Discurso durante a 89ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Advertências do Presidente colombiano, Álvaro Uribe, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, sobre a destruição da Floresta Amazônica pelo narcotráfico. A queda de popularidade do Presidente Lula.

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DROGA. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.:
  • Advertências do Presidente colombiano, Álvaro Uribe, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, sobre a destruição da Floresta Amazônica pelo narcotráfico. A queda de popularidade do Presidente Lula.
Publicação
Publicação no DSF de 25/06/2004 - Página 19452
Assunto
Outros > DROGA. PRESIDENTE DA REPUBLICA, ATUAÇÃO.
Indexação
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), ENTREVISTA, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, PAIS ESTRANGEIRO, COLOMBIA, DENUNCIA, DESTRUIÇÃO, FLORESTA AMAZONICA, VINCULAÇÃO, TRAFICO INTERNACIONAL, DROGA, DEFESA, IMPORTANCIA, APOIO, BRASIL, COMBATE, TRAFICO.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AVALIAÇÃO, REDUÇÃO, POPULARIDADE, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Sem apanhamento taquigráfico.) -

     O Narcotráfico Já Destruiu Área da Floresta Amazônica 11 Vezes

     Superior à da Cidade de São Paulo. Na Colômbia.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, se o narcotráfico não puder ser contido, a bacia amazônica será destruída em duas gerações. Essa catastrófica e séria previsão foi levantada em São Paulo pelo Presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, que esteve no País para a 1a. Rodada de Negócios Brasil-Colômbia.

Na Colômbia, segundo as declarações de Uribe, já foram destruídos 1,7 milhão de hectares da selva amazônica, uma área 11 vezes maior do que a da cidade de São Paulo.

Uma das apreensões do governante colombiano, divulgam os jornais, é o aumento do plantio de coca, que exerce efeito devastador sobre a floresta amazônica.

A advertência de Uribe merece no mínimo nossa reflexão, no sentido da adoção de medidas mais enérgicas para o combate ao tráfico de drogas.

O Presidente colombiano lembra - e com ele concordamos - que o avanço do narcotráfico pode colocar em risco a selva amazônica, “que representa um recurso ecológico essencial do planeta.

Em suas observações, Uribe revela que em seu país uma boa parte da floresta já foi destruída e, para conter a devastação, é necessário - o acesso a tecnologias importantes, como a do Projeto Sivam, do Brasil.

            Segundo acrescentou, na Colômbia há grande expectativa de apoio do Brasil na guerra contra o narcotráfico. Para ele, é importante que aqui seja aprovada com urgência a chamada lei do abate de aviões utilizados no narcotráfico.

Estou anexando a este pronunciamento a matéria da Folha de S.Paulo, com a entrevista em que o Presidente colombiano, na qual faz a advertência, para que, assim, passe a constar dos Anais do Senado da República.

Era o que eu tinha a dizer.

 

********************************************************************

DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

********************************************************************

Matérias referidas:

ENTREVISTA

Em visita ao Brasil, presidente colombiano prevê renovação da ajuda americana ao país e critica mídia internacional

Coca ameaça Amazônia, afirma Uribe

FABIANO MAISONNAVE

DA REDAÇÃO

Não são apenas grupos terroristas e o sangrento conflito armado que o narcotráfico financia na Colômbia. Segundo o presidente Álvaro Uribe, o cultivo da coca também está devastando rapidamente a bacia amazônica.

"Se não frearmos o narcotráfico, a droga pode destruir a bacia amazônica em uma ou duas gerações", disse ontem Uribe a empresários em São Paulo, onde abriu, ao lado do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da 1ª Rodada de Negócios Brasil-Colômbia.

Pouco antes da cerimônia, Uribe recebeu a reportagem da Folha. Ele falou sobre a Amazônia, fez uma defesa empedernida da sua política de segurança e previu a renovação no Congresso norte-americano do Plano Colômbia, polêmico programa de ajuda financeira de combate às drogas que faz do país andino o terceiro que mais recebe recursos de Washington, atrás de Israel e do Egito.

Aos 51 anos e prestes a completar a metade de seu mandato de quatro anos, Uribe goza de uma popularidade acima dos 70%, graças principalmente à sua dura política de segurança, que tem diminuído os índices de violência e aumentado as baixas entre guerrilhas terroristas de esquerda e paramilitares terroristas de direita.

A aprovação de Uribe motivou seus aliados a propor no Congresso uma lei que lhe garanta a possibilidade de se reeleger -assunto sobre o qual o presidente se recusou a falar. A aprovação da proposta é tida como certa.

Leia a seguir trechos da entrevista de Uribe à Folha.

Folha - Há no máximo um vôo comercial diário saindo de São Paulo a Bogotá, enquanto na fronteira o tráfico ilegal continua crescendo. O que fazer para inverter isso?

Álvaro Uribe - Somos países vizinhos e irmãos. Apesar disso, as relações comerciais são muito inferiores do que deveriam ser. A balança total no ano passado, imensamente favorável ao Brasil, não superou os US$750 milhões. Ao fazer o acordo comercial entre a Comunidade Andina e o Mercosul, o que buscamos é incrementar essa relação comercial. O acordo passará a vigorar em 1º de julho, e hoje [ontem] há um encontro para começar a impulsionar as relações comerciais.

Folha - A Colômbia tem negociações avançadas para um tratado comercial bilateral com os EUA, num momento em que as negociações da Alca [Área de Livre Comércio das Américas] estão paralisadas. O sr. crê que esses acordos paralelos sejam mais efetivos?

Uribe - O acordo entre a CAN [Comunidade Andina] e o Mercosul é um grande passo para a união da América do Sul. O que vejo com preocupação é que as negociações da Alca estejam suspensas. Assim entendemos as negociações de Colômbia, Equador e Peru com os EUA: como um passo prévio que poderia acelerar o processo de negociação da Alca.

Folha - Como estão as negociações com o Brasil em relação ao acesso aos dados do Sivam [Sistema de vigilância da Amazônia]?

Uribe -Nós compartilhamos uma área amazônica muito importante. Precisamos cuidar disso. Se permitirmos que a droga avance, isso pode provocar um grande risco de destruição da selva amazônica, que é um recurso ecológico essencial do planeta. Na Colômbia, temos tido uma má experiência na Amazônia, que tem uma porção destruída pela droga. Para cuidar da selva, é fundamental ter acesso a uma tecnologia importante como a do Sivam.

Folha - A Colômbia tem pressionado o Brasil para que também tenha uma lei de abate de aviões do narcotráfico. Como estão as negociações? O sr. conversou sobre isso com o presidente Lula?

Uribe - O Brasil está examinando, temos encontrado no Brasil a maior receptividade para cooperar conosco na luta contra o narcotráfico. Por várias razões. Na Colômbia, o terrorismo, com a violência que isso traz, é financiado pelo narcotráfico. O narcotráfico é também a grande causa da destruição ecológica. Na Colômbia, foram destruídos 1,7 milhão de hectares da bacia amazônica para plantar coca [área 11 vezes maior do que a cidade de São Paulo]. Isso é de imensa gravidade.

Folha - O Plano Patriota, ofensiva militar contra as Farc [Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia] -que teve início no final do ano passado na selva amazônica, sua principal área de influência-, ocorre num momento em que o Congresso dos EUA vetou o aumento da presença militar na Colômbia e em que o Plano Colômbia, que termina no ano que vem, segue sem renovação. O país conseguirá sustentar o Plano Patriota?

Uribe - A decisão colombiana é derrotar o terrorismo, devolver a segurança aos colombianos. Nenhum país do mundo aceita que organizações terroristas maltratem sua população como as Farc têm feito na Colômbia.

Folha - E sobre a renovação do Plano Colômbia?

Uribe - Tenho confiança de que seja feito. Não creio que sejamos tão ineficazes a ponto de deixar a tarefa na metade do caminho.

Folha - Mesmo com a continuação da ajuda americana, haverá um aumento de gastos com o Plano Patriota e com a eventual desmobilização de milhares de paramilitares das AUC [Autodefesas Unidas da Colômbia]. Seu ministro da Defesa, Jorge Uribe, disse recentemente que o crescimento econômico financiará os gastos. Não é arriscado contar com esse dinheiro?

Uribe - A Colômbia tem a decisão de resolver seus problemas, e vamos resolvê-los. Vocês, da imprensa internacional, devem apoiar a Colômbia para derrotar o terrorismo, e não colocar dúvidas a toda hora sobre a vontade e a capacidade colombianas de derrotá-lo. Advirto há tempos que a imprensa internacional tenta legitimar as Farc. A ação do governo colombiano tem total determinação, vamos derrotar o terrorismo, e isso não tem discussão.

Outro assunto a que me refiro, Sr. Presidente, diz respeito à polularidade de Lula.

            A Popularidade de Lula Degringolou. E

            Não É Por Acaso. O Governo Petista Faz Por Merecer

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, parece que agora degringolou geral. A aprovação ao Governo petista do Presidente Lula está descendo precipitadamente, de alto a baixo, segue rolando e vai ser difícil deixar de cair. Uma pena, mas é a realidade.

Ontem, saiu uma nova rodada de pesquisa de opinião pública, mostrando a maior queda na popularidade de Lula desde sua posse. O que ocorre não é à-toa. Pelo contrário, Lula está colhendo a tempestade dos ventos que sua equipe insiste em espalhar.

O Ministro-Chefe da Casa Civil, José Dirceu, tenta minimizar o pronunciamento popular. É o tal do efeito avestruz. Enfia-se a cabeça no primeiro buraco disponível, fingindo ignorar a voz do povo. O povo não vaia um Presidente por acaso. O povo anda triste. Numa das perguntas da pesquisa Sensus, 65,8% desaprovaram a compra do luxuoso avião presidencial para as viagens do Presidente. Não era hora de gastar tanto dinheiro. O custo do avião de luxo daria para aumentar um pouco o novo salário mínimo, que o Governo Lula insiste em manter no patamar de R$260,00.

Para meditação do Ministro José Dirceu, sugiro a leitura da matéria hoje publicada no jornal O Estado de S.Paulo, com uma análise de uma especialista em opinião pública, Fátima Pacheco Jordão, sobre a nova rodada da pesquisa CNT-Sensus, mostrando uma deterioração "muito grande" na avaliação do Presidente Lula e de seu governo. A pesquisa, diz a técnica, evidencia que o presidente e seu Governo perderam o apoio de segmentos fiéis: a região Norte/Nordeste, os segmentos mais jovens e as faixas de baixa renda.

            Não é para menos. O povo e especialmente as classes mais pobres depositavam total confiança no Governo Lula, que, até aqui, se tem mostrado contra a melhoria de vida dessas camadas desprotegidas. O episódio do salário mínimo é apenas um dos muitos atos do Presidente em desfavor do povo.

Estou anexando essas notícias neste pronunciamento para que, assim, passem a constar dos Anais do Senado da República. É uma nova contribuição para o trabalho do historiador do amanhã.

Era o que eu tinha a dizer.

 

*************************************************************************************

DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR ARTHUR VIRGÍLIO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

********************************************************************************************

       ANEXOS

Popularidade de Lula sofre sua maior queda  
Avaliação positiva do governo já está abaixo dos 30 pontos, segundo pesquisa Sensus/CNT

CARLOS MARCHI

No pior resultado obtido pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desde a posse há 17 meses, a avaliação positiva de seu governo, divulgada ontem pela pesquisa CNT-Sensus, caiu 5,2 pontos percentuais (de 34,6% em maio para 29,4% em junho) e a negativa aumentou 4,1 pontos (de 20 para 24,1 pontos). De modo geral, os índices revelados pela Sensus, para o mês de junho, são preocupantes: todos os indicadores medidos pioraram.

"Se as eleições fossem hoje,"provavelmente o Presidente Lula não se reelegeria", comentou Clésio Andrade, o presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT).

Em outubro de 2002, lembra Clésio, 51% dos brasileiros diziam ser Lula o único candidato em quem votariam. Agora, a posição se inverteu e chegam a 47,6% os brasileiros que dizem que não votariam nele. Os 51% de eleitores fiéis se reduziram a meros 16,5%. Para chegar aos novos números, a Sensus ouviu 2000 pessoas de 24 Estados, entre os dias 15 e 17, em 24 Estados. A margem de erro da pesquisa é de 3 pontos.

O índice de aprovação do desempenho pessoal do presidente caiu 6,1 pontos percentuais (de 60,2% para 54,1%), enquanto, na outra ponta, a desaprovação desse desempenho saltou de 32,4% em maio, para 37,6% em junho - o pior resultado desse item desde a posse, em janeiro de 2003. Naquele mês, a avaliação positiva do governo atingia 56,6% e a negativa era ínfima, de apenas 2,3%.

Um preocupante percentual de 58,9% dos entrevistados acha que Lula tem feito menos do que poderia, na presidência, contra 16,4% que afirmam o contrário. Outros 20,2% entendem que ele não tem feito nem mais, nem menos do que poderia.

Um fator preocupante da pesquisa de junho está nos sinais de insatisfação dos eleitores com a vida que levam. O Índice de Satisfação com o País, que mantinha patamares equilibrados, caiu 2,5 pontos percentuais. Apesar do mau humor no julgamento do presidente da República e de seu governo, o Índice de Satisfação com a Situação Econômica Pessoal melhorou. Ele subiu de 33,25% em maio para 34,0% em junho. Mas o Índice de Satisfação com a Situação Social piorou - de 33,75% em maio para 30,5% em junho.

Apenas 5,1% dos consultados qualificam como "ótimo" o Governo Lula (eram 7,0% em maio), enquanto 24,3% o acham "bom" (27.6%) e uma grande maioria de 44,2% o julgam "regular" (44,2%). Outros 11,6% dos eleitores o consideram "ruim" (8,3%) e para 12,5% ele é péssimo. (11,7%). Já no desempenho pessoal do presidente, 54,1% a aprovam (60,2% em maio) e 37,6% a desaprovam (32,4% em maio), enquanto 8,3% não sabem ou não responderam (7,5% em maio).

Boa notícia - Na única pergunta que deu a Lula uma boa notícia, a pesquisa revela que ele está na frente em duas simulações eleitorais para o próximo mandato presidencial, a partir de 2006. Na primeira, ele vence Fernando Henrique Cardoso por 28,5% a 16,6%, contra 14,8% dados a Ciro Gomes e 14,2% a Anthony Garotinho. Em outra simulação, com Alckmin no lugar de FHC, Lula tem 29,9%, contra 17,2% de Ciro, 13,9% de Garotinho e 10,5% de Geraldo Alckmin.

            Apoio cai entre os jovens, os pobres e no Nordeste

A nova rodada da pesquisa CNT-Sensus mostra uma deterioração "muito grande" na avaliação do Presidente Lula e de seu Governo, constata a especialista Fátima Pacheco Jordão, da Fato Pesquisa e Jornalismo. E evidencia que o presidente e seu governo perderam o apoio de segmentos fiéis: a região Norte/Nordeste, os segmentos mais jovens e as faixas de baixa renda.

Perdidos os apoios setoriais, diz Fátima, o presidente e o governo só conseguiram manter seu prestígio intocado nas pequenas cidades do interior, os "grotões", sempre as últimas a embarcar na avaliação negativa dos governos.

Nas últimas pesquisas em que Lula e seu governo perderam pontos de aprovação, aquelas três faixas - Norte/Nordeste, jovens e população de baixa renda - se mantinham fiéis a Lula e ao governo, garantindo-lhes boa aprovação. Agora esses segmentos embarcaram na desaprovação de forma semelhante às outras faixas, sinal claro de que esgotou-se a esperança do cumprimento das promessas de campanha.

O declínio na aprovação, que antes vinha apenas do Sul/Sudeste e das grandes cidades, agora vem de todo lado, e de forma homogênea, o que denota um desgaste generalizado, observa Fátima. E ainda existem outros complicadores.

A média de aprovação dos governadores está acima dos 45%, a dos prefeitos, em 38%, enquanto a aprovação do presidente situa-se abaixo dos 30%.

"Os problemas são comuns ao município, ao Estado e ao País, mas está claro que o brasileiro identifica uma parcela maior de culpa e menor de eficácia no governo federal", analisa Fátima.

Segundo ela, o julgamento negativo do governo está muito contaminado pela ausência de resultados na questão do emprego, promessa de campanha não cumprida. Segundo Fátima, pesquisas recentes mostram que a sociedade não aceita mais desculpas para o não-cumprimento das promessas. (C.M.)

            Para a maioria, violência está fora de controle 

A maioria absoluta (80,6%) dos entrevistados pela Sensus acham que a violência no Brasil está fora de controle e 35,5% entendem que a forma de violência mais ameaçadora são os assaltos, em casa ou na rua; 29,6% temem especialmente o tráfico de drogas. Já 64,6% dos entrevistados acham as ações das polícias inadequadas ou ineficazes. Só 29,1% as consideram eficazes ou adequadas.

Quase a metade (45,6%) dos entrevistados nunca ouviu falar na Operação Vampiro; 30,6% já ouviram falar e 21,4% dizem estar acompanhando as investigações. Apesar disso, 79,9% afirmam que casos de corrupção "ocorrem freqüentemente" no governo, enquanto 13,3% acham que esses casos acontecem raramente.

A pesquisa também incluiu algumas perguntas sobre as eleições. Os resultados mostram que a maioria dos entrevistados escolhe seus candidatos pela televisão, veículo que reconhecidamente suscita baixo nível de memorização.

Mas nem por isso os brasileiros estão esquecendo as promessas de campanha.

Pelo menos as promessas de Lula: 70,4% dos entrevistados revelam se lembrar muito bem que sua principal promessa foi a criação de empregos.

Na mesma proporção, a maioria esmagadora (66,9%) continua identificando o desemprego como principal problema não resolvido do País; para parcelas pequenas da população, os piores problemas são a distribuição de renda (10,4%), a saúde (8,2%) e a educação (6,6%).

Sobre a compra de um novo avião presidencial, 33,5% disseram já ter ouvido falar da iniciativa; 27,1% declararam estar acompanhando o assunto. Entre eles, a grande maioria é contra a compra do avião - 65,8% a desaprovam, 4,9% são indiferentes e 25,2% dos entrevistados aprovam. (C.M.)

            Presidente é vaiado no velório de Brizola

Seguranças tiveram dificuldade para conter os que se manifestaram contra a presença de Lula

RIO - O primeiro dia do velório do líder pedetista Leonel Brizola, que morreu na noite de segunda-feira, aos 82 anos, foi marcado por uma estrondosa vaia ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante os quatro minutos que ficou no Salão Nobre do Palácio Guanabara, sede do governo estadual ocupado duas vezes por Brizola, o presidente foi xingado por grupos de pedetistas de todas as idades. Seguranças do Palácio e do PDT tiveram dificuldades para conter os admiradores de Brizola inconformados com a presença do petista. Segundo estimativa do major Seabra, comandante da 1.ª Companhia Independente da Polícia Militar, 200 mil pessoas estiveram no velório até as 17 horas e 30 minutos.

Não havia nenhum esquema especial de segurança por causa da presença do presidente, como cordão de isolamento. Os mais rebeldes aproximaram-se de Lula, com bandeiras e pôsteres de Brizola nas mãos. Filhos e netos do ex-governador ajudaram a formar um cordão em volta do caixão do líder pedetista.

O presidente ficou o tempo todo ao lado da filha de Brizola, Neuzinha, que, constrangida, olhava preocupada para a confusão em volta, ao mesmo tempo em que parecia pedir desculpas ao presidente. "Não ligue", disse Lula à filha do ex-governador, antes de cumprimentar os outros dois filhos de Brizola, José Vicente e João Otávio. Atrás de Lula, o chefe da Casa Civil, José Dirceu, ficou imóvel. Saiu, acompanhando o presidente, sem conseguir cumprimentar os parentes do líder pedetista.

Lula entrou no salão às 13 horas e 27 minutos e imediatamente as vaias começaram. Algumas pessoas presentes ensaiaram aplausos, mas às vaias somaram-se os insultos.

"Lula traidor", "Lula cachaceiro, Brizola brasileiro" foram os primeiros xingamentos. Em seguida, vieram os versos de um samba que ficou famoso na voz da pedetista Beth Carvalho: "Você pagou por traição a quem sempre lhe deu a mão". Finalmente, os pedetistas gritaram em coro: "Renúncia, renúncia!" Às 13 horas e 31 minutos, o Presidente deixou o salão. Na confusão, derrubou até a coroa de flores, que ele mesmo enviou, com os dizeres: "Nossa homenagem ao Brasil e o seu povo."

Foi um tumulto anunciado. Desde o início da manhã, quando o salão foi aberto para o público, pedetistas mais emocionados hostilizavam petistas e protestavam, quando ouviam falar da possibilidade de Lula comparecer ao velório. O deputado Chico Alencar (PT) gravava uma entrevista para a TV, quando foi empurrado por uma senhora que levava a bandeira do PDT. "PT safado", disse ela, reclamando da presença de petistas.

Por causa do tumulto, a entrada do povo no Palácio Guanabara foi suspensa por meia hora. Os pedetistas, em longa fila na porta, protestaram.

Até as 18h30, o velório de Brizola teve a presença de sete ministros e quatro governadores - além de Rosinha Matheus, os tucanos Geraldo Alckmin e Aécio Neves e o peemedebista Joaquim Roriz. As vaias ainda ecoavam no Salão Nobre quando entrou o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes. "Há aqui pessoas apaixonadas e chocadas com a morte de Brizola. Mas voltando para casa elas vão perceber a grosseria que fizeram com o presidente e o próprio Brizola."

Arrependimento - Passado o susto do tumulto causado pela presença do presidente, a família Brizola voltou a receber os cumprimentos. Brigado com o pai desde 2000, o filho mais velho, José Vicente, lamentou o afastamento e prometeu voltar ao PDT, partido que deixou para se filiar ao PT. "Estou arrependido do que fiz."

O presidente do PDT em São Paulo, Paulo Pereira da Silva, não se surpreendeu com o protesto. "Essa manifestação é reflexo da traição do Lula não só com o Brizola, mas também com o povo brasileiro. É natural que ele seja maltratado." Novas vaias aconteceram quando estavam, ao mesmo tempo, no Salão Nobre, o secretário de Segurança do Rio, Anthony Garotinho, o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia e a prefeita Marta Suplicy.

Hoje, às 8 horas, o caixão será levado para o Centro Integrado de Educação Pública (Ciep), no bairro do Catete, o primeiro que ele ergueu, em 1985. Em seguida, segue para Porto Alegre, onde será velado no Palácio Piratini, sede do governo gaúcho. De lá, o corpo segue para São Borja. Às 15 horas, está marcada uma cerimônia religiosa no cemitério municipal da cidade. O enterro está marcado para as 16 horas. (Luciana Nunes Leal, Roberta Pennafort, Karine Rodrigues, Fabiana Cimieri e Jacqueline Farid)

Para aprovar hoje os R$ 260, até vôos extras

João Paulo chegou a pedir mais vôos para o Nordeste, para que festas juninas não atrapalhem votação

DENISE MADUEÑO e EUGÊNIA LOPES

BRASÍLIA - O presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), usou toda força política para tentar votar hoje a medida provisória que fixa o salário mínimo em R$ 260 e reverter a derrota do governo na semana passada, quando o Senado aprovou o valor de R$ 275.

João Paulo cedeu aos partidos de oposição e concordou com a votação nominal.

Em troca, os oposicionistas prometeram a não obstruir a sessão.

Para garantir a presença dos deputados do Nordeste interessados em participar das festas juninas em suas regiões, o presidente da Câmara pediu às companhias aéreas que coloquem vôos extras hoje à tarde. O ponto alto das festas juninas no Nordeste é a noite de hoje.

"Fizemos um levantamento dos vôos para ver se é possível realizar conexões que facilitem o vôo dos deputados", disse João Paulo. Na noite de segunda-feira ele já havia se reunido, em sua residência, com nove ministros para montar a estratégia de votação.

Segundo o Vice-Presidente da Câmara, Inocêncio Oliveira (PFL-PE), se o pedido for de João Paulo for atendido pelas empresas, haverá três vôos extras para o Nordeste: um para Fortaleza e Natal, outro para Recife, Maceió e João Pessoa, e o terceiro para São Luís e Teresina.

Confiança - Os Líderes dos Partidos aliados acreditam que o mínimo de R$ 260 será aprovado. Preocupam-se apenas com o quórum, por causa das festas juninas e das convenções partidárias municipais, além do velório de Leonel Brizola.

"Com mais de 300 deputados poderemos votar a MP", disse o líder do governo, deputado professor Luizinho (PT-SP). Ele acredita que a aprovação dos R$ 260 será fácil, embora com menor margem do que na primeira votação, em 2 de junho, porque o número de deputados deve diminuir.

Um dos principais alvos do governo na busca de votos foi o PL. Ontem, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, o líder do partido, Sandro Mabel (GO), o vice-presidente da República, José Alencar, e o presidente do PL, deputado Valdemar Costa Neto (SP), se reuniram no almoço para tentar garantir uma votação em peso da bancada. À tarde, o ministro foi à Câmara para conversar com parlamentares do partido.

Pelo menos um voto o ministro teria conseguido reverter: o do deputado Almeida de Jesus (PL-CE), que prometeu votar dessa vez contra o mínimo de R$275,00. "O PL é Governo", disse ele. "O partido é uma instituição e a democracia é o regime da maioria."

A expectativa no PL é reunir 32 votos a favor do governo, na bancada de 44 deputados. O restante estará ausente.

Ausentes - No PMDB, o número de votos favoráveis pode aumentar de 39 para 42, segundo líderes do partido. Três deputados ausentes na primeira votação - Paulo Lima (SP), Mauro Benevides (CE) e Max Rosenmann (PR) - deverão comparecer e votar contra os R$ 275. O líder do PTB, José Múcio Monteiro (PE), que já votou a favor dos R$ 260, prometeu manter a posição. "Votamos com responsabilidade e não há razão para modificar o voto", disse. Ele também revelou que fez esforços para o comparecimento na sessão de hoje de quatro petebistas que se ausentaram na votação anterior.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/06/2004 - Página 19452