Pronunciamento de Eduardo Azeredo em 30/08/2004
Discurso durante a 5ª Reunião do Senado Federal, no Senado Federal
Publicação de artigo intitulado "Dom Helder tinha razão", de autoria do Senador Teotônio Vilela Filho, no Jornal do Brasil, edição de 23 do corrente mês.
- Autor
- Eduardo Azeredo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MG)
- Nome completo: Eduardo Brandão de Azeredo
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
- Publicação de artigo intitulado "Dom Helder tinha razão", de autoria do Senador Teotônio Vilela Filho, no Jornal do Brasil, edição de 23 do corrente mês.
- Publicação
- Publicação no DSF de 31/08/2004 - Página 28247
- Assunto
- Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
- Indexação
-
- COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, JORNAL DO BRASIL, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), CRITICA, TENTATIVA, GOVERNO, CRIAÇÃO, CONSELHO FEDERAL, JORNALISMO, AGENCIA NACIONAL, CINEMA, AUDIOVISUAL, PROIBIÇÃO, LIBERDADE DE EXPRESSÃO, FUNCIONARIO PUBLICO.
O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, ocupo a tribuna nesta tarde para registrar o artigo intitulado “Dom Helder tinha razão”, de autoria do Senador do PSDB Teotônio Vilela Filho, publicado no Jornal do Brasil, de 23 de agosto do corrente.
Em seu artigo, o nobre Senador trata das tentativas do Governo de controlar o funcionalismo público, a imprensa, o cinema e o audiovisual. As propostas de criação do Conselho Federal de Jornalismo e da Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual, juntamente com a idéia de proibir funcionário público de dar informações, formam uma grave ameaça à liberdade de expressão.
Sr. Presidente, solicito que o artigo publicado no Jornal do Brasil seja considerado como parte integrante deste pronunciamento e, assim, passe a constar dos Anais do Senado Federal.
Era o que eu tinha a dizer.
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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO AZEREDO EM SEU PRONUNCIAMENTO.
(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)
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Jornal do Brasil, 23 de agosto de 2004
Dom Helder tinha razão
Teotônio Vilela Filho, senador (PSDB-AL)
Os jornais passeiam pela economia, falam do Iraque e dos preços do petróleo, mas não saem do tema do momento: as tentativas do governo de controlar a imprensa, o cinema e o audiovisual. Isoladamente condenáveis, elas formam no conjunto uma pavorosa ameaça a liberdades duramente conquistadas e à própria democracia. Vamos aos capítulos esparsos de uma mesma crônica de terror.
O governo já propusera a criação de uma Agência Nacional de Cinema e Audiovisual, uma tal de Ancinav, numa tentativa canhestra de controlar a produção de cinema e televisão e de se intrometer na linha editorial da programação das emissoras. Saiu, ao mesmo tempo, com a idéia de proibir funcionário público de dar informações. Exceção única para ministros, chefões de departamentos e assessores de imprensa, o que garantirá a pasteurização plena de qualquer notícia. Até o presidente do PT foi contra.
Mas nada se compara ao projeto de criação de um Conselho Federal de Jornalismo para ''orientar, disciplinar e fiscalizar'' o exercício da profissão de jornalista; de zelar pelo comportamento ético dos jornalistas e pelas ''atividades jornalísticas''. O que se quer, como traduz o assessor de imprensa do presidente Lula, Ricardo Kotscho, em artigo na Folha de S. Paulo, é ''garantir à sociedade a plenitude da liberdade de imprensa, e não a liberdade para alguns profissionais e algumas empresas divulgarem o que bem entendem a serviço de seus interesses''. Foi claro?
Na esteira de tais primores, um decreto determina que o Instituto Nacional de Propriedade Industrial aprovará doravante os pedidos de patentes e contratos de tecnologia ''de modo alinhado às diretrizes de política industrial e tecnológica aprovada pelo governo federal''. Até o registro de uma patente pode passar pelo crivo político, dependendo do burocrata de plantão. Caiu a ficha?
E para não haver dúvida sobre o pensamento petista, o ministro de Comunicação e Gestão Estratégica Luiz Gushiken filosofou: ''Nada é absoluto, nem a liberdade de imprensa''.
Todos esses atos se inspiram numa mesma matriz autoritária. No governo ou na oposição, os petistas sempre se acharam a única reserva ética e moral. Fora do PT não havia seriedade administrativa nem decência política. Numa visão perigosamente maniqueísta, sempre dividiram o mundo entre bons e maus. O PT era o bem e agrupava os bons. Os petistas, afinal, são os únicos que sabem direito o que a sociedade quer. Como eles são o bem e só buscam o bem da sociedade, os que discordarem, inclusive a imprensa, são todos agentes perversos de algum projeto escuso. Censura neles. Ou Conselho neles. Dá no mesmo.
O arcebispo Dom Helder Câmara, uma das vítimas mais conhecidas da perseguição política, lembrava sempre que ''nada parece mais com o autoritarismo de direita que o autoritarismo de esquerda''. A citação me remete à intervenção do ex-vice-presidente da República, Pedro Aleixo, na famosa reunião que aprovou o AI-5. Pedro Aleixo foi contra o Ato, e o ministro da Justiça da época (como era mesmo o nome dele?) tratou de tranqüilizá-lo. O AI-5 estaria ''nas mãos honradas do presidente Costa e Silva''. Aleixo ainda contestou, com o pavor de imaginar o Ato Institucional usado por um burocrata qualquer, país afora. Foi vencido. Deu no que deu.
Os governistas de hoje tratarão de tranqüilizar a sociedade brasileira. Ninguém deve temer nada, todas essas normas estarão ''nas mãos honradas'' do presidente Lula e de sua corte de sábios e éticos. Dom Helder tinha razão.