Discurso durante a 113ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Considerações sobre a viagem de S.Exa. ao Haiti.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ATUAÇÃO PARLAMENTAR. POLITICA EXTERNA.:
  • Considerações sobre a viagem de S.Exa. ao Haiti.
Aparteantes
Heráclito Fortes, Leomar Quintanilha, Maguito Vilela.
Publicação
Publicação no DSF de 20/08/2004 - Página 27251
Assunto
Outros > ATUAÇÃO PARLAMENTAR. POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • PARTICIPAÇÃO, ORADOR, SENADOR, VIAGEM, PRESIDENTE DA REPUBLICA, SELEÇÃO, FUTEBOL, VISITA, PAIS ESTRANGEIRO, HAITI, SOLIDARIEDADE, MISSÃO, PAZ, ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU), RECONSTRUÇÃO, DEMOCRACIA, LIDERANÇA, FORÇAS ARMADAS, BRASIL.
  • GRAVIDADE, MISERIA, POPULAÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, HAITI, DEFESA, COOPERAÇÃO, BRASIL, AREA, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, TRABALHO, VOLUNTARIO, JUSTIÇA ELEITORAL, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).
  • ANALISE, POLITICA EXTERNA, BRASIL, DIFERENÇA, INTERVENÇÃO, GOVERNO ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), OCUPAÇÃO, IRAQUE, ANEXAÇÃO, DISCURSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT-SP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Eduardo Siqueira Campos, Srªs e Srs. Senadores, quero aqui transmitir a minha felicidade, a alegria de ter sido testemunha desse notável acontecimento que foi a presença do Brasil no Haiti, a começar pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Ministro Celso Amorim, das Relações Exteriores, do Ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, mas, principalmente, da seleção brasileira pentacampeã mundial de futebol, que mostrou no Haiti tantas qualidades do povo brasileiro, numa verdadeira síntese da vocação do Brasil para a construção da paz em nosso mundo.

Senador Maguito Vilela, fiquei pensando naquilo que vem ocorrendo no Oriente Médio. Senadora Serys Slhessarenko, temos observado ali no Iraque, recorrentemente, quase que diariamente, um bombardeio após outro. Ora os jornais dizem que faleceram sete, ora vinte, ora cinqüenta, ora dezenas de pessoas. Ali está uma missão que não é propriamente a missão da ONU, mas a missão primeiramente enviada pelos Estados Unidos, pelo Reino Unido, pela Austrália, pela Espanha, pela Itália e outros países. E aquilo está sendo visto como uma força de ocupação, causando uma revolta diária.

Ao contrário desse procedimento, tendo em vista que ocorreram situações graves no Haiti, em fevereiro último, em algumas cidades, em que se espalhou uma revolta, tendo o povo começado a utilizar armas e a realizar bombardeios e tiroteios nos mais diversos lugares, sem que ali houvesse algum controle, como em Gonaíves, em Porto Príncipe ou nas principais cidades do Haiti, o Conselho de Segurança da ONU resolveu encaminhar para aquele país uma missão de paz. Desta vez, o Brasil concordou e, mais do que isso, coube-lhe a responsabilidade de coordenar essa missão de paz. O General-de-Divisão Augusto Heleno Ribeiro Pereira é o Comandante da Força de Estabilização do Haiti, das Nações Unidas, e comanda as tropas dos mais diversos países. O General-de-Brigada Américo Salvador de Oliveira é o Comandante da Brigada Brasileira de Paz no Haiti.

Os Senadores Hélio Costa, Maguito Vilela, Leomar Quintanilha e eu estivemos de segunda-feira até ontem com esses senhores. Chegamos lá na manhã de segunda-feira e logo fomos bem recebidos pelo Embaixador do Brasil no Haiti, Armando Cardoso, e por essas autoridades citadas. Acompanhamos algumas das missões que eles realizam, como por exemplo as patrulhas. Nós quatro Senadores, pela primeira vez, colocamos aqueles coletes tão pesados das Forças Armadas, bem como os capacetes, e nos enfiamos nos Urutus. Deslocamo-nos por mais de uma hora pelos bairros mais carentes de Porto Príncipe para averiguar como eram esses bairros - o Bairro de Carrefour, o Bairro também ali chamado de Cidade de Deus, que tem o mesmo nome do bairro do Rio de Janeiro, onde foi filmado Cidade de Deus. Todavia, as condições do Bairro Cidade de Deus em Porto Príncipe são muito mais precárias do que as do bairro homônimo do Rio de Janeiro. Pudemos, sim, averiguar a carência do Haiti, um país com renda per capita metade - senão um terço - da renda per capita do Brasil e com um grau de desenvolvimento que faz do Haiti o país com menor Índice de Desenvolvimento Humano entre todos os países das Américas e um dos mais pobres do mundo, com uma expectativa de vida da ordem de 52 anos. Aliás, uma das observações que com meus colegas Senadores ali fiz foi que nas ruas do Haiti não se vêem muitas pessoas idosas. Quase todas são jovens ou têm no máximo 60 anos, há poucas pessoas com mais de 60, 70 anos no Haiti. É um dos países, fora da África, com maior índice de Aids.

Na cidade de Porto Príncipe, pudemos ver cenas semelhantes àquelas de nossas cidades mais pobres de 20, 30 anos atrás ou das favelas das grandes metrópoles brasileiras como a de Heliópolis, Paraisópolis, Brasilândia, Vila Prudente. Mas não como hoje são a Rocinha ou outros bairros do Rio de Janeiro, que já estão bem mais urbanizados, com saneamento, nível de comércio e serviços bastante avançado. Isso nos levou todos a perceber como poderia o Brasil de fato cooperar com as experiências, inclusive de nossas lideranças comunitárias e os responsáveis pelos Poderes Públicos municipal, estadual e da União a prestarem serviços, prestarem cooperação, inclusive procurando ajudar na organização dessas comunidades e não apenas nas cidades como de Porto Príncipe, mas também na própria região rural, onde ainda vivem 60% da população do Haiti.

Tivemos a oportunidade de ouvir não apenas o Presidente do Haiti e o Primeiro-Ministro do Haiti, respectivamente, Boniface Alexander e Latortue, o que pudemos observar também no diálogo com, por exemplo, Gerard Pierre Charles e outras lideranças de esquerda da organização de luta do povo no Haiti é que a missão de paz, designada pela ONU e da qual participa o Brasil, é hoje vista com bons olhos, em especial porque o Brasil a está coordenando, está presente com 1188 participantes e com um estado de espírito muito positivo, que nos foi transmitido pelos Generais Heleno e Salvador, mas também no contato direto, seja com os fuzileiros navais, com os soldados, com os membros de nossas três Forças Armadas que ali estão.

Cheguei a receber uma carta de soldados e cabos que ali estavam preocupados com respeito à possibilidade de visitarem o Brasil e com algumas questões sobre as quais dialoguei com ambos os Generais, Heleno e Salvador. Procuraram ambos mostrar que, primeiro, todos os que ali estão, cerca de mil e duzentos membros, são...

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - V. Exª me concede um aparte, nobre Senador.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Com toda certeza tem a palavra, com muita honra.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - O entusiasmo com que V. EXª relata essa sua experiência heróica no Haiti comove a todos nós que estamos aqui no plenário desta Casa. Parabenizo V. Exª como Presidente da Comissão de Relações Exteriores por ter sido, talvez desde o início, quem melhor compreendeu a presença, em primeiro lugar, das tropas brasileiras e, depois, desse próprio jogo da Seleção Brasileira, que é um símbolo da boa vontade do nosso País, da nossa gente em busca dessa paz tão desejada mundo afora. Quero fazer de público, Senador Eduardo Suplicy, esse elogio a V. Exª que tem se destacado na Comissão de Relações Exteriores do Senado Federal de uma maneira direta, objetiva e, acima de tudo, correta com que trata questões envolvendo a relação entre o Brasil e as nações amigas. Portanto, louvo V. Exª que teve o privilégio de acompanhar essa partida, esse jogo de futebol que preocupou o mundo inteiro pelas condições do estádio. Ontem mesmo, aqui da tribuna, desejei, roguei a Deus que as coisas lá acontecessem bem. Era um estádio com pequena capacidade, onde poderia ocorrer uma tragédia, não pelo espírito das pessoas, mas até mesmo por circunstância adversas dos que ali estavam. Esse exemplo deve continuar. O Governo deve patrocinar essa Seleção e esta deve percorrer o mundo afora. Onde houver guerra, que preguem a paz por intermédio do futebol. Dever-se-ia, inclusive, montar essa Seleção itinerante e que, em nome da paz, fosse a outros países em situação de deflagração parecida. Quem sabe, Sr. Senador, a realização de uma partida de futebol em Bagdá. O iraquiano, fora a guerra, do que mais gosta é de futebol.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Exatamente.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Tanto é que está fazendo sucesso nas Olimpíadas e como fez sucesso na disputa entre as seleções asiáticas. De forma que eu daria essa sugestão. Tenho certeza de que V. Exª, com a tenacidade de que é possuidor, irá defender esta bandeira e onde houver guerra, onde houver bombas, o Brasil, por meio do seu futebol e com a ajuda efetiva do Governo, irá pregar a paz. Parabenizo V. Exª pelo pronunciamento.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado a V. Exª, Senador Heráclito Fortes. V. Exª comunga inteiramente com o meu sentimento e acato inteiramente a sugestão de V. Exª. Estávamos pensando em algo de natureza semelhante.

Senador Heráclito Fortes, faço neste instante uma homenagem ao nosso brasileiro tão ilustre, Sr. Sérgio Vieira de Mello que, exatamente há um ano, foi morto em Bagdá. Lembro que eu havia encaminhado ao Sérgio Vieira de Mello sugestão no sentido de transmitir às autoridades iraquianas, que estavam administrando o país, de instituir, um exemplo semelhante ao do Fundo Permanente do Alasca: uma renda básica de cidadania. Ele se entusiasmou com a idéia, transmitiu ao Embaixador Paul Bremer, à missão da ONU, e em primeiro de agosto, conversamos por vinte minutos ao telefone. Ele me ligou e disse que a proposta estava sendo seriamente considerada como factível. Lamento que hoje eu não tenha mais contato com ele para saber sobre a evolução das coisas.

Assim como Sérgio Vieira de Mello soube realizar tão bem a transição do Timor Leste, até que Chanana Gusmão assumisse o comando do país, quem sabe pudesse estar realizando um trabalho no Iraque que fosse complementado por ações como a que vimos ontem.

V. Exª tem razão. Diferentemente do que tem feito o Governo dos Estados Unidos, o Presidente George Walker Bush poderia hoje estar olhando um pouco para o Brasil e dizendo: “Puxa, Presidente Lula, há algo que poderíamos estar aprendendo com o Brasil.” O país foi lá e, diferentemente do temor de alguns que questionavam se a força de paz no Haiti não seria como a força de ocupação dos Estados Unidos no Iraque, absolutamente, o que vimos é que o povo que, em fevereiro último, estava atirando para lá e para cá, ontem, saiu às ruas. Foram um milhão de pessoas ou mais que se aglomerou para aplaudir e abraçar, dizer “Ronaldo, Ronaldo, Ronaldinho, Ronaldinho”.

Senador Maguito Vilela, V. Exª, que é um apreciador do futebol, pôde ver as extraordinárias jogadas do Ronaldo quando colocou a bola na trave, do Ronaldinho quando recebeu um passe mágico, deu outros e marcou três gols, alguns excepcionais. Ao bater uma falta, Presidente Eduardo Siqueira Campos, ele se colocou um pouco na lateral da bola, em vez de bem para trás, recebeu e chutou a bola, que foi girando de tal maneira que, quando chegou na frente do goleiro, que foi apanhar, a bola fez um efeito extraordinário e passou por cima. Alguns disseram que havia sido frango do goleiro. Mas não foi; foi aquele efeito especial que o Ronaldo, que o Ronaldinho Gaúcho sabe dar. Eu, pelo menos, vi assim. V. Exª, que é um especialista em futebol, pode me contestar, mas creio que ali houve um efeito do tipo “especial”.

O SR. Maguito Vilela (PMDB - GO) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Com muito honra.

O SR. PRESIDENTE (Eduardo Siqueira Campos. PSDB - TO) - Antes que V. Exª possa ter a oportunidade do aparte, apenas preocupado em função de não ter o nosso “craque”, Senador Eduardo Suplicy, o mesmo equilíbrio e nem mesmo a idade, e sabendo que a tribuna é um espaço curto, esta Presidência se preocupa com a integridade física de V. Exª, que, na emoção de transmitir as belas jogadas de Ronaldo, a Presidência pede a V. Exª fique atento ao curto espaço para que não acabe caindo da tribuna.

E aproveite para conceder os três apartes rapidamente.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Eduardo Suplicy, colaborando com a imprensa, solicito que V. Exª repita a jogada, pois os fotógrafos e os cinegrafistas desejam registrá-la. A imprensa brasileira toda deseja divulgar esse fato amanhã. Estou apenas transmitindo esse pedido que me está sendo feito pelo celular, e tenho certeza de que V. Exª não faltará com a imprensa, que tanto o tem divulgado.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Aquela jogada é tão especial que só é possível fazê-la uma vez, Senador Heráclito.

O SR. PRESIDENTE (Eduardo Siqueira Campos. PSDB -TO) - Srªs e Srs. Senadores, a TV Senado reprisa a sessão, portanto, os jornalistas terão a oportunidade de rever o lance do Senador Eduardo Suplicy.

Mas aproveito, respeitosamente ao discurso de V. Exª, Senador Eduardo Suplicy, para agradecer as honrosas presenças nas galerias desta Casa de grupos de turistas da França, de Santa Catarina e da Paraíba.

V. Exª continua com a palavra, Senador Eduardo Suplicy, para conceder os apartes e concluir o seu pronunciamento.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Dirigindo-se aos turistas franceses.) - Est-ce que vous avez vu l’extraordinaire jeu de Ronaldo et Ronaldinho?

Ouço o Senador Maguito Vilela.

O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Senador Eduardo Suplicy, quero cumprimentá-lo pelo pronunciamento. Estamos aqui falando de algo sério: a força de paz do Brasil no Haiti, País que está convivendo com a fome, a miséria. Naturalmente, a idéia do Senador Heráclito Fortes é muito importante. O Brasil poderia fazer de sua seleção uma embaixada para todo o mundo, buscando a paz. Com uma diferença, os Estados Unidos estão no Iraque com uma força de ocupação, bombardeando, matando, etc. A força brasileira que está no Haiti não é de ocupação, mas realmente de paz. Lá, os generais, os coronéis, os sargentos, os oficiais, os soldados estão a serviço da paz. Estão patrulhando, buscando desarmar, ajudando, convencendo o povo, os próprios haitianos, a ajudá-los. De forma que temos de ter orgulho do nosso Exército, da nossa Marinha e da nossa Aeronáutica porque estão lá promovendo a paz. É diferente de Bagdá, onde existe uma força de ocupação, uma guerra. É impossível colocarmos naquele país a nossa seleção sob um risco desse tamanho. No Haiti, não havia esse risco; era a vontade do povo de ver, de assistir à seleção brasileira. Portanto, cumprimento V. Exª.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Tenho a impressão, Senador Maguito Vilela, de que a idéia faz um pouco de sentido, porque se trata de Ronaldo, embaixador do combate à pobreza, com os seus colegas. V. Exª bem salientou que, no diálogo que tiveram com o Presidente, na República Dominicana, Ronaldo, Ronaldinho, Roberto Carlos e outros colegas disseram ao Presidente que jogariam mesmo que fosse num campo de terra, porque começaram a jogar na terra. Mas, felizmente, o campo estava bom. Eles também disseram que estavam dispostos a realizar missões como essa em outros lugares, que podia convidá-los.

Tenho a convicção de que o xeque e os mais diversos líderes no Iraque, hoje, que estão comandando operações de rebelião, diante de uma iniciativa como aquela a que assistimos ontem, mantidas certas condições - claro, toda segurança deve ser garantida para os nossos jogadores -, teriam a capacidade de dar o passo para o início da realização de paz, também com o propósito de democratizar o país.

Lembremos um outro aspecto, Senador Maguito Vilela: no diálogo que tivemos com Gerard Pierre Charles, que tão gentilmente nos recebeu em sua residência, e com outras lideranças de esquerda progressista - que primeiro estiveram junto a Aristide, mas depois se rebelaram com os seus métodos e criticaram-no, dizendo que ele não mais poderia continuar ali -, eles mesmos nos disseram que têm confiança de que o Brasil ajudará na democratização do País e que poderá até colaborar de forma a assegurar que as eleições se façam da maneira mais imparcial possível, para que o Haiti receba ensinamentos da experiência brasileira de desenvolvimento nas comunidades rurais e nas áreas urbanas.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador Eduardo Suplicy, quero usar da palavra para colaborar com o pronunciamento de V. Exª. Sabe que sou seu fã, acompanho o seu dia-a-dia e seus pronunciamentos. V. Exª, há um mês, discorreu aqui sobre o filme que retrata a vida de Pelé, não é verdade?

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Sim. Vai ter muito sucesso no Haiti.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Exatamente. Quero discordar aqui do Senador Maguito Vilela e até lembrar que o Pelé, diversas vezes, perguntado sobre a maior emoção que ele teve na vida, disse que foi ter parado uma guerra na África. A guerra estava deflagrada, mas todos se curvaram à majestade do Rei Pelé. Portanto, compreendo a intenção do Senador Maguito Vilela de defender o Governo, mas o meu objetivo não é colocar governante algum diante das bombas do Iraque; pelo contrário, é fazer com que essa missão de ontem, da qual V. Exª participou com sucesso, ganhe mundo. Evidentemente, como V. Exª tem o temor das ocupações, não irá em viagem ao Iraque. Mas é uma pena os iraquianos não terem a oportunidade de ver o futebol brasileiro, inclusive repetindo o que o Pelé fez na década de 60.

O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Gostaria de colaborar um pouco mais com o pronunciamento de V. Exª, Senador Eduardo Suplicy. Visitei todos os países e cidades pobres do Brasil. Sou um defensor, realmente intransigente, dos pobres e governei muito mais para esses do que para as elites. Entretanto, o que estamos discutindo é que os valores no Oriente Médio são outros. Lá, eles não têm fanatismo pelo futebol como tem o africano, o haitiano e o brasileiro. A situação é outra, é completamente diferente. Mas, quanto à afirmação de que a seleção brasileira deve ser mais usada para promover a paz e divulgar o Brasil, estou de pleno acordo com o Senador Heráclito Fortes e com os demais Senadores que se pronunciarem. Estou a favor e penso que o Brasil deve realmente usar essa arma poderosíssima que é o esporte, é a seleção brasileira de futebol.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Senador Maguito Vilela.

Para concluir, ouço o Senador Leomar Quintanilha.

O Sr. Leomar Quintanilha (PMDB - TO) - Serei breve, Senador Eduardo Suplicy. Aliás, o comentário que estava disposto a fazer era justamente sobre aquele encontro - que considero extraordinário - na casa do líder Gerard Pierre Charles que, primeiro, teve a atenção de nos receber e, depois, o cuidado de convidar outros líderes populares importantes daquele País para conversar conosco sobre as contribuições que o Brasil poderia dar para reorganização e reestruturação do Haiti. V. Exª pôde perceber a quase comoção que tomou conta daquele líder e dos seus companheiros com essa expectativa - aliás mais que uma expectativa - de que o Brasil pode e dará uma contribuição para que essa situação de conflagração tenha fim e o Haiti possa, definitivamente, encontrar o seu caminho de organização e desenvolvimento. Na ocasião, lembrava que a grande maioria dos cidadãos haitianos não têm cédula de identidade, não são conhecidos, não há um cadastro. Talvez essa seja uma ação em que o Brasil possa contribuir, como comentei no hotel com V. Exª e com os Senadores Hélio Costa e Maguito Vilela. Quem sabe o Brasil poderá formar um voluntariado com universitários, com a orientação do Tribunal Superior Eleitoral de como proceder para realizar o cadastro e devolver a cidadania a milhões de haitianos que vivem sem esse reconhecimento. V. Exª se lembra da forma quase emocionada com que eles se revelaram confiantes na ajuda do Brasil. Estou convencido de que o Brasil pode e deve dar essa contribuição.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Muito obrigado, Senador Leomar Quintanilha.

Poderemos até estar contribuindo para o Haiti com voluntários. Será importantíssima a missão da Justiça Eleitoral - incluindo o Ministro Sepúlveda Pertence - naquele país para fornecer o que V. Exª aqui menciona. Para o Haiti, é fundamental a possibilidade do cadastramento, não apenas para todos terem carteira de identidade, mas também o registro eleitoral.

Saliento também que o Ministro Celso Amorim ressaltou o quão importante será estimular brasileiros, às vezes até por uma modesta remuneração, a ir ao Haiti realizar trabalho voluntário nas comunidades, nas regiões urbanas, rurais e por toda parte. Tenho a impressão de que muitos brasileiros se disporão, de fato, a fazer isso.

Sr. Presidente, requeiro seja considerado parte de meu pronunciamento o discurso do Presidente Lula perante a Brigada Brasil da Missão das Nações Unidas para o Haiti, no qual Sua Excelência fala de nossa cooperação, de uma delegação técnica que irá a Porto Príncipe na próxima semana - inclusive com técnicos da Embrapa e de outras áreas, como saúde e educação - e do quanto quer contribuir para que se realize a justiça social e, conseqüentemente, para que haja condições de paz naquele país.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO SUPLICY EM SEU PRONUNCIAMENTO

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2o, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“Discurso do Presidente da República perante a Brigada Brasil da Missão das Nações Unidas para o Haiti”.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/08/2004 - Página 27251