Discurso durante a 145ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Vantagens econômicas para a agricultura brasileira com a utilização dos transgênicos.

Autor
Ney Suassuna (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PB)
Nome completo: Ney Robinson Suassuna
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA AGRICOLA.:
  • Vantagens econômicas para a agricultura brasileira com a utilização dos transgênicos.
Aparteantes
Augusto Botelho.
Publicação
Publicação no DSF de 22/10/2004 - Página 32706
Assunto
Outros > POLITICA AGRICOLA.
Indexação
  • ANALISE, DISCUSSÃO, PRODUÇÃO, PRODUTO TRANSGENICO, BRASIL, APRESENTAÇÃO, DADOS, ECONOMIA, REDUÇÃO, UTILIZAÇÃO, AGROTOXICO, COMPARAÇÃO, SAFRA, SOJA, MILHO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), COMENTARIO, PREJUIZO, EXPORTAÇÃO.
  • LEITURA, TRECHO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DIFICULDADE, CONCESSÃO, LICENÇA, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), REALIZAÇÃO, PROJETO, Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), ALTERAÇÃO, PADRÃO GENETICO, BATATA.
  • CRITICA, ATUAÇÃO, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), COMBATE, PLANTIO, PRODUTO TRANSGENICO, ESPECIFICAÇÃO, ALGODÃO, ESTADO DE MATO GROSSO (MT).
  • REGISTRO, COMISSÃO DE AGRICULTURA, CAMARA DOS DEPUTADOS, APOIO, PROPOSIÇÃO, SENADO, PROJETO DE LEI, LEGISLAÇÃO, SEGURANÇA, BIOTECNOLOGIA.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - RN. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, recebi uma carta do Dr. Benito Iglesias de Garcia, Coordenador Executivo do Pró-Terra, que me faz chegar a uma informação do Professor da Universidade Federal de Viçosa, Dr. Aluízio Borém, complementando várias informações que demos a este Plenário sobre transgênicos. Eu queria apresentar, rapidamente, estes números a V. Exªs.

S. Sª nos mostra, por exemplo, que, no Rio Grade do Sul, dos Senadores Pedro Simon e Paulo Paim, comparando a safra de soja gaúcha, entre 1999 e 2003, observa-se que houve uma redução de 42% no uso de herbicidas, todos eles seletivos, contra um aumento de apenas 10% no uso de glifosato, gerando uma economia financeira direta para o agricultor da ordem de 53,5%, já incluído aí o uso do glifosato na fase de pré-plantio e pós-emergente da cultura.

São coisas, Sr. Presidente, Srs. Senadores, que não entendo neste País: um professor emérito da Universidade Federal de Viçosa faz uma pesquisa e mostra que a utilização de transgênicos - que hoje é comum para a soja dos Estados Unidos e na Argentina e que se inicia no Brasil sob todo esse tiroteio que não entendemos - gera uma economia de 53%, sem considerar que o glifosato é um defensivo agrícola considerado pouco tóxico ao passo em que os demais que se usavam no coquetel eram considerados altamente tóxicos.

Ficamos perplexos porque em um País como o nosso onde o número de analfabetos diminui dia a dia, muita gente ainda não sabe fazer a diferenciação. Só para terem uma idéia, o Pró-Terra fez um levantamento no Paraná e verificou que, se os agricultores do Paraná estivessem plantando soja transgênica, teriam recolhido de royalties para a empresa detentora da tecnologia aproximadamente US$33 milhões. Muitas pessoas se fixam nisso. Porem, os agricultores teriam um lucro adicional de US$228 milhões.

É impressionante, ao analisar o fato, ver que não são poucas as empresas que produzem sementes; inclusive estão nas mãos da nossa Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa, 30 mil sacas. Não fosse o convênio firmado entre uma empresa estrangeira e a Embrapa, esta não teria conseguido recursos para as pesquisas. Observem que coisa incrível! A tão mal falada Monsanto firmou um convênio aberto com a Embrapa e forneceu todos os dados de que dispunha, o que permitiu à Embrapa avançar e obter cerca de R$40 milhões em seu orçamento; caso contrário, a Embrapa não teria realizado pesquisa alguma.

Fico pasmo porque os dados são sonegados ao público; fico pasmo porque temos, na ponta do lápis, a informação de que cada hectare de soja transgênica gera uma economia de R$200,00. Estamos plantando 20 milhões de hectares de soja. Se fosse toda transgênica, estaríamos lucrando R$4 bilhões - quase o que se investe no País. Com o Orçamento do ano passado, investiu-se menos do que isso. Estou me referindo ao deste ano, quando há esperança que se invistam R$4 bilhões. Mas há pessoas que, por razões de má-fé ou outra qualquer, negam os dados e tentam parar o progresso.

Nesse momento, Sr. Presidente, está havendo uma supersafra nos Estados Unidos: 200 milhões de toneladas de milho; 84 milhões de toneladas de soja. O que vai acontecer? O preço vai despencar, e ai do agricultor que não tiver o transgênico: não terá como concorrer. O dinheiro que tomou emprestado ao banco não será suficiente; a venda da safra não dá para pagar, se não tiver plantado o transgênico. Mas encontramos no País pessoas que estão em postos-chave dizendo que não pode, que não deve. E é mais chocante ainda quando se vê que, por exemplo, em relação ao algodão, ONGs estrangeiras percorrem o Mato Grosso oferecendo pagamento aos nossos agricultores para que não plantem algodão transgênico porque é uma aberração plantar algodão transgênico. Mas é uma coisa incrível: continuamos importando algodão transgênico dos Estados Unidos. São dados como esses que não consigo entender e que trago ao Plenário para que raciocinemos: a quem estão servindo essas pessoas?

Encerrando, quero ler um trecho da coluna Biotecnologia que saiu ontem no Estado de S.Paulo.

Diz o seguinte:

A Embrapa vem desenvolvendo uma série de plantas geneticamente modificadas (GMs), voltadas para o agronegócio e a agricultura familiar. Entre elas está a batata resistente ao vírus do mosaico. Essa é uma das principais doenças virais da cultura, sendo responsável por perdas de até 70% da produção.

(...)

Nesse momento, o projeto foi paralisado por falta de licenças ambientais, concedidas pelo Ibama e necessárias para realizar testes em campo com transgênicos. Após dois anos, a Embrapa recebeu as licenças e iniciou os experimentos. Deve-se esclarecer que em qualquer País, incluindo os europeus, essas autorizações são concedidas em menos de três meses.

Dois anos para uma batata ficar vacinada contra um vírus que provoca perdas de até 70% da produção...

E continuo perguntando: a quem interessa? Por que será que há tantas ONGs envolvidas dizendo não aos transgênicos? Temos sessenta milhões de hectares plantados e podemos plantar ainda mais 90. Este País pode ser o celeiro do mundo.

Concedo a palavra ao meu nobre companheiro Senador Augusto Botelho para que faça a sua interferência.

O Sr. Augusto Botelho (PDT - RR) - Senador Ney Suassuna, V. Exª faz um discurso lúcido, tranqüilo, com as indagações que todos temos feito aqui neste País em relação a essa campanha acirrada contra os transgênicos, contra os organismos geneticamente modificados. Só para ilustrar: outro produto nosso desenvolvido pela Embrapa, que também ficou quase três anos esperando autorização para fazer pesquisa de campo, é o feijão resistente ao mosaico amarelo, que é outro vírus que quebra até 70% da safra do feijão. E o feijão, Senador, não é um produto de elite; o feijão é produto do pobre. E quem planta o feijão também é o pequeno produtor, é a agricultura familiar. Sabe onde está sendo feita experiência com esse feijão em campo?

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Nos Estados Unidos porque não conseguimos a licença aqui.

O Sr. Augusto Botelho (PDT - RR) - Nos Estados Unidos porque não conseguimos a licença aqui; quer dizer, já estamos passando tecnologia para outro país. Deve ter tido algum acordo para poder fazer a experiência lá, senão ninguém iria ceder. O discurso de V. Exª é bom e oportuno porque faz uma comparação em relação ao valor que se gastaria com sementes e o possível lucro; e também pelo defensivo agrícola que seria jogado no solo que seria em quantidade bastante diminuída. A economia de R$200,00 por hectare é exclusivamente em defensivo agrícola e hora/máquina. Então, ficamos sem entender realmente isso.

O SR. NEY SUASSUNA (PMDB - PB) - Ainda há uma vantagem, Senador Augusto Botelho. Todos os defensivos que compunham esse coquetel são importados e as matérias-primas não se encontram no Brasil. O glifosato tem sua matéria-prima fabricada no Brasil. Não importamos nada. Então, não consigo entender a quem serve. Agora mesmo, modificaram e saiu uma medida provisória proibindo a venda das sementes. A nossa Embrapa tem 30 mil sacas para vender como sementes. Era o dinheiro com que contavam para fazer mais pesquisas. Pergunto: qual foi a vantagem da inoculação daquele artigo? Quem ganhou com aquilo? Os agricultores perderam; os produtores, em geral, perderam; os produtores de sementes perderam. Não há vencedores. Alguém deve estar sorrindo e dizendo: “Conseguimos mais uma vez”. No processo em que foi proclamada aquela medida que permitia o plantio, a Justiça citou uma ONG de origem européia que na Holanda participou do plano para inibir o avanço dos produtos brasileiros. Lá, ela foi ativa. Aqui no Brasil, ela é contra os transgênicos. Fez o projeto lá e veio executá-lo aqui. E nós passivamente o aceitamos. E muitas pessoas de boa índole saem pregando aos quatro ventos que não pode, sem olhar a diferença que existe entre o Brasil e os demais países. Cento e doze transgênicos estão registrados na China, onde são consumidos sem problema nenhum. Nos Estados Unidos, há outro tanto. E a nossa empresa de pesquisa agropecuária pesquisando feijão nos Estados Unidos; banana na América Central; mamão papaia na Argentina. E todos nós surpresos, porque a guerra é de poder, é para saber quem manda, e não para saber o que pode ajudar o Brasil, o que pode trazer maior progresso para o Brasil.

            Então, queria trazer esses dados aos Srs. Senadores e mostrar que realmente me surpreendo, mas que, às vezes, congratulo-me. Ontem, o Presidente da Comissão de Agricultura da Câmara telefonou-me e disse-me que durante a reunião da Comissão houve unanimidade no sentido de que vão apoiar o projeto oriundo do Senado. Fiquei felicíssimo. Graças a Deus! Enfim, pessoas estão sendo iluminadas pelo bom senso. Diante desses fatos e desses dados, não consigo entender como é que algumas pessoas ainda continuam na obscuridade.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 22/10/2004 - Página 32706