O SR. RAMEZ TEBET (PMDB - MS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente José Sarney, Srs. Senadores presentes, na pessoa do Sr. Presidente do Conselho Federal de Medicina, saúdo todos os médicos que se encontram hoje no Senado da República.

Também venho a esta tribuna para prestar uma homenagem à classe médica, assim como fizeram os oradores que me antecederam. Se o Senador Mozarildo Cavalcanti, médico e Parlamentar preocupado com os problemas do nosso País, que teve a iniciativa de promover essa homenagem secundado por outros Senadores, falou pelo Estado de Roraima; se o Senador Papaléo Paes falou pelo Estado do Amapá; se se manifestou o Presidente desta Casa, Senador José Sarney, que representa o Estado do Amapá e também o Estado do Maranhão e foi nosso Presidente da República; se falou o Senador Mão Santa, que tem esse apelido em razão dos relevantes serviços que, como cirurgião, prestou e presta à coletividade do Piauí; se acabou de falar o Senador Heráclito Fortes, também representando o Estado do Piauí, quero eu falar, representando o Estado do Mato Grosso do Sul, para homenageá-los.

Temos, no meu Estado, os mesmos problemas que enfrentam os Estados dos oradores que me antecederam. Vejam que há uma concentração de médicos no País. Confesso aqui aos senhores que em metade dos 77 Municípios de Mato Grosso do Sul, no coração do Centro-Oeste, ainda é muito difícil contar com o serviço tão imprescindível a nossa população, que é o serviço de um médico.

Os Prefeitos nos solicitam, pedem a presença de um médico em seus Municípios, mas para alguns locais é difícil conseguir um profissional.

Estou nesta tribuna a homenagear os médicos, mas digo, com tristeza profunda, que no meu Estado não faltam apenas hospitais, mas também médicos, que não vão para o interior do Mato Grosso do Sul.

A Medicina, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tem uma íntima ligação com a política. Digo isso e cito logo um exemplo: o grande Presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira, de quem já se falou, Senador Paulo Octávio. Não li o que vou contar, mas alguém deve ter lido. Isto me foi contado ou pertence ao folclore. Conta-se que Juscelino Kubitscheck, médico em Diamantina, resolveu atender aos inúmeros apelos para o seu ingresso na vida pública porque, em uma noite chuvosa, ele foi à casa de uma criança doente que, apesar de todos os esforços, veio a falecer. Retornando à sua residência, ao longo da via férrea, Juscelino Kubitschek começou a meditar e perguntou-se por que a menina veio a falecer se ele havia aplicado tudo o que tinha estudado nos livros e que lhe fora ensinado, se havia fornecido os melhores remédios que existiam a fim de curá-la. Naquele momento, compreendeu que há doenças que a Medicina e os grandes remédios não conseguem curar, e que somente uma atividade política exercida em favor do bem comum é capaz de resolver esses problemas. Então, concluindo que aquela criança havia falecido em razão da subnutrição, resolveu ingressar na política e, a partir de Diamantina, foi Presidente da República, o grande Presidente do País.

Contando esse episódio, abrevio minhas palavras a fim de dizer da íntima relação existente entre a medicina e a política. Daí a existência de muitos médicos no Senado da República, que conta com a presença, dentre os 81 Senadores, de sete médicos, cujos nomes eu gostaria de citar: Mão Santa, Papaléo Paes, Antonio Carlos Magalhães, Tião Viana, Mozarildo Cavalcanti, Augusto Botelho e Mário Calixto. Outros tantos companheiros de V. Exªs com o diploma de médico, com consultórios abertos, às vezes médicos consagrados, entenderam que também pelo caminho da política se pode resolver a dor do ser humano. E eu diria que sim; tenho convicção de que sim, pois este é um país de desigualdades, um país injusto, onde vemos que poucos têm e a maioria não possui. Este ainda é um país sem saneamento básico, onde há 50 milhões de brasileiros pobres ou na linha da miserabilidade. Neste País ainda há pessoas que não se alimentam convenientemente.

Portanto, este País exige de nós, homens públicos, uma atuação cada vez mais sensível e conseqüente, a fim de eliminarmos os males que ainda se enfrentam, desafiando nossos sucessivos Governos, desafiando nós desta Casa, desafiando todos aqueles que têm uma parcela de responsabilidade pelos destinos da nossa comunidade. Vivemos num país marcado por desigualdades, por injustiças sociais. E o médico tem conhecimento disso.

Nesta hora, estamos homenageando os verdadeiros médicos, que vêem os milhares de brasileiros nas filas à espera de uma consulta médica, que é marcada para meses depois, na fila do Serviço Único de Saúde à espera de uma cirurgia, como se a doença pudesse esperar pelo janeiro vindouro. Quem tem essa sensibilidade e convive com isso é o médico.

Queremos saudar, portanto, o médico que se ajoelha nos corredores dos hospitais para atender o moribundo que ali se encontra, porque não há leitos hospitalares suficientes em nosso País. Não quero saudar a tecnologia da medicina, os grandes aparelhos a seu serviço, mas quero homenagear os grandes médicos, aqueles que lidam com esses aparelhos que lhes são oferecidos pela ciência e pela tecnologia. Quero homenagear aqueles médicos que têm sensibilidade, que lutam e sofrem com a dor do seu semelhante. A todos esses médicos, o nosso reconhecimento, a nossa gratidão e a certeza que de haveremos de lutar para que o nosso País seja melhor do que hoje é.

Os senhores, médicos, têm uma grande parcela de responsabilidade. E o Senador Marco Maciel ao invocar São Lucas, evocou o evangelista, evocou o missionário, evocou o patrono dos médicos, aquele que entendia que há a dor do corpo e há a dor da alma e que a verdadeira harmonia existe em compatibilizar o corpo e a alma, como naquele ditado antigo, tantas vezes repetido por todos nós: mente sã em corpo são. Todos nós temos uma dívida de gratidão para com os médicos.

V. Exª, Presidente José Sarney, é um eclético, porque veio das letras, oferece-nos o deleite de uma coluna na Folha de S.Paulo, que encanta todos os brasileiros. V. Exª é um artífice na política, na condução dos negócios públicos, notabilizou-se, neste País, por meio dos programas sociais do seu Governo. É preciso relembrar aqui o grande programa de distribuição de leite, que demonstra a exata compreensão que V. Exª tinha de que era realmente necessário resolver o problema da subnutrição e, falando em subnutrição, digo eu, os problemas sociais do nosso País.

Junto a minha voz à daqueles que falaram antes de mim, que são mais representativos do que eu. Porém, eu não poderia deixar de dar o meu testemunho, de prestar a minha homenagem aos médicos do meu País, do meu Mato Grosso do Sul, falando em nome do meu Estado.

Muito obrigado.