Discurso durante a 113ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Comentários ao caso que culminou com a cassação do ex-Deputado Ibsen Pinheiro, relacionando-o à tentativa de aprovação de projeto que cria o Conselho Federal de Jornalismo. Transcrição do artigo da jornalista Tereza Cruvinel, no jornal O Globo de hoje, intitulado: "Os 'is' de agora". (como Líder)

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA.:
  • Comentários ao caso que culminou com a cassação do ex-Deputado Ibsen Pinheiro, relacionando-o à tentativa de aprovação de projeto que cria o Conselho Federal de Jornalismo. Transcrição do artigo da jornalista Tereza Cruvinel, no jornal O Globo de hoje, intitulado: "Os 'is' de agora". (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 20/08/2004 - Página 27256
Assunto
Outros > IMPRENSA.
Indexação
  • ANALISE, POLITICA PARTIDARIA, PERSEGUIÇÃO, CALUNIA, POLITICO, COMENTARIO, INJUSTIÇA, CASSAÇÃO, MANDATO, IBSEN PINHEIRO, EX-DEPUTADO, EPOCA, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), ORÇAMENTO, REGISTRO, RETRATAÇÃO, IMPRENSA, ERRO, JORNALISTA, DIVULGAÇÃO, INEXATIDÃO, DADOS.
  • CRITICA, AUTORITARISMO, GOVERNO FEDERAL, PROPOSTA, CONSELHO FEDERAL, JORNALISMO.
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pela Liderança da Minoria. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, chegamos a mais uma quinta-feira com um plenário pouco prestigiado pela Bancada governista. E mais uma quinta-feira em que começam as especulações sobre o que a imprensa poderá trazer de surpresas no fim de semana e que trapalhadas o Governo inventará como contrapartida.

É possível ainda que tenhamos uns dias de calmaria, que deveriam se prestar a momentos de reflexão. Isso, claro, se o “fogo amigo” - em relação ao qual tantas vezes tenho alertado o Governo - não voltar a atacar. Acredito mesmo que nunca em um governo houve tanta manifestação de “fogo amigo” como no atual. É um caso quase psicanalítico.

Mas é verdade também que há precedentes na nossa história política recente. Um deles é o do ex-Ministro Alceni Guerra, abatido quando, jovem político, estava em plena ascensão, lembrado até como possível sucessor do ex-Presidente Fernando Collor, que àquela época tinha um projeto de manter por 20 anos o seu grupo no poder. Se essa situação não tivesse provocado tanta ciumeira entre os seus próprios colegas, ele certamente teria sobrevivido às denúncias que hoje se provaram vazias, embora tenham provocado conseqüências terríveis na sua vida pessoal e política.

O outro caso, que voltou ao noticiário esta semana, é o do ex-Presidente da Câmara Ibsen Pinheiro. Não pretendo me estender na análise do processo, que foi igualmente doloroso e de efeitos tão cruéis, de cuja extensão apenas agora estamos tendo total conhecimento. Mas qualquer um que tenha acompanhado os acontecimentos relativos à CPI do Orçamento pode constatar o quanto de “fogo amigo” existiu como ingrediente para que o processo tivesse o desfecho que teve. Também Ibsen era lembrado como um dos possíveis candidatos à Presidência da República.

Sr. Presidente, Srª e Srs. Senadores, posso considerar que sempre tive uma boa estrela na vida política. Não foi diferente quando da CPI do Orçamento, período em que me encontrava distante do Congresso, eleito que fui prefeito de Teresina em 1998, com o fim do mandato em 1992, já coincidindo com o final das investigações. Fiquei, portanto, Sr. Presidente, longe de ver aquela frigideira triturar amigos inocentes ou culpados e de ver o Congresso Nacional transformado em uma delegacia de polícia. Passei ao largo de tudo isso, vendo com tristeza o que aconteceu àquela época. E alguns fatos, esclarecidos somente anos depois, trazem-me com certeza algum conforto.

Foi nessa época que conheci um dos personagens dessa nova/velha história e sobre o qual gostaria de falar hoje desta tribuna. Refiro-me ao jornalista Luís Costa Pinto, mais conhecido como Lula. Nossa convivência, que eu até gostaria mais próxima e freqüente do que é, vem daquela época - eu em Teresina, ele ainda em Recife. Falamo-nos algumas vezes, e posso dar o testemunho de que ele sempre agiu com a maior correção de caráter nas suas atividades.

Não tenho procuração para defender Lula Costa Pinto, sequer posso dizer que somos amigos, mas considerei minha obrigação contribuir para esse debate - que é saudável, sem dúvida -, falando da minha experiência com um jornalista a quem se está atribuindo um papel que na realidade não é seu. Acredito, inclusive, que sua atitude, reconhecendo um erro cometido no passado, deve ser aplaudida, além de fazer com que o episódio sirva de inspiração às novas gerações de jornalistas, com todos os aspectos que carrega.

Eu usaria até as palavras de um colega de Lula, o jornalista Rudolfo Lago, em sua coluna de hoje no Correio Braziliense. Da mesma geração, reconhecido por sua imparcialidade e correção e tendo participado também da CPI do Orçamento, Rudolfo diz: “expiados os fantasmas do passado, atingidos os objetivos daqueles que tinham objetivos a atingir, é preciso agora reduzir o episódio ao seu devido tamanho”.

E segue demonstrando, logo de início, que toda a imprensa errou quando divulgou dados mal processados pelos integrantes da CPI, que foram corrigidos depois, mas não o suficiente para, na opinião dos Parlamentares, eximir Ibsen Pinheiro de culpa.

No contexto da cassação de Ibsen, diz ainda Rudolfo Lago sobre o episódio:

Pode ser importante na prestação de contas pessoal que Luís Costa Pinto tenha com o deputado gaúcho. Ou mesmo na prestação de contas que Lula tenha consigo mesmo. Porque, no processo mesmo que resultou na perda do mandato parlamentar de Ibsen, a verdade é que o erro de Veja tem importância mínima.

Sabemos todos dos males que o exercício irresponsável do jornalismo pode causar. Dificilmente um de nós políticos não terá um caso para contar de problemas ao longo da carreira com jornalistas. Mas tenho a convicção também de que a imprensa brasileira está entre as melhores do mundo e de que erros são cometidos por todos, mas, no caso da nossa imprensa, nenhum tipo de cerceamento vai resolvê-los.

Não posso admitir, portanto, que o episódio sirva como pano de fundo para a aprovação do Conselho Federal de Jornalismo da maneira como foi encaminhada pelo Governo ao Congresso ou de qualquer outra forma de restrição à livre manifestação do pensamento.

E, por fim, quero ressaltar a importância didática que o relato de Luís Costa Pinto para o livro do ex-Deputado Ibsen Pinheiro encerra. Que seus colegas se debrucem sobre ele, que os estudantes de jornalismo o analisem, que os políticos tentem tirar dele a conclusão que mais lhes aprouver. Do ponto de vista profissional e pessoal, para mim só me resta engrandecer o seu autor.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero, ao encerrar minhas palavras, solicitar que seja transcrita nos Anais desta Casa, para análise futura, a coluna da insuspeita e respeitada jornalista Tereza Cruvinel, do jornal O Globo, edição de hoje, sob o título “Os ‘is’ de agora”. Esse artigo merece ser lido, com muito cuidado, com muita atenção, pelos que fazem história e analisam o Brasil que vivemos hoje.

Muito obrigado, Sr. Presidente.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR HERÁCLITO FORTES EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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Matéria referida:

“Coluna de Tereza Cruvinel, do jornal O Globo, intitulado: “Os ‘is’ de agora.”


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/08/2004 - Página 27256