Discurso durante a 137ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Presença dos judeus em Pernambuco.

Autor
Marco Maciel (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL.:
  • Presença dos judeus em Pernambuco.
Publicação
Publicação no DSF de 08/10/2004 - Página 31728
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • SAUDAÇÃO, INAUGURAÇÃO, EXPOSIÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), REGISTRO, HISTORIA, JUDAISMO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DE PERNAMBUCO (PE), PARTE, COMEMORAÇÃO, ATUAÇÃO, GRUPO ETNICO, AMERICA.
  • IMPORTANCIA, DIVULGAÇÃO, HISTORIA, BRASIL, ANALISE, CONTRIBUIÇÃO, IMIGRAÇÃO.

O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Sibá Machado, Srªs e Srs. Senadores, a primeira sinagoga das Américas, Kahal zur Israel - Rochedo de Israel, foi fundada no Recife no século XVII. Recentemente, em oito de setembro passado, foi inaugurada, em Nova Iorque, a exposição Pernambuco: Gateway to New York, com um rico acervo, histórico e cultural, encontrado em escavações no sítio onde existiu a sinagoga a que acabo de me referir, na antiga rua dos Judeus, atual rua do Bom Jesus, onde agora funciona o Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco, na margem do nosso rio Capibaribe. A mostra é um dos destaques da festa que celebra os 350 anos da presença dos judeus na América e deverá permanecer à visitação pública até o final 2004, transferindo-se, após, para o Canadá.

Esses fatos, Sr. Presidente, no passado e no presente, têm significados muito especiais para Pernambuco e, em especial, para o Brasil. No passado, porque se relaciona com episódios que marcam a formação de nossa identidade nacional e com a mistura de etnias, culturas e costumes que caracterizam o povo brasileiro. No presente, pois à margem do pouco que até recentemente o mundo conhecia de nosso País, o Brasil mostra, uma vez mais, uma rica história de aspectos humanísticos e singulares, em terras do Extremo Ocidente.

No século XVII, com o domínio holandês no Nordeste e a administração liberal de Maurício de Nassau, com ampla liberdade religiosa, ocorreu uma grande afluência de judeus, de várias partes do País e do mundo para Pernambuco, os quais passaram a exercer atividades na cultura do açúcar e do comércio, principalmente.

Como assinalei em prefácio ao álbum “Bandeirantes Espirituais do Brasil”, os judeus que vieram para o nosso País eram originários da Espanha e de Portugal. Com eles - relata Manuel Diegues Júnior - se desenvolveu a migração judaica para o Brasil, “nos séculos que precederam a Independência. Com a atuação do Tribunal do Santo Ofício, na Bahia, em 1591/93, em Pernambuco em 1593/95 e novamente na Bahia em 1618, os judeus que, a princípio, se encontravam nessas duas capitais, dispersaram-se por todo o Brasil, principalmente para o sul”.

Avulta, dentro desse quadro, a construção da primeira sinagoga das Américas, que ocorreu na primeira metade do século XVII no Recife.

Como eles falavam vários idiomas europeus, inclusive português, trabalhavam também como intérpretes para os invasores. Com o retorno de Nassau para a Europa, em 1644, e reinício da discriminação religiosa, um pequeno grupo de judeus, vinte e três ao todo, parte para os Estados Unidos logo após a expulsão dos holandeses, ocorrida dez anos após, 1654.

A odisséia dos judeus na rota Ilha do Recife - Ilha de Manhattan insere-se no quadro das comemorações dos 400 anos de nascimento, em Siegen, na Alemanha, do príncipe João Maurício de Nassau e dos 350 anos da Restauração de Pernambuco do Domínio Holandês.

Sr. Presidente, venho a esta tribuna para destacar que a exposição em curso em Nova Iorque se constitui de peças remanescentes da cultura colonial pernambucana e dos melhoramentos introduzidos pelos holandeses, com o enriquecimento da arte e dos costumes judaicos. Foram coletadas e organizadas por competente equipe multidisciplinar formada por historiadores, arqueólogos, sociólogos, artistas e funcionários diversos que atuam no Arquivo Histórico Judaico de Pernambuco, com o apoio do Governo do Estado de Pernambuco, da Câmara Americana de Comércio - Amcham, do Grupo Safdié(*), da Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco, do Rapidão Cometa, do Banco do Nordeste e diversas outras instituições.

É inquestionável, portanto, o papel de destaque dos judeus, “irmãos mais velhos na fé”, para usar a expressão do Papa João Paulo II, na Terra de Santa Cruz. Deixaram assim, aqui, as marcas da saga de um povo, o exemplo de resistência da fé, o espírito combativo e o selo indelével de sua cultura. A Sinagoga Kahal zur Israel, Rochedo de Israel traduzido para o português, agora totalmente restaurada em articulada parceria entre o Poder Público e a iniciativa privada, é de significativa importância para o povo judeu, mas também para Pernambuco e para o Brasil, porque recupera uma expressiva parte de nossa história. Apresenta, igualmente, algo muito expressivo para a religião e a cultura judaica.

Encerrando, Sr. Presidente, ressalto, finalmente, entre outros, a participação intelectual e administrativa da Drª Tânia Neuman Kaufman, diretora do Arquivo Histórico Judaico, e a atuação também do executivo Aguinaldo Viriato de Medeiros Filho, aos quais apresento meus cumprimentos pelo notável trabalho realizado.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/10/2004 - Página 31728