Discurso durante a 108ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Importância das relações entre o Brasil e o Líbano.

Autor
Romeu Tuma (PFL - Partido da Frente Liberal/SP)
Nome completo: Romeu Tuma
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • Importância das relações entre o Brasil e o Líbano.
Publicação
Publicação no DSF de 12/08/2004 - Página 25844
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • IMPORTANCIA, VIAGEM, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ORIENTE MEDIO, REFORÇO, RELACIONAMENTO, AMIZADE, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, LIBANO.
  • CONCLAMAÇÃO, INICIATIVA PRIVADA, EMPRESA ESTATAL, BRASIL, CONSTRUÇÃO, CENTRO CULTURAL, TERRENO, DOAÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, PAIS ESTRANGEIRO, LIBANO.

            O SR. ROMEU TUMA (PFL - SP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o que me traz a esta tribuna é resultado de uma conversa com o ilustre amigo Roberto Dualibi, nome de destaque na cultura brasileira. Não conheço, na História dos últimos séculos, exemplo maior de afinidade entre dois povos tão distantes na geografia, do que a de brasileiros e libaneses. Aquele recanto do Mediterrâneo sempre foi terra de emigração. Desde os fenícios até os nossos dias, os portos da pequena costa serviram à integração comercial do Mediterrâneo e, mais tarde, à irradiação da cultura do Ocidente com o papiro e a consciência do humanismo. Mas se sírios e libaneses constituem hoje parte importante da etnia do Hemisfério Americano, posso dizer que em nenhum outro país encontraram melhor acolhida que no Brasil. Não hesito em fazer essa afirmação, porque ela se fundamenta em experiência familiar. Sou, como sabem meus pares, descendente de imigrantes que para aqui acorreram, em busca da paz, da realização econômica, da alegria e da felicidade.

            Mas se fomos bem acolhidos, retribuímos essa hospitalidade com a plena integração na sociedade brasileira. Descendentes de sírios e libaneses formamos famílias com brasileiros, dispersamo-nos por todo o território, e de tal forma nos sentimos amalgamados na comunidade, que participamos ativamente da vida política nacional. Não há município brasileiro sem a presença de sírios e libaneses, e poucos deles não contam com libaneses e sírios em sua representação política.

            Hoje, mais do que naquelas décadas de pesada opressão do povo do Líbano sob o imperialismo otomano, a solidariedade entre brasileiros e libaneses se faz necessária. Os povos do mundo procuram superar a sua perplexidade, diante dos novos meios de comunicação instantânea e da interdependência econômica, com outros estatutos de convivência. Em momentos como este, a afinidade cultural é forte referência para que nos situemos na realidade histórica e procuremos fortalecer alianças de defesa de nossos próprios valores.

            A recente viagem do Presidente Lula ao Líbano possibilitou boa oportunidade para que brasileiros e libaneses fizessem o balanço dessa amizade secular, e criassem instrumentos para o seu desenvolvimento. Com vocação pacífica comum, brasileiros e libaneses podem contribuir ativamente para o entendimento no Oriente Médio. Nenhum país conhece melhor a realidade daquela parte do mundo do que o Líbano, e a conhece, sobretudo, pelo sofrimento a que foi submetida a sua população, vítima dos dissídios entre países vizinhos e, durante longos períodos históricos, mantida sob domínio de impérios estrangeiros. Ao mesmo tempo, nenhum grande país do mundo tem a autoridade moral de que dispõe o Brasil a fim de contribuir para a pacificação do Oriente Médio. O Brasil não conhece a intolerância religiosa, nem tem pretensões de hegemonia imperial. Sempre nos mantivemos alheios às disputas territoriais e de mercados naquela região do planeta. Essa autoridade moral do Brasil, no momento em que for solicitada, disso estou certo, não faltará para, com isenção e responsabilidade, trabalhar em benefício da paz.

            Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, durante a viagem do Presidente Lula, o governo do Líbano ofereceu ao povo brasileiro uma área de 8.000 metros quadrados, no centro de Beirute, para que ali se instale um Centro Cultural e Comercial do Brasil. Em país de reduzida geografia, como o Líbano, cujo território é apenas o dobro do território do Distrito Federal, área dessa dimensão, em sua capital, é extremamente valorizada. O governo libanês, no entanto, se dispôs a oferecê-la ao nosso povo, a fim de que ali construamos centro cultural e comercial que servirá de vitrine do Brasil em toda aquela rica área econômica e de forte presença política no mundo. Ao aceitá-la, em nome do Brasil, o governo brasileiro entendeu que caberia a organizações privadas, que terão o benefício de acesso ao grande mercado do Oriente Médio, a responsabilidade de erigir e manter as instalações do Centro Brasileiro em Beirute. E é essa tarefa que me traz à tribuna do Senado.

            Quero fazer um apelo às grandes empresas brasileiras, estatais e privadas, para que se incorporem, sob a necessária orientação do Itamarati - que, para isso, já criou grupo de trabalho -, a esse movimento, participando de uma comissão constituída de membros do Serviço Diplomático, das comissões de relações exteriores do Congresso e de representantes das organizações patronais - principalmente da Câmara de Comércio Brasil Líbano e da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira - a fim de levar o projeto adiante. Creio que deveríamos dimensionar as instalações, conforme a conveniência dos dois países, criar um concurso entre arquitetos brasileiros e libaneses, para a escolha dos projetos arquitetônicos e paisagísticos, e levantar os fundos exigidos entre os principais interessados, que são os exportadores e importadores brasileiros. 

            Nesse centro, conforme as conversações preliminares, haverá exposição rotativa de produtos brasileiros, auditórios para encontros comerciais, e espaços destinados à manifestação cultural dos dois países. Neles serão realizadas mostras de artes plásticas, espetáculos teatrais e exibição de documentários e filmes de longa-metragem.

            É uma oportunidade que devemos aproveitar imediatamente. Não é preciso insistir na importância dessa iniciativa. O Brasil, mediante o Líbano, terá acesso a mercado de alto poder aquisitivo, e se valerá da milenar experiência mercantil dos libaneses. Por outro lado, os povos da região, que visitam freqüentemente o Líbano em viagens de recreação, poderão entrar em contato com a rica cultura brasileira, o que estimulará, como é natural, o fluxo turístico ao nosso País.

            Neste momento em que o Brasil retoma o crescimento de sua economia e expande as suas exportações, a construção do Centro do Brasil em Beirute é mais que oportuna. Trata-se de empreendimento que se insere no Programa de Parceria Público-Privada do Governo do Presidente Lula. O governo brasileiro, em nome do povo, entra com o terreno que lhe foi doado pelo povo libanês, mediante seu governo, e os empreendedores interessados, conforme a dimensão de seus negócios, dividem entre eles os custos materiais do projeto.

            Ao trazer a questão ao Senado, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, conto com a solidariedade do Plenário para que esta Casa se integre no esforço para a edificação da Casa do Brasil em Beirute.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/08/2004 - Página 25844