Pronunciamento de Marco Maciel em 15/09/2004
Discurso durante a 128ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Importância das Olimpíadas para consolidação da imagem cultural do Brasil perante a comunidade internacional.
- Autor
- Marco Maciel (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
- Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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ESPORTE.:
- Importância das Olimpíadas para consolidação da imagem cultural do Brasil perante a comunidade internacional.
- Publicação
- Publicação no DSF de 16/09/2004 - Página 29589
- Assunto
- Outros > ESPORTE.
- Indexação
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- IMPORTANCIA, PARTICIPAÇÃO, BRASIL, OLIMPIADAS, PAIS ESTRANGEIRO, GRECIA, OPORTUNIDADE, DEMONSTRAÇÃO, COMUNIDADE, AMBITO INTERNACIONAL, NIVEL, DESENVOLVIMENTO CULTURAL, PAIS.
- ELOGIO, RESULTADO, ATUAÇÃO, ATLETAS, BRASIL, OLIMPIADAS.
SENADO FEDERAL SF -
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O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, acabamos de participar - o mundo todo participou - de um acontecimento que deixa uma marca positiva neste século iniciado com episódios que toldaram as esperanças despertadas com o nascimento do novo milênio.
Refiro-me aos Jogos Olímpicos realizados em Atenas, plenos de aspectos emblemáticos. A começar pelo local, berço da Civilização Ocidental, onde foram iniciados há 2780 anos e que agora retornaram às suas origens, em torno do Monte Olimpo. As Olimpíadas mantiveram a inspiração original de quase três milênios, o “espírito educativo grego, ou seja, a Paidéia, que une o desenvolvimento da política e da literatura com o ideal atlético”, conforme observou o professor Constantino Comninos, da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
O evento exibiu resultados muito peculiares:
A faceta cultural do torneio, associando a salutar prática de esportes com a história dos povos e com a arte de ordenar o pensamento, popularizando os filósofos helênicos do mesmo modo que os recordistas olímpicos da atualidade.
O destemor dos participantes, comissões técnicas, organizadores e torcidas que ignoraram o risco de ações terroristas e se dirigiram para a Grécia como se fossem para as praças e estádios de suas cidades, alimentar as competições com a seiva de suas esperanças.
O exercício pleno do espírito olímpico. Delegações diferentes de uma mesma nação, dividida por razões políticas, desfilaram de mãos dadas, com suas bandeiras entrelaçadas, em exemplo de harmonia nacional sem paralelo. Refiro-me ao gesto iniciado em Sydney e repetido em Atenas, ignorando o paralelo 38 que divide as duas Coréias, a do norte e a do sul.
Sr. Presidente, o passado, no entendimento de Alceu do Amoroso Lima, é o que fica do que passou. O que parece ter ficado do que passou foi o exemplo da competição aliado à confraternização, do qual a paz e a solidariedade, valores que tanto cultuamos, são capazes de converter a convivência em coexistência. Tudo isso torna realidade o preconizado em Londres, há quase cem anos, por Pierre de Coubertin: “o importante nas Olimpíadas é menos ganhá-las do que participar. O importante na vida não é o trunfo, mas o combate”.
Presente ao encontro, o Brasil demonstrou, uma vez mais, a vocação de um povo que ama os esportes, torce por seus atletas - os quais, aliás, alcançaram um desempenho acima do previsto - e com eles chora e festeja. Há, contudo, uma face menos visível - pois, como disse Exupery, “o essencial é invisível aos olhos” - da presença do Brasil que começa ser revelada: a nossa identidade cultural, expressa e construída através da diversidade regional e da multietnicidade de seu povo.
Desse cadinho resultou uma cultura cujas características se projetam de forma mais evidente no folclore, na música, nas artes, na literatura e nos esportes.
Ademais, nosso povo, apesar de tantos padecimentos que o estigmatizam, tem, como traço positivo de seu caráter, algo singular no mundo: não se deixar dominar pelo sentimento de revolta ou abater-se pelo desânimo; não lhe falta humor - mesmo quando irreverente - nunca grosseiro, e jamais destila o fel do pessimismo.
Mostramos ao mundo - penso - de forma descontraída e expontânea, que estamos erigindo um novo tipo de civilização no extremo ocidente. Uma nação plural na sua unidade, sabendo viver com suas ainda - e infelizmente - não superadas desigualdades pessoais e regionais; convivendo sem conflitos - sequer latentes - com todos seus inúmeros vizinhos e que tem como princípio, inscrito no constitucionalismo republicano, a busca da paz como fundamento de sua política externa. Forjamos, talvez, um melting pot sem similar no mundo: indígenas, portugueses e africanos, depois, nos séculos XIX e XX, a mescla com outros povos europeus e asiáticos, em notável encontro de culturas, como sugerido pelos arcos entrelaçados dos Jogos Olímpicos.
Nas Olimpíadas, o Brasil pôde exibir, ao lado dos esportes, nossa riqueza cultural num mundo que se globaliza, malgrado de forma assimétrica e injusta. As Olimpíadas, enfim, concorreram para exibir a imagem de um país que tende a ampliar significativamente sua presença neste século.
Ao homenagear cada um dos atletas brasileiros que participaram das Olimpíadas, lembro um que personificou o modo de ser brasileiro. Refiro-me a Vanderlei Cordeiro de Lima. Ele, diante, de um acontecimento insólito, foi um exemplo que certamente permanecerá nos corações e mentes de todo o mundo: seu testemunho de atleta e de cidadão.
Não foi outra a razão que levou Maria Clara Bingemer, teóloga e escritora, definir Vanderlei como alguém incapaz de “deixar no coração porta aberta para a amargura, a vingança, o ressentimento”. Por sua conduta, conclui Maria Clara Bingemer, “Vanderlei é atleta veloz e experimentado da mais importante das provas: a da vida, que só com amor e perdão pode e vale a pena ser vivida”.