Discurso durante a 116ª Sessão Especial, no Senado Federal

Homenagens ao ex-Presidente Getúlio Vargas, pelo transcurso dos 50 anos de seu falecimento.

Autor
Mão Santa (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PI)
Nome completo: Francisco de Assis de Moraes Souza
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagens ao ex-Presidente Getúlio Vargas, pelo transcurso dos 50 anos de seu falecimento.
Publicação
Publicação no DSF de 25/08/2004 - Página 27459
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, ANIVERSARIO DE MORTE, GETULIO VARGAS, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, VIDA PUBLICA.

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Paulo Paim, Srªs e Srs. Senadores, autoridades presentes - não vou citar nomes porque poderia esquecer alguns e, mesmo involuntariamente, seria imperdoável -, brasileiras e brasileiros aqui presentes e que nos assistem por meio do sistema de comunicação do Senado, não poderia o Piauí estar longe desta homenagem a esse grandioso homem do Rio Grande do Sul.

Está aqui presente o Senador Heráclito Fortes, que é muito jovem. Logo, os seus mortos são mais recentes: Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Luís Eduardo Magalhães. Mas eu nasci na ditadura de Vargas. Eu o conheci pessoalmente.

Senador Paulo Paim, para onde vamos levamos a nossa formação profissional. Sou médico-cirurgião. E a Psicologia, hoje, tem uma neurolingüística que explica, Senador Antonio Carlos Magalhães, uma modelagem. Sempre buscamos modelos. Se você quer ser jogador de futebol, Pelé; cantor, Roberto Carlos. E eu sou médico-cirurgião. Fui médico da Santa Casa, fui Prefeito, Governador, fui até cassado, e Juscelino também foi tudo isso. Então essa seria a minha modelagem.

Mas um dia, um amigo, Senador Antonio Carlos Magalhães, Presidente da OAB do Estado do Piauí, Reginaldo Furtado, notando a minha veneração por Juscelino Kubitschek e esta é a razão: Brasília e o otimismo daquele homem. E bastaria essa mensagem que dizia que “o otimista pode errar, mas o pessimista, este já nasce errando e continua errando”. Bastaria isso, mas Reginaldo Furtado me advertiu que Getúlio teria maior obra do que Juscelino. E como havia conhecido pessoalmente Getúlio, comecei a ler muito sobre ele. E não sei se o que li superou o que sabia sobre Juscelino

Sou da Parnaíba do Piauí. E para que tenham uma noção da grandeza, diria apenas que essa cidade é a única cidade que pode colocar um homem igual a Rui Barbosa. Também foi lá onde nasceu Evandro Lins e Silva que deve ser exemplo a esse Supremo que fraqueja. Na época de Evandro Lins e Silva, na ditadura, a Justiça era o pão que os brasileiros desejavam. De João Paulo dos Reis Velloso, que nenhum brasileiro conseguiu exceder como Ministro do Planejamento: I PND, II PND. E o grande ensinamento, qual seja, em 15 anos, os militares tiveram uma sabedoria: a humildade. Sabiam que não sabiam e foram buscar a luz, o farol, que foi João Paulo Reis Veloso. Ele não deixou marcada, em 15 a 20 anos de mando, nenhuma indignidade, nenhuma corrupção em sua vida. Virtudes do homem da Parnaíba.

E lá conheci Getúlio, em agosto de 1950, quando fazia campanha. Era Prefeito de nossa cidade o médico, meu tio, João Orlando de Morais Correia. Eu morava ao lado dele, onde hoje funciona o Bradesco. Na praça Nossa Senhora das Graças, onde se fez a independência do Piauí - independente do grito de Dom Pedro I -, foi realizado, às 10 horas, o comício de Getúlio Vargas. E o ouvi discursar, Senador Heráclito Fortes. Atentai bem: eu ouvi Getúlio dizer que, se eleito, faria o Porto de Amarração Luís Correia, que ainda está inacabado. Esses são os governos.

Vi Getúlio sair carregado pelo povo, com aquele conjunto de morenos comandados pelo Gregório Fortunato. Um contraste, Senador Paulo Paim: eles todos vestidos de branco. Foram almoçar na casa de meu tio e eu, que tinha essa vocação, o vi. Depois do almoço, Getúlio tirou seu charuto, deitou na rede e os ventos do litoral do Piauí o acariciaram. A minha imagem de menino traduz um rosto de um homem bom e generoso. O meu diagnóstico, depois de amadurecido, como médico, era o de um homem firme, mas generoso e bondoso. Vi Gregório de branco - naquele tempo, usava-se terno branco, os senhores hoje têm dificuldade de lavanderia -, parecia o time do Botafogo: alvinegro.

Serei muito breve. Falaram tão bem sobre o currículo e a luta de Getúlio, sobre a grandeza do Rio Grande do Sul com o trabalhismo. O Rio Grande do Sul é grande em toda a sua história. O governo do povo pelo povo foi reivindicado por Bento Gonçalves, José Garibaldi, Anita Garibaldi, e eu quero contestar as suas palavras. Está certo que estão falecidos, mas vamos falar do seio do Getúlio, do Alberto Pasqualini, do Brizola. Mas a grandeza aqui continua com os extraordinários representantes. Pedro Simon é o orgulho maior do meu Partido. O meu Líder é Ulysses, que está encantado no fundo do mar. Aqui é Pedro Simon, do meu Partido, Sérgio Zambiasi, de quem falaram, e Paulo Paim, fiel a Getúlio, que luta pelo trabalho e pelo trabalhador.

E Getúlio era apenas, professor Cristovam Buarque, um homem preparado. O núcleo é duro e não entende as coisas. Está aí o baiano que disse: “o caminho é dar primazia ao trabalho e ao trabalhador”. É o trabalho e o trabalhador que fazem a riqueza, que fazem o capital, que fazem os banqueiros. Os desentendimentos, a ignorância, o núcleo duro ajoelha-se à riqueza, ao dinheiro, ao FMI, ao BID, ao BIRD, ao Banco Mundial, aos banqueiros. Quem trabalha está morrendo, está desgraçado.

Na história do mundo, o governo dos trabalhadores escreveu a página mais fétida, desobedeceu a Deus. “Comerás o pão com o suor do teu rosto”. É uma mensagem de Deus aos governantes, para que propiciem trabalho, valorizando-o. Ouvi o Petrônio, piauiense, dizer - eu estava do lado de lá, Senador Antonio Carlos Magalhães, quando a Ditadura fechou o Congresso, por uma reforma judiciária: é o dia mais triste da minha vida. Deus o livrou de ver esta vergonha. O Senado, onde estão os pais da Pátria, não tem ninguém do núcleo duro nem nunca terá, porque estão amaldiçoados pelo que fizeram. Aqui é a porta estreita que está no Livro de Deus.

Como é que se vê, depois, esses homens responsáveis dizerem que não há dinheiro e darem uns ínfimos reais para o trabalhador! O dinheiro é importante para a dignidade, para quem tem fome, para quem não tem medicamento, para consolidar as famílias. No entanto, há campanhas milionárias. Amanhã, chega ao Piauí um tal de Leonardo para cantar. Quem é que paga? É isso que temos.

Essa é a homenagem a Getúlio, que deu a primazia, como disse Rui Barbosa. Era um homem trabalhador.

Serei breve, pois um quadro vale por 10 mil palavras. Comentava com o Senador Antonio Carlos Magalhães o livro Diário de Getúlio Vargas. Eu ainda não o li todo, porque são dois volumes, li apenas um.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha.)

O SR. MÃO SANTA (PMDB - PI) - E foi o suficiente para dizer: oh, homem trabalhador!

Claro que o Presidente Lula é simples. Não precisaria buscar exemplos noutras histórias, noutros países e noutro mundo. E eu contesto. Estão aqui os dois exemplos: Juscelino e Getúlio. Bastaria o mínimo de bom senso, que o núcleo duro tenha uma moleza cerebral que pensa e que raciocina, bastaria encaminhar à luz, ao símbolo que o povo e o trabalho desejam.

Então, esta é a homenagem do Piauí a Getúlio Vargas. Que a sua morte não seja em vão. Entendo, como cristão, a frase “não julgueis para não serdes julgados”. Ninguém é julgado por um instante, por frações de segundo, por um gesto, por uma vida. A vida de Getúlio traduz, como dizem os filósofos, o mistério da vida. Quando nascemos, encontramos em torno de nós todo mundo alegre, sorridente e, quando saímos do mundo, deixamos gente chorando. E ainda hoje o povo do Brasil e do mundo chora a morte de Getúlio Vargas. (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/08/2004 - Página 27459