Discurso durante a 98ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Satisfação com os entendimentos obtidos entre os governos brasileiro e chinês no episódio da exportação de soja.

Autor
Sérgio Zambiasi (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/RS)
Nome completo: Sérgio Pedro Zambiasi
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
COMERCIO EXTERIOR. POLITICA EXTERNA.:
  • Satisfação com os entendimentos obtidos entre os governos brasileiro e chinês no episódio da exportação de soja.
Publicação
Publicação no DSF de 08/07/2004 - Página 21466
Assunto
Outros > COMERCIO EXTERIOR. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • COMENTARIO, SOLUÇÃO, PENDENCIA, EXPORTAÇÃO, SOJA, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, ATENDIMENTO, EXIGENCIA, AUMENTO, CONTROLE, FISCALIZAÇÃO, PRODUTO, AGRADECIMENTO, GESTÃO, GERMANO RIGOTTO, GOVERNADOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).
  • ANALISE, EFICACIA, POLITICA EXTERNA, BRASIL, VIAGEM, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OBJETIVO, REFORÇO, PARCERIA, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, REGISTRO, DADOS, AMPLIAÇÃO, COMERCIO EXTERIOR, COOPERAÇÃO, CIENCIA E TECNOLOGIA, ESPECIFICAÇÃO, CONSTRUÇÃO, LANÇAMENTO, SATELITE, COMENTARIO, VANTAGENS, RELAÇÕES DIPLOMATICAS, AMBITO, POLITICA INTERNACIONAL.

O SR. SÉRGIO ZAMBIASI (PTB - RS. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, por alguns dias, as atenções da imprensa brasileira - e de setores especializados da imprensa internacional - estiveram voltadas para o imbróglio que se deu entre Brasil e China no caso das exportações de soja para este país asiático. Os mais alarmistas, inclusive, chegaram a questionar a importância da recente visita presidencial à China, uma vez que os produtores nacionais de grãos se encontravam ameaçados pela possibilidade de não serem capazes de escoar seu produto para o maior mercado comprador de soja do mundo.

Felizmente, as autoridades brasileiras e chinesas chegaram a uma solução que contentou ambas as partes, com o aumento da exigência e do rigor para a liberação de soja para a venda aos compradores chineses. O aumento da fiscalização por parte de nossas autoridades, além de nos assegurar acesso a um mercado que, no ano passado, comprou 6 milhões de toneladas de grãos de soja, aumenta a credibilidade de nosso produto também em outros mercados igualmente importantes.

Nesse sentido, aliás, cometeria tremenda injustiça se deixasse de mencionar e de agradecer o empenho do Chefe do Executivo de meu Estado, o Governador Germano Rigotto, para o bom termo da questão da soja. O Governador Rigotto, para além da missão governamental e empresarial gaúcha, participou pessoalmente da reunião entre as autoridades brasileiras e os membros do Ministério da Quarentena da China, quando ficaram estabelecidas as novas regras para o envio da soja brasileira.

Contente, mas não de todo satisfeito, o Governador Rigotto aproveitou o ensejo para fechar acordo para a instalação de um escritório de representação do Rio Grande do Sul em Xangai. Além disso, diversas parcerias entre empresários gaúchos e chineses foram estabelecidas nos setores de infra-estrutura, rodovias, ferrovias e energia.

É devido a missões bem-sucedidas como a empreendida pelo governo gaúcho que não me canso de insistir na seguinte tese: resumir o interesse no aprofundamento das relações Brasil-China à questão da soja ou à exportação de commodities seria de um simplismo incompatível com a importância que o maior país asiático possui para o Brasil.

É em um contexto muito mais amplo que devemos analisar - e louvar - a recente viagem do Presidente Lula à China. O “caráter estratégico” da viagem, nesse caso, vai muito além do brilho retórico que a expressão empresta ao argumento; ela condensa, com rara exatidão, a importância de termos com a China uma relação de parceria e de complementaridade cada vez maior.

Possuímos relações diplomáticas com a China desde 15 de agosto de 1974, mas, em nenhum momento dessas três décadas de relacionamento bilateral, nossos laços com Pequim foram tão intensos e profundos como são agora. O Presidente Lula tem consciência disso. Parece que a imprensa internacional também. Pois não é comum que visitas de Chefes de Estado brasileiros mereçam ampla cobertura dos meios de comunicação internacionais.

No caso da visita do Presidente Lula, porém, o tratamento foi diferente. Os maiores diários e revistas do mundo - The Wall Street Journal, Financial Times, The Economist, The New York Times - deram ampla cobertura ao evento, e não é para menos. Como resumiu com muita propriedade o editor para a América Latina do Financial Times de Londres, Richard Happer, a ligação entre Brasília e Pequim “conecta os maiores mercados emergentes dos hemisférios ocidental e oriental”.

É preciso termos muita atenção ao simbolismo que a ampla cobertura mundial da visita do Presidente Lula enseja: o que é visto pelos estrangeiros como ameaça à sua hegemonia pode ser enxergado por nós, brasileiros, como oportunidade histórica de consolidarmos crescente intercâmbio com o país que se tornou a menina dos olhos dos mercados globais.

Apesar de as exportações brasileiras para a China estarem aumentando significativamente ano após ano - de US$1,1 bilhão em 2000 para US$1,9 bilhão em 2001, de US$2,5 bilhões em 2002 para US$4,5 bilhões em 2003 - o espaço para o crescimento de nossas trocas comerciais parece inesgotável.

E isso se deve tanto à magnitude do mercado chinês, detentor de um apetite gigantesco, quanto ao subaproveitamento de nossas possibilidades, que só agora começa a ser corrigido. Para V. Exªs terem uma idéia do que acabo de dizer, vale ressaltar que, apesar de a China haver se tornado nosso terceiro parceiro comercial mais importante (atrás dos Estados Unidos e da Argentina), as exportações brasileiras de 2003 para aquele mercado, que, aliás, foram recorde nacional, representam apenas 1% do total das importações chinesas. Um por cento, Srªs e Srs. Senadores!

Está certíssimo o Presidente Lula ao falar que os Estados Unidos e a União Européia são - e merecem ser - tratados com carinho e respeito, mas que o Brasil necessita de novos mercados. Acontece que tanto os Estados Unidos quanto a União Européia já respondem por pouco mais de um quarto de nossas exportações; portanto, o espaço para crescimento é menor, é mais estreito.

Com a China a história é outra. Uma visita presidencial bem focalizada e bem conduzida foi capaz de render mais de 15 acordos operacionais e novas joint ventures, em valor estimado em US$4 bilhões.

Nosso desconhecimento recíproco ainda é imenso, mas esse quadro, felizmente, já começa a ser revertido. A criação do Conselho Empresarial Brasil-China contou com adesões de destacadas empresas de ambos os países; do lado brasileiro, vale citar a Companhia Vale do Rio Doce, a Petrobras, o Banco do Brasil, a Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração, e a Embraer.

A diversificação das empresas atende a um desafio premente nas relações comerciais bilaterais: ampliar o leque de nossa pauta de exportações, hoje excessivamente concentrada em produtos primários, principalmente soja, minério de ferro e laminados de ferro e aço.

Há espaço para ampliação?

É claro que há. E muito. A Embraer acaba de ingressar no mercado de aviação regional daquele país, por meio de joint venture com a empresa aeroespacial chinesa AVICII. Na área de cooperação científico-tecnológica, o êxito do programa de cooperação espacial para construção conjunta de satélites de sensoriamento remoto é prova cabal das possibilidades da parceria sino-brasileira em setores de tecnologia de ponta. Os primeiros 2 satélites da série foram lançados em 1999 e 2003, e já há Protocolo que prevê o lançamento de outros dois.

O China-Brazil Earth Resources Satellites (CBERS) é nada menos que o mais importante projeto de cooperação de alta tecnologia entre países em desenvolvimento no mundo! Esse programa, além de fortalecer as indústrias de aplicativos para o setor aeroespacial dos dois países, permitirá nossa total autonomia no que se refere à coleta de dados de sensoriamento remoto. Poderemos, inclusive, vender as imagens obtidas com esse mecanismo para outros países da América Latina, África e Ásia.

Outro aspecto que não pode ser relegado por nós, Sr. Presidente, é o papel que a China desempenha no campo político. A República Popular da China é, hoje, um contraponto fundamental ao unilateralismo nas relações internacionais.

Relações sino-brasileiras bem consolidadas, Srªs e Srs. Senadores, são uma das garantias para a prevalência de um mundo multipolar, multilateral, onde o primado da ONU e a defesa da OMC como foro legítimo de discussão de regras comerciais prevaleçam sobre a ótica míope e tão perigosa do pensamento único, da verdade única, que tantas vítimas já fez - e continua a fazer - através da história.

A pavimentação do eixo Brasília-Pequim, buscada com especial denodo pelo Presidente Lula, é uma das respostas possíveis para o desafio representado pelo crescimento sustentado da economia brasileira.

Demonstra, por fim, que uma liderança tão qualificada quanto legítima pode ter o condão de catalisar e de dinamizar nossas melhores potencialidades.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/07/2004 - Página 21466