Discurso durante a 102ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comparecimento ao Senado Federal do Presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, e do Presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, para prestarem esclarecimentos sobre fatos veiculados na imprensa. (como Líder)

Autor
José Agripino (PFL - Partido da Frente Liberal/RN)
Nome completo: José Agripino Maia
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Comparecimento ao Senado Federal do Presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, e do Presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, para prestarem esclarecimentos sobre fatos veiculados na imprensa. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 04/08/2004 - Página 24162
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, NOTICIARIO, IMPRENSA, DENUNCIA, CORRUPÇÃO, FALTA, ETICA, DIRIGENTE, BANCO DO BRASIL, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN).
  • VISITA, ORADOR, MUNICIPIOS, ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE (RN), PARTICIPAÇÃO, CAMPANHA, ELEIÇÃO MUNICIPAL, COMENTARIO, DECLARAÇÃO, CIDADÃO, CRITICA, FALTA, ETICA, AUTORIDADE, GOVERNO FEDERAL.
  • NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, HENRIQUE MEIRELLES, PRESIDENTE, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), IRREGULARIDADE, DECLARAÇÃO, IMPOSTO DE RENDA.
  • CRITICA, FALTA, ETICA, BANCO DO BRASIL, DOAÇÃO, RECURSOS, AQUISIÇÃO, SEDE, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), DENUNCIA, IRREGULARIDADE, PRESIDENTE, DIRETOR, POLITICA MONETARIA, BANCO CENTRAL DO BRASIL (BACEN), SUPERIORIDADE, REMESSA DE VALORES, EXTERIOR, NECESSIDADE, ESCLARECIMENTOS, EXPECTATIVA, VISITA, SENADO.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há seguramente quinze dias que as revistas de circulação nacional e os jornais, principalmente do Rio e de São Paulo, vêm tratando, nas suas manchetes, de um assunto de que não aprecio falar aqui da tribuna, mas é meu dever falar dele, é meu dever cobrar, porque é meu dever interpretar o sentimento da sociedade. Falam em corrupção, em desvio de padrão ético, em coisas pouco recomendáveis que teriam sido praticadas por dirigentes do Banco do Brasil e do Banco Central, pessoas que precisam dar exemplo. A vida pública é feita por pessoas que exercem a liderança, e quem é líder tem a obrigação de dar exemplo. O que um Presidente da República faz é acompanhado por toda a sociedade, e isso pauta comportamentos, para o bem ou para o mal.

No setor da economia e das finanças, o comportamento de dirigentes do Banco do Brasil, da Caixa Econômica, do Banco Central, o guardião da moeda, sinaliza para toda a economia do Brasil, do cidadão mais pobre ao empresário mais rico. Pois bem, há quinze dias, as revistas, a grande Imprensa martela, cobra e denuncia distorções de conduta que teriam sido praticadas pelo Presidente do Banco do Brasil, pelo Presidente do Banco Central e pelo Diretor de Política Monetária do Banco Central.

Ouvi hoje, no noticiário matutino da televisão, entre algumas manifestações da Oposição e do Governo, uma que me causou espécie: a declaração de um homem que reputo equilibrado, decente, honrado, o Ministro de Estado Márcio Thomaz Bastos. S. Exª dizia estar estupefato com o que estava vendo e ouvindo, lendo nos jornais e nas revistas, e que pensava se tratar de uma campanha contra o Presidente do Banco Central e o Presidente do Banco do Brasil.

Sr. Presidente Romeu Tuma, V. Exª, como eu, sabe que, há quinze dias, esse assunto não sai da primeira página dos jornais e da capa de revistas. Mas V. Exª sabe, como eu sei, que nem o dólar disparou por conta das denúncias, nem o risco Brasil subiu, nem a bolsa de valores despencou. O mercado não se perturbou, apenas está acompanhando os fatos. Ele está em stand by. Quem está estupefato é o cidadão brasileiro.

Quero relatar a V. Exª e a meus Pares o que ouvi de brasileirinhos do meu Estado. Senador Garibaldi Alves Filho, como comentei com V. Exª no avião que nos trouxe de Natal para cá, estive em Mossoró na sexta-feira, em uma movimentação de rua ao lado da minha candidata à prefeita, e em Ielmo Marinho, Município bem menor, próximo de Natal, em um comício em favor do meu candidato. Em Mossoró, fiz uma caminhada ao lado de populares - homens, mulheres, jovens, crianças - e, em Ielmo Marinho, fui obrigado a andar um quilômetro a pé para chegar ao local do comício, pelo meio do povo.

Sr. Presidente Romeu Tuma, quanta gente eu vi! Quanta manifestação! No contato direto com as pessoas, ficamos entregues ao contato e à conversa.

Em Ielmo Marinho, um município agrícola, uma mulher, até de muito boa conversa, perguntou-me: “Senador, que história é essa de agora autoridade poder comprar de si próprio um patrimônio? Ele é dono de uma chácara, compra de si próprio, recebe o dinheiro e não declara nada para não pagar imposto! Então, agora autoridade tem direito de fazer isso”? Essa foi a observação de um popular de Ielmo Marinho.

Em Mossoró, a pergunta que ouvi veio de um jovem, que não tinha mais de 20 anos. Na caminhada que fazia ao lado da minha candidata à prefeita, ele me perguntou: “Senador, quer dizer que agora o Banco do Brasil pode ajudar a comprar sede própria de partido político? Quer dizer que agora o Banco do Brasil, que está acionando os agricultores, pode, pela sua diretoria, dar dinheiro para a compra de sede própria de partido político”?

Senador Luiz Otávio, o que está passando para o cidadão brasileiro hoje, que está ouvindo pela televisão e pelas rádios e vendo nos jornais a repetição dos nomes Henrique Meirelles, Casseb e Candiota, são esses dois recados, entre outros fundamentalmente, Senador Marco Maciel.

Perguntou-me o jovem conterrâneo de Mossoró: “Quer dizer que agora o Banco do Brasil pode dar dinheiro para compra de sede de partido político? Mudou tudo neste País”? E a mulher de Ielmo Marinho: “Quer dizer que agora alguém pode comprar de si próprio uma propriedade, uma chácara, para não pagar imposto e ainda pegar o homem que comprou com a mala de dinheiro no aeroporto para não declarar a operação”? É isso.

Presidente Romeu Tuma, o que me traz a esta tribuna hoje não é uma atitude raivosa, mas o desejo de interpretar o sentimento desses brasileirinhos que estão indignados e que merecem respostas, como também V. Exª, eu, o Senado e o Congresso.

Não adianta nota oficial. Depois do Waldomiro, não adianta. Este Governo não atende mais ao padrão ético e moral, não atende mais às exigências da sociedade com a divulgação de notas de porta-vozes ou de notas oficiais da assessoria de imprensa. Não. Acabou. Isso é coisa do passado. A vestal que era o Governo do PT não é mais; não adianta, tem que prestar conta.

Não quero fazer prejulgamento. Tenho o Sr. Henrique Meirelles em boa conta, mas entre eu achar e ele ser há uma distância, e quem tem que provar é ele. Se ele está tranqüilo como declarou, ele precisa se oferecer para vir ao Congresso, para vir ao Senado e dar as respostas às perguntas básicas sobre o seu domicílio real, eleitoral e fiscal no Brasil, pois ele morava nos Estados Unidos. O ano correto é 2001, 2002 ou 2003? O esclarecimento é necessário porque há divergências na declaração do patrimônio, e a divergência na declaração do patrimônio está atribuída à data de moradia, de fixação de residência. A distorção entre a residência e a obrigação fiscal que ele teria no Brasil - pasmem! - ocasionou um haver na sua declaração de Imposto de Renda no valor de R$54 mil. Ou seja, pela declaração feita, ele teria que receber uma devolução de R$54 mil. Quatro horas e meia depois de a revista ISTOÉ tê-lo instado com um questionário, foi feita uma ratificação. Em vez de ter de receber R$54 mil, deveria pagar R$110 mil.

Pode até ser que haja justificativa, mas eu e o Brasil todo queremos saber. Não quero fazer juízo de valor antecipado, mas o Brasil quer saber - os brasileirinhos de Viçosa; de Campinas do seu Estado, Sr. Presidente; de Gravatá, do Estado de Pernambuco; de Blumenau, do Estado de Santa Catarina; de Maués, no Amazonas; de Teresina, do Senador Heráclito Fortes. E a nossa obrigação, Sr. Presidente, é interpretar o sentimento do cidadão e cobrar, sem fazer juízo de valores. Não há condenação prévia. Mas temos o direito de conhecer a verdade, que não vai ser reposta por meio de notas oficiais.

Quanto à pergunta do meu conterrâneo de Mossoró sobre se o Banco do Brasil pode fazer doação para compra de sede própria de partido político, ele ouviu a história do Porcão, a história dos R$70 mil comprados em mesas para o show da dupla sertaneja que faz show em São Paulo e no Rio de Janeiro para angariar fundos para compra de sede própria, orçada em R$15 milhões. Que partido megalômano: R$15 milhões para compra de uma sede própria! Bonito! E pretende fazê-lo às custas do Banco do Brasil, às custas do acionista individual do Banco do Brasil! Ele concorda com isso? Tenho que falar pelo acionista do Banco do Brasil. É minha obrigação, como Senador de Oposição, cobrar lisura de procedimentos. Tanto não foi lisa e correta a atitude que o Porcão, depois da denúncia, devolveu o dinheiro.

O diretor do Banco do Brasil fez sua mea culpa e desmanchou tudo. Mas, se não tivesse sido verificada a prática da compra dos ingressos, estaria tudo feito, como estava feita a declaração do Imposto de Renda do Sr. Henrique Meirelles, com o direito declarado de receber R$54 mil e não de pagar R$110 mil.

Há mais, Sr. Presidente. Sobre o Sr. Carlos Casseb, que continua Presidente do Banco do Brasil, que preside a instituição que comprou R$70 mil em mesas para o show que ajudaria na compra da sede do PT - o que indignou meu conterrâneo de Mossoró -, há denúncias de que fez transferências para bancos no exterior no valor de US$593 mil. O Sr. Condiota fez transferências no valor de US$1,290 milhão. Denunciado, pediu demissão, que foi aceita. Não sei se foi negociada, mas o fato é que quem pediu reconheceu que havia praticado algo irregular e quem a aceitou entendeu que a falta cometida era grave e justificava a demissão.

Então, o Sr. Candiota saiu da Diretoria de Política Monetária do Banco Central. Qual é a diferença entre transferir sem declarar e sem pagar imposto US$1.290.000 ou US$600 mil? Ambas são quantias vultosas. Por que se penaliza o Sr. Candiota e se mantém o Sr. Casseb? Será que o Sr. Casseb tem justificativas que o Sr. Candiota não tinha? Para isso, é preciso que ele venha aqui e se justifique. Estamos à espera disso.

Eu não faço prejulgamento ou condenação prévia, mas tenho a obrigação de cobrar, em nome dos meus co-cidadãos que estão indignados, de norte a sul e de leste a oeste deste País. O que estamos querendo é isso.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, se os acusados não forem descartados, daqui para frente o acusado será o próprio Governo. Esse contencioso é do Governo. Ou o Governo recomenda que seus acusados venham ao Congresso prestar esclarecimentos, ou o acusado será o próprio Governo.

Não venho pedir demissão de ninguém. Nomear ou demitir é prerrogativa do Presidente da República. Sua Excelência pode pagar um preço muito alto perante a consciência dos brasileiros. Está com o Governo a palavra.

Sr. Presidente, se porventura entre hoje e amanhã, os Presidentes do Banco Central e do Banco do Brasil não se dispuserem a vir ao Senado, de preferência à Comissão de Assuntos Econômicos, meu Partido, por meio de minha Liderança, tomará a iniciativa de fazer o convite por escrito para que aqui venham esclarecer as dúvidas dos brasileiros e para que, se o Governo quiser, mantenha seu padrão ético, o que é exigência do povo do Brasil.

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT - SP) - Permita-me V. Exª um aparte?

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Concedo o aparte, com o maior prazer, ao Senador Eduardo Suplicy.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP. Fazendo soar a campainha.) - O aparte não pode ser concedido porque o orador fala pela Liderança e porque o tempo de S. Exª já está esgotado.

Depois, V. Exª, Senador Eduardo Suplicy, pode falar pela Liderança, se for o caso. Já neguei aparte ao Senador Heráclito Fortes. Peço desculpas a V. Exª, mas assim procedo para dar continuidade aos trabalhos.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Sr. Presidente, permita-me apenas dizer que, como estou inscrito na tarde de hoje, falarei do tema. Desde já, convido o Senador José Agripino para dialogarmos, porque eu concederei o aparte a S. Exª na oportunidade.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senador Eduardo Suplicy, V. Exª está inscrito. O tempo do Senador José Agripino está esgotado. Se o tempo de V. Exª esgotar sem que tenha concedido o aparte, também não permitirei que o faça. Desculpe-me, Senador.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Sr. Presidente, darei o aparte no meu tempo.

O SR. JOSÉ AGRIPINO (PFL - RN) - Sr. Presidente, infelizmente não posso conceder o aparte ao Senador Eduardo Suplicy, mas assistirei ao pronunciamento de S. Exª com o maior prazer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/08/2004 - Página 24162