Pronunciamento de Paulo Paim em 25/08/2004
Discurso durante a 118ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Protesto contra comentário feito no Jornal do Brasil pelo Presidente do Júri do Festival de Gramado - Cinema Brasileiro e Latino, Rubens Ewald Filho.
- Autor
- Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
- Nome completo: Paulo Renato Paim
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
DISCRIMINAÇÃO RACIAL.:
- Protesto contra comentário feito no Jornal do Brasil pelo Presidente do Júri do Festival de Gramado - Cinema Brasileiro e Latino, Rubens Ewald Filho.
- Publicação
- Publicação no DSF de 26/08/2004 - Página 27629
- Assunto
- Outros > DISCRIMINAÇÃO RACIAL.
- Indexação
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- PROTESTO, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE, JURI, FESTIVAL, CINEMA, MUNICIPIO, GRAMADO (RS), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), DESVALORIZAÇÃO, PREMIO, RECEBIMENTO, ATOR, DIRETOR, NEGRO.
- TRANSCRIÇÃO, EDITORIAL, JORNAL, ZERO HORA, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), DENUNCIA, DISCRIMINAÇÃO RACIAL, DECLARAÇÃO, PRESIDENTE, JURI, FESTIVAL, CINEMA.
O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Pela ordem. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, pedi a palavra pela ordem para apresentar à Mesa meus protestos contra a posição do presidente do júri do Festival de Gramado - Cinema Brasileiro e Latino, que disse que o prêmio que os negros lá receberam foi apenas uma compensação, porque o Rio Grande do Sul é um Estado muito bairrista.
Encaminho à Mesa, para publicação, o editorial do próprio jornal Zero Hora, com a posição do jornal, e a manifestação dos artistas envolvidos, muito precisa na defesa da posição do conjunto do júri. São os artistas o Joel, o Milton, a Léa, a Ruth, a Thaís e o Rocco.
O editorial do jornal Zero Hora - aliás, muito bem escrito - diz que o preconceito racial é uma realidade no País, mas que ninguém diga que o Rio Grande do Sul é mais racista. E ele cita o exemplo, repetido pelos artistas, do Vice-Presidente do Senado - tenho a alegria de participar da Mesa com V. Exª -, que é negro e se chama Paulo Paim, e também o fato de que o Rio Grande do Sul elegeu há pouco tempo um Governador negro, o ex-Senador Alceu Collares.
Era para que eu pudesse registrar o meu protesto. Agradeço a tolerância de V. Exª, porque rompi o Regimento da Casa e V. Exª acabou acatando.
Obrigado, meu Presidente.
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SEGUE, NA ÍNTEGRA, PRONUNCIAMENTO DO SR. SENADOR PAULO PAIM
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O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, gostaríamos de trazer a esta tribuna algumas observações sobre as repercussões que envolveram a premiação do filme “Filhas do vento”, de Joel Zito Araújo, no Festival de Gramado.
O comentário feito no Jornal do Brasil pelo crítico de cinema e presidente do júri do Festival, Sr. Rubens Ewald Filho, acredito seja do conhecimento de todos neste plenário.
Ele disse que o prêmio dado aos atores e atrizes, ao diretor e ao filme foi motivado pela cor dessas pessoas, como forma de prestigiá-las, por serem negras, e pelo fato de o festival se realizar no Rio Grande do Sul, um estado “acusado de desprestigiar o negro”.
Milton Gonçalves, Léa Garcia, Ruth de Souza, Thalma de Freitas, Rocco Pitanga compõem um grupo de atores conhecidos do grande público, do teatro, do cinema, da TV, profissionais que conseguiram superar, com muito talento e sacrifício, as barreiras raciais impostas à participação dos negros.
O diretor, o Sr. Joel Zito Araújo, distinguiu-se também pela pesquisa, é doutor em comunicação pela Universidade de São Paulo, tendo publicado com êxito sua tese. O título do trabalho é ilustrativo desse momento vivido pelo grupo de artistas em Gramado: “A negação do Brasil - o Negro na Telenovela Brasileira”.
Joel Zito tem se destacado também como diretor de uma série de vídeos premiados sobre relações raciais no Brasil, entre os quais. destaco o último: “Vista minha pele”, produzido no ano passado.
Parece-me natural que uma equipe talentosa e experiente tenha inscrito no festival um filme digno de ser apreciado com isenção pelo júri e premiado pelos seus méritos e virtudes intrínsecas.
Eu queria me referir também à observação de que os prêmios teriam sido motivados pelo fato de o festival se realizar no Rio Grande do Sul.
As sociedades que se originaram da expansão colonial européia foram estruturadas pelo racismo. Há racismo na Bahia, no Rio Grande do Sul, no Rio de Janeiro, nas redações dos jornais, em todos os lugares.
O racismo, infelizmente, distribui-se por igual em todas as regiões do País. O negro não tem vida fácil em nenhum lugar deste País.
Racismo que é negação dos valores de cultura e da humanidade das pessoas negras; racismo que não consegue enxergar o talento quando esse talento é negro.
A reação às afirmações do infeliz crítico mostra que estamos avançando na conscientização da sociedade brasileira, que manifesta cada vez com mais firmeza seu repúdio a essas formas de negação da pessoa negra e do Brasil.
Quero cumprimentar todo o grupo de artistas, Joel, Milton, Léa, Ruth, Thaís e Rocco!
Vocês fizeram muito bem o trabalho que se dispuseram a fazer e foram premiados por isso!
Axé, meus irmãos!
Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.
Muito obrigado.
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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR PAULO PAIM EM SEU PRONUNCIAMENTO.
(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)
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Matéria referida:
“A Chama do Preconceito”.