Discurso durante a 135ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Análise das eleições em Alagoas, destacando a degeneração da estrutura política do Partido dos Trabalhadores naquele Estado.

Autor
Heloísa Helena (PSOL - Partido Socialismo e Liberdade/AL)
Nome completo: Heloísa Helena Lima de Moraes Carvalho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES.:
  • Análise das eleições em Alagoas, destacando a degeneração da estrutura política do Partido dos Trabalhadores naquele Estado.
Publicação
Publicação no DSF de 06/10/2004 - Página 31295
Assunto
Outros > ELEIÇÕES.
Indexação
  • CRITICA, INCOERENCIA, IDEOLOGIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), CAMPANHA ELEITORAL, ESTADO DE ALAGOAS (AL).

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Pelo Senador Ney Suassuna, não, porque eu ia falar muito para que o Senador não pudesse falar. Onde está o Senador Ney Suassuna? Entretanto, atendo ao pedido de V. Exª, Sr. Presidente. Estou brincando com o Senador Ney Suassuna.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Senadora Heloísa Helena, hoje eu tinha um compromisso com a minha consciência de levar a sessão até a meia-noite para poder ouvi-la.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - A razão dessa atitude é porque, doente, o Senador Romeu Tuma pode contar comigo como enfermeira. Eu já disse que somente sou “brasinha” e briguenta na política, mas que, como enfermeira, sou um “docinho”.

É uma recuperação maravilhosa a do Senador Romeu Tuma, com a graça de Deus e com o empenho da sua esposa, que é querida e maravilhosa e que está ao seu lado. Que o Senador tenha saúde mais rapidamente, a fim de nos dar o prazer do seu convívio.

O SR. PRESIDENTE (Romeu Tuma. PFL - SP) - Muito obrigado.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL) - Sr. Presidente, serei bem rápida.

Chegou o Senador Ney Suassuna. Vamos deixar para brigar amanhã. Hoje, não.

O Sr. Ney Suassuna (PMDB - PB) - Não vou brigar com V. Exª nunca.

A SRª HELOÍSA HELENA (P-SOL - AL. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Farei breves considerações sobre o processo eleitoral no meu Estado.

Semana passada ou há uns 10 dias, determinado Senador do PT comemorava na Casa, dizendo que o meu candidato não passaria de 2% na eleição para a Prefeitura de Maceió. É evidente que sabem todos que eu queria muito ter sido candidata à Prefeita de Maceió e que estava em primeiro lugar nas intenções de voto. Infelizmente, não tive a oportunidade de ser candidata, porque o requinte de perversidade do processo de expulsão foi justamente fazê-lo depois do prazo estabelecido pela Justiça Eleitoral, para que eu não pudesse ser candidata nem me filiar a outro partido. Imaginem ter tempo de construir uma estrutura partidária para ser candidata!

Pois bem, o resultado das eleições foi extremamente interessante. O candidato que eu apoiei, do PPS, sozinho, com muitas deficiências, com um vice do PPS, com um minuto de televisão, sem estrutura financeira alguma, conseguiu 10% das intenções de voto. Foi muito, comparado ao candidato do Senador Renan Calheiros, do Senador Teotônio Vilela Filho, da cooperativa dos usineiros, que teve 18%. Se compararmos com o candidato do Lula, do Governador do Estado, da outra banda dos usineiros e da Prefeitura de Maceió, da maioria dos Vereadores e dos Deputados, que teve 24% dos votos, realmente é um resultado muito interessante.

Mais interessante, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, foi ver a degeneração de uma estrutura partidária. É duro. Eu tive a oportunidade de vê-la com tristeza, porque foram muitos anos de dedicação para construir o PT no meu Estado. Foram muitas circunstâncias de humilhação que passei no Estado e que marcaram meu corpo, minha alma e minha dignidade como militante.

Foi estranho ver, em São Miguel dos Campos, terceiro maior colégio eleitoral do Estado, o Presidente do PT elogiando um dos maiores usineiros do Estado de Alagoas, Nivaldo Jatobá, porque diziam que ele não era apenas um corrupto testa-de-ferro de Suruagy, mas um assassino de trabalhador rural. Ou o homem não é nada disso e era uma profunda vigarice política o que diziam ou são todos iguais. É algo realmente impressionante.

O PT indicou o Vice de Sexta-Feira. Aliás, o próprio PT encaminhou ao então Ministro Cristovam Buarque um documento em que acusava os dois de corrupção na Escola Técnica Federal de Alagoas. Agora, é Vice desse candidato. O Partido se predispôs a funcionar como legenda de aluguel para algumas personalidades que não têm relação alguma com a história do Partido, deixando de fora, inclusive, a possibilidade de vitória de militantes históricos.

Faço esse registro apenas para que a minha consciência não me cobre o silêncio diante de uma verdadeira tragédia como essa. Por isso, Senador Papaléo Paes, o povo odeia os políticos.

Estive em Belém, e a situação é impressionante. É algo de outro mundo. Em Belém, um jornalista me perguntou: “A senhora não vai denunciar o Duciomar na Comissão de Ética? Dizem que há um processo contra ele.” Eu respondi que vou analisar o processo e, depois das eleições, vou me pronunciar. Isso porque o Jader era considerado um delinqüente pelo PT, e agora é o queridinho e estará ligado ao Partido no segundo turno. Então, ou ele não era, ou algo está errado. O caso do Senador Luiz Octávio - alias, faço esse comentário porque disse o mesmo a S. Sª há pouco - é de outro mundo. Analisei o processo e disse a S. Exª - que é muito delicado com todos nós - o que penso do seu processo. O nome de S. Exª foi indicado pelo PT para Ministro do Tribunal de Contas da União.

Realmente, a vida está dura, muito difícil, e, para mim, no Estado de Alagoas, especialmente dolorosa, de cortar o coração. Mas a vida é bela. A vida continua, e espero que, um dia, tudo isso possa ser repensado, seja feita uma autocrítica, para que uma estrutura partidária construída com tanto sangue, suor e lágrimas não caia na vala comum, como infelizmente aconteceu no meu Estado.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/10/2004 - Página 31295