Discurso durante a 142ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Homenagem a medicina brasileira pelo Dia do Médico.

Autor
Heráclito Fortes (PFL - Partido da Frente Liberal/PI)
Nome completo: Heráclito de Sousa Fortes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM. SAUDE.:
  • Homenagem a medicina brasileira pelo Dia do Médico.
Aparteantes
Marco Maciel.
Publicação
Publicação no DSF de 19/10/2004 - Página 31545
Assunto
Outros > HOMENAGEM. SAUDE.
Indexação
  • HOMENAGEM, DIA, MEDICO, DEFESA, IMPORTANCIA, EXERCICIO PROFISSIONAL.
  • REGISTRO, PRECARIEDADE, HOSPITAL, SETOR PUBLICO, CRITICA, ATUAÇÃO, PLANO, SAUDE, AUSENCIA, REAJUSTE, REMUNERAÇÃO, MEDICO.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs Senadores, estamos aqui homenageando os médicos brasileiros, em uma sessão de caráter suprapartidário. Mas ao perceber a ausência de dois companheiros meus, que estavam inscritos e por motivos plenamente justificados não puderam comparecer, resolvi correr o risco do improviso.

Sem ser médico ou hipocondríaco, Sr. Presidente, e tendo um tratamento cerimonioso, embora altamente respeitoso, com a classe médica, quero que todos compreendam este improviso.

Tenho uma admiração profunda de quem vem de uma cidade pequena e que nasceu, como disse o Senador Mão Santa, em uma época em que um Governador - para mim já ex-Governador, porque quando nasci já havia deixado o Governo -, que era médico, resolveu fazer em Teresina o maior centro de saúde de toda a Região Nordeste. Criticado por muitos à época pela audácia e chamado de elefante branco, o Hospital Getúlio Vargas foi, por muito tempo, considerado monstrengo, ocioso, desproporcional para o tamanho da pequena Teresina.

Mas o hospital se transformou para nós em um centro de referência e também a possibilidade de conviver com valores novos da medicina nacional que se formavam, não só os piauienses, como cearenses, maranhenses e paraenses, que aportaram em Teresina na esperança de ali, com a oportunidade daquele gigantesco hospital, desenvolver o seu aprendizado.

Quando falei em improviso, uma coisa me tranqüiliza. O grande sucesso da Medicina é exatamente o improviso: o improviso das UTIs, das emergências, daqueles que praticam a medicina nas cidades do interior sem recursos e sem condições, em que vai prevalecer o espírito de aventura e acima de tudo a coragem. Quantas vidas foram salvas pelo Brasil afora, vidas consideradas perdidas, exatamente pela coragem e audácia da improvisação!

A teoria o médico aprende na faculdade; a prática, no dia-a-dia.

Longe de mim improvisar, como os senhores fazem na sua atividade. Mas eu não poderia deixar de ressaltar, nesta tarde em que o Brasil inteiro comemora o Dia do Médico, que, ao longo dos anos, por mais serviços que preste à Nação, menos compreendido é por ela. Mas, como um sacerdócio, os senhores continuam a praticar com toda garra e com todo afinco. São acusados, muitas vezes, pelo emperramento das filas dos hospitais públicos, quando de antemão se sabe que o maior causador dessas filas são a desnutrição e a fome. E seguem em frente. Ficam imprensados entre as promessas feitas pelos planos de saúde aos seus associados e a realidade, que é bem outra.

Há alguns dias, eu conversava com o diretor de um hospital em São Paulo, que me disse algo que me deixou estarrecido. A última vez que os planos de saúde atualizaram a tabela de remuneração dos médicos foi na década de 90. Portanto, há mais de dez anos.

No Brasil, nunca se quis ir a fundo na questão, já se tentou até fazer CPI nesta Casa sobre os desmandos diários cometidos por esses planos, seja contra os médicos, seja contra seus associados. Possuem uma proteção, muitas vezes, invisível, difícil de se explicar.

Aproveito esta data para trazer o assunto ao Senado da República, porque sei que, infelizmente, o associado e o filiado, muitas vezes, quando têm uma associação compulsória através dos planos oriundos do serviço público ou privado, ficam indefesos. Vão às filas, não conseguem os exames adequados, caminham de um hospital para outro. Os noticiosos nacionais estão aí a mostrar isso todos os dias. Creio que é hora de levarmos essa questão mais a sério e com muita urgência.

Vejo, às vezes, Sr. Presidente, cantar-se em prosa e verso que prefeituras - infelizmente, isso ocorre mais no Nordeste - importaram médicos de Cuba. Tenho o maior respeito pela saúde cubana. Conheci, visitei, e não sei o que eles têm a ensinar ao médico brasileiro. Eles saem de lá e são trazidos para cá, muitas vezes, patrocinados por organismos internacionais. Trazem de novidade apenas um fato: tomar o emprego de um brasileiro que também se forma. Geralmente, são mais bem pagos do que os que aqui estão e aqui se formam. Não sei o que temos de aprender com essas experiências estrangeiras, quando, na realidade, hoje, exportamos médicos para o mundo inteiro.

Se formos aos centros avançados de cirurgia cardíaca nos Estados Unidos, a qualquer um dos grandes centros, teremos sempre a convivência com brasileiros. Na urologia, há o Dr. Edson Pontes, cearense, que hoje é a maior autoridade no mundo e teve sob a sua responsabilidade até vidas de homens como Mitterrand. Vem aí todos os anos o cabeça chata com a mesma brasilidade da sua infância e pratica medicina social nos dias que passa em Fortaleza. Se formos para a Europa, vamos encontrar médicos e também dentistas. A grande guerra de Portugal com os dentistas brasileiros é exatamente por não poder concorrer com a sua qualidade e experiência.

Hoje, o brasileiro que viaja pelo mundo afora e tem dificuldades de línguas pode ir ao consulado ou embaixada, em qualquer desses grandes países do mundo, que verá quatro, cinco ou seis brasileiros nas listas de profissionais atuando com sucesso.

Portanto, nada mais oportuno do que a homenagem que se presta hoje à classe médica brasileira.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE) - Permite-me V. Exª um aparte?

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Com muito prazer ouço o Senador Marco Maciel.

O Sr. Marco Maciel (PFL - PE. Com revisão do orador.) - Senador Heráclito Fortes, quero associar-me à manifestação que V. Exª faz na comemoração do Dia do Médico. Nesta data celebra-se também, de acordo com a liturgia da Igreja Católica, o dia de São Lucas, um dos quatro evangelistas, justamente aquele que era médico. É bom destacar, ao se falar de São Lucas, aquilo que caracteriza ser médico, mais do que uma profissão, é uma atitude de vida. Por ter intimidade com a dor, o médico é, por natureza, uma pessoa movida pela vocação, que faz de sua vida praticamente uma doação ao próximo, vivendo, assim, as lições do Evangelho acentuadamente proclamadas por São Lucas, que foi muito preocupado com o próximo, com a acolhida, com a hospitalidade. Houve por bem o Senado Federal, por iniciativa de ilustres Senadores médicos, fazer essa homenagem aos médicos no dia em que celebramos sua data. Faço votos para que os médicos continuem a dar, pelo seu testemunho de vida, uma colaboração à Nação brasileira, sobretudo na sua busca de construirmos um desenvolvimento que seja sinônimo de solidariedade social. Era o que eu tinha a dizer a V. Exª.

O SR. HERÁCLITO FORTES (PFL - PI) - Agradeço o aparte, Senador Marco Maciel, e congratulo-o pela oportunidade da citação de São Lucas. V. Exª se parece muito com ele em algo: ambos entendem de homens e de almas.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, senhores médicos presentes, penso que abordar os dois temas era a maior homenagem que eu poderia prestar a essa categoria no dia de hoje. Sei que outros temas são importantes e oportunos, mas, com certeza, eles serão abordados pelos seus colegas que, mais que eu, convivem no dia-a-dia com esses problemas.

Quero finalizar, S. Presidente, voltando a minha terra, aos médicos que ali, na prática do sacerdócio, se notabilizaram, como Zenon Rocha, que ao lado de Francisco Ramos, que aqui está, comandou a criação da Faculdade de Medicina; o Dr. Antônio Tito, que foi pediatra de gerações e gerações; o velho João Silva Neto, da Parnaíba do Senador Mão Santa, que era um misto de médico e santo, prefeito, político, uma das figuras mais extraordinárias que conheci em toda a minha vida; Alcenor Almeida, que tem uma obra em Teresina, com a construção do Hospital São Marcos, na admirável luta pelo combate ao câncer; João Orlando, na área de Oftalmologia, praticando a Medicina social, que considero um cientista; Lineu Araújo, Renato Paz - vou citar só esses. No Piauí, como disse aqui o Senador Mão Santa, sempre houve uma ligação muito estreita entre o médico e o político, e eu homenagearia todos os médicos na pessoa de Isaías Coelho, que foi um médico do interior e que hoje é nome de cidade. Neste momento, homenageio e abraço, em meu nome pessoal e em nome de meu Partido, todos os senhores que estão aqui, que lutam ao longo da vida contra o tempo, contra as adversidades, guiados apenas pelo ideal.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 19/10/2004 - Página 31545