Pronunciamento de Paulo Paim em 17/09/2004
Discurso durante a 130ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Atividades desenvolvidas no Estado do Rio Grande do Sul em comemoração à Revolução Farroupilha e às tradições gaúchas.
- Autor
- Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
- Nome completo: Paulo Renato Paim
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
HOMENAGEM.:
- Atividades desenvolvidas no Estado do Rio Grande do Sul em comemoração à Revolução Farroupilha e às tradições gaúchas.
- Publicação
- Publicação no DSF de 18/09/2004 - Página 29924
- Assunto
- Outros > HOMENAGEM.
- Indexação
-
- REGISTRO, DETALHAMENTO, VIAGEM, ORADOR, MUNICIPIOS, INTERIOR, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), PERIODO, COMEMORAÇÃO, REVOLUÇÃO, IMPORTANCIA, HISTORIA, AMBITO ESTADUAL, SIMULTANEIDADE, OCORRENCIA, FESTA, SEMANA DA PATRIA.
SENADO FEDERAL SF -
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O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Excelentíssimo Sr. Senador Edison Lobão, que preside esta sessão, com enorme satisfação, faço no dia de hoje um pronunciamento sobre como foram os meus últimos dois meses, percorrendo o meu Rio Grande do Sul, matando a saudade dos campos, das plantações e da realidade do meu Estado.
Sr. Presidente, Srª Senadora Heloísa Helena, Srs. Senadores, durante os últimos dois meses, tive a felicidade de viajar por diversas localidades do meu Estado. Digo felicidade porque todos sabem do sentimento profundo de respeito e admiração que tenho pela minha terra natal. E por mais piegas que soe, sempre que viajo por lá encho o meu peito de muito orgulho e de muita satisfação.
Ao longo desse pronunciamento, faço uma retrospectiva talvez saudosista, mas verdadeira, que demonstra a saudade que tenho da minha terra. Lembro também a Revolução Farroupilha, pois iniciaremos na semana que vem as comemorações dessa batalha histórica em nosso País e em nosso Estado.
O Brasil é dono de uma beleza rara e o Rio Grande do Sul com seus 497 Municípios que finalizam esse mapa imenso do Brasil, enfeita, com seus traços, com suas características, com sua gente, este grande País. Deus, realmente, foi muito generoso com o povo brasileiro!
Viajei por tantas cidades, enchi meus olhos de alegria, olhando para os pampas, para as pradarias que se estendem como um tapete. Pude observar o litoral gaúcho que, mesmo sem o calor dos dias de verão, mostra sua serena magia. Tive a honra de visitar, dentre outras belas regiões, a Grande Santa Rosa, o Alto Jacuí, as Missões, o Vale dos Sinos, o Vale do Taquari, a Grande Porto Alegre, enfim, lugares encantadores, que não teria aqui tempo para descrever.
Percorri ruas, Senadora e Senador, fui às construções onde os trabalhadores edificam e plantas suas marcas, projetando o futuro à frente de seu próprio tempo. Andei pelo chão das fábricas, observando e ouvindo companheiros que falam a linguagem de uma jornada que é parte da minha própria história, a história dos operários.
Meus olhos viajaram pelos campos de trigo, da soja, do arroz. Certamente a imensidão do sentimento que me percorreu não tenho como descrever. Avistei o gado no campo fértil, aquele campo que minha alma gaúcha percorreu na infância e percorre tantas vezes em pensamento, quando distante de lá.
A oportunidade de estar em cidades como Uruguaiana, Barra do Quarai, Alegrete, Quarai, Santana do Livramento, Rosário do Sul, São Gabriel, Santa Maria - cidade universitária, Dilermando de Aguiar, São Pedro do Sul, Faxinal do Soturno, Rio Pardo, Pântano Grande, Venâncio Aires, Santa Cruz do Sul, Barra do Ribeiro, São Jerônimo, Charqueadas, São Francisco de Paula, foi um privilégio.
Fui aos verdes campos de cima da Serra, rios e águas cristalinas, nas terras onde nasceram meus pais. Como foi bom ver que lá a poluição ainda não chegou. Fui a Caxias do Sul, terra onde nasci, terra do pão, do vinho, da polenta e do formaggio, e que também possui um dos maiores parques industriais do Rio Grande.
Foi uma honra também ter percorrido Bento Gonçalves, Antonio Prado, Constantina, Novo Xingu, Lajeado do Bugre, São Pedro das Missões, Palmeira das Missões, Três de Maio, Horizontina, Santa Rosa, Santo Cristo, Giruá, Santo Ângelo - cidade dos Sete Povos das Missões, legado arqueológico de valoroso significado histórico para o nosso Brasil -, São Luiz Gonzaga, Ijuí Cruz Alta, Sapucaia do Sul, São Leopoldo, Novo Hamburgo - Capital Nacional do Calçado -, Cachoeirinha, Gravataí, Esteio - onde anualmente acontece a Expointer*, um dos maiores eventos agropecuários e de maquinário agrícola de todas as Américas -, Porto Alegre, nossa querida capital, Viamão, Alvorada, Guaíba e Cachoeira do Sul.
Senadora Heloísa Helena e Senador Edison Lobão, foi como se fosse a volta para casa. Andei por Canoas, cidade onde comecei minha caminhada sindical, de onde parti, em 1983, com cinco mil homens e mulheres, tendo chegado com 30 mil à nossa querida capital Porto Alegre, no chamado Protesto contra a Ditadura. Fomos recebidos com uma chuva de papel picado, da Avenida Farrapos até o Palácio do Governo. Porto Alegre, berço do Fórum Social Mundial. Jamais esquecerei o abraço que demos no “Laçador”, monumento histórico que recebe aqueles que visitam a capital. O carinho do nosso povo, a raça da nossa gente.
Assim como foi um presente visitar Pelotas, a cidade do doce, Jaguarão, Teutônia, Bom Retiro do Sul, Cruzeiro do Sul, Lajeado, Soledade, Salto do Jacuí, Tapera, Carazinho - que com sua forte agricultura ficou conhecida como a Capital da Semente -, Passo Fundo, Pontão, Erechim, Centenário, Aratiba - onde foi muito gratificante ser recebido com uma faixa que dizia: “Obrigado, Senador Paim!” -, Itatiba do Sul, Sananduva, Ibiraiaras, São Borja - onde visitei o túmulo de Getúlio, Jango e Brizola -, Casca, Anta Gorda e Muçum.
Como foi bom participar da churrascada gaúcha feita em fogo de chão, o arroz carreteiro, o bom chimarrão, sentindo a emoção crescer ao ouvir meus conterrâneos cantando para nós a música do meu querido amigo Leonardo “Céu, Sol, Sul, Terra e Cor”:
*Eu quero andar nas coxilhas
Sentindo as flechilhas das ervas no chão
Ter os pés roseteados de campo
Ficar mais trigueiro com o sol de verão
Fazer versos cantando as belezas
Desta natureza sem par
E mostrar para quem quiser ver
Um lugar pra viver sem chorar
É o meu Rio Grande do Sul
Céu, sol, sul, terra e cor
Onde tudo que se planta cresce
E o que mais floresce é o amor
Eu quero me banhar nas fontes
E olhar horizontes com Deus
E sentir que as cantigas nativas
Continuam vivas para os filhos meus
Ver os campos florindo e crianças sorrindo
Felizes a cantar
E mostrar para quem quiser ver
Um lugar pra
Viver sem chorar.*
Foi muito bom ver a Semana da Pátria no Rio Grande. Ver os gaúchos a cavalo, pilchados, desfilando, empinando o cavalo e tirando o chapéu, vindo ao meu encontro e dizendo, Senadora Heloisa Helena: “É isto aí, Senador dos gaúchos, não dobre a espinha, você honra as tradições do Rio Grande”.
Que alegria ter pousado nas velhas fazendas e ter ouvido a gauchada recontar a estória e a lenda de um mito, de um herói: o Negrinho do Pastoreio. Menino escravo que, tendo perdido uma cancha de carreira, foi castigado pelo dono, que lhe ordenou que ficasse 30 dias pastoreando a tropilha. O negrinho cansado, acabou adormecendo e perdeu o pastoreio.
O estanceiro, mais uma vez, mandou surrá-lo e jogá-lo na panela de um formigueiro. Passados três dias o estanceiro foi ao formigueiro para ver o que restava do corpo e para sua surpresa, viu na boca do formigueiro, o Negrinho, de pé, com a pele lisa, perfeita, sacudindo de si as formigas que o cobriam ainda. O Negrinho de pé ao seu lado, o cavalo baio e a tropilha dos 30 tordilhos e, fazendo-lhes frente, vinha a madrinha do Negrinho, a Virgem Nossa Senhora, tão serena. E o senhor caiu de joelhos chorando diante do escravo.
Registro também a satisfação que senti ao visitar São Lourenço do Sul, Pedro Osório, Capão do Leão, Rio Grande, Santa Vitória do Palmar e todo o litoral norte.
Como é bom registrar o sentimento que me invade quando falo dessas paragens, se é que é possível aqui dimensioná-lo. Falar do encantamento que senti observando as praças onde crianças, famílias, idosos, gente de todas as idades registra seus passos, suas risadas, compartilha suas lembranças e homenageia a cidade iluminando-a com o coração, com o pensamento e com o olhar muito firme de quem sabe o que quer.
Essas andanças pelo meu Rio Grande me fazem lembrar e registrar hoje - pois não estarei aqui semana que vem - a Semana Farroupilha, que está sendo celebrada no transcorrer desta semana. Assim, homenageamos as tradições gaúchas e o grande 20 de Setembro, quando foi proclamada a Revolução Farroupilha, o mais longo e um dos mais significativos movimentos de revoltas civis brasileiras. Fazem-me lembrar também dos Lanceiros Negros, bravos guerreiros que causaram furor contra as forças imperiais. É com orgulho que lembro que aprovamos no Senado o Troféu Lanceiros Negros, homenagem prestada a todo cidadão que se destacar na luta pela liberdade, igualdade, justiça e no combate permanente aos preconceitos.
Sr. Presidente Senador Edison Lobão, a Comissão que V. Exª preside foi fundamental para a aprovação do Troféu Lanceiros Negros.
Cidades por onde andei, meu coração agradece emocionado o carinho que recebi, a confiança, a força que me revigora, o orgulho de ser gaúcho e brasileiro e a alegria de poder lutar, junto com vocês, pelo crescimento de nosso Estado e do nosso País. Meu coração agradece por esse elo que é indestrutível.
Viva a Semana Farroupilha!
Sr. Presidente, dou-me o direito de terminar o meu pronunciamento com uma canção do inesquecível e já falecido gaúcho Teixeirinha que se transformou numa verdadeira prece para todos os gaúchos e gaúchas de todas as querências, como ele dizia.
A canção Querência Amada diz:
Que quiser saber quem sou
Olhe para o céu azul
E grita junto comigo
Viva o Rio Grande do Sul
O lenço me identifica
Qual a minha procedência
Na província de São Pedro
Padroeiro da querência
Oh, meu Rio Grande
De encantos mil
Disposto a tudo
Pelo Brasil
Querência amada dos parreirais
Da uva vem o vinho
Do povo vem o carinho
Bondade nunca é demais
Berço de Flores da Cunha
E de Borges de Medeiros
Terra de Getúlio Vargas
Presidente brasileiro
Sou da mesma vertente
Que Deus saúde me mande
Que eu possa ver muitos anos
O céu azul do Rio Grande
Te quero tanto
Torrão gaúcho
Morrer por ti me dou o luxo
Querência amada
Planície e serra
Dos braços que me puxa
Da linda mulher gaúcha
Beleza da minha terra
Meu coração é pequeno
Porque Deus me fez assim
O Rio Grande é bem maior
Mas cabe dentro de mim
Sou da geração mais nova
Poeta bem macho e guapo
Nas minhas veias escorre
O sangue herói de farrapo
Deus é gaúcho
Da espora e mango
Foi maragato ou foi chimango
Querência Amada
Meu céu de anil
Este Rio Grande é gigante
Mais uma estrela brilhante
Na bandeira do Brasil
Teixeirinha passou para a história, foi polêmico em algumas de suas posições, mas, sem sombra de dúvida, essa é uma linda canção que homenageia todo o povo gaúcho.
Muito obrigado, gaúchos e gaúchas de todos os pagos, de todas as raças e etnias, de todas as religiões. Muito obrigado por você existir, meu querido Rio Grande do Sul!
Viva o Rio Grande do Sul!
Viva o povo brasileiro!
Muito obrigado, Sr. Presidente.