Discurso durante a 133ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Surpresa com a postura do Partido dos Trabalhadores na condução das campanhas de seus candidatos ao próximo pleito eleitoral.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Surpresa com a postura do Partido dos Trabalhadores na condução das campanhas de seus candidatos ao próximo pleito eleitoral.
Publicação
Publicação no DSF de 29/09/2004 - Página 30717
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • COMENTARIO, ABUSO, PODER ECONOMICO, CAMPANHA, ELEIÇÃO MUNICIPAL, DENUNCIA, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), PROMOÇÃO, APRESENTAÇÃO, ARTISTA, PROMESSA, ASSINATURA, CONVENIO, OBRA PUBLICA, MUNICIPIOS, ESTADO DO PIAUI (PI), CRITICA, FALTA, ETICA, POLITICA PARTIDARIA.
  • HOMENAGEM, JUSTIÇA ELEITORAL, IDONEIDADE, PROCESSO ELEITORAL, BRASIL, VOTO, APARELHO ELETRONICO.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Edison Lobão, Srªs e Srs. Senadores, estamos na semana que antecede o pleito municipal do ano de 2004. No domingo, o Brasil terá oportunidade de escolher seus candidatos a prefeitos e vereadores.

Sr. Presidente, no meu pobre Estado do Piauí, onde os salários dos servidores estão atrasados - o Senado, inclusive, colaborou muito com a minha proposição para solucionar, em parte, as questões imediatas, para regularizar os salários desses servidores -, estamos vendo uma das mais caras eleições da história. Essa campanha não está sendo promovida pelos partidos tradicionais, aqueles que, antigamente, os petistas acusavam de “partido dos banqueiros”, “partidos dos latifundiários”, mas pelo Partido dos Trabalhadores.

O PT tem levado cantores de fora caríssimos, inclusive o virtuoso Arthur Moreira Lima, que fez concertos em Teresina, Campo Maior e em outras cidades do Estado. Onde o PT tem uma mínima chance de ganhar a eleição, há ostentação, o gasto é visto de maneira bem clara.

No Município de Campo Maior, conseguiram um empresário - o PT agora tem também candidatos empresários. Depois de baterem muito com nomes tradicionais do PT, aqueles que acompanharam o partido durante a resistência, um empresário sem nenhuma tradição de convivência com o partido é o candidato. Ontem, levaram a banda Limão com Mel para a cidade de Campo Maior, já no terceiro ou quarto evento.

Afora esses eventos, há assinatura de convênios, promessas... Todos esses casos já são calotes pré-eleitorais. Trata-se de convênios, Senador Edison Lobão, em que já estamos calejados. Somos do Nordeste, conhecemos essas promessas de vésperas de eleição; no dia seguinte, nada acontece. É promessa de estrada; poço aqui; passagem molhada acolá; o diretor do órgão competente vai e faz a festa; estrada esburacada há quatro ou cinco anos, uma parafernália.

Em Teresina, não. Lá eles jogaram a toalha. Na semana passada, o próprio Presidente Estadual do PT Deputado João de Deus deu declarações de que não sabia a quem o Partido apoiaria no segundo turno, referindo-se aos dois candidatos em melhor colocação, segundo todas as pesquisas.

Nunca vi uma transformação e uma deformação tão grande como a do PT em dois anos. Que metamorfose!

Aquela história que nos fazia inveja, aquela pureza de pregação que nos deixava admirados, tudo foi por água abaixo, Presidente. Nem falo da questão envolvendo o PT e outros Partidos com assento nesta Casa, mas do dia-a-dia, do aliciamento, dos tais “visitantes” remunerados, algo realmente de nos assustar. Quando esse Partido realmente tomar gosto pelo poder, imaginem o que não vai ser! Perseguição? Isso é outra coisa que aprenderam fazer. Demissões? Agora mesmo, imaginem, a esposa do candidato a prefeito da cidade de Brasileira - cidade próxima a Piripiri, o ex-prefeito Chico Amado - funcionária de um órgão do Governo do Estado, pelo simples fato de seu marido ser candidato pelo PSDB - que não é o meu partido, estou apenas registrando um fato aqui -, semana passada, foi simplesmente demitida para dar apoio ao candidato de conveniência do Partido dos Trabalhadores. São coisas de estarrecer.

Cito aqui dois, três exemplos porque não vou me deter, mas tenho certeza, Senador Edison Lobão, que no dia 4 ou 5 teremos aqui e na Câmara um verdadeiro rosário, com pessoas contando o que está acontecendo pelo Brasil afora. Se no meu Estado, que é pobre, a situação está desse jeito, eu imagino o que está acontecendo no Sul maravilha. Eu imagino São Paulo e imagino o Rio Grande do Sul, as duas praças de preferência do PT. O PT hoje é um Partido composto por paulistas e gaúchos e o seu comando se concentra nesses dois Estados brasileiros.

O Ministro da Saúde está anunciando a chegada lá no Piauí como se fosse levar voto. Pelo contrário, segundo penso, ele leva desconfiança. Usa um jato da FAB, o que tanto combatiam recentemente: o uso dos aviões oficiais. Agora, o jornal, para camuflar, anuncia que o PT alugou permanentemente um jato de uma empresa de táxi aéreo para servir às causas do Partido até o dia das eleições.

Senador Edison Lobão, tenho a maior admiração pela história e pela trajetória do Deputado José Genoíno. Mas, no dia em que fizeram uma acusação de aliciamento, com a movimentação de verbas de um partido para outro, o tão experiente Deputado José Genoíno, Presidente Nacional do Partido dos Trabalhadores, ao ser perguntado por um jornalista sobre a questão do dinheiro, talvez apanhado de surpresa, justificou-se dizendo que o dinheiro envolvido em qualquer transação não era dinheiro público, mas sim dinheiro do Partido. Depois, corrigiu com muita competência. Mas o primeiro impacto, o primeiro susto o fez dizer que dinheiro partidário, principalmente de quem está no Governo, não tem origem pública. Sabemos de onde vem esse “dinheiródromo” que enche os cofres de quem está no poder. A questão era só dizer que não era dinheiro de cofre público - saído, “recibado” -, como se o Partido não tivesse contas a prestar pelo que recebe, seja do fundo partidário, seja das doações. Mas sabemos que essas doações existem, Senadora Heloísa Helena. São doações declaradas e as do chamado Caixa 2, as doações por fora, e sobre as quais ninguém tem controle.

            Mas o PT, com todo esse esforço feito lá no Piauí, terá um crescimento fantástico: de aproximadamente 500%. Ele vai sair de uma prefeitura para cinco. Mas está gastando o suficiente para que, de maneira lógica, eleja 70 ou 80 prefeituras. Aceitou adesão, filiação, perdeu toda aquela mania, aquele costume de discutir entrada de novos militantes. Enfim, passou a ter o mesmo pecado que ele condenava nos outros. E lá em Teresina, Senadora Heloísa Helena, ocorreu algo interessante: começaram a ter tanto medo da estrela vermelha que a candidata a pintou de verde. E é camuflada, como se estivesse atrás de uma moita. É uma coisa completamente esquisita. Na maioria dos outros municípios, não tem mais sequer a estrela.

Hoje, se abrirmos o Correio Braziliense, uma pequena nota diz que um avião Boeing 727 da Varig, cargueiro, teve uma mercadoria apreendida aqui em Brasília. Eram camisetas com as cores vermelho e branco. Com certeza, do PFL não é; a cor do tucanato é outra. Em suma, a apreensão foi feita, lavrado o registro de prisão, e, logo em seguida, uma juíza mandou liberar a mercadoria. O jornal diz que é um material do Partido dos Trabalhadores. As coisas estão acontecendo de uma maneira escancarada, mas é isso mesmo.

Já disse aqui uma vez e vou repetir agora: esta é a eleição do voto do desconfiado. Tanto isso é verdade que os institutos de pesquisa do Brasil inteiro, os institutos responsáveis, adotaram um percentual de margem de erro maior do que o das eleições anteriores. Hoje não é mais o voto do indeciso, é o voto do desconfiado, daquele que acreditou que, votando no PT, teria o seu salário dobrado logo no primeiro ano de Governo; é daquele que acreditou que, votando no PT, não veria o Brasil pagando tanto ao FMI e sim o País aplicando em programas sociais. E o que vê é o pagamento maior ao FMI do que no Governo passado. O PT que prometeu e fez campanha até usando a boa-fé da Igreja para combater a Alca... Lembro-me, Senadora Heloísa Helena, que eu era Presidente da Comissão da Alca, na Câmara dos Deputados, e lá no meu Estado houve vários debates sobre a Alca e não fui convidado para nenhum, até para me atacarem, para me criticarem. Entrei na igreja de uma cidade chamada Morro Cabeça do Tempo, onde tinha uma placa imensa contra a Alca. Hoje, o garoto-propaganda da Alca pelo mundo afora é o Presidente Lula. É uma coisa estranha, esquisita.

Senadora Heloísa Helena, preste atenção ao que vou dizer agora e que os Anais da Casa estão aí para registrar: espere aumento de gasolina logo depois da eleição. Vamos ver a brincadeira que vai ser o superávit primário. Começaram a falar disso. Uns dizem que o aumento é de 0,25, outros que é de 0,50, outros que não. Começaram a preparar o espírito dos brasileiros para o arrocho. V. Exª sabe que o superávit primário não vem sem o arrocho; aquele mesmo superávit primário que o Governo passado defendia e que o PT foi contra. Aliás, com relação às reformas brasileiras, o PT deu um tiro que saiu pela culatra. Se tivesse votado há três anos, estava nadando de braçada, não estava precisando passar pelos vexames, pelos constrangimentos de não ter aprovadas hoje matérias fundamentais, necessárias e essenciais para a governabilidade.

Estamos vivendo hoje um momento surrealista. Imagine, Senadora Heloísa Helena, se Deus nos desse a ventura de baixar ao planeta novamente o Henfil ou qualquer um daqueles que morreram na santa crença de que o PT seria a solução de todos os problemas e visse hoje como o Partido age. Aliás, hoje, o PT me lembra muito um remédio lançado no Brasil na década de 50 - eu era garoto, mas não me esqueço; existem coisas na vida que nos marcam mundo afora. O Senador Lobão é um pouco mais velho do que eu, mas também é bem jovem, e deve se lembrar disso.

O SR. PRESIDENTE (Edison Lobão. PFL - MA) - Eu me lembro, mas sou mais jovem.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Bem mais jovem. O Wakamoto - V. Exª se lembra dele? - era um remédio japonês, que foi lançado Brasil afora. Tinha a forma de uma daquelas lanternas japonesas, uma japonesinha bonita de quimono fazendo propaganda. Naquela época, a televisão era precária, havia o rádio e a propaganda era ao vivo. Então era uma japonesinha de quimono andando Brasil afora. O Wakamoto era indicado para prisão de ventre, diarréia, envelhecimento, rejuvenescimento e bateu todos os recordes de venda no Brasil naquela época. As farmácias todas decoradas, e a mocinha, quando chegava na cidade, fazia lá um espetáculo e tome Wakamoto. Oito meses depois, as caixinhas de Wakamoto começaram a amarelar, a ficar empoeiradas, a encalhar nas farmácias brasileiras. Foram retiradas gradativamente, e a geração atual não sabe mais o que é o Wakamoto.

Infelizmente, Senadora Heloísa Helena, V. Exª, que foi do PT, sabe - tenho certeza - da vocação que o PT está demonstrando para Wakamoto. Havia tanta expectativa, tanta esperança! E o que estamos vendo? Um partido que está vivendo, única e exclusivamente, do carisma pessoal do Presidente Lula, o qual reconheço. Pelo visto, o Presidente só sabe da metade das coisas que acontecem no governo. Não acredito que o Presidente Lula, com a sua história, sua biografia, não saiba do que se comenta pelo Brasil afora. É impressionante, em todo lugar a que chegamos ouvimos falar desses gastos fabulosos que o PT está fazendo Brasil afora.

Não acredito, por exemplo, que esses conjuntos sertanejos, que cobram R$250 mil, R$150 mil por apresentação, cobrem do PT R$10 mil ou R$15 mil, até porque não pode, pois a estrutura deles é muito grande. São trinta a quarenta pessoas que os acompanham. Há o carro de som, o batalhão precursor. Há a figura de um jacaré, aquele que quebra todos os galhos. É uma equipe grande, monstruosa. Pode parecer que estão fazendo shows de graça, mas alguém está pagando. Esse pessoal sabe que tem um período de sucesso limitado, por isso não perde tempo. Todos eles têm empresários, os quais não permitem certa generosidade. Outra coisa que pergunto: será que estão fazendo isso por ideologia e essa ideologia só chegou agora com o poder? Por que não fizeram antes?

Senador Edison Lobão, nos dias posteriores ao pleito, haverá aqui um vale de lágrimas. Aqui estarão os que ganharam, apesar do PT, os que são da coligação e foram preteridos pela ambição de fazer os preferidos.

Imagina a situação de revolta dessa moça que é candidata à Prefeitura de Fortaleza, que tem história dentro do partido e que se vê agora preterida, por oportunidade, por ambição. São fatos. Quem tentou escrever a história que esse partido quis nos passar não tem como justificar certas coisas.

No Piauí, Estado pequeno, há dezenas e dezenas de casos assim. O Governador Wellington Dias tem uma marca impressionante, bateu o recorde. Se houvesse guiness de denuncismo, com certeza, ele seria inserido lá, pois denunciou 148 prefeitos no Estado do Piauí por suspeita de corrupção. Desses 148, Senadora Heloísa Helena, uma grande parte está com ele.

Comportar-se dessa maneira é pensar que a memória dos brasileiros é curta e que o Brasil não está atento a tudo isso. Evidentemente haverá dentro do próprio Partido dos Trabalhadores alguns fenômenos eleitorais, algumas pessoas que conquistaram credibilidade. Vejam, por exemplo, o caso do nosso ex-colega Marcelo Deda. Ao conversar com qualquer pessoa de Sergipe, vemos que ele é um homem que tem liderança firmada.

O jornal de hoje, Senadora Heloísa Helena, faz uma apologia do Deputado Lindberg Faria, com quem convivi na Câmara. Ele era considerado uma ovelha negra. No PT, todos tinham ódio dele. Não sei por quê. Não conheço as origens dele. Ele se sentiu desambientado, mudou de Partido, voltou e é a grande estrela do partido. Embora se atribua tudo isso aos shows que estão sendo feitos e ao mágico Duda Mendonça, pergunto como tudo mudou tão rápido e de maneira tão drástica neste País?

Sr. Presidente, agradeço a V. Exª a oportunidade. Espero que estejamos todos aqui para ouvir, a partir do dia 4 de outubro, na ressaca eleitoral, as lamentações, as críticas e a manifestação das revoltas.

Finalizo, Sr. Presidente, prestando uma homenagem à Justiça Eleitoral. Felizmente, graças a ela e por meio do voto eletrônico, temos uma prática eleitoral inviolável. Imaginem onde iríamos parar se houvesse vulnerabilidade nesse processo.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 29/09/2004 - Página 30717