Discurso durante a 139ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento do escritor Fernando Sabino.

Autor
Marco Maciel (PFL - Partido da Frente Liberal/PE)
Nome completo: Marco Antônio de Oliveira Maciel
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento do escritor Fernando Sabino.
Publicação
Publicação no DSF de 14/10/2004 - Página 311158
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, FERNANDO SABINO, ESCRITOR, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), ELOGIO, OBRA LITERARIA.

O SR. MARCO MACIEL (PFL - PE. Pela ordem. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, desejo justificar o requerimento que apresentei à Mesa, para que, submetido ao Plenário, sejam devidamente comunicados nossos sentimentos à família do saudoso escritor falecido e ao Governador Aécio Neves, de Minas Gerais, posto que Fernando Sabino, como todos nós sabemos, era um ilustre escritor mineiro.

Não cheguei a conhecer pessoalmente Fernando Sabino, mas nem por isso devo deixar de salientar que fui, como muitos brasileiros, um leitor de suas obras. Fernando Sabino não foi apenas romancista - inclusive tem um excelente romance chamado O Encontro Marcado -, mas também um excelente novelista, cronista e cinéfilo. Admirava como poucos a chamada sétima arte e chegou a participar, se não estou equivocado, de empresa que produzia documentários para o cinema.

            Era de temperamento muito retraído, conquanto se comunicasse muito bem com os seus leitores, mercê de seu estilo rico e leve, quase machadiano e não foi à toa que vendeu muitos livros, mais de três milhões. No Brasil isso não deixa de ser algo muito significativo, o que comprova o seu talento de escritor e que, como lembrei há pouco, fazia com que o seu público se prendesse ao texto com interesse e agrado.

Embora não tenha sido o seu primeiro livro, O Encontro Marcado, editado em 1956, talvez seja a sua obra mais conhecida, o que levou o escritor Ignácio de Loyola Brandão a dizer: “Eu não seria cronista se não tivesse lido Fernando Sabino”. E acrescenta: “Não dá para esquecer o impacto que foi na literatura um romance como O Encontro Marcado”.

            O livro também tem outra característica: como se desenvolve basicamente na capital do Estado de Minas Geras, dá um certo destaque à cidade de Belo Horizonte, que é uma das mais jovens capitais brasileiras.

Sobre esse assunto, gostaria de mencionar comentário de Luiz Roberto Nascimento Silva, filho do ex-Ministro Nascimento e Silva, que hoje ocupa as funções de Secretário de Cultura no Governo de Minas Gerais. Ele diz:

“Mas ele foi, certamente, com O Encontro Marcado, publicado em 1956, que ele deixará sua grande marca e contribuição para a literatura brasileira”. E observou: É importante também frisar que foi um dos primeiros romances urbanos, que iria imortalizar Belo Horizonte num período em que a produção literária era predominantemente de enfoque rural”.

Fernando Sabino foi autor de muitos livros - e não vou, neste breve pronunciamento, citar todos - entre eles O Grande Mentecapto, com o qual ganhou o Prêmio Jabuti e pelo conjunto de sua obra, ele mereceu o Prêmio Machado de Assis, o maior que a Academia Brasileira de Letras confere.

Introvertido, não buscava holofotes e não gostava também de dar entrevistas. Como observou com muita propriedade Wilson Figueiredo, ele parecia cultivar a solidão.

Lerei uma pequena parte de texto de Wilson Figueiredo, publicado no Jornal do Brasil, em maio deste ano:

|“Depois de consolidar a solidão alcançada sem pressa, mas com método, a partir da morte dos ‘três melhores amigos’ não apenas de todo dia, mas do dia todo - Paulo Mendes Campos, Otto Lara Resende e Hélio Pellegrino - Fernando Sabino reduziu ao mínimo os contatos com o mundo exterior”.

E acrescentava:

“São cada vez em menor número, no seu círculo de sobreviventes, aqueles com quem seria capaz de trocar carta. Correspondência encerrada”.

De fato, Fernando Sabino era uma pessoa introvertida, que não freqüentava os chamados grandes salões e integrava, com Paulo Mendes Campos, Hélio Pellegrino e Otto Lara Resende, o grupo que este último denominou “Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse”.

Sr. Presidente, devo também observar uma característica de Fernando Sabino pouco destacada na imprensa: ele era um católico praticante não somente porque freqüentava com assiduidade a eucaristia, mas também porque praticava sua fé com atos concretos. Cito dois exemplos: quando recebeu o prêmio Machado de Assis, da Academia Brasileira de Letras, ele o doou a uma instituição de caridade; fez o mesmo com seus instrumentos musicais de baterista.

Recorde-se, por oportuno, haver Sabino publicado pela Record o livro Com a graça de Deus, em cuja apresentação ele observa:

“Ao assumir s condição humana, mesmo sendo Deus, Jesus aceitou tacitamente submeter-se às injunções da natureza, impostas a todos os homens, sem distinção: nascer, chorar, rir, brincar, crescer, estudar, receber da mãe um carinho ou do pais uma palavra amiga, conviver com os companheiros, comer, beber, viajar, cansar-se, suar, angustiar-se, enfim: viver e morrer como homem. Para ressuscitar como Deus. Era Deus e homem verdadeiro”.

Sr. Presidente, Antonio Cândido afirmou, certa feita, que o grande escritor cresce quanto mais distante de sua morte. Quanto mais distante fica o grande escritor de sua morte, mais cresce. Sem querer fazer aqui nenhum exercício de futurologia, eu diria que o mesmo irá acontecer com Fernando Sabino. Ele era, nos últimos anos, um escritor menos lido do que o foi em décadas passadas. Certamente agora, ele será um escritor mais procurado.

Pode-se, com relação a Fernando Sabino, afirmar o que foi dito, no campo da política, quanto a Rui Barbosa: se foi apreciado em vida, maior será seu reconhecimento após sua morte.

Sr. Presidente, com estas palavras, solicito à Mesa que, ouvido o Plenário, seja aprovado o requerimento de sentimento desta Casa pelo passamento do escritor Fernando Sabino, rogando que, aprovada a referida moção, seja comunicada a sua família e o Governo de Minas Gerais.

Era o que eu tinha a dizer.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/10/2004 - Página 311158