Discurso durante a 109ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem pelo aniversário de 160 anos da cidade da Parnaíba, no Estado do Piauí.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem pelo aniversário de 160 anos da cidade da Parnaíba, no Estado do Piauí.
Aparteantes
Alberto Silva, Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 13/08/2004 - Página 26006
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, MUNICIPIO, PARNAIBA (PI), ESTADO DO PIAUI (PI), HISTORIA, FUNDAÇÃO, NUCLEO URBANO, ELOGIO, DIVERSIDADE, PERSONAGEM ILUSTRE, NASCIMENTO, CIDADE.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Papaléo Paes, Srªs e Srs. Senadores, brasileiras e brasileiros presentes e que assistem a esta sessão pelo sistema de comunicação do Senado - televisão e rádio.

Sêneca, Senador Jefferson Péres, um sábio da Grécia - como V. Exª é o sábio do Amazonas -, não nasceu nem na poderosa Esparta, nem na culta Atenas. Ao se referir à sua cidade, dizia: “Não é uma pequena cidade, é a minha cidade”.

Estou na tribuna, por cessão do extraordinário líder do Piauí, Heráclito Fortes, para prestar uma homenagem - já que não estarei aqui em 14 de agosto, o dia de Parnaíba - à minha cidade.

Senador Alvaro Dias, quando candidato a Governador do Estado do Piauí, em um segundo turno no qual eu contava com o apoio de três prefeitos - o adversário, com o de 142 prefeitos -, recebi a simpatia da minha cidade, que é a maior depois da capital, e da capital. Então, inteligentemente, os marqueteiros do sul, chamados a socorrer o candidato que representava as oligarquias do Piauí, começaram a dizer que, se eleito, eu ia transferir a capital do Piauí de Teresina para a minha Parnaíba, no litoral.

Senador Papaléo Paes, como fui para o primeiro turno, destronaram a equipe publicitária de São Paulo, que era poderosa, e convidaram Belisa Ribeiro. Havia cinco canais de televisão.

Senador Eurípedes, o povo é soberano e é quem decide. Quando governei o Piauí, cantei: “O povo é o poder”.

Senador Papaléo Paes, dos cinco canais de televisão, nenhum era comigo. Aí, armaram um e me fizeram esta pergunta - senti-me o próprio Miterrand, pois eram cinco canais para me fazer titubear: “Você pode chegar, mas ao chegar vai transferir a capital do Piauí de Teresina para Parnaíba”. Eu disse: “Bem, Teresina, muito pelo contrário, foi a primeira capital planejada do Brasil”.

A antiga capital do Piauí era Oeiras, onde tive o privilégio de condecorar o maior Líder do PMDB, Senador Pedro Simon. O baiano Saraiva, grande funcionário do Império, que vinha lá do Sergipe, transferiu a capital para Teresina, a primeira cidade planejada do Piauí, há 152 anos. Colocou-a entre dois rios, mesopotâmica.

Em um de seus discursos, disseram a Saraiva que ele ia ter despesas. Senador Papaléo Paes, aquela estadista jovem, com 24 anos - passou quatro anos no Piauí - disse que, quando se tratava de perspectiva de desenvolvimento futuro, não se levava em conta despesa e fez a transferência.

Tal era a sua inteligência, que quis frear o desenvolvimento empresarial de Caxias, no Maranhão, poderosa na região. E freou. Hoje Caxias, a 60 km, é muito dependente de Teresina, assim como o sul e o centro do Maranhão. Esse homem era tão gênio que, depois, foi para São Paulo e - rendo homenagem a Saraiva - foi Primeiro-Ministro na Guerra do Paraguai e ainda foi quem fundou Teresina.

Parnaíba foi fundada em 14 de agosto e Teresina, 16 de agosto. Portanto, Parnaíba, minha cidade, é oito anos mais antiga e fica no litoral do Piauí. Aliás, o Piauí tem o menor litoral do Brasil. São 66 km, Senador Papaléo Paes. Salvo engano, a Bahia tem o maior litoral, seguido pelo Maranhão. O Piauí, em extensão litorânea, é como o perfume francês, pequeno, e Deus o fez maravilhoso.

Parnaíba faz 160 anos.

Brasileiras e brasileiros, atentem bem! Atente bem, Senador Pedro Simon. O povo gaúcho é um povo heróico, precursor da República, lá, na Guerra dos Farrapos, de Giuseppe Garibaldi e Anita Garibaldi. Aliás, Senador Pedro Simon, a minha Adalgisa em Teresina está como Anita Garibaldi, ou seja, na luta pelos nossos ideais partidários. Sobre a Guerra dos Farrapos, digo que Bento Gonçalves foi extraordinário, mas é comparável.

Aos portugueses, ninguém deu nada, ninguém dá nada. Está na Bíblia, como pode atestar o Senador Pedro Simon, que é o representante de Deus e de São Francisco nesta Casa: “Pai, não dê o seu, porque quem dá o que tem a pedir vem”. “Pai, não dá tudo.” Então, Dom João VI, disse: “Filho, antes que qualquer aventureiro ponha a coroa, coloque-a você e vamos fazer isso.” Mas o aventureiro, Simon Bolívar, já estava aqui, nas Américas, libertando. Disse Dom João VI: “Filho, fique com o Sul, onde há muitos funcionários públicos, que eu vou ficar com o Norte”. E mandou Fidié, seu sobrinho, afilhado, militar glorioso das forças armadas portuguesas, para o Piauí para fazer o País Maranhão, dividir o Brasil. Este País só é grandão por causa do Piauí. O Rio Grande do Sul, de Bento Gonçalves, e, hoje, de Pedro Simon, pode se vangloriar.

Então, o filho de um português, Simplício Dias, que havia estudado na Europa e era colega de Simon Bolívar, tinha indústria de charque, cinco navios e financiou a guerra. O Maranhão se aliou a Portugal e invadiu a nossa cidade. Mas o brasileiro, educado na Europa, Simplício Dias, estava lá para nos defender. E está lá, na cidade de Campo Maior, um monumento a homenageá-lo.

Quis Deus que agora adentrasse este Plenário o maior piauiense vivo, Alberto Silva, no momento que homenageamos Parnaíba pelo seu aniversário.

Continuando, o Presidente Castello Branco reconheceu a Batalha do Jenipapo como uma das batalhas mais gloriosas, e Alberto Silva a eternizou. Há um monumento a cada ano e uma comemoração a cada ano, não só do Governo Alberto Silva, mas do País. Eu, como Governador, com o Exército Nacional, comemoramos essa batalha. Então, 14 de agosto é a data do aniversário da nossa cidade.

Muitas são as maravilhas da natureza, Senador Pedro Simon. Mas a mais maravilhosa é o ser humano. E a Parnaíba é grandiosa por isso. Simplício Dias da Silva foi enterrado na nossa catedral. Nesta cidade, Parnaíba, nasceu o único ser que pode estar, aqui, ao lado de Rui Barbosa, Evandro Lins e Silva, o maior jurista que houve. E, como um bem nunca vem só, lá também nasceu Alberto Silva, lá, nasceu o mais extraordinário Ministro de Planejamento deste País, João Paulo dos Reis Velloso. Senador Pedro Simon, restrições à falta de liberdade no regime revolucionário, digo que eles foram humildes e buscaram uma luz, um farol para guiá-los. Mais de 15 anos e não houve nenhuma indignidade, nenhuma imoralidade, nenhuma corrupção. Aprenda, PT, com os homens da Parnaíba, com João Paulo dos Reis Velloso. Ele fez o primeiro e o segundo PND, Ministro José Dirceu. É. Não precisamos ir a Cuba para aprender. Esta é a verdade, esta é a nossa cidade, a cidade do grande escritor e poeta Assis Brasil: “beira rio, beira vida...”

O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - Permita-me V. Exª um aparte?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Parnaíba nos deu três governadores extraordinários: Francisco das Chagas Caldas Rodrigues, do MDB, e dois ilustres, aqui presentes, Senador Alberto Silva, por duas vezes Governador, uma das bênçãos do período revolucionário, e depois S. Exª voltou, pelos braços e pela força do povo, e aqui está, e eu, discípulo desses grandes mestres.

Com a palavra, o ilustre filho da Parnaíba, Senador Alberto Silva.

O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - Foi muito bom eu ter chegado a este Plenário e ainda o encontrar na tribuna, pois o ouvia lá, em meu gabinete. É uma hora extraordinária exaltar o dia de nossa cidade, Parnaíba. V. Exª bem sabe que, por duas vezes fui Prefeito de lá e, V. Exª, ainda menino, lembro-me, era meu cabo eleitoral, à época em que se trocavam chapas, não era isso?

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Os homens iam votar vestidos de paletó branco e eu colocava as chapas nos bolsos deles.

O Sr. Alberto Silva (PMDB -PI) - V. Exª era menino; depois foi um grande Prefeito, e agora um grande Senador.

O SR. MÃO SANTA (PMDB-PI) - Tempo bom. O TRE o estragou. Havia aquelas comidas, e a gente falava: “Vamos votar no Alberto Silva”. E eles respondiam: “Não, só depois do almoço e da cerveja”.

O Sr. Alberto Silva (PMDB - PI) - Então, como estou rememorando, V. Exª foi meu cabo eleitoral, era menino, mas já era um bom cabo eleitoral. Foi bom, porque fui Prefeito duas vezes da cidade que se comemora agora mais um aniversário. E ouvi a história de Simplício Dias, que V. Exª está contando muito bem. Em relação a essa história, apenas arremato dizendo que descobri, quando Governador, que quando o Imperador Pedro I declarou o Brasil independente, D. João VI não se conformou que o Brasil todo ficasse como um País independente. É por isso que se explica a presença de um exército português, com artilharia, infantaria e cavalaria, plantados naquela região. Para quê? Descobri, Senador Mão Santa, uma carta de D. João VI ao Brigadeiro João José da Cunha Fidié, que foi o comandante do grande exército português, que estava lá para evitar que o Brasil ficasse totalmente entregue ao Imperador Pedro I, filho dele, como uma unidade. Ele queria uma parte para a corte portuguesa. Foi por isso que o exército estava lá. E descobrimos. Levei essa notícia da Batalha do Jenipapo, que o exército português venceu a batalha, mas não venceu a guerra. Foi ali que se travou a única batalha em que se derramou sangue pela Independência do Brasil. Vamos combinar e pedir que aquele monumento seja passado a Monumento Nacional e guardado como o Monumento dos Pracinhas, no Rio de Janeiro, pelos Dragões da Independência, porque foi uma batalha pela Independência do Brasil. Parabéns e vamos trabalhar nesse rumo.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Senador Alberto Silva, quero dizer que V. Exª governou a cidade de Parnaíba e dar o testemunho de que foi melhor Prefeito do que eu, governou o Estado do Piauí e, em homenagem a Parnaíba e Teresina, que nos acolheu tão bem, também me superou. Mas eu queria dizer o seguinte, Alberto, que me conforma, lá na Renascença, Leonardo da Vinci, que disse que maior discípulo é o que não suplanta o mestre. Espero, nem que seja daqui a cem anos, poder pelo menos me igualar a V. Exª na grandeza, na inteligência, na obstinação, no amor ao Piauí, a nossa Parnaíba e a nossa Teresina.

Mas, baianos, Rui Barbosa empata com Evandro Lins e Silva, o nosso, e, nesse sentido, quero complementar o Senador Alberto Silva: houve outra batalha, os baianos não estão aqui, mas diriam que foi em 2 de julho. Mas quero dizer aos baianos que 13 de março é antes de 2 de julho, a nossa foi primeira. Nós fomos à luta, eles nos seguiram, como diz Padre Antônio Vieira, que saía de Fortaleza, passava por Parnaíba e ia a São Luiz. O exemplo arrasta, e arrastamos os baianos a garantir conosco a unidade. Essa é a verdade, Senador Alberto Silva.

E chegou o outro extraordinário piauiense, Senador Heráclito Fortes, a quem, como irmão, já que estou usando o tempo para saudar o aniversário de Parnaíba, 14 de agosto, 160 anos, e Teresina, 152, concedo o aparte a este Senador que enriquece o Piauí.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Recebo com muita alegria a oportunidade deste aparte compulsório. Evidentemente, eu não poderia deixar de me inserir nesta homenagem que V. Exª faz às duas queridas cidades que marcaram muito a minha vida, que são Teresina e a Parnaíba, berço de V. Exª e do Senador Alberto Silva. Aproveito a oportunidade exatamente para desejar a todos que nasceram nestas duas belas cidades piauienses ou que nelas vivem voto de felicidade e de pleno êxito em suas realizações. Parabenizo V. Exª, como filho de Parnaíba e bem acolhido por Teresina, pela iniciativa deste pronunciamento que, com certeza, será incorporado e assinado pelos três Senadores piauienses e também pelos companheiros da Câmara dos Deputados. Parabenizo, portanto, V. Exª, pela data de Parnaíba e, esta cidade, por tê-lo como filho. Muito obrigado.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Agradecemos a V. Exª.

Senador Alberto Silva, quero usar outro Alberto para encerrar. Um quadro vale por dez mil palavras.

Senador Alberto Silva, há o Alberto da Costa e Silva, filho do poeta maior Da Costa e Silva, do Piauí. Eu o conheci, na Fundação Getúlio Vargas, em um almoço em que fiz um acordo, um contrato, um convênio para supervisionar o crescimento da Universidade Estadual do Piauí, em nosso governo. O filho de Da Costa e Silva, muito simpático, usou da palavra, Senador Alberto Silva, e eu fiz-lhe a seguinte pergunta - lá estavam vários ilustres piauienses da Fundação Getúlio Vargas -: “Alberto da Costa e Silva, como foi que surgiu o seu ideal para entrar no Itamaraty?” Senador Leonel Pavan, ele, que era o Presidente da Academia de Letras e o filho de Da Costa e Silva, disse-me: “Vingança, Governador!” Atentai para o que é paradigma - e eu que ia até homenagear esse Barão do Rio Branco - é uma verdade até ser mutável. “Meu pai, Da Costa e Silva, era moreno, não era bem aperfeiçoado como eu. Ele fez concurso para o Itamaraty e passou em primeiro lugar. Aí houve uma entrevista com o Barão do Rio Branco, que lhe disse: ‘Não vou enquadrá-lo, porque você é feio, parece um macaco e já falam tão mal do Brasil.’ Então, entrei no Itamaraty por isso, por vingança.” Disse-me que entrou, aposentou-se e depois disso já tem dois filhos no Itamaraty. Então é três a um; Piauí ganha até de Barão do Rio Branco. Esse é o nosso Piauí. E ele disse: “Leiam o livro As Barbas do Imperador”. Professor Suassuna, ouvi hoje a sua entrevista sobre educação. V. Exª como já disse: é o nosso Shakespeare. Suassuna, aí ele disse: “O melhor livro: As Barbas do Imperador, que foi escrito por uma mulher. Tinha que ser uma mulher, mulher é mais inteligente, tal. Por isso, candidatei a minha mulher, porque ela tem mais voto do que eu no Piauí.

A Srª Ana Júlia Carepa (Bloco/PT - PA) - V. Exª já está falando há muito tempo, Senador.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - Muito tempo? Mas eu estou falando da grandeza da história. Pouco tempo é PT. PT, pouco tempo. Então, eu queria dizer o seguinte: lá no As Barbas do Imperador, Alberto Silva, ele diz: os dois maiores homens do Império: o empresário Mauá e o político Pedro II. Mas, Alberto Silva, lá no livro As Barbas do Imperador tem que Simplício Dias da Silva, naquele tempo, Senador Papaléo, ele tinha tanto dinheiro que pegou os escravos negros, mandou para a Europa e tinha a terceira orquestra do País. Era lá em Parnaíba e foi este homem, Simplício Dias da Silva, que comandou a Batalha do Jenipapo, que deu a unidade do Brasil.

E eu terminaria com Costa e Silva, que diz e canta no Hino do Piauí:

“Piauí, terra querida,

Filha do sol do Equador,

E na batalha e na luta,

Seu filho é o primeiro que chega.”

E chegamos aqui Alberto Silva, Heráclito e eu para engrandecermos esta Casa e o Brasil.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/08/2004 - Página 26006