano passado, 13%, queda brutal da renda do trabalhador brasileiro. O desemprego cresceu de forma avassaladora no País, batendo recordes sucessivos. E o Presidente da República passa ao País a impressão de que, com o seu discurso, haverá de resolver todos os problemas, promovendo as mudanças que prometeu durante a campanha eleitoral.

Ainda ontem, em Nova Iorque, o Presidente Lula mais uma vez lançou mão da retórica otimista informando que atrairá para o nosso País cerca de US$20 bilhões por ano, na contramão da realidade dos dias atuais, quando estamos verificando a maior queda dos investimentos estrangeiros no nosso País. Ontem, em Nova Iorque, o Presidente Lula anunciou US$20 bilhões por ano de investimentos no Brasil, e a imprensa destacou em manchete: “Investimento estrangeiro desaba em maio”. Duzentos e sete milhões de dólares é o pior volume de investimentos estrangeiros desde 1994, e o Presidente Lula usa a retórica do otimismo na esperança de convencer investidores.

Em 2001, o nosso País recebeu US$22 bilhões de investimentos; em 2003, apenas US$10 bilhões. Neste ano, o ingresso de investimento é de US$ 3,307 bilhões, muito longe dessa projeção do Banco Central de US$12 bilhões. O Banco Central faz uma projeção de US$12 bilhões; o Presidente Lula faz uma projeção de US$20 bilhões. Na realidade, US$3,307 bilhões indicam que a projeção do Governo é absolutamente inatingível nos parâmetros atuais.

Portanto, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é hora de o Presidente Lula colocar o pé no chão da realidade. Há pouco, daquela tribuna, ouvimos discurso otimista em relação à retomada do crescimento econômico em nosso País. Mas os indicadores econômicos e sociais não nos fornecem sintomas de que essa retomada do crescimento econômico é consistente e de que haverá de, ao final do ano, apresentar os resultados positivos que o Governo anuncia.

É claro que desejamos que o Governo, por meio de seu discurso, tenha razão quando diz que a economia está se reaquecendo, que há agora a perspectiva de geração de empregos e que vamos escapar desta fase cruel de paralisia econômica no Brasil. Não é possível que se submeta, cada vez mais, o povo brasileiro aos maus-tratos. Essa palavra ilunga, portanto, deve estar presente, no dia-a-dia, do Presidente Lula.

Os argumentos de que um reajuste do salário mínimo superior promoveria impacto no mercado, no sistema financeiro e abalaria a Bolsa, lamentavelmente, nos levam a afirmar que o Governo não tem sensibilidade humana, porque se preocupa com a Bolsa de Valores, com indicadores como o aumento ou a queda do dólar, mas não se preocupa com o drama vivido por milhares de trabalhadores no País.

O gesto de ontem da Câmara dos Deputados, curvando-se à imposição do Governo, não pode ser esquecido pelos trabalhadores brasileiros.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/06/2004 - Página 19432