Discurso durante a 112ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagens de pesar pelo falecimento do ex-deputado Thales Ramalho.

Autor
Eduardo Azeredo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MG)
Nome completo: Eduardo Brandão de Azeredo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagens de pesar pelo falecimento do ex-deputado Thales Ramalho.
Publicação
Publicação no DSF de 19/08/2004 - Página 26875
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, THALES RAMALHO, EX-DEPUTADO, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), ELOGIO, VIDA PUBLICA, DEFESA, DEMOCRACIA.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, desejo trazer hoje à tribuna desta Casa uma justa merecida homenagem do povo de Minas Gerais e, particularmente, dos homens públicos mineiros a uma insigne personalidade que, não nasceu em nossa terra, mas foi mineiro de coração e atitudes.

Falo do inesquecível Deputado Thales Ramalho, que faleceu domingo no Recife, pouco mais de um mês após completar 81 anos de idade. Thales, que nasceu na Paraíba, fez sua brilhante carreira política em Pernambuco. Ele tinha consigo, naturalmente, as virtudes próprias dos melhores valores da gente e dos políticos do Nordeste. Contudo, posso dizer que, além de nordestino, Thales Ramalho foi também um grande político mineiro!

Quando o identifico tão intimamente a Minas Gerais é porque ele encarnou os valores mais prezados e praticados pela tradição política da minha terra. Thales Ramalho foi sempre ponderado, moderado, paciente, perseverante, convivente, amigo e respeitoso.

Assim, devo interpretar que devem ter sido estes predicados que levaram os Políticos Mineiros a lhe concederem a Cidadania Honorária do Estado de Minas Gerais.

Respeitoso com todos. Desde o próximo mais humilde ao mais poderoso. E com aqueles que tinham pensamento ou filiação político-partidária diferentes do seu!

Ou seja, Thales viveu como um comportamento pessoal o verdadeiro fundamento do regime democrático, que é a aceitação verdadeira das diferenças políticas!

Por isso, a ele coube a grandiosa e difícil missão de ajudar a articular junto a lideranças do regime militar a Anistia finalmente alcançada em 1979. Embora pertencesse ao MDB, então o partido da Oposição, ele fez do diálogo e da moderação o meio para se atingir o objetivo maior de pacificar o nosso País e de reconduzi-lo ao leito da normalidade democrática.

Como o próprio e ilustre parlamentar definia, “nem sempre, na luta política, é possível escolher o adversário”. Na época sombria da luta contra o Arbítrio, dizia, “os adversários eram os militares e pronto”. Esse era o dado da realidade que não se podia negar, mas também com o qual não podia conformar.

Com o espírito realista, prático e conseqüente que lhe era característico e que - repito - se identificam com a prática política mineira - Thales Ramalho mostrava que era possível se “escolher a forma de lutar”. E a exemplo dos outros expoentes da redemocratização, como Tancredo Neves e Ulisses Guimarães, propôs o caminho viável: “Nossa estratégia - pregava - era conversar”.

Foi isso o que fizeram incansavelmente ele e seus companheiros do MDB, entre os quais tenho o orgulho de lembrar também a figura de meu querido pai, então também deputado federal Renato Azeredo.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, aquele punhado de “mineiros” da Oposição não se furtava do diálogo. Pois já havia também os “mineiros” do Governo da época que igualmente buscavam a concórdia política. Entre outros, destacaram-se no lado governista o Senador Petrônio Portela, o então Deputado Marco Maciel e o General Cordeiro de Farias.

Para que o Estado Democrático de Direito voltasse a vicejar após o violento retrocesso institucional sofrido em 1964 e ampliado com o AI-5, em 1968, o diálogo era realmente o único caminho possível.

E por ter acreditado a fundo nisso, Thales Ramalho pagou o preço de ser tomado como muito moderado e conciliador por emedebistas extremados. Afinal, a convicção do grande parlamentar era a de que se precisava “juntar a esquerda da direita com a direita da esquerda”.

Isso naturalmente não convinha aos radicais militares. Nem aos radicais que lutavam contra eles, muitos dos quais necessitavam da intensificação do confronto, iludidos de que poderiam implantar um regime revolucionário igualmente autoritário.

Para trilharem o caminho seguro e viável da redemocratização, as lideranças mais experientes e calejadas do MDB mantiveram a rota com mão firme no leme.

Enquanto Tancredo Neves se dedicava às articulações no Congresso e Ulisses Guimarães fazia sua memorável pregação cívica, inclusive como anticandidato a Presidente da República, Thales Ramalho fez como secretário-geral do partido o trabalho de formiguinha.

Levava e trazia mensagens e ações de negociação entre os oposicionistas e governistas moderados.

Nesse período em que ele comandou diretamente o fortalecimento organizacional do MDB nos Estados foi que, ainda jovem, acompanhei os reflexos de seu trabalho em Minas. Pois, lá meu pai era o secretário-geral do partido e ajudava Tancredo Neves, Jorge Ferraz e outros líderes mineiros da Oposição a desenvolver a luta que foi resultando em crescente vitórias eleitorais.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, simultaneamente com o fortalecimento do MDB, Thales fez incursões audaciosas em favor da anistia. Agendou uma reunião secreta em 1975 com o General Golbery do Couto e Silva, na qual compareceu também Ulisses Guimarães.

No encontro, Thales foi além da idéia do regime militar de que se fizesse revisão de algumas cassações. Propôs que o diálogo tivesse por base a discussão da anistia!

Em 1979, o Governo militar acabou por apresentar suas propostas, já depois da entrada em cena da Missão Portela e da Emenda Constitucional nº 11, aprovada em Setembro de 1978 e que entrou em vigor em 1º de Janeiro de 1979.

Essa emenda impediu ao Presidente da República cassar mandatos parlamentares, abriu caminho para o pluripartidarismo e restabeleceu o habeas corpus. O que certa vez, levou o hoje Senador Marco Maciel a qualificar a emenda como a preliminar jurídica da revogação do AI-5. 

Foram muitas as conquistas de que participou Thales Ramalho. E elas ocorreram relativamente em pouco tempo, pois ele chegara à Câmara dos Deputado, eleito pela primeira vez, apenas em 1967.

Sua atuação tornou-se ainda mais significativa porque em grande parte do tempo ele exerceu a Política com sacrifício pessoal de ser obrigado a usar cadeira de rodas, em conseqüência de acidente de carro que sofreu em 1976. Foi dele a autoria da Emenda Constitucional nº 12, promulgada em outubro de 1978, que assegurava aos deficientes a melhoria de sua condição social.

Porém, nem isso foi obstáculo para que ele, além da anistia, prosseguisse na luta para avançar a redemocratização. Foi decisiva sua atuação com Tancredo Neves para fundar o Partido Popular e depois refundi-lo com o PMDB de Ulisses Guimarães.

Logo depois, ingressou no PDS (Partido Democrata Social), da base de sustentação do Governo Figueiredo, para dar nova contribuição: a busca entre os próprios governistas de apoio para eleger Tancredo Neves Presidente da República na eleição indireta de 1985.

Nesse ano, Thales largou a política, “mas não a cidadania”, como ele mesmo afirmou em frase rememorada pela jornalista Teresa Cruvinel por ocasião do aniversário de 80 anos do velho deputado pernambucano, comemorado no dia 07 de julho do ano passado.

Essa e outras lembranças e homenagens, como a que presto agora em nome de Minas Gerais, a Thales Ramalho são justificadas não só pelo homem que foi, mas pelas idéias políticas que ele representou!

Afinal, com seus correligionários e com o diálogo junto a seus adversários, Thales lutou durante muitos anos para que o País retomasse a normalidade democrática.

Essa sua lição precisa ser lembrada e refletida no momento em que surgem no horizonte político do Brasil algumas nuvens meio carregadas de sinais de autoritarismo.

Esperamos que elas sejam passageiras e logo se desfaçam. Para isso, o Governo precisa também relembrar as lições de Thales Ramalho!

Muito Obrigado


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/08/2004 - Página 26875