Discurso durante a 96ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Insistência do governo do Paraná em manter a proibição de exportação de produtos transgênicos, pelo porto de Paranaguá, bem como no descumprimento de decisão judicial que concedeu reajuste de tarifas a concessionárias de pedágio no Estado. (como Líder)

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO PARANA (PR), GOVERNO ESTADUAL.:
  • Insistência do governo do Paraná em manter a proibição de exportação de produtos transgênicos, pelo porto de Paranaguá, bem como no descumprimento de decisão judicial que concedeu reajuste de tarifas a concessionárias de pedágio no Estado. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 06/07/2004 - Página 20870
Assunto
Outros > ESTADO DO PARANA (PR), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • CRITICA, CONDUTA, GOVERNADOR, ESTADO DO PARANA (PR), MANUTENÇÃO, PROIBIÇÃO, EXPORTAÇÃO, PRODUTO TRANSGENICO, PORTO DE PARANAGUA, DESRESPEITO, LEGISLAÇÃO FEDERAL, DESCUMPRIMENTO, DECISÃO JUDICIAL, CONCESSÃO, REAJUSTE, TARIFAS, CONCESSIONARIA, PEDAGIO, REGIÃO.
  • COMENTARIO, EDITORIAL, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DENUNCIA, DESCUMPRIMENTO, DECISÃO JUDICIAL, CLAUSULA, CONTRATO, PROVOCAÇÃO, IMPASSE, GOVERNO ESTADUAL, CONCESSIONARIA, PEDAGIO, TENTATIVA, GOVERNADOR, AUMENTO, PARTICIPAÇÃO ACIONARIA, ESTADO DO PARANA (PR), EMPRESA, SANEAMENTO, REDUÇÃO, PARTICIPAÇÃO, ACIONISTA MINORITARIO, DESRESPEITO, INTERESSE PUBLICO, FUGA, CAPITAL ESTRANGEIRO, PAIS.

O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Pela Liderança do PSDB. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, creio que é bom ser repetitivo às vezes para se dar ênfase ao que afirmamos. Tenho repetido que quando um governante se recusa a aceitar o governo das leis ele não governa, ao contrário, desgoverna. Verificamos a nocividade do desgoverno quando o governante afronta a lei.

No Paraná, por exemplo, já destacamos que o prejuízo submetido ao Estado e ao País, com a anarquia que se estabeleceu no Porto de Paranaguá, é impagável. Somente os produtores de soja do País sofrem um prejuízo de US$1 bilhão como decorrência da penalidade de US$2.00 por saca de soja exportada por aquele porto.

A Federação da Agricultura do Paraná avalia em R$1,6 bilhões o prejuízo da agricultura do Estado nesta safra. Isso tudo começa com a afronta à legislação federal a respeito dos transgênicos. Em que pese o fato de o Governo do Paraná ter se submetido a uma derrota, por unanimidade dos julgadores, insiste em manter a proibição da exportação de produtos transgênicos pelo porto de Paranaguá. Com isso o porto perdeu 1,6 milhão de toneladas de exportação. No mesmo período do ano passado, o porto exportou 4,6 milhões de toneladas de produtos agrícolas, de grãos, e, neste ano, apenas 3 milhões de toneladas.

Na esteira dessa irresponsabilidade administrativa, o jornal O Estado de S. Paulo publicou, no domingo, um artigo sob o título: “No Paraná, o ralo da credibilidade do País”. Na Folha de S.Paulo, publicou-se, no mesmo momento: “Governo do Paraná na contramão do País”.

O editorial do jornal O Estado de S. Paulo faz referência a dois fatos.

O primeiro deles é o julgamento do Superior Tribunal de Justiça a respeito do impasse ocorrido entre o Governo do Paraná e concessionárias de pedágio. O julgamento, por unanimidade, impõe ao Estado o reajuste das tarifas do pedágio em 15%, na média, mas em alguns trechos chegando a 30%.

Diz o Presidente do Superior Tribunal de Justiça, Ministro Edson Vidigal, no final de seu despacho:

O descumprimento de cláusulas contratuais por parte do governo local viola o princípio da segurança jurídica, inspira insegurança e riscos na contratação com a Administração, resultando em graves conseqüências para o interesse público, inclusive com repercussões negativas sobre o influente Risco Brasil.

O jornal O Estado de S. Paulo, em seu editorial, ao se referir a essa decisão, afirma a respeito do Paraná:

(...) Estado mais moderno da Federação brasileira (...) se tornou o símbolo vivo do retrocesso, quanto ao respeito às pactuações - sem as quais não há como se desenvolverem os negócios, as empresas, o comércio internacional e, por via de conseqüência, a produção de riquezas e de empregos no País.

O editorial faz referência a outro ato do Governo estadual, que pretende aumentar a participação acionária do Estado na Companhia de Saneamento do Paraná - Sanepar. O Governo do Estado propõe à Assembléia, contrariando regras, princípios e a ética, uma alteração acionária que tem por objetivo reduzir a participação dos acionistas minoritários.

E o comunicado chega ao núcleo da questão (segundo o editorial do jornal O Estado de S. Paulo): “Surpreendentemente, em fevereiro de 2003, o Governo do Paraná anunciou que ignoraria o contrato firmado em 1998 pelo próprio Estado. Agora, promove um aumento de capital, que é mera operação contábil, já que a capitalização de créditos constituídos na administração anterior não trará novos recursos para investimentos e tem como único objetivo diluir a participação dos acionistas minoritários, principalmente a Dominó” - e a empresa demonstra, pelos valores das ações agora emitidas, em cotejo com o preço que pagará por sua participação acionária, o verdadeiro esbulho de que fora vítima.

O jornal O Estado de S. Paulo diz que aos poucos a Justiça repara as decisões irrefletidas do Governador do Paraná, mas destaca o risco de danos enormes ao País, já que esse desrespeito a contratos e a pactuações realizadas pelo Poder Público afugenta o capital externo do nosso País.

É lamentável, Sr. Presidente, que se assista, no Paraná, à credibilidade esvair-se, transformando o Estado símbolo da modernidade em exemplo vivo de retrocesso. Reproduzindo uma prática usual no Governo Federal, o Governador do Paraná “faz escola” e transforma em rotina o desrespeito ao que foi pactuado.

O Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, autorizou as concessionárias e rodovias a reajustarem tarifas. Um Governante não pode, a seu alvitre, deliberar contrariamente ao que foi objeto de pactuação, segundo o ordenamento jurídico. Os investidores monitoram e pautam seus investimentos, notadamente no campo da infra-estrutura, em razão direta à observância das regras vigentes. As repercussões de um gesto como esse são imprevisíveis, principalmente no plano internacional.

O Governo promove, como disse, um aumento de capital que não passa de mera operação contábil, cujo objetivo é diluir a participação dos acionistas minoritários. É uma manobra que pode macular a imagem do Brasil e comprometer a atração de futuros capitais para a infra-estrutura brasileira. Como disse o editorial do jornal O Estado de S. Paulo, de nada adiantará o Presidente Lula percorrer o mundo, apelando por investimentos no Brasil, se aqui, no nosso País, os Governantes afrontam a legislação, estabelecem a anarquia e afugentam capitais.

Essa é a denúncia que trago a esta tribuna, Srª Presidente, por se tratar de uma questão nacional, e não provinciana. O assunto é de interesse nacional e diz respeito ao chamado risco Brasil.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/07/2004 - Página 20870