Discurso durante a 127ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Homenagem as cidades Cruzeiro do Sul e Sena Madureira, no Estado do Acre, por ocasião das comemorações do centenário de fundação e instalação desses Municípios.

Autor
Geraldo Mesquita Júnior (PSB - Partido Socialista Brasileiro/AC)
Nome completo: Geraldo Gurgel de Mesquita Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem as cidades Cruzeiro do Sul e Sena Madureira, no Estado do Acre, por ocasião das comemorações do centenário de fundação e instalação desses Municípios.
Publicação
Publicação no DSF de 15/09/2004 - Página 29311
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, MUNICIPIO, CRUZEIRO DO SUL (AC), SENA MADUREIRA (AC), ESTADO DO ACRE (AC), TRATADO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, BOLIVIA, SOLUÇÃO, PENDENCIA, TERRITORIO NACIONAL, REGISTRO, HISTORIA, COLONIZAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, SAUDAÇÃO, POPULAÇÃO.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. GERALDO MESQUITA JÚNIOR (Bloco/PSB - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, meu querido amigo Senador Paulo Paim, que ora preside a Mesa, muito obrigado pela homenagem prestada ao meu bom, querido e velho pai, ex-Senador Geraldo Mesquita, que, como V. Exª lembrou, foi membro da Mesa do Senado, quando Senador.

Num mundo dominado pelo medo, vítima de tantos surtos de intolerância e de violência e dilacerado por conflitos sangrentos em que as maiores vítimas são, como sempre, os inocentes, é reconfortante nos reunirmos, por alguns momentos, para celebrarmos a paz e as promessas de paz.

Brasil e Bolívia protagonizaram, no começo do século passado, um episódio que honra os foros de civilização na América Latina, a celebração do Tratado de Petrópolis, instrumento com o qual resolveram pacificamente suas divergências históricas, momentaneamente turbadas pelo apelo às armas. Os Congressos de nossos países participaram desse esforço diplomático, cujo centenário comemoramos no ano passado, ratificando as decisões de seus respectivos governos. Num ato de sabedoria e reconhecimento, o Acre expressou sua gratidão ao artífice dessa solução negociada, dando à sua capital o nome de Rio Branco. O ano de 1903 representou, portanto, para brasileiros e bolivianos, a paz que, um século depois, tivemos a ventura de celebrar. Hoje, Sr. Presidente, novamente aqui nos reunimos para festejar as promessas de paz, que nos proporcionou o entendimento pacífico entre as duas grandes nações.

No começo éramos, como no Gênesis, um mundo por construir e um território por desbravar. Depois da paz estabelecida com o Tratado de Petrópolis, tínhamos, enfim, uma terra para amar e uma pátria para reverenciar, onde repousaríamos para sempre. O Acre, porém, era ainda, Srªs e Srs Senadores, apenas uma promessa de paz. A coragem e a bravura de que se armaram os nossos heróis se transmudaram, então, no impulso criador sem o qual as civilizações não nascem e os povos não sobrevivem. Como na epopéia da guerra, livrada por brasileiros de todos os rincões, a construção da paz exigiu o esforço de todas as raças, o suor de todos os rostos e o empenho de todos os bravos. Afinal, foi com bravura, suor, trabalho e dedicação que a promessa se transformou na realidade do mundo por desbravar que se agregou ao Brasil.

Estamos hoje, Sr. Presidente, reverenciando esses homens, celebrando as mulheres e entoando um hino de agradecimento à coragem dos que se lançaram à árdua tarefa de arrancar da terra, da selva e dos rios, presentes da natureza, a riqueza material com que se construiu nosso Estado. Fomos a civilização da borracha que já não somos mais. No entanto, continuamos honrando a promessa de paz, entendimento, harmonia e concórdia de quantos a transformaram em realidade. Toda essa história começou em dois Municípios - no início, departamentos -, cujo centenário aqui celebramos nesta sessão especial: Cruzeiro do Sul, no Vale do Juruá, e Sena Madureira, no Vale do Purus e do Iaco. Foi deles a seiva que fertilizou nosso crescimento. Afinal, desses dois marcos iniciais, como fruto da generosidade acreana, nasceram, por sucessivos desdobramentos, os atuais 22 municípios que constituem a divisão política e administrativa de nosso querido Estado. Embora possuindo características próprias, histórias candentes e exemplos de obstinação e independência, eles têm muito em comum, Sr. Presidente. O irredentismo e o sonho da autonomia sempre povoaram a mente dos brasileiros de ambos os Municípios. Em Cruzeiro do Sul, eles se manifestaram no movimento autonomista de 1º de junho de 1910. E em Sena Madureira, no levante que durou de 7 de maio a 8 de junho de 1912. Foi uma utopia que levou nada menos de 60 anos para se transformar em realidade, mas à qual nunca renunciaram os acreanos.

A história de nossa gente, no entanto, não foi escrita apenas com rasgos de ousadia. Brasileiros de todas as procedências, cidadãos de todas as crenças, homens de todas as raças, brancos, negros, índios e curibocas, todos, sem exceção, forjaram a têmpera de obstinados, trabalhadores incansáveis, homens humildes, em sua maioria, cujo nome a história parece ter esquecido, mas cuja memória e cuja lembrança não morreu no coração de seus descendentes.

Hoje, em nome de todos eles, saúdo os cidadãos de Cruzeiro do Sul, operosos, destemidos, determinados construtores de uma legenda que fez ao mesmo tempo a grandeza de sua cidade e a hospitalidade de sua gente. Os morros e os vales pelos quais se estende e se expande a cidade só não são maiores nem mais majestosos que o Juruá, presente com que, na imponência de sua grandeza, e na languidez de suas curvas, Deus presenteou um dos mais belos monumentos da perseverança humana plantada nos confins do Brasil. No céu que cobre os que têm o privilégio de viver naquela cidade, Sr. Presidente, se descortina, com um brilho e um esplendor raramente vistos em outras latitudes, a constelação que emprestou seu nome à cidade e que é, ao mesmo tempo, um símbolo de nosso País, da mesma forma como Cruzeiro do Sul é um bastião do Brasil, a mais oriental de nossas sentinelas no noroeste do Brasil.

Do outro lado, Sr. Presidente, moram, vivem, trabalham e a engrandecem os descendentes dos acreanos que desbravaram, conquistaram, construíram e hoje habitam uma das mais acolhedoras cidades acreanas, os cidadãos de Sena Madureira. O rio que fertiliza suas terras, tributário do Purus, não tem seguramente a imponência do Juruá. Mas nem por isso é menos sobranceira sua história, nem menos importante sua contribuição ao desenvolvimento do nosso Estado. Sena Madureira foi, durante muito tempo, a capital do Território Federal. Lá, cinco anos depois da incorporação do Acre ao Brasil, instalaram-se as primeiras e as mais importantes instituições políticas acreanas. Seu Tribunal de Apelação tinha jurisdição sobre todo o território. Ali funcionou, durante a República Velha, a primeira seção da Justiça Federal, a primeira Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional, assim como a primeira Delegacia de Agricultura e a primeira administração dos Correios e Telégrafos. Foram contribuições decisivas para o progresso que não se fez esperar, representado pelo advento de avanços como a iluminação elétrica, o primeiro hospital, a usina de beneficiamento da borracha, o serviço de bondes de tração animal, que conheceram seu período de maior esplendor ainda no início da primeira guerra mundial. Ao fim do conflito, porém, Sena padeceu uma fase de estagnação, decorrente da retirada de, virtualmente, todas as repartições federais de seu território. A transição foi dura, amarga e deixou suas seqüelas. Mas nada disso abateu a têmpera rija dos seus habitantes, que a transformaram numa das mais belas áreas urbanas de nossas cidades, caracterizada por ruas e avenidas amplas, que delimitam o recinto urbano, mostrando ao visitante o pioneirismo dos que as projetaram.

Em ambas as cidades, Srªs e Srs. Senadores, ainda é predominante a presença e a contribuição dos brasileiros e estrangeiros que fizeram do meu Estado uma das regiões de maior dinamismo cívico, cultural e político do País. Entre eles alistam-se, em primeiro lugar, as quatorze nações indígenas, que hoje, integradas ao esforço de desenvolvimento regional, tratam de conservar sua cultura e de manter vivos os aportes que, como em toda a Amazônia, deram à cultura alimentar, como em outras partes do Brasil. A seu lado, as levas de migrantes nordestinos, em especial os cearenses que, na esteira das secas do último quartel do séc. XIX e na década de 40 do séc. XX, com a epopéia dos “soldados da borracha”, protagonizaram o maior êxodo de que se tem notícia na história contemporânea do Brasil. Estes últimos foram os combatentes anônimos, desconhecidos e durante anos esquecidos, na retaguarda do maior conflito que conheceu o mundo na era contemporânea. O Acre, e como o Acre, Cruzeiro do Sul e Sena Madureira, são fruto dessa intensa miscigenação, desse subsídio cultural e humano, a que se somam, ao lado de brasileiros de quase todas as regiões do País, colônias muito expressivas de libaneses e seus descendentes, cuja contribuição é hoje tão reconhecida quanto celebrada em todo o Estado.

A todos, Sr. Presidente, saúdo com efusão e alegria, no centenário dessas duas emblemáticas e resplandecentes cidades das quais tanto nos orgulhamos os acreanos de todos os rincões. Foram eles que transformaram em paz a esperança da paz, em desenvolvimento o afã pelo progresso, em amizade a harmonia entre os povos e em perseverança a superação dos desafios que estamos vencendo, na luta cotidiana em que todos nos empenhamos por mais democracia, mais liberdade, mais entendimento, mais cooperação, mais participação e mais solidariedade. São atributos, Sr. Presidente, que fizeram de Cruzeiro do Sul e de Sena Madureira não só dois municípios e duas cidades, mas duas prósperas comunidades de que tanto nos orgulhamos e que tanto nos envaidece, como acreanos e como brasileiros.

Com essas palavras, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, presto aqui a minha singela homenagem às comemorações do centenário de fundação destas duas queridas cidades do meu Estado: Sena Madureira e Cruzeiro do Sul.

Desejo enviar o meu abraço fraterno aos meus concidadãos do Acre, em especial àqueles que lutam, trabalham, dão duro para fazer com que Sena Madureira e Cruzeiro do Sul se tornem cidades cada vez mais acolhedoras e agradáveis. Expresso também os meus parabéns pelo transcurso dessas datas que comemoraremos no dia 25 de setembro, em Sena Madureira, e no dia 28 de setembro, em Cruzeiro do Sul. Estou solidário com a população dessas duas cidades e festejando desde já.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/09/2004 - Página 29311