Discurso durante a 109ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Importância do desenvolvimento da nanotecnologia.

Autor
Papaléo Paes (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: João Bosco Papaléo Paes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA.:
  • Importância do desenvolvimento da nanotecnologia.
Publicação
Publicação no DSF de 13/08/2004 - Página 26101
Assunto
Outros > POLITICA CIENTIFICA E TECNOLOGICA.
Indexação
  • DEFESA, IMPORTANCIA, DESENVOLVIMENTO, TECNOLOGIA, BENEFICIO, INDUSTRIA, CONSTRUÇÃO CIVIL, PETROQUIMICA, SAUDE, MEIO AMBIENTE.
  • COMENTARIO, ESTUDO, REALIZAÇÃO, HOSPITAL DAS CLINICAS, MUNICIPIO, RIBEIRÃO PRETO (SP), ESTADO DE SÃO PAULO (SP), HOSPITAL, PAIS ESTRANGEIRO, ALEMANHA, DEPARTAMENTO, BIOLOGIA, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB), Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), UNIVERSIDADE FEDERAL, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIAS (UFGO).
  • REGISTRO, INTERESSE, GOVERNO FEDERAL, SETOR, CIENCIA E TECNOLOGIA, CRIAÇÃO, GRUPO DE TRABALHO, PROGRAMA, DESENVOLVIMENTO TECNOLOGICO, LIBERAÇÃO, ORÇAMENTO, INVESTIMENTO, PESQUISA TECNOLOGICA.

O SR. PAPALÉO PAES (PMDB - AP. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, “Há muito espaço lá embaixo.”

            Richard Feynman, um dos maiores físicos do Século XX, assim intitulou a palestra por ele proferida em 1959, no Instituto de Tecnologia da Califórnia, considerada o marco inicial da Nanotecnologia, conjunto de técnicas de manipulação de átomos e moléculas com o objetivo de criar novos materiais.

Idéia revolucionária à época de Feynman, a Nanotecnologia tornou-se realidade quando, em 1990, pesquisadores norte-americanos escreveram o logotipo da IBM sobre uma superfície de níquel, utilizando como “tinta” átomos de xenônio. Era o início da concretização de um mundo “nano”, que utiliza a bilionésima parte do metro como medida.

Da década de 90 até hoje, a Nanotecnologia só fez se desenvolver. Estamos diante de um novo salto da civilização tecnológica, porque nos oferece oportunidades científicas e industriais impensáveis até agora. Trata-se de um crescimento exponencial da evolução do conhecimento e do domínio humano sobre a matéria. Um número crescente de nanoestruturas está sendo produzido, quer pela redução das estruturas já existentes, quer pelo desenvolvimento de novas estruturas. Em comum, elas têm nível crescente de complexidade e a capacidade de desempenhar funções cada vez mais elaboradas.

A Nanotecnologia pode e vai gerar benefícios incomensuráveis quando aplicada a todos os setores industriais e de serviços, entre os quais a computação, a aviação, a construção civil e a petroquímica. No entanto gostaria imensamente de destacar sua aplicação nos campos mais afetos à sobrevivência e ao bem-estar do ser humano: a saúde e o meio ambiente.

Como médico que sou, Sr. Presidente, jamais poderia deixar de enumerar as promessas da Nanotecnologia para o aperfeiçoamento da Medicina!

O combate ao câncer e à AIDS está ganhando novas e potentes aliadas: nanoestruturas utilizadas como veículo intravenoso de transporte de medicamentos diretamente às células doentes, preservando as células sãs. Dessa forma, os múltiplos efeitos colaterais das terapias tradicionais deverão reduzir-se a zero.

Os mais céticos poderiam dizer que tudo não passa de fantasia! Mas afirmo: trata-se de uma nova realidade!

O Hospital da Caridade de Berlim, Alemanha, conseguiu aniquilar um tumor maligno de um jovem de 26 anos recorrendo a nanopartículas à base de ferro. No Brasil, terapia semelhante vem sendo adotada com sucesso no Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto. Ademais, o Instituto de Biologia da Universidade de Brasília vem desenvolvendo um projeto de hemodiálise magnética, que seria capaz de retirar do fluxo sangüíneo células tumorais e aquelas contaminadas pelo vírus HIV.

A saúde da população e a preservação ambiental caminham juntas num projeto digno de nota: a chamada “Língua Eletrônica”, desenvolvida pelo brilhante pesquisador da Embrapa, Luiz Henrique Mattoso, em parceria com a USP e com o apoio do Ministério da Ciência e Tecnologia. O artefato é capaz de identificar os diferentes sabores e, o mais importante, se a água no qual foi mergulhado está contaminada por pesticidas, metais pesados e substâncias húmicas. O método é simples, eficaz e barato.

Como a fabricação em série e a popularização desse aparelho seriam importantes para a saúde pública e para o meio ambiente deste País! Quantas vidas seriam salvas!

Os benefícios para o meio ambiente não param por aí. Pesquisadores das Universidades Federais de Goiás, Rio de Janeiro e Brasília estão desenvolvendo, desde 2001, um pó composto por micro-esferas de plástico, contendo nanopartículas magnéticas, que é capaz de separar o óleo da água. A substância adere à mancha de óleo, que é atraída por um ímã, aproveitando seu caráter magnético.

Imaginem se tal substância já existisse à época do derramamento de óleo na Baía de Guanabara! Olhando para o futuro, Sr. Presidente, quantos elementos de nossa exuberante biodiversidade seriam poupados quando, mais cedo ou mais tarde, ocorrerem novos acidentes com oleodutos e petroleiros!

Também brotou de uma mente brasileira outro brilhante engenho nanotecnológico. O professor Jairton Dupont, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, desenvolveu nanocatalisadores capazes de tornar a combustão da gasolina mais completa, retirando do ar resíduos poluentes potencialmente cancerígenos e causadores de chuva ácida.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, a atividade de pesquisa e desenvolvimento na área da Nanotecnologia é, atualmente, alvo de vultosos investimentos por parte dos países desenvolvidos e também de países emergentes, como por exemplo, Coréia do Sul e Formosa. Em 2002, foram investidos mundialmente cinco bilhões de dólares. Estimativas dão conta de que, entre 2010 e 2015, o mercado mundial de materiais, produtos e processos industriais baseados em Nanotecnologia será de US$1 trilhão.

Diante da oportunidade única de ingressar num mercado tão promissor em pé de igualdade com os países desenvolvidos, o Governo Federal criou, em 2003, a Coordenação-Geral de Políticas e Programas de Nanotecnologia - CGNT, dentro da nova estrutura do Ministério da Ciência e Tecnologia. Criou, também, um Grupo de Trabalho para subsidiar o Programa de Desenvolvimento da Nanociência e da Nanotecnologia, integrante do Plano Plurianual 2004/2007, do qual constam quatro ações:

Implantação de Laboratórios e Redes de Nanotecnologia;

Apoio a Redes e Laboratórios de Nanotecnologia;

Fomento a Projetos Institucionais de Pesquisa e Desenvolvimento em Nanociência e Nanotecnologia; e

Gestão do Programa.

A Lei Orçamentária Anual de 2004 reservou para a execução do Programa 8 milhões 707 mil e 800 reais, o que demonstra a preocupação do Governo Federal com a área. Os recursos são poucos; mas a intenção, nobre; levando-se em conta a constante restrição orçamentária em que vive o nosso Brasil.

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, quis trazer à discussão nesta Casa o tema da Nanotecnologia e suas diversas aplicações e possibilidades. Economia de energia, benefícios à saúde da população, proteção do meio ambiente e menor uso de matérias-primas escassas podem ser antevistos.

A criação e a manutenção do Programa de Desenvolvimento da Nanociência e da Nanotecnologia deverão alavancar diversos setores da economia: eletroeletrônica, veículos e equipamentos de transporte, tecnologia da informação, construção civil, química e petroquímica, energia, agronegócio, biomedicina e terapêutica, proteção e recuperação ambiental, entre muitos outros.

É preciso, pois, criar alternativas para financiar investimentos do Governo Federal em Nanotecnologia, o que é de fundamental importância para que possamos aproveitar as crescentes oportunidades e para que nosso País venha a ocupar o lugar que, de fato, merece no cenário econômico mundial.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 13/08/2004 - Página 26101