Discurso durante a 89ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem a Leonel Brizola.

Autor
Augusto Botelho (PDT - Partido Democrático Trabalhista/RR)
Nome completo: Augusto Affonso Botelho Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a Leonel Brizola.
Aparteantes
Mozarildo Cavalcanti.
Publicação
Publicação no DSF de 25/06/2004 - Página 19446
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, LEONEL BRIZOLA, EX GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), EX-DEPUTADO, PRESIDENTE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), ELOGIO, VIDA PUBLICA.

O SR. AUGUSTO BOTELHO (PDT - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, hoje, venho a esta tribuna prestar uma justa homenagem! Quero manifestar meu respeito àquele que simboliza a ética, a coragem, a confiança no povo brasileiro, a luta contra os interesses do capital internacional e a corrupção. Quero declarar meu profundo pesar pelo falecimento, ocorrido dia 22, de um dos principais líderes políticos do nosso País: Leonel de Moura Brizola.

Compartilho com o Senador José Sarney o mesmo sentimento, quando diz que a morte de Leonel Brizola representa “a perda de um pedaço da história política do Brasil dos últimos 50 anos” e que “Brizola era uma personalidade que não comportava a neutralidade”. O seu desaparecimento deixou em mim o mesmo gosto amargo e a sensação de perda de alguém da família que faleceu repentinamente, como diz o Senador Pedro Simon.

O ex-Governador e Deputado Leonel Brizola, Presidente Nacional do PDT, meu Partido, foi um legítimo representante da classe política do Brasil. Com ele aprendemos a respeitar a legalidade e a Constituição Federal, com ele adquirimos o conhecimento de como enfrentar os poderosos na defesa do povo brasileiro. Como disse o Senador Cristovam Buarque, “raros políticos foram às ruas, como Brizola, combater com armas as forças golpistas dos militares”. E mais: estimou que “em 500 anos de história do Brasil, apenas Brizola carregou a luta em favor da educação infantil como a cruzada de sua vida”.

Não é para menos que antigos companheiros de Brizola nutrem forte admiração pelo seu passado, assim como o Senador Leonel Pavan, que diz “nem mesmo quando esteve exilado, Leonel Brizola foi esquecido. Sempre mostrou sua força política, como a campanha pela legalidade, pela posse do Vice-Presidente João Goulart, em 1961, depois da renúncia de Jânio Quadros, a luta contra o golpe militar de 1964 e a campanha das Diretas em 1984”.

No dia 23, estive no Rio de Janeiro com os Senadores Jefferson Péres, Pedro Simon e Heloísa Helena e o Deputado Rodolfo Pereira para minha última despedida de Leonel Brizola e observei centenas de rostos. Alguns choravam e outros manifestavam profunda tristeza pela perda do líder trabalhista. Eram rostos maltratados pelo sol, eram pessoas que tinham a pele enrugada pelo trabalho sem trégua ao longo dos anos. Enfim, eram trabalhadores que queriam prestar a sua última homenagem ao líder trabalhista. Pois é verdade que a sua participação na vida política foi marcada pela mais profunda vocação, orientada por um inquestionável compromisso com as causas populares, como disse a Senadora Fátima Cleide em seu discurso de homenagem a Leonel Brizola.

Srªs e Srs. Senadores, Sr. Senador Mozarildo Cavalcanti: sempre corajoso, leal, ético e honesto. Este é o Leonel Brizola que, segundo o Senador Roberto Saturnino, “foi o homem mais investigado do Brasil, mas jamais foi descoberto nada que pudesse tisnar a sua imagem de honradez e honestidade”. Um homem sensível, sensato e humilde foi o que demonstrou ser em diversas ocasiões, mesmo quando desferiam golpes mortais contra ele.

O Sr. Mozarildo Cavalcanti (PPS - RR) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. AUGUSTO BOTELHO (PDT - RR) - Pois não. Ouço o aparte de V. Exª, nobre Senador Mozarildo Cavalcanti.

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PPS - RR) - Nobre Senador, quero aproveitar o pronunciamento de V. Exª para também dar o meu testemunho sobre a importância de Leonel Brizola para a Historia do Brasil. Evidentemente, podemos até discordar das formas e da postura com que ele defendia as suas idéias, no entanto, ninguém pode negar o seu espírito de nacionalismo intenso, a sua preocupação com as camadas mais pobres deste País e a sua visão trabalhista da política. Portanto, eu quero pedir permissão para entrar no pronunciamento de V. Exª e trazer também esta homenagem de um Senador lá de Roraima, aproveitando a carona de um Senador do meu Estado. Um abraço!

O SR. AUGUSTO BOTELHO (PDT - RR) - Muito obrigado. V. Exª enriquece o meu pronunciamento com o seu aparte.

Os jornais estamparam o seu pranto quando perdeu a sigla do PTB para a Deputada Ivete Vargas. Ressurgiu das cinzas e fundou o Partido Democrático Trabalhista - PDT.

Segundo o Senador Antonio Carlos Magalhães, “sua honestidade foi comprovada nos três governos que fez, o que é raro neste País, onde campeia a corrupção”. Mais um gesto de Brizola capaz de mostrar a sua face humanista e fraterna foi quando os Deputados Federais do PDT foram convencidos por ele a retirarem a impugnação que impediria uma homenagem ao Deputado Luís Eduardo Magalhães que daria o seu nome a um Município no Estado da Bahia, como nos lembrou o próprio Senador Antonio Carlos Magalhães.

Sr. Presidente, além desse patrimônio político, Leonel Brizola era considerado um dos principais líderes mundiais na defesa das causas populares.

O Senador Alvaro Dias lembrou “que o líder trabalhista era uma expressão internacional do socialismo” e afirmou que dois adjetivos são fundamentais quando se fala em Brizola: corajoso e ético. “Tinha coragem de falar o que pensava, coragem de enfrentar e coragem de decidir; estabelecia o enfrentamento com altivez e demonstrou ousadia em todos os atos de sua vida”. Leonel Brizola foi, ao lado de Willy Brandt, Mário Soares, Felipe González e François Mitterrand, um dos grandes nomes da Internacional Socialista. Na América Latina, ao lado de outros líderes latino-americanos, o fato repete-se: está entre os primeiros, entre os mais lembrados pelo povo do continente.

Não é para menos que lideranças dos diversos partidos políticos desta Casa têm prestado sua homenagem a Leonel Brizola, como disse a Senadora Serys Slhessarenko, que ainda reconheceu que, em todas as fases da sua vida, o “ex-governador manteve-se como um símbolo de coerência política a pairar sobre a realidade nacional.” Para ela, “a classe política é devedora de Brizola, que estava sempre pronto a reagir nos momentos mais difíceis da vida política do País”.

O ex-governador Leonel Brizola, segundo o Senador Arthur Virgílio, “encantava e seduzia muito mais pela sua capacidade de dizer não do que pela sua dificuldade em dizer sim”. Leonel Brizola, personalidade marcante nos últimos 50 anos da política brasileira, para o Senador Antero Paes de Barros, “ele enfrentava todas as lutas e nunca fez o contrário do que pregava em praça pública”. Acrescentou ainda que “para Brizola não havia luta perdida e, mesmo quando não havia possibilidade de vitória, ele aproveitava a oportunidade para acumular experiência”. Para o Senador José Agripino, “Brizola tinha arrojo e determinação, conforme provou ao criar a Cadeia da Legalidade, no porão do Palácio Piratini, para defender a posse de João Goulart como Presidente da República. Como governador do Rio de Janeiro, ficou conhecido por suas grandes obras, como a construção da Linha Vermelha, dos Cieps (Centros Integrados de Educação) e do Sambódromo”.

Srªs Senadoras e Srs. Senadores, esta homenagem que hoje presto a Leonel Brizola foi feita por quase todos os Senadores desta Casa. Vários outros Senadores não lembrados por mim também prestaram suas homenagens e manifestaram seu pesar pelo falecimento de Leonel Brizola. Mas, para encerrar, quero lembrar três fatos importantes na vida política de Leonel Brizola. O primeiro foi o fato de ter sido sufragado nas urnas, quando candidato a deputado federal pelo Rio de Janeiro, nas eleições de 1962, com um terço dos votos válidos naquela eleição. O segundo foi sua coragem de denunciar ao Brasil e ao mundo que estavam subtraindo sua eleição ao Governo do Estado do Rio de Janeiro, em 1982. E o último foi quando, em 1989, apoiou o Presidente Lula nas eleições presidenciais, inclusive sendo candidato a Vice-Presidente em sua chapa contra o ex-Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/06/2004 - Página 19446