Discurso durante a 102ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários a matéria veiculada na imprensa sobre proposta para exploração de áreas públicas na Amazônia.

Autor
Mozarildo Cavalcanti (PPS - CIDADANIA/RR)
Nome completo: Francisco Mozarildo de Melo Cavalcanti
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA FUNDIARIA. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
  • Comentários a matéria veiculada na imprensa sobre proposta para exploração de áreas públicas na Amazônia.
Publicação
Publicação no DSF de 04/08/2004 - Página 24215
Assunto
Outros > POLITICA FUNDIARIA. DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
Indexação
  • LEITURA, TRECHO, SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DIVULGAÇÃO, CONCLUSÃO, GOVERNO FEDERAL, PROJETO DE LEI, ELABORAÇÃO, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), PREVISÃO, PRIVATIZAÇÃO, AREA, FLORESTA AMAZONICA, LOCALIZAÇÃO, TERRA PUBLICA, AUSENCIA, RESERVA ECOLOGICA, OBJETIVO, EXPLORAÇÃO, INICIATIVA PRIVADA, RECURSOS FLORESTAIS, MADEIRA.
  • IMPORTANCIA, DEBATE, CONGRESSO NACIONAL, GOVERNADOR, REGIÃO AMAZONICA, SOBERANIA NACIONAL, EXPLORAÇÃO, FLORESTA AMAZONICA, OPOSIÇÃO, ORADOR, ANTEPROJETO, GOVERNO FEDERAL.

O SR. MOZARILDO CAVALCANTI (PPS - RR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ontem tive a oportunidade de abordar o tema sobre o desenvolvimento da Amazônia e disse, naquela ocasião, que o Governo precisava ter um plano estratégico de desenvolvimento para a Amazônia.

Sr. Presidente, lendo os jornais O Globo, de domingo, e Folha de S.Paulo, de hoje, vejo matéria muito interessante, cuja manchete estampa: “Projeto de lei prevê privatização da Amazônia”. A reportagem é do jornal O Globo e diz: “Proposta é abrir licitações e repassar exploração de áreas públicas na região para ONGs e empresas privadas”.

Sr. Presidente, lerei um trecho dessa matéria que, realmente, é muito interessante:

O Governo Federal está finalizando o texto de um projeto de lei que promete atiçar o debate entre os que defendem a preservação integral da Amazônia e aqueles que pensam num projeto econômico para a floresta. A proposta, elaborada pelo Ministério do Meio Ambiente e que agora está sendo ajustada na Casa Civil, prevê a privatização de áreas de floresta localizadas em terras públicas, seja do Governo Federal, de Estados ou Municípios.

A idéia é mapear as faixas de floresta que estejam fora de unidades de conservação e dividi-las em blocos que serão concedidos à iniciativa privada por licitação. Qualquer empresa poderá participar, inclusive as estrangeiras que têm seus braços no Brasil. O Ministério do Meio Ambiente calcula que, para produzir de forma sustentável os 30 milhões de metros cúbicos de madeira consumidos atualmente na Amazônia, será preciso abrir à iniciativa privada algo em torno de 50 milhões de hectares de florestas. Ou seja, 15% de toda a região amazônica - uma área quase igual à da Bahia e maior do que os Estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo somados.

Diz mais:

O Governo pretende cobrar das concessionárias pelo volume dos produtos retirados da floresta. Apesar de ter como foco a extração da madeira, a proposta prevê ainda a exploração de outros bens naturais, como frutos, resinas e plantas ornamentais, por exemplo. Já existe até uma conta preliminar de quanto as concessões gerariam para os cofres da União: algo em torno de R$200 milhões por ano, metade do orçamento do Ministério do Meio Ambiente.

Pela última versão do texto a que O Globo teve acesso, os vencedores das licitações teriam direito a explorar os recursos naturais das florestas, mas não ganhariam a propriedade da terra. O Ministério diz que as regras serão rígidas e que, em qualquer tempo, o Governo poderá cancelar o contrato se o concessionário estiver extrapolando os limites previstos no edital de licitação.

Um dos entusiastas da idéia, o Secretário Nacional de Floresta e Biodiversidade, João Paulo Capobianco, rechaça o uso da palavra “privatização” para definir o modelo proposto pelo Governo.

- Não é privatização. Pelo contrário, é a soberania total da Amazônia - diz.

- O mais importante dessa estratégia é que hoje não existe um mecanismo sustentável de terras públicas e agora passaremos a ter - reforça o Diretor do Programa Nacional de Florestas do Ministério, Tasso Azevedo.

Sr. Presidente, quero, antecipadamente, requerer a transcrição, na íntegra, dessas duas matérias, porque julgo da maior importância que possamos, efetivamente, debater o assunto, já que virá sob a forma de projeto de lei. Espero que venha dessa forma e não por medida provisória. Esse é um tema da mais alta significação para a soberania do País. O que se está fazendo? Um proprietário qualquer na Amazônia, tanto faz se tem 100 hectares ou mil hectares, só pode explorar 20% da sua área. E aqui o Governo está propondo licitar terras para ONGs, para empresas nacionais ou estrangeiras, a fim de explorar madeira e outros bens naturais da Amazônia.

Portanto, é uma matéria que deve ser muito bem analisada pela Câmara e pelo Senado, considerando a complexidade e os riscos que representa para a nossa soberania. Será praticamente uma autorização para uma pesquisa mais aprofundada da nossa região e para o descaminho de matérias que, infelizmente, o Brasil não domina, como o controle exato da nossa biodiversidade. O Brasil ainda não conhece de fato toda a biodiversidade existente na Amazônia. E considero um contra-senso abrir dessa forma a exploração das nossas florestas. Vejam que o Ministério do Meio Ambiente tem uma preocupação excessiva com o meio ambiente e agora propõe que o Brasil possa arrendar, sob qualquer título, suas terras para que empresas, diretamente ou camufladas pelo rótulo de ONGs, possam fazer isso.

A princípio, fico até arrepiado, Sr. Presidente, de pensar nesse projeto. Mas, como o projeto ainda não chegou ao Congresso, espero que, na Casa Civil, se façam realmente os ajustes capazes de garantir ao País que a sua soberania e a propriedade sobre o patrimônio da Amazônia não estejam definitivamente agora à mercê dos grandes interesses internacionais, sob o pretexto de explorarmos as nossas potencialidades, tanto da madeira quanto de outros bens naturais da Amazônia. Isso me preocupa muito. Espero que principalmente o Senado Federal se debruce sobre a matéria de maneira muito profunda e responsável, pois não podemos pensar que, após tanta pregação com relação a manter a Amazônia intocada, feita exatamente pelo Ministério do Meio Ambiente, exista uma brecha desse tamanho, permitindo a exploração das florestas por empresas que, com certeza, serão predominantemente estrangeiras ou camufladas de outras empresas.

Assim que o projeto chegar à Câmara dos Deputados, quero antecipar o debate no Senado Federal. Espero que os Governadores da Amazônia estejam atentos para a questão. Espero que todos os brasileiros responsáveis também estejam atentos. Não apenas nós, da Amazônia, mas todo o Brasil deve estar atento para a iniciativa, que pode até redundar em algum benefício, mas que é um paradoxo. Atualmente, os 25 milhões de habitantes da Amazônia não podem adequadamente explorar a madeira, não podem desenvolver qualquer tipo de produto agrícola ou mesmo manter uma atividade pecuária, pois há uma fiscalização severa do Ibama e do Incra. E agora vemos exatamente o Ministério do Meio Ambiente apresentar proposta desse tipo.

Não pretendo prejulgar essa iniciativa, mas gostaria de dizer, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que isso me causa muita estranheza e que, portanto, merece de minha parte - e tenho certeza que de todos os Parlamentares, tanto Deputados Federais quanto Senadores - um estudo acurado, a fim de que possamos, se houver algum benefício, realmente aproveitá-lo. Mas vamos, pelo menos, compatibilizá-lo com o que interessa efetivamente ao Brasil e à Amazônia. Muito obrigado.

 

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DOCUMENTOS A QUE SE REFERE O SR. SENADOR MOZARILDO CAVALANTI EM SEU PRONUNCIAMENTO:

(Inseridos nos termos do art. 210, inciso I, e § 2º do Regimento Interno.)

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Matérias referidas:

“Governo Quer alugar Floresta para Empresa”;

“Projeto de lei prevê privatização da Amazônia”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 04/08/2004 - Página 24215