Discurso durante a 132ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem a Juscelino Kubitschek de Oliveira, pela passagem do centésimo segundo aniversário de seu nascimento.

Autor
Paulo Octávio (PFL - Partido da Frente Liberal/DF)
Nome completo: Paulo Octávio Alves Pereira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem a Juscelino Kubitschek de Oliveira, pela passagem do centésimo segundo aniversário de seu nascimento.
Publicação
Publicação no DSF de 23/09/2004 - Página 30299
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ELOGIO, VIDA PUBLICA, LIDERANÇA, ATIVIDADE POLITICA, TRANSFORMAÇÃO, BRASIL.
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE NASCIMENTO, ERNESTO SILVA, PIONEIRO, RELEVANCIA, PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), COLABORADOR, JUSCELINO KUBITSCHEK, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA.

  SENADO FEDERAL SF -

SECRETARIA-GERAL DA MESA

SUBSECRETARIA DE TAQUIGRAFIA 


O SR. PAULO OCTÁVIO (PFL - DF. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Exmº Sr. Presidente José Sarney; meu caro pioneiro, Dr. Ernesto Silva; Anna Christina, minha esposa; meus filhos; Coronel Affonso Heliodoro; Vera Brant; General Athos, Secretário de Segurança; Dr. Pedro Bório, Secretário de Cultura; Weber Magalhães, Secretário de Esportes; Carlos Murilo Felício dos Santos, parente de Juscelino que se encontra aqui conosco; Maurício Lemos, sobrinho de D. Sarah; Ministro Adhemar Guisi, que prestigia esta solenidade e a quem desejo abraçar, demais pioneiros de Brasília - vejo tantos, que é difícil enumerá-los -, é uma alegria estar aqui, comemorando o 102º aniversário do extraordinário Presidente JK.

Quero dar um abraço nos alunos da Escola Americana, que se encontram nas galerias, nos colegas do Felipe e do André. Saúdo a Professora Joana Darc Costa, assim como o Professor John Gates, da Escola Americana - embora eu não o veja, sei que se encontra conosco. Agradeço à Jovem Turismo, que trouxe esses alunos aqui. Quero dar um abraço no Carlos Alberto

Esta homenagem a JK, que tradicionalmente fazemos, tem um sentido muito especial: o de homenagear um líder político que mudou o Brasil. Todo ano, nós a fazemos, lembrando esta importante data que é o aniversário do Presidente, porque entendemos que estamos resgatando a história do Brasil e construindo para os jovens líderes políticos um exemplo a ser seguido.

O Brasil, infelizmente, tem poucos líderes, e a história deles não é bem registrada.

Então, esta homenagem que Brasília presta a JK - e este ano foram tantas homenagens! - representa o sentimento do povo desta cidade, presente hoje nesta Casa.

Portanto, muito obrigado pela presença de todos. É uma honra recebê-los neste Senado Federal, nesta Casa que representa o Brasil.

Cumprimento o Brasil todo por meio desta sessão, transmitida pela Rádio Senado e pela TV Senado.

É um privilégio subir à tribuna da Câmara Alta para discursar em homenagem ao 102º aniversário do nascimento do Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, ocorrido no último 12 de setembro, podendo, ao mesmo tempo, reencontrar amigos e colaboradores de um período de ouro na vida nacional e relembrarmos juntos a data de nascimento do nosso maior estadista, e assim registrarmos, com reverência, sua vida, sua obra e o legado que soube deixar às futuras gerações de brasileiros, como marca indelével de um Presidente que soube, com competência, amor e incomparável patriotismo, dirigir o Brasil.

Desde o dia 12 deste mês, inúmeros pronunciamentos foram feitos nesta Casa para registrar os 102 anos do nascimento de JK. Homenagens se multiplicaram em toda a cidade, decantando sua visão extraordinária, seu empreendedorismo e, principalmente, sua extraordinária vocação política, capaz de unir habilidade democrática e sensibilidade de negociação. Um homem que, certamente pela providência divina, foi abençoado por ações que, embora testemunhadas com desconfiança pelos céticos, se tornavam realidade incontestável. Sabia o que queria, tinha uma visão estratégica do nosso País e enorme disposição para superar desafios, como todos que enfrentou por ocasião da construção desta Capital maravilhosa.

Desde sua fundação, a epopéia da construção de Brasília vem sendo cantada em prosa e verso, com o objetivo de perpetuar na memória nacional a ousadia de Toniquinho, o traço genial de Lúcio Costa, a concepção modernista de Oscar Niemeyer, a dedicação e o otimismo de Israel Pinheiro, a coragem de Bernardo Sayão e a força de trabalho de Ernesto Silva e do Cel. Afonso Heleodoro. Somando-se a eles, uma multidão de trabalhadores anônimos, que vieram dos quatro cantos do Brasil, acreditando nos propósitos e nas metas do Presidente, e que foram responsáveis por dar forma e vida a um sonho.

É incrível, Anna Christina, Presidente do Memorial JK, que esse homem nascido de família pobre, em Diamantina, filho de Dona Júlia, viúva aos 23 anos, tenha se formado em Medicina, exercido seu ofício na Polícia Militar do Estado e reunido as condições para fazer da política o meio de modificar o Brasil. Muitas capitais já foram construídas, mas nenhuma delas teve por inspiração um projeto de governo tão arrojado, tornando a nova capital brasileira a sua meta-síntese, destinada a tirar o País do litoral e revelar a seus nacionais os então chamados vazios demográficos.

Sobre esses vazios, quero conversar um pouco com esses estudantes que estão nas galerias. Quando vemos o mapa do Brasil de 50 anos atrás, verificamos que 80% da população vivia no litoral brasileiro, o nosso Centro-Oeste não era habitado. Hoje vocês estão aqui, muitos nascidos em Brasília, vivendo nesta cidade maravilhosa. A vocês, jovens, a vocês que farão parte das gerações futuras de Presidentes, Ministros, Senadores, a vocês que comandarão o Brasil, digo que é sempre importante resgatar a história do nosso País e mostrar que é possível, sim, pois somos competentes.

Imaginem os senhores e as senhoras que, em 2 de outubro de 1956, quando Juscelino pela primeira vez desembarcava no aeroporto Vera Cruz, uma rudimentar pista de pouso improvisadamente aberta por Bernardo Sayão no local - e aqui em Brasília todos sabem - onde está a nossa rodoferroviária, ninguém de fato, naquele momento, acreditava na viabilidade do arrojado projeto de construção da nova capital. Muito menos ainda se supunha possível crer na ousadia de inaugurá-la 46 meses depois.

Ao longo daqueles 46 meses, impulsionado pelo entusiasmo e pela inabalável determinação que caracterizaram a obstinada vontade política de JK, que por mais de 225 vezes aterrizou em solo brasiliense para materializar sua meta principal de governo, que para muitos parecia impossível.

Aqui chegava invariavelmente depois das dez da noite e percorria as obras até cerca de três horas da madrugada, quando, então, retornava ao Rio de Janeiro para enfrentar a imensa rotina do expediente presidencial na manhã seguinte.

É muito interessante quando conversamos com aqueles pioneiros de Brasília, alguns que ajudaram na construção, que trabalharam na construção de Brasília - meu suplente Aldemir Santana, meu suplente Karim Nabut, é muito emocionante, vocês que são pioneiros também, saber a história deles. Estava raiando o sol, eles começavam a trabalhar e JK aparecia, ou para tomar um café com eles, ou para dar uma tapinha nas costas, para ver como estavam as obras, coisa que toca e tocou os homens que fizeram esta cidade, os candangos que fizeram esta cidade.

Reporto-me a essas lembranças históricas porque as julgo especialmente ilustrativas e carregadas de um simbolismo capaz de retratar, pelo menos em parte, o espírito visionário e a capacidade de realização desse grande homem público a quem hoje rendemos homenagens.

Sua formação liberal e sua convicção democrática, aliadas à extrema habilidade política e ao poder de articulação estratégica, garantiram-lhe a brilhante trajetória, em especial nas décadas de 40 a 60, como Prefeito de Belo Horizonte, Deputado Constituinte, Governador de Minas Gerais e Presidente da República.

Dotado das principais características do bom político mineiro - artífice da conciliação, capaz de aparar arestas e conviver com as mais diversas e adversas classes de opositores, os quais sabia encarar como potenciais aliados -, JK primou em tirar partido de um cenário nacional em que nossa sociedade se despedia da obsolescência representada pelo mundo rural e ingressava nos movimentos sócio-culturais de vanguarda, projetando-nos para o desenvolvimento industrial.

Sua sensibilidade soube aproveitar o momento oportuno para contextualizar a necessidade do avanço desenvolvimentista no salto de natureza futurista em que se circunscreviam, na época, as megatendências formadoras de opinião, como a arte moderna, o cinema novo, a bossa nova, assim como as demais correntes de pensamento orientadas para a renovação.

No mês de novembro, teremos em Brasília, Presidente Sarney, uma exposição que vai retratar a Semana de Arte Moderna que JK fez em 1944, em Belo Horizonte. Na semana passada, tivemos uma reunião no Memorial JK, e a curadora dessa exposição, que será exposta no Itamaraty - todos estão desde já convidados -, a Denise Mattar, nos falou da sensibilidade do Presidente naquele momento, porque conseguiu reunir, Carlos Murilo, cento e quarenta das mais importantes obras da pintura brasileira e fez uma exposição que até hoje faz parte da história da pintura brasileira. Graças a Deus, Presidente, essas obras estão sendo resgatadas e serão expostas no Palácio do Itamaraty em novembro, numa promoção da FAAP.

Neste momento, resgato um pouco dessa história, dessa vocação de JK, dessa sensibilidade para valorizar as artes, assim como sempre fez, com muita competência, o Presidente José Sarney.

A adoção do modernismo por JK foi tão vital para o País quanto fora a conquista do mercado estatal por Vargas.

E foi assim que sua administração ficou marcada por um cunho inovador e progressista. Foi assim que no final do seu mandato à frente da Presidência da República, o Brasil apresentou pela primeira vez um PIB industrial maior do que o PIB agrícola. O “poeta da ação”, como o definia Afonso Arinos, alavancou em 80% a produção industrial e instalou, por meio de criterioso planejamento dirigido estatal, importantíssimos empreendimentos nos setores automobilístico, eletrodoméstico e siderúrgico, dentre tantos outros. Em termos de infra-estrutura, concretizou as hidrelétricas de Três Marias e de Furnas, além das Belém-Brasília e Brasília-Acre, “rompendo o isolamento histórico do Centro-Oeste e do Norte do País”.

Para não me estender no mérito do excepcional legado que JK deixou ao Estado e ao povo brasileiros, encerro citando uma pequena frase de um telegrama enviado a Juscelino pelo escritor inglês Aldous Huxley, cujo sentido sintetiza, a meu ver, a essência de suas idéias e de seu governo. A frase é: “Uma jornada do ontem para o amanhã”. É assim que vejo a obra do nosso homenageado de hoje.

Felizes os brasileiros e felizes os brasilienses pelas realizações desse ilustre e inesquecível mandatário, tão empreendedor como líder político; tão sensível como criatura humana. O pioneiro Ernesto Silva, aqui presente, costuma lembrar uma frase de Churchill que se amolda tão bem a Juscelino Kubitschek: “O estadista pensa na próxima geração. Assim foi nosso Presidente. Pensou em nós, em todos nós que estamos reunidos nesta sala, tanto os jovens que ocupam as galerias, lá em cima, quanto os que construíram Brasília, aqui embaixo.

Por tudo que fez por Brasília e pelo Brasil, com enorme satisfação, registro, mais uma vez, no Plenário do Senado Federal, nossa gratidão, nossa admiração e nosso respeito, em nome do povo candango e de todos os brasileiros, a esse homem excepcional que foi o Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira.

Muito obrigado. (Palmas.)

Sr. Presidente, peço apenas um minuto. Antes de deixar esta tribuna, gostaria de, em nome do Senado Federal, registrar nossa homenagem e nosso reconhecimento ao Dr. Ernesto Silva, pioneiro de Brasília, que esse homem completou, no último dia 17 do corrente, 90 - ele diz que não são 90 - anos de idade, com excelentes serviços prestados a Brasília, ao Brasil, ao Presidente JK, de quem foi um dos mais próximos colaboradores.

Carioca de nascimento, candango de coração, Ernesto Silva dedicou os últimos 50 anos de sua vida, à nova Capital, tendo integrado a Comissão de Localização da nova Capital, e responsável pelo edital do concurso que escolheu o projeto do Plano Piloto de Brasília, sendo posteriormente designado pelo Presidente para dirigir a Novacap.

Ao lado da esposa Sonia, continuou a luta em defesa da nova Capital, dos ideais que a construíram, constantemente lutando pela sua preservação, à frente da Associação dos Candangos e da Aliança Francesa.

Exemplo de dedicação e entusiasmo com a vida, Ernesto Silva merece a reverência das novas gerações, por tudo que realizou, por seu dinamismo e sua capacidade de trabalho. Por tudo isso, gostaria de fazer um convite - trata-se de um momento muito importante - ao Felipe e ao André, meus filhos, que estão sentados aí, nas cadeiras onde certamente, Presidente José Sarney, JK se sentou antes de ter seus direitos políticos suspensos, antes de ter sido cassado pela ditadura.

Peço ao Felipe e ao André que venham entregar uma placa de gratidão, de reconhecimento do povo de Brasília, dos brasilienses, dos candangos a este pioneiro, homem que todos nós admiramos, Dr. Ernesto Silva. (Palmas)

(Entrega da placa ao Dr. Ernesto Silva.) (Palmas.)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/09/2004 - Página 30299