Discurso durante a 141ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem ao Dia do Professor. Defesa da universalização do acesso ao ensino público. Realização de licitação para restaurar trechos da BR 163 em Mato Grosso.

Autor
Serys Slhessarenko (PT - Partido dos Trabalhadores/MT)
Nome completo: Serys Marly Slhessarenko
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.:
  • Homenagem ao Dia do Professor. Defesa da universalização do acesso ao ensino público. Realização de licitação para restaurar trechos da BR 163 em Mato Grosso.
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 16/10/2004 - Página 31472
Assunto
Outros > HOMENAGEM. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, PROFESSOR, REGISTRO, MAIORIA, NUMERO, MULHER, CATEGORIA PROFISSIONAL.
  • DEFESA, IGUALDADE, DIREITOS, GARANTIA, ACESSO, PERMANENCIA, EDUCAÇÃO BASICA.
  • NECESSIDADE, DEMOCRACIA, RELACIONAMENTO, INSTITUIÇÃO EDUCACIONAL, AMPLIAÇÃO, INVESTIMENTO, FORMAÇÃO PROFISSIONAL, MELHORIA, SALARIO, TRABALHADOR, EDUCAÇÃO.
  • NECESSIDADE, PARTICIPAÇÃO, SOCIEDADE, ELABORAÇÃO, PLANO DE EDUCAÇÃO.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Srª Presidente, Professora Heloisa Helena, congratulo-me com todas as professoras do nosso País na sua pessoa.

Agradeço, Senador Heráclito Fortes, por me ceder este momento, porque viajo dentro em pouco.

Quero homenagear todas as professoras e todos os professores do meu Estado de Mato Grosso e do Brasil. O Ensino Fundamental e Médio, especialmente o Fundamental, é formado por mais de 95% de mulheres. A responsabilidade de nós, mulheres, na educação do nosso Brasil - e eu aqui especialmente falo do nosso Estado de Mato Grosso - é extremamente significativa.

Vejo aqui, no dia de hoje, uma companheira, professora da nossa Universidade Federal de Mato Grosso, onde dei aula por 26 anos e ela também, a Irmã Dineva Vanuzzi. Em seu nome, Dineva, pela sua história de luta na sociedade mato-grossense e na Universidade de Mato Grosso, a nossa homenagem muito especial. Por seu intermédio, quero homenagear todos da Universidade Federal de Mato Grosso, onde trabalhamos, repito, por 26 anos, fazendo ensino, pesquisa e extensão.

A universidade brasileira está extremamente sucateada. Por isso precisamos usar o dia de hoje para falar amplamente da necessidade de reconstruirmos a universidade brasileira, a fim de transformá-la numa universidade democrática, de qualidade, para todos os brasileiros e brasileiras que desejam, precisam e merecem fazer um curso superior.

Para conseguir tudo isso, precisamos reconstruir a nossa universidade. Recursos são imprescindíveis. Digo sempre que não sou contra as universidades particulares, mas é preciso que elas funcionem como empresas que são. Que os recursos públicos sejam destinados exclusivamente à educação pública no Ensino Fundamental, Médio e Superior. E, para isso, temos um tripé, precisamos buscar a universalização do acesso. Todos que têm vontade, querem e precisam chegar ao ensino de escola básica, ao ensino fundamental ou ao ensino superior têm que ter esse acesso assegurado numa instituição pública. Tem que ter esse acesso, não importa a obrigatoriedade da idade assegurada pela lei. Pode ter mais idade do que a lei assegura, mas se quer o acesso, precisa tê-lo, Srª Presidente. Assegurar a universalização do acesso e da permanência, porque, se a as condições do entorno de quem está tendo esse acesso não forem as desejáveis, a permanência não se dará, e aí de pouco adianta assegurar esse acesso. Então, deve-se fazer a universalização do acesso e assegurar a permanência.

Precisamos também oferecer profissionalização aos trabalhadores da educação. Isso significa condições de trabalho, preparo permanente e salários dignos para a profissão. Não existe essa história de o professor ser um abnegado. Ele é um profissional e como tal tem que ser tratado, com preparo permanente, com condições de trabalho e com salários dignos.

            Quando falo em trabalhadores da educação, refiro-me a todos que trabalham na área. O professor faz a educação, fundamentalmente, em qualquer nível, mas fazem a educação todos os servidores de uma escola, seja de qualquer grau. Todos os trabalhadores da Educação merecem e precisam das nossas homenagens nesse dia. É educador sim a merendeira; é educador sim aquela que limpa a nossa escola; é educador sim aquele que faz a guarda na frente do portão, recebendo as nossas crianças, os nossos jovens e até mesmo os nossos adultos. São educadores todos, sim, e todos precisam desse preparo permanente, se queremos fazer uma educação de qualidade, que resgate a cidadania de homens e mulheres, de jovens, de crianças de nosso País.

            Precisamos da democratização das relações de poder na educação. Compreendemos que a educação é apenas uma das dimensões da sociedade. É óbvio que a democratização das relações de poder precisam se dar na sociedade como um todo, Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores. A educação é apenas uma dimensão da sociedade, mas, nessa dimensão, tem que ser trabalhada sim a democratização das relação de poder. Isso tem que acontecer sim nas nossas instituições educacionais. Não que a partir daí isso vá se disseminar para a sociedade, mas que seja uma via de mão dupla, que as relações se ampliem na sociedade maior e que venham a emergir das áreas educacionais para a sociedade maior também.

Costumo dizer que só teremos uma educação de qualidade se trabalharmos um tripé, que é a universalização do acesso total e absoluto às informações, porque informação é poder e tem que ser real; o que está existindo na sociedade tem que ser informado. E a escola brasileira, de um modo geral, em qualquer um dos níveis, tem que fazer com que a população que a freqüente exija, cobre, queira e busque o acesso à informação real do que está acontecendo.

Um terceiro aspecto ainda seria a participação naquilo que eu chamo de “feitura” das regras do jogo. Se a participação popular for estimulada em todos os setores - a escola não pode ficar de fora, pois é uma das instituições fundamentais para que se dê essa participação na “feitura” das regras do jogo -, nós estaremos sim trabalhando para que o nosso País realmente tome um rumo em que a sociedade participe de forma determinada, de forma corajosa, para valer, nas decisões de um modo geral. E isso tem que acontecer na escola também.

Como educadora que sou - estou afastada, obviamente -, ministrei aula em escolas de 1º grau, de 2º grau, em nossa Universidade Federal de Mato Grosso, e tenho muita consciência do papel da educação, que não é tudo, mas é uma dimensão extremamente forte, concreta, séria e profunda para nos ajudar na conquista da transformação de uma sociedade. Não uma sociedade do “sim senhor”, mas uma sociedade para a transformação, onde exista realmente a vontade, a determinação e a consciência da população. E isso pode e deve ser adquirido, em grande parte, por uma escola que faça uma educação de construção do conhecimento e não de sua reprodução. A reprodução do conhecimento, em determinados aspectos, é importante, sim. Mas é muito mais importante a educação para a construção do conhecimento.

Senadora Heloisa Helena, que é professora e preside esta sessão do Senado no Dia do Professor, realmente construir o conhecimento significa que não podemos mais continuar a ensinar que um mais um são dois, mas a favor de quem e contra quem funciona a soma, a subtração, a multiplicação e a divisão. Quando estivermos ensinando as quatro operações, tem que estar muito claro para os nossos alunos como isso funciona na sociedade. Esse é só um exemplo, Srª Presidente, mas todos os assuntos podem ser trabalhados. Mencionei logo as quatro operações porque talvez algumas pessoas achem difícil saber como ensinar a favor de quem e contra quem funcionam a subtração, a soma, a divisão e a multiplicação. Isso é simples. Se levarmos essa consciência em todos os aspectos, em todas as disciplinas, em nossas escolas, desde o início da mais tenra idade das nossas crianças, com certeza vamos ter uma sociedade muito diferente, um mundo muito melhor e um Brasil onde todos tenham a sua cidadania construída no dia-a-dia com força e determinação.

Eu disse que iria falar pouco sobre a questão do professor, porque ainda teria que fazer outro discurso. Mas, como se trata de professor, nós que somos educadores não podemos falar pouco, e quero aqui prestar a minha homenagem. O meu pronunciamento seguinte seria sobre a mulher, até porque as mulheres são a grande maioria dos educadores, mas deixarei para fazer o registro outro dia.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Permite V. Exª um aparte?

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Ouço com prazer o seu aparte, Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senadora Serys Slhessarenko, quero me associar ao pronunciamento que V. Exª faz nesta manhã, prestando uma justa homenagem às professoras do Brasil. Eu tenho por hábito, de manhã cedo, assistir à TV Senado enquanto me arrumo. Fico vendo o que acontece aqui e fui brindado por um discurso nostálgico da Senadora Heloísa Helena, falando sobre as professoras de sua época. Aquilo, imediatamente, me transportou para a minha infância e juventude, quando tinha aquela convivência quase maternal com a primeira professora, a professora primária. Nós somos daquela época em que a professora acompanhava o aluno do primeiro ao último ano primário. Nós freqüentávamos aquela escola onde a professora servia para tudo, tinha mil e uma utilidades: aconselhava, castigava. Enfim, era a grande companheira que tínhamos. Lembro-me muito bem que tive em Dª. Maria Dina Soares - que não é mais viva - uma dessas figuras. A Senadora Heloísa Helena relembrou algo que está totalmente fora da época: o castigo como a palmatória. S. Exª até justifica que sempre escapou da palmatória por causa de sua saúde precária. Nobre Senadora Heloísa Helena, fui da época da primeira reação concreta contra a palmatória. Eu não peguei a fase da palmatória porque meus avós, que me criaram, escolheram uma professora que não adotava a palmatória. Mas, numa rua bem próxima, a professora Dona Aremita era um terror com a sua palmatória, que tinha um furo no meio. Era uma coisa terrível! Lembrei-me também da figura de alguns padres italianos que foram para Teresina, numa missão jesuítica, e que eram figuras extraordinárias. Os padres Moisés Fumagali, Luciano e Ângelo Imperiali foram pessoas que realmente marcaram a vida da gente, que revolucionaram o ensino em Teresina naquela época. Assim, associo-me à homenagem às duas professoras que estão no plenário e digo que, acima de tudo, ela é justa. Poucos se lembram dos que nos iniciaram na vida, nos prepararam, nos orientaram. Não sei se a Senadora Heloísa Helena é da época do livro Meu Tesouro. Tínhamos a figura do livro Meu Tesouro, que servia para tudo. Ele passava de irmão para irmão e por aí afora, com aquelas lições de civismo em cada uma das páginas, onde se aprendia o ditado, a cópia e por aí ia. São essas professoras que ajudaram a construir o Brasil e que são homenageadas hoje. Associo-me ao pronunciamento de V. Exª. Muito obrigado.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Obrigada, Senador Heráclito.

Fui à escola aos doze anos por questão de saúde, pois não tinha condições de sentar e quem não consegue sentar não pode ir aos bancos escolares, pelo menos naquela época não podia.

Já que o Senador Heráclito Fortes tão gentilmente me cedeu a possibilidade da fala hoje e me aparteou, quero homenagear as minhas professoras, desde a primeira, quando eu tinha doze anos, especialmente a Dona Eva, que teve a paciência de me alfabetizar; homenagear, como já disse aqui, todas as professoras e professores do Brasil e também falar da necessidade de se aprofundar, cada vez mais, a organização dos trabalhadores em educação.

Falo, em nome do Sintep - Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública, no meu Estado de Mato Grosso -, na necessidade de organização, de mobilização desses trabalhadores. Não haveria necessidade de nada disso, pois todos poderiam estar trabalhando tranqüilamente, mas, infelizmente, ainda precisamos de muita mobilização. E lá no meu Estado isso é imprescindível. O sindicato de lá é bastante organizado, combativo.

Portanto, a nossa homenagem a todos os trabalhadores em educação, em nome do Sintep.

Quero ainda homenagear outra professora, inteligente, lutadora, realmente uma mulher de força, que é a Luizianne, candidata à Prefeitura de Fortaleza. Homenageio, em nome dela, todas as profissionais da área, mulheres de coragem, mulheres de força, mulheres determinadas.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senadora, V. Exª me permite outro aparte?

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Se for muito rápido, Senador...

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Será rapidinho. Quero parabenizá-la pela homenagem que faz à Luizianne. Essa cidadã, que não conheço, mas que foi uma heroína, boicotada pelo Partido de V. Exª durante todo o primeiro turno, subestimada, humilhada, conseguiu chegar ao segundo turno. Espero que o mea-culpa caia na cabeça dos que a perseguiram no tempo certo. Eu, se fosse ela, não quereria determinados apoios, porque o que a fez crescer foi exatamente a injustiça que sofreu. Daí porque tenho a certeza de que o candidato do meu Partido será o vitorioso em Fortaleza. Muito obrigado.

A SRª SERYS SLHESSARENKO (Bloco/PT - MT) - Senador Heráclito Fortes, não vou discutir este assunto porque, infelizmente, meu tempo urge. Mas quero homenagear as professoras das primeiras letras para encerrar minha fala sobre a questão do professor. Saúdo o nosso grande mestre, Senador Cristovam Buarque, que chega neste momento ao plenário. A essa figura ímpar da educação brasileira, minha imensa homenagem.

Eu dizia que prestaria uma homenagem aos profissionais da educação das primeiras letras. E vou homenagear todos os professores na figura destas quatro pessoas: a Marina, a Maria, o João e o Pedro. São nomes extremamente comuns, pois tantas marias, tantos joões, tantas marinas e tantos pedros há no Brasil. Mas esses quatro são meus netos. Todos já estão na escola, uns bem pequeninos, outros um pouquinho maiores. Então, as minhas congratulações àqueles que ensinam na escola os primeiros momentos para nossas crianças, representadas pelos meus quatro netinhos que têm nomes comuns a tantos brasileiros.

            Srª Presidente, para encerrar, faço um registro aqui, mudando totalmente de assunto. Conseguimos, felizmente, em Mato Grosso, na nossa BR-163, que acontecesse a licitação do trecho entre Jangada e Posto Gil - o povo de Mato Grosso sabe o que significa aquilo para nós - e também dos trechos entre Posto Gil e Nova Mutum e entre Sinop e Santa Helena. A licitação já ocorreu. Os envelopes já foram abertos, e nós, com certeza, não teremos essa estrada paralisada, pois ela é fundamental para o escoamento da produção mato-grossense.

Acredito que na próxima quarta-feira, possivelmente, já estará definido quem vai começar essas obras, para que tenhamos, em pouco tempo, essa estrada restaurada nesses trechos que estão, em algumas partes, intransponíveis.

Srª Presidente, mais uma vez, minha homenagem como professora, como Senadora, como companheira e mulher. Muito obrigada a todos e o meu abraço carinhoso a todo o professorado do nosso País.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 16/10/2004 - Página 31472