Discurso durante a 97ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Lançamento do Livro "Osmar Santos - O Milagre da Vida", do jornalista Paulo Mattiussi.

Autor
Alvaro Dias (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/PR)
Nome completo: Alvaro Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. ELEIÇÕES. :
  • Lançamento do Livro "Osmar Santos - O Milagre da Vida", do jornalista Paulo Mattiussi.
Publicação
Publicação no DSF de 07/07/2004 - Página 21175
Assunto
Outros > HOMENAGEM. ELEIÇÕES.
Indexação
  • REGISTRO, LANÇAMENTO, LIVRO, HOMENAGEM, LOCUTOR, ESPORTE, ELOGIO, VIDA, PARTICIPAÇÃO, CAMPANHA, DEFESA, ELEIÇÃO DIRETA.
  • REGISTRO, COMICIO, REALIZAÇÃO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO PARANA (PR), INICIO, CAMPANHA, DEFESA, ELEIÇÃO DIRETA.

O SR. ALVARO DIAS (PSDB - PR. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é com profunda satisfação que venho a esta tribuna registrar um fato merecedor de aplausos. Refiro-me ao lançamento, em São Paulo, pelo destacado e experiente Jornalista Paulo Mattiussi, de um livro que resgata, para quem não conhecia, e preserva, para as gerações futuras, a história de uma figura, nossa contemporânea, digna da maior admiração e do maior respeito. O livro descreve a saga de alguém que conseguiu converter-se num mito ainda em vida. Alguém que conquistou a consagração tanto no âmbito da comunicação, na área dos esportes, quanto por sua relevante participação num dos mais memoráveis episódios da recente vida política brasileira.

O livro em questão relata a vida da figura ímpar do ex-narrador esportivo, hoje artista plástico, Osmar Santos. Um profissional cujo talento extrapolou o chamado “limite das quatro linhas”, que é como, no jargão da área, é definido o campo de futebol. Ele saiu dos estádios para conquistar, em praça pública, o respeito, a admiração e a simpatia de todos os brasileiros, amantes ou não do esporte, por sua inesquecível atuação como o locutor oficial da campanha das Diretas Já, há exatas duas décadas, em 1984.

Abordo esse assunto até com certa emoção, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores. Isto porque o destino havia estabelecido que caberia a mim, modestamente, a honra de retirar de dentro dos estádios aquela figura maravilhosa de locutor esportivo e trazê-la para os braços do povo, em praças públicas por este país afora, como o locutor oficial e incomparável animador daquelas monumentais concentrações que foram os comícios da campanha das Diretas Já.

Peço licença para fazer aqui um parênteses para um reparo ao erro histórico que boa parte da nossa mídia cometeu nas recentes comemorações dos 20 anos da campanha. Devem estar bem lembrados aqueles que militam na política há mais tempo, que coube ao PMDB do Paraná, do qual na época eu era o presidente, a honra de organizar, em Curitiba, o primeiro comício da nascente campanha das Diretas Já. Curitiba já era, naquela época, conhecida como a “cidade laboratório” onde idéias, produtos industriais e peças teatrais eram sempre lançados em caráter experimental, porque estava, como continua até hoje, estabelecido o consenso de que tudo aquilo que tem a aprovação de Curitiba é também aprovado pelo país. Por isso, a direção nacional do PMDB concordou com nossa proposta de que fosse feito, em nossa Capital, aquele que foi efetivamente o primeiro comício da campanha.

Bastante gente chegou a citar o monumental comício ocorrido na Praça da Sé, em São Paulo, no dia 25 de janeiro de 84, como o início da campanha. Aquele foi, sim, o primeiro comício a reunir 300 mil pessoas. Mas quem for pesquisar os grandes jornais da época irá constatar que, às vésperas de 12 de janeiro, eles registravam os preparativos, em Curitiba, para o evento que todos anunciavam, para aquela data, como o início formal da campanha. E nos dias seguintes, está registrado o sucesso da iniciativa que reuniu cerca de 50 mil pessoas na chamada Boca Maldita para ver e ouvir, pela primeira vez juntos num palanque, o inesquecível Ulysses Guimarães, presidente nacional do PMDB, os governadores Tancredo Neves, Franco Montoro e José Richa, a atriz e Deputada Federal Beth Mendes, na condição de representante do diretório nacional do PT, que dias antes havia aderido à nossa campanha; e artistas como Ruth Escobar, Raul Cortês, Martinho da Vila, Dina Sfat, Irene Ravache e tantos outros que emprestaram o brilho de seus nomes à campanha.

Quem for consultar os jornais da época irá encontrar, já no dia 13, declarações como a de Ulysses Guimarães, empolgado ao final do comício de Curitiba, afirmando que “começamos triunfalmente. Milhões de brasileiros estão potencialmente marchando rumo ao Congresso Nacional”. Ou a avaliação do histórico líder trabalhista paranaense Leo de Almeida Neves, do PDT, Partido que também aderira à nossa campanha, dizendo que o comício da Boca Maldita havia sido “o início de uma caminhada vitoriosa que há de empolgar o Brasil”.

Feito esse reparo, Srªs e Srs. Senadores, restabelecida a verdade histórica sobre o verdadeiro início da campanha, retornemos ao tema que abordávamos, que é a participação de Osmar Santos. Aficcionado do futebol, eu admirava o talento, a criatividade e a correção profissional de Osmar em suas narrativas pelo rádio. Por isso, quando se definiu a necessidade de um locutor que atuasse como mestre de cerimônias no palanque, não pensei duas vezes para decidir que o primeiro nome a ser convidado deveria ser Osmar Santos. Felizmente, para nós e para a campanha, Osmar revelou que, além de profissional competente, era também um cidadão consciente, participativo e abnegado. Ele aceitou o convite para comandar não só o comício de Curitiba, mas também todos os outros que, na seqüência, ocorreram por quase todo o país na memorável campanha que não alcançou o sucesso imediato, mas abalou irreparavelmente os alicerces da ditadura, que viria a ruir pouco tempo depois.

Dez anos depois, uma tragédia se abateu sobre a vida de Osmar Santos. Um grave acidente automobilístico, do qual foi vítima, deixou-lhe seqüelas gravíssimas. Ele perdeu não só os movimentos do lado direito do corpo como também o dom que era o seu instrumento de trabalho, o caminho pelo qual expressava todo o seu talento e sua competência profissional. O criador de jargões que permanecem até hoje vivos na memória de todos nós, como o “ripa na chulipa, pimba na gorduchinha”; o profissional cujo talento e cuja correção verbal já mereceram até teses acadêmicas, como a da jornalista Edna Andrade, na Escola de Comunicação e Artes de São Paulo, simplesmente havia perdido o dom da voz. Mas não perdeu a garra que o levara ao sucesso, nem o amor à vida que lhe proporcionava tanta empatia com o público. Osmar Santos transferiu seu talento para as artes plásticas, passando a dedicar-se à pintura impressionista, e continua curtindo a alegria de viver intensamente apesar de todas as limitações que o acidente lhe trouxe.

É por tudo isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que venho hoje à tribuna para aplaudir o lançamento do livro Osmar Santos - O Milagre Da Vida, do Jornalista Paulo Mattiussi e, mais que isso, essa grande figura que continua sendo a mais expressiva que a narração esportiva já produziu e essa pessoa humana admirável que é o insuperável Osmar Santos. Um ser humano vitorioso que, conforme definiu muito bem o Jornalista José Paulo Lanyi, em artigo no site Comunique-se, conseguiu tornar-se “maior do que o mito”.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/07/2004 - Página 21175