Discurso durante a 99ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Importância de Chico Buarque de Holanda para a cultura brasileira.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Importância de Chico Buarque de Holanda para a cultura brasileira.
Aparteantes
Demóstenes Torres, Eduardo Suplicy, João Capiberibe, Mão Santa.
Publicação
Publicação no DSF de 09/07/2004 - Página 22520
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, CHICO BUARQUE, CANTOR, COMPOSITOR, ELOGIO, OBRA ARTISTICA, PARTICIPAÇÃO, POLITICA, COMBATE, DITADURA.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente José Sarney, Srªs e Srs. Parlamentares, é com muita alegria que faço um pronunciamento diferente. Minha consciência me obriga a que dele não possa fugir.

Completou 60 anos, no dia 19 de junho, Chico Buarque de Hollanda, um dos maiores artistas brasileiros de todos os tempos.

Como compositor, Chico é uma unanimidade nacional. As centenas de músicas que produziu, nas décadas de 60, 70 e 80, são freqüentemente regravadas, e tocadas permanentemente nas rádios, o que garante a permanência de sua obra, embora ele tenha lançado poucos discos, lamentavelmente, nos últimos 15 anos.

Em anos mais recentes, Chico Buarque vem trilhando um novo caminho, a literatura. Os três livros que publicou - Estorvo, Benjamin e Budapeste - vêm obtendo sucesso de público e de crítica, como havia ocorrido com sua produção musical.

Embora a música e literatura sejam as facetas mais conhecidas do trabalho desse artista múltiplo, é importante considerar que Chico Buarque também muito produziu para cinema e teatro.

Chico Buarque é também um homem marcado pela política. Considerado o artista que mais atacou o Regime Militar com suas composições, ele jamais deixou cair a qualidade do seu trabalho. Nunca desbancou para o panfleto.

Num dos mais belos cadernos especiais do Jornal do Brasil, publicado no último dia 13 de junho, dedicado à comemoração dos 60 anos de Chico Buarque, sobre a vida desse grande intelectual do Brasil, o jornalista Tárik de Souza informa que Chico Buarque ganhou terreno no espaço da música brasileira no período em que ocorre a transformação da Bossa Nova em MPB (Música Popular Brasileira), fenômeno que se deu em meados dos anos 60.

Inicialmente, o repertório de Chico Buarque de Hollanda usa como base ritmos tradicionais brasileiros - como samba, choro, marcha-rancho, modinha e samba-canção. De certa forma, esse apego à tradição entrou em choque com a tendência vanguardista da Bossa Nova, que imperava na época.

Chico Buarque, assim, coloca de novo em cena grandes compositores nacionais que estavam um pouco relegados ao esquecimento, como Noel Rosa, Ismael Silva, Pixinguinha, Braguinha, e Lamartine Babo.

Com o sucesso da música A Banda, no final dos anos 60, o artista inicia uma carreira brilhante. Ganha logo o reconhecimento de grandes artistas, entre os quais Tom Jobim, com quem, depois, vai manter parceria musical quase que permanente.

Escreve ainda Tárik de Sousa:

Cabeça feita (como todos de sua geração) pelo divisor de águas Chega de Saudade, na voz de João Gilberto, Chico beneficiou-se do arranjamento harmônico da Bossa e do coloquialismo do estilo, que o permitiu tornar-se um cantor mesmo de voz pequena, algo que seu ícone Noel, sem muito êxito, arriscara 30 anos antes. Na trilha dos festivais, Chico acabou empurrado para o papel de bom-moço fiel às tradições, enquanto Caetano Veloso e Gilberto Gil, via tropicalismo agressivo e vanguardista, a partir de 1967 afrontavam - em forma de conteúdo - as instituições.

Ao retornar de um auto-exílio da Itália, Chico Buarque começa a enfrentar o Governo Militar com suas canções. Em 1970, compõe Apesar de Você, música que tinha como objetivo satirizar o Regime e que passou a ser, praticamente, a música oficial da campanha de oposição do velho PMDB de guerra:

Amanhã vai ser outro dia

Hoje você é quem manda

Falou, tá falado

Não tem discussão, não

A minha gente hoje anda

Falando de lado

E olhando pro chão, viu

Você que inventou esse estado

E inventou de inventar

Toda a escuridão

Você que inventou o pecado

Esqueceu-se de inventar

O perdão

Apesar de você

Amanhã há de ser

Outro dia”

A partir de então, Chico se transformará no principal alvo do Serviço de Censura de Diversões Públicas do Brasil. Esse organismo, vinculado à Polícia Federal, contava com funcionários que julgavam as letras das músicas, decidindo o que poderia ou não ser ouvido pelo povo brasileiro.

Segundo a historiadora Maria Clara Wasserman:

Os recursos do compositor para escapar do crivo dos censores ficaram bastante conhecidos: utilização de palavras ambíguas (Cálice), inversões irônicas (Deus lhe pague), pseudônimos (Julinho da Adelaide e Leonel Paiva) e ainda construções de versos dotados de duplo sentido (Corrente).

Como pessoa voltada para a espiritualidade, sempre me impressionou especialmente a composição Cálice, composta em parceria com Gilberto Gil, sempre mencionada como das mais marcantes da produção do artista.

Leio um pequeno trecho:

Pai, afasta de mim esse cálice

de vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amarga

Tragar a dor, engolir a labuta

Mesmo calada a boca, resta o peito

Silêncio na cidade não se escuta

(...)

Como é difícil acordar calado

Se na calada da noite eu me dano

Quero lançar um grito desumano

Que é uma maneira de ser escutado

(...)

De que adianta ter boa vontade,

Mesmo calado o peito, resta a cuca

Dos bêbados do centro da cidade

Também admiro demais o admirável “Deus lhe pague”, na qual Chico descreve magnificamente o clima de opressão sob o qual vivíamos naquela época:

Por esse pão pra comer, por esse chão para dormir

A certidão pra nascer e a concessão para sorrir

Por me deixar respirar, por me deixar existir

Deus lhe pague

Pelo prazer de chorar e pelo “estamos aí”

Pela piada no bar e o futebol pra aplaudir

Um crime pra comentar e um samba pra distrair

Deus lhe pague

É coisa de gênio. Fantástica sua forma de driblar a censura e dizer o que queria dizer da forma como disse.

A perseguição sistemática chega a tal ponto que Chico é obrigado a lançar o disco “Sinal Fechado”, só com obras de outros autores. Sua única canção naquele LP, “Acorda, amor”, foi assinada pela dupla Julinho da Adelaide e Leonel Paiva, na verdade pseudônimos utilizados pelo autor perseguido. Quando a burla vem a público, ocorrem demissões no Serviço de Censura. Em função do episódio, aquela repartição passou a exigir documentos de identidade dos autores que apresentassem suas criações.

A censura à produção artística e intelectual no Brasil estendeu-se por dez anos. Começou com a edição do AI-5, em dezembro de 1968, e foi até 1978, com a revogação do ato.

Segundo a historiadora Maria Clara Wasserman, a mudança política ocorrida no fim dos anos 60, com o aprofundamento do autoritarismo, acabou influenciando decisivamente numa profunda mudança de perspectiva. Chico deixa de ser um compositor lírico e se volta para o engajamento político. O disco “Chico Buarque de Hollanda Volume 4”, produzido entre fins de 1969 e 1970, mostra essa mudança.

“Nesse álbum - diz a historiadora Maria Clara Wasserman -, Chico denunciava abertamente a ditadura (Rosa dos Ventos, Cara a Cara). Apesar da contundência de algumas canções, o disco não sofreu sanções e, na verdade, não fez grande sucesso”. O divisor de águas da carreira do compositor se deu na virada de 1970 para 1971, com a repercussão do compacto simples que trazia “Apesar de você”. O samba-denúncia passou despercebido pelos censores e foi liberado. O sucesso foi instantâneo, vendendo mais de 100 mil cópias em sete semanas, no início de 1971. Quando o órgão censor percebeu o deslize, a repressão logo se fez sentir: a execução pública foi proibida, os discos recolhidos e o compositor autuado”.

Esses muitos atritos entre Chico Buarque e o governo militar acabaram por transformá-lo num símbolo da resistência à ditadura.

É importante destacar que, mesmo nessa época em que suas composições tinham um forte conteúdo político de aberto desafio ao regime militar, o compositor jamais rebaixou os elevados padrões da alta exigência - musical e poética - que sempre compunham as suas canções.

É importante considerar que ainda, além das músicas com claros objetivos de contestação política, Chico Buarque tem uma grande produção voltada para as questões sociais mais graves do País, que são hoje as mesmas dos anos 70. Com uma diferença: alguns desses problemas são hoje ainda mais profundos.

Se quisermos compreender esse agravamento das mazelas sociais, temos que levar em conta não apenas a estagnação econômica que o Brasil enfrenta há duas décadas, mas também o aumento populacional explosivo. A população praticamente dobrou em trinta anos.

Em 1971, Chico compôs “Construção”, um clássico que obteve reconhecimento mundial por tratar do drama dos trabalhadores na construção civil.

Outro clássico é “Pivete”, de 1978. A situação dos meninos de rua do Brasil, que ele retrata tão bem nesta canção, é ainda hoje mais grave que nunca:

No sinal fechado

Ele vende chiclete

Capricha na flanela

E se chama Pelé

Pinta na janela

Batalha algum trocado

Aponta o canivete

E até

(...)

Entre as questões sociais abordadas ainda está a dos jovens marginalizados que são em boa parte agregados pelos traficantes de drogas nas grandes cidades. Há uma bela música de Chico Buarque sobre esse tema: “Meu guri”. Nessa canção, a ingênua mãe de um garoto que entrou para o crime descreve seu filho que vê, assassinado, na página de um jornal:

Chega estampado, manchete, retrato

Com venda nos olhos, legenda e as iniciais

Eu não entendo essa gente, seu moço

Fazendo alvoroço demais

O guri no mato, acho que tá rindo

Acho que tá lindo de papo pro ar

Desde o começo, eu não disse, seu moço

Ele disse que chegava lá

O que faz de Chico um compositor tão respeitado pelos intelectuais do mundo inteiro é o fato de ele, na sua excepcional sensibilidade, traçar quadros verídicos e comoventes da nossa realidade, da nossa triste realidade, que é, com poucas alterações, a mesma dos anos atrás, durante os quais Chico manteve uma produção intensa.

Pode-se dizer, de certa forma, que aquilo que Chico denunciava sobre a ditadura e o autoritarismo não existe mais. Desde 1988 temos uma Constituição democrática. Todas as instituições políticas funcionam bem. No entanto, as mazelas sociais cantadas por Chico se mantêm. Ouso dizer até mesmo que o desprezo das elites pelo povo brasileiro, denunciado pelo compositor, permanece até hoje.

Sr. Presidente, Srªs. Srs. Senadores, no caderno dedicado pelo Jornal do Brasil a Chico Buarque, o jornalista Paulo César de Araújo dá uma bela idéia do destaque do artista no panorama musical brasileiro. Escreve assim:

Pairando acima de todos, Chico consegue uma aprovação unânime das elites culturais exatamente porque agrada tanto aos adeptos do samba tradicional como aos defensores da chamada linha evolutiva da música popular brasileira. E isso explica, por exemplo, o resultado de uma pesquisa que a revista ISTOÉ realizou com os seus leitores em 1999, para a escolha do “músico brasileiro do século XX”. De uma lista de trinta nomes apresentados para a eleição - Chico, Tom Jobim, Pixinguinha, Caetano Veloso e Roberto Carlos, entre outros -, o público leitor da revista, que possui um perfil de classe média e nível universitário, escolheu exatamente ele, Chico Buarque, eleito com 76,48% dos votos, como o grande compositor da vida brasileira.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Pedro Simon, peço um aparte.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Concederei o aparte a V. Exª, com o maior prazer, após concluir.

Já sobre o trabalho de Chico Buarque como escritor escreve o crítico Alexandre Amorim, na mesma edição do Jornal do Brasil:

Escrever romances pode ser uma amostra do ecletismo do compositor Chico Buarque. Pode também ser um descanso do músico ou uma fuga da escassez temporária de inspiração melódica. Não importa muito qual a explicação, até porque Chico costuma concordar com todas elas, quando é perguntado sobre isso. Importa aproveitar mais uma faceta de um compositor (e autor) genial. Importa notar que o autor (e compositor) sabe lidar com a prosa de seus livros tanto quanto com a poesia de suas letras. E quem há de afirmar que esta lhe é superior?

No artigo intitulado “Chico Buarque e a imagem do artista”, escreve o Jornalista Lula Branco Martins:

A maior construção que Chico Buarque ergueu em sua carreira talvez não seja sua canção cheia de proparoxítonos. A principal obra pode ter sido a sua imagem, lapidada tijolo por tijolo desde os anos 60. Imagem que reflete de um lado o artista mártir da ditadura e, de outro, o cidadão íntegro e coerente. Zeloso deste capital simbólico, Chico não lhe permite aranhões, revolta-se ao se sentir injustamente acusado, recorre à lei quando é o caso.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Sr. Presidente, desejo muitas felicidades a Chico Buarque de Holanda, modelo de artista brasileiro que muito projetou o nosso País.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Permite-me V. Exª um aparte?

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Concedo o aparte ao Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Pedro Simon, V. Exª, esse extraordinário orador, presta homenagem ao extraordinário compositor Chico Buarque. Talvez, extraordinário, V. Exª seja reconhecido como o melhor, e talvez o País reconheça Chico Buarque como o melhor compositor. Com todo o respeito, no meu entendimento, a música manifesta mais que a sabedoria, que a filosofia, que a oratória. Ele simboliza aquilo em que V. Exª acredita tanto, o Livro de Deus. V. Exª vê música nos salmos, na harpa de Davi. V. Exª é franciscano. “Onde houver tristeza que eu leve alegria”. Agora mesmo, eu com a minha Adalgisa estivemos no Rio e assistimos à opera escrita por ele, a Ópera do Malandro, que traduz essa sua inteligência e que leva ao País a alegria cantada por São Francisco, o nosso patrono.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado a V. Exª.

O Sr. João Capiberibe (Bloco/PSB - AP) - Permite-me V. Exª um aparte?

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Você era o mais bonito dos Senadores desta ala. Você é o favorito onde eu sou o mestre-sala. Senador Pedro Simon, V. Exª trouxe para esta Casa as canções e o conteúdo mais belo da obra de Chico Buarque, que tem comovido o povo brasileiro nas últimas quatro décadas. V. Exª o fez de uma maneira muito sensível e significativa, com uma justa homenagem aos 60 anos daquele que tem tanto dignificado o seu pai, Sérgio Buarque de Holanda, Dª Maria Amélia, e todos os seus irmãos, que são também artistas, compositores, intelectuais e economistas. Trata-se de uma família muito bela. Quero recomendar a todos que assistam ao filme sobre a vida de Sérgio Buarque de Holanda em que há um depoimento tão bonito de Chico Buarque de Holanda.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - V. Exª presta a mais justa homenagem a um dos nossos maiores cantores e compositores, tão amado pelo povo brasileiro. Meus cumprimentos e minha solidariedade ao Senador Pedro Simon pela bonita homenagem.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado.

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Senador Pedro Simon, permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Pois não.

O SR. PRESIDENTE (José Sarney. PMDB - AP) - Que os aparteantes sejam breves, pois o tempo do orador já se esgotou.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - V. Exª é um intelectual; mais que um intelectual, V. Exª é um imortal e há de compreender que não se trata de um imortal, mas de um colega de V. Exª, de um intelectual que merece a compreensão da Casa. Tenho certeza de que V. Exª haverá de entender.

 O SR. PRESIDENTE (José Sarney. PMDB - AP) - Por isso estamos concedendo esse prazo.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Tenho certeza disso.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

O Sr. Demóstenes Torres (PFL - GO) - Senador Pedro Simon, V. Exª rememora os 60 anos de vida do compositor Chico Buarque de Holanda, com certeza um dos maiores, senão o maior compositor de música popular no Brasil. Um homem múltiplo, que, como V. Exª bem relembrou, começou com os sambinhas estilo Noel Rosa. Quem não se lembra do seu Juca, da Rita e de tantos outros? No ano seguinte, já no Tuca, estava musicando a obra Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, e assim por diante. Foi compositor de música infantil, com os Saltimbancos e com os Saltimbancos Trapalhões. Dizem que é o homem que mais conhece a alma feminina na música brasileira. São tantas as mulheres, a Rita, a Madalena, a Teresinha, a Cecília, a Iracema. Há músicas com açúcar, com afeto, sem açúcar, sem afeto, e tantas outras. O Chico Buarque compreende, por exemplo, aquele que vai embora para os Estados Unidos, como em “Iracema voou”, e, de vez em quando, liga, pois tem saudade daqui, mas tem medo da polícia, porque a imigração pode deportá-lo. Chico é esse homem que conseguiu dar alegria a nós, brasileiros, na época da ditadura, na época da liberdade, e, agora, como escritor também, de Fazenda Modelo, de Calabar, de Gota d’Água, de Ópera do Malandro e de outros sucessos mais recentes. Chico Buarque realmente é aquele compositor e escritor que nos dá alegria, mas ele deveria, é claro - falo como fã -, de vez em quando gravar algum disco, para que não fiquemos apenas relembrando. Parabéns a V. Exª, que trouxe o tema a esta Casa, merecidamente. Penso que todos os Senadores e todos os brasileiros devem reverenciar esse grande homem, Chico Buarque de Holanda.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado a V. Exª.

O Sr. João Capiberibe (Bloco/PSB - AP) - Senador Pedro Simon, permite-me V. Exª um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Concedo o aparte ao Senador João Capiberibe.

O Sr. João Capiberibe (Bloco/PSB - AP) - É uma felicidade tê-lo entre nós, e mais felizes ficamos todos ao relembrar essa figura única na literatura, na música popular brasileira, que é Chico Buarque, que completa 60 anos. Vou parabenizá-lo e parabenizar também Chico Buarque pelos seus 60 anos. Ele é o símbolo da resistência à ditadura militar e ele cantou todo o período de resistência e a volta do exílio. Neste ano, completa 25 anos a Lei de Anistia, que permitiu que milhares de brasileiros que andaram vagando pelo mundo afora retornassem à sua pátria. Sinto-me muito feliz por participar deste momento e por ouvir essa história tão bem construída pelo discurso de V. Exª. Obrigado, Senador.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Muito obrigado.

Digo que fiz este pronunciamento com a mais profunda emoção. Tenho uma admiração muito grande por Chico Buarque.

Eu ainda era jovem, iniciava-me na política, e Chico Buarque era praticamente um menino. Ele tinha diante dele o caminho aberto de um sucesso total, do aplauso, do enriquecimento. No entanto, seguiu o caminho que a consciência lhe ditava: o caminho da verdade, do amor, da resistência, de combate ao regime militar.

Ele podia ser, como no mundo sempre ocorre, apenas um poeta, um compositor, um cantor, um músico, e levar adiante a sua carreira. Mas não, ele sacrificou demais a sua carreira. Dizem que, embora não se saiba o número, há centenas e centenas de músicas inéditas. Parece que descobriram numa das gavetas, sei lá eu onde, dos antigos caminhos da ditadura, as suas músicas que foram censuradas. Fala-se até que há possibilidade de aparecerem composições inéditas daquela época, de músicas que nem Chico Buarque se lembrava de ter composto, mas que foram compostas.

Acompanhei toda a obra de Chico Buarque. E, quando falo em Chico, quero representar nele toda a categoria artística: os cantores, os compositores, os artistas de televisão, de cinema e de novela. Refiro-me a toda aquela classe que esteve conosco na luta contra a ditadura, numa época difícil, em que muitos perderam o emprego. Os mais notáveis podiam se dar ao luxo de subir no palanque da campanha contra a ditadura, contra o arbítrio, contra a censura, contra a tortura, a favor da campanha pelas eleições Diretas Já. Mas muitos perderam o emprego, muitos foram postos para fora da emissora de televisão em que trabalhavam, muitos ficaram anos sem conseguir emprego, porque ficaram permanentemente ao lado da causa democrática.

Por isso, ao se lembrar daqueles anos, não se pode esquecer que a classe intelectual brasileira deu exemplos extraordinários de renúncia, de capacidade, de esforço, de trabalho.

Assim, Sr. Presidente, aproveito essa data, os 60 anos de Chico Buarque, 25 anos passados da censura, para levarmos a nossa homenagem, o nosso carinho e o nosso afeto aos intelectuais brasileiros, aos artistas brasileiros, na pessoa daquele que, na nossa opinião, foi o número um: Chico Buarque de Holanda.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/07/2004 - Página 22520