Pronunciamento de Osmar Dias em 16/09/2004
Discurso durante a 129ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Críticas ao desvio de finalidade na aplicação dos recursos da CPMF e da Cide.
- Autor
- Osmar Dias (PDT - Partido Democrático Trabalhista/PR)
- Nome completo: Osmar Fernandes Dias
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA DE TRANSPORTES.
EXECUTIVO, REQUERIMENTO DE INFORMAÇÕES.:
- Críticas ao desvio de finalidade na aplicação dos recursos da CPMF e da Cide.
- Publicação
- Publicação no DSF de 17/09/2004 - Página 29622
- Assunto
- Outros > POLITICA DE TRANSPORTES. EXECUTIVO, REQUERIMENTO DE INFORMAÇÕES.
- Indexação
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- NECESSIDADE, ATENÇÃO, AUSENCIA, UTILIZAÇÃO, RECURSOS, CONTRIBUIÇÃO, INTERVENÇÃO, DOMINIO ECONOMICO, INFRAESTRUTURA, TRANSPORTE, PRECARIEDADE, SITUAÇÃO, RODOVIA, PORTO, APREENSÃO, CLASSE PRODUTORA, DIFICULDADE, ESCOAMENTO, PRODUÇÃO AGROPECUARIA, REGISTRO, DADOS, ARRECADAÇÃO, DENUNCIA, INFERIORIDADE, APLICAÇÃO, DESVIO, VERBA, POUPANÇA, FORMAÇÃO, SUPERAVIT, DESPESA, PESSOAL, DESCUMPRIMENTO, LEGISLAÇÃO, RESPONSABILIDADE, NATUREZA FISCAL.
- ANUNCIO, APRESENTAÇÃO, REQUERIMENTO DE INFORMAÇÕES, SOLICITAÇÃO, ESCLARECIMENTOS, APLICAÇÃO, ARRECADAÇÃO, TRIBUTOS.
SENADO FEDERAL SF -
SECRETARIA-GERAL DA MESA SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA |
O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, apresentei dois requerimentos que creio correspondam ao desejo da sociedade brasileira de conhecer o que está sendo feito com os recursos da CPMF e com os da Cide, principalmente os da Cide.
Parece-me que os recursos da CPMF ultimamente vêm sendo aplicados para finalidade para a qual a contribuição foi criada. O brasileiro paga, em toda movimentação financeira nos bancos, 0,38%, e esse dinheiro vem sendo aplicado para a saúde e para a seguridade social.
No entanto, em relação à Cide, encomendei um estudo, do qual vou ler apenas um trecho, para mostrar que está havendo desvio de finalidade na aplicação dos referidos recursos. Trata-se de imposto cobrado sobre os combustíveis que originalmente foi criado para que fosse aplicado na conservação, reforma e ampliação de rodovias, na ampliação de portos, enfim, na infra-estrutura de transportes do País. E ouvimos aqui, diariamente, discursos reclamando da situação precária e até da iminência de um apagão logístico no País, o que preocupa principalmente o agronegócio brasileiro. Aliás, o setor produtivo todo está preocupado, pois entende que, se não houver investimentos no setor de logística, poderemos sofrer um apagão que poderá comprometer o desenvolvimento e o crescimento do País e a geração de empregos.
E vejam o que está acontecendo em relação à Cide: no ano de 2003, a arrecadação líquida foi de R$7,5 bilhões; para 2004, a previsão é de cerca de R$10 bilhões até o final do ano. Em 2003, após o desconto da DRU - Desvinculação das Receitas da União (recurso que fica para o Governo aplicar livremente), os recursos da Cide ficaram em R$5,9 bilhões. Porém, os dados indicam que, desse valor, foram gastos apenas R$3,9 bilhões; o resto, R$2 bilhões, Sr. Presidente, foi poupado para a formação do superávit primário. Em 2004, foi pior, porque, de R$9,3 bilhões, apenas R$1,9 bilhão foi transferido para Estados e Municípios e só R$3,1 bilhões é que estarão disponíveis para a despesa que inspirou a criação da Cide, ou seja, para as rodovias. Todos sabemos que há um estudo que revela que R$32 bilhões é o valor do orçamento para recolocar o Brasil nos eixos, no que se refere à logística de transporte, escoamento, portos, aeroportos. No entanto, o recurso que deveria estar sendo aplicado para reformar principalmente as rodovias, que estão hoje numa situação precaríssima, impedindo o deslocamento não só de automóveis, mas também de cargas, esse recurso, o dinheiro da Cide é gasto de outra forma. Querem ver para onde está indo? Na execução de 2003/2004, constata-se que entre 18% e 20% do total das aplicações da Cide são gastos com outras despesas, principalmente em pessoal, auxílio-alimentação, auxílio-transporte de servidores e empregados, assistência médica e odontológica, amortização de dívida e remuneração de pessoal ativo. Isso é desvio de finalidade, Sr. Presidente.
Eu falava com o Senador Gerson Camata, antes de iniciarmos a sessão, que no Paraná, no Município de Goio-Erê, um candidato a prefeito teve a sua candidatura impugnada pelo TRE, porque, quando foi prefeito, na gestão passada, em vez de aplicar cerca de R$30 mil na construção de calçamento nas ruas de Goio-Erê, ele aplicou esse recurso na construção de uma creche. O TRE entendeu que isso foi desvio de finalidade e impugnou a candidatura. O processo está aqui no TRE. Se aquilo foi desvio de finalidade, ou seja, pegar o dinheiro do calçamento e colocar na construção de uma creche, o que será isso que está acontecendo com os recursos da Cide? Vinte e cinco por cento do dinheiro da Cide estão indo para pagamento de pessoal, vale-alimentação, transporte e principalmente para pagamento da dívida externa.
A Cide não foi criada, eu não a votei neste Senado e ninguém a votou para que seus recursos fossem desviados para pagamento de dívida, de pessoal, enfim, para despesas de custeio.
Sr. Presidente, isso, sim, é desvio de finalidade. O Presidente Lula está descumprindo a Lei de Responsabilidade Fiscal. O Presidente Lula pode - como o ex-Prefeito de Goio-Erê, Fuad Kfuri, que vai recuperar a sua candidatura, tenho certeza - chegar em 2006 inelegível, caso não corrija esse desvio enorme de finalidade que está ocorrendo com os recursos da Cide.
O Brasil inteiro reclama das rodovias; o Brasil inteiro reclama da estrutura precária dos portos; o Brasil inteiro reclama que poderemos ter um apagão e a interrupção do crescimento do nosso setor produtivo se não cuidarmos da logística. Enquanto isso, o Governo brasileiro pega o dinheiro da Cide, que pagamos nos combustíveis, que estão muito caros neste País em função dessa contribuição, para usar com outras finalidades que não têm nada a ver com aquela que originou o imposto.
Sr. Presidente, cumprindo rigorosamente o meu tempo, apresentei dois requerimentos para obter do Governo as informações necessárias, para que depois eu possa tomar as providências cabíveis, porque o assunto é muito grave.