Discurso durante a 144ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Comentários à nota divulgada pelo comandante do Exército referente ao assassinato do jornalista Vladmir Herzog.

Autor
Edison Lobão (PFL - Partido da Frente Liberal/MA)
Nome completo: Edison Lobão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA. FORÇAS ARMADAS.:
  • Comentários à nota divulgada pelo comandante do Exército referente ao assassinato do jornalista Vladmir Herzog.
Publicação
Publicação no DSF de 21/10/2004 - Página 32456
Assunto
Outros > IMPRENSA. FORÇAS ARMADAS.
Indexação
  • COMENTARIO, HISTORIA, DITADURA, BRASIL, HOMICIDIO, VLADIMIR HERZOG, JORNALISTA, ELOGIO, ATUAÇÃO, ERNESTO GEISEL, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, URGENCIA, ADOÇÃO, PROVIDENCIA, DESTITUIÇÃO, AUTORIDADE MILITAR.
  • ELOGIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, CORREIO BRAZILIENSE, DISTRITO FEDERAL (DF), DIVULGAÇÃO, FOTOGRAFIA, DITADURA, REGIME MILITAR, LEITURA, NOTA OFICIAL, AUTORIA, COMANDANTE, EXERCITO, CORREÇÃO, ANTERIORIDADE, DECLARAÇÃO, CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL, IMPRENSA, REITERAÇÃO, COMPROMISSO, REFORÇO, DEMOCRACIA.

O SR. EDISON LOBÃO (PFL - MA. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a dramática morte de Wladimir Herzog, meu contemporâneo no jornalismo profissional, foi um dos acontecimentos mais lamentados em todo o País. Na história dos confrontos ocorridos naquele período, essa morte foi provavelmente a que mais chocou.

Chocou notadamente o General Ernesto Geisel, então Presidente da República, e o oficialato das Forças Armadas - cidadãos brasileiros, pais de família que se irmanam aos civis nos momentos de regozijo ou de pesar.

Recordamos todos que o General-Presidente, em face da inominável e fatal violência que se presumiu de imediato tivesse sido infligida a Wladimir, não teve qualquer hesitação em sacrificar a carreira militar de colegas da sua confiança e amizade pessoal, destituindo-os imediatamente das suas funções. Geisel não esperou por inquéritos nem se comoveu com os argumentos de que barbaridades eram cometidas à revelia dos comandos. Agiu com rigor e celeridade, correspondendo aos reclamos da opinião pública brasileira, entre os quais naturalmente se incluíam os oficiais de todas as patentes que lhe davam sustentação na Presidência e nas Forças Armadas.

A comentada reportagem do Correio Braziliense - minha casa profissional, da qual me afastei para cumprir meus mandatos parlamentares -, publicando as fotos que provavelmente serão mesmo de Wladimir Herzog, foi uma matéria de interesse jornalístico, que seria divulgada por qualquer órgão de imprensa que primeiro lhe pusesse as mãos. E a nota do Centro de Comunicação Social do Exército recebe agora a correção do Sr. Comandante do Exército, que a definiu como “não apropriada” e “não condizente com o momento histórico atual”.

Creio que aí se deu um ponto final ao episódio.

O Exército Brasileiro, Sr. Presidente, é movido por espírito de patriotismo e é motivo de orgulho para o nosso País. Não preciso recorrer aos fatos históricos que o glorificaram no correr das lutas que a Nação travou para se consolidar, nos dias atuais, como uma pátria livre e independente, de fronteiras reconhecidas e respeitadas. Integrado por cidadãos de grande consciência cívica, com uma oficialidade de esmerado preparo técnico e profissional, reside no Exército a confiança dos patriotas pela segurança do País. E desnecessário ressaltar - porque de todos conhecido - o espírito democrático de nossas Forças Armadas.

Passo a ler, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a nota oficial ontem divulgada pelo General-de-Exército Francisco Roberto de Albuquerque, Comandante do Exército, um dos mais ilustres oficiais dessa centenária corporação militar, o qual, aliás, não se encontrava em Brasília por ocasião da emissão da nota anterior.

Acredito que, na sua síntese, a nota que transcrevo diz tudo aquilo que os brasileiros sabem corresponder aos sentimentos do nosso Exército.

É do seguinte teor:

O Exército Brasileiro é uma Instituição que prima pela consolidação do poder da democracia brasileira.

O Exército lamenta a morte do jornalista Wladimir Herzog. Cumpre relembrar que, à época, este fato foi um dos motivadores do afastamento do comandante militar da área, por determinação do Presidente Geisel. Portanto, para o bem da democracia e comprometido com as leis do nosso País, o Exército não quer ficar reavivando fatos de um passado trágico que ocorreram no Brasil.

Entendo que a forma pela qual esse assunto foi abordado não foi apropriada, e que somente a ausência de uma discussão interna mais profunda sobre o tema pôde fazer com que uma nota do Centro de Comunicação Social do Exército, não condizente com o momento histórico atual, fosse publicada.

Reitero ao Senhor Presidente da República e ao Sr. Ministro da Defesa a convicção a convicção de que o Exército não foge aos seus compromissos de fortalecimento da democracia brasileira.

General-de-Exército Francisco Roberto de Albuquerque,

Comandante do Exército.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.

Obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/10/2004 - Página 32456