Discurso durante a 153ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Transcrição de artigo intitulado "Honrado seja o indignado espanto", de autoria da jornalista Dora Kramer, publicada no jornal O Estado de S.Paulo, edição de 21 de outubro do corrente.

Autor
Eduardo Azeredo (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/MG)
Nome completo: Eduardo Brandão de Azeredo
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Transcrição de artigo intitulado "Honrado seja o indignado espanto", de autoria da jornalista Dora Kramer, publicada no jornal O Estado de S.Paulo, edição de 21 de outubro do corrente.
Publicação
Publicação no DSF de 06/11/2004 - Página 35376
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • COMENTARIO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, JORNAL, O ESTADO DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), QUESTIONAMENTO, INCOERENCIA, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), FRUSTRAÇÃO, SOCIEDADE.

O SR. EDUARDO AZEREDO (PSDB - MG. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ocupo a tribuna neste momento para comentar a coluna de autoria da jornalista Dora Kramer, publicada no jornal O Estado de S. Paulo em sua edição do último dia 21 de outubro do corrente.

Em sua coluna, intitulada “Honrado seja o indignado espanto”, a jornalista mostra como o Partido dos Trabalhadores vem “perdendo pontos” perante a sociedade ao deixar bem claro qual é o jeito petista de governar. Isso tem se demonstrado mais nitidamente na atual campanha para a Prefeitura de São Paulo.

Para que conste dos Anais do Senado Federal, requeiro, Sr. Presidente, que o texto da referida coluna passem a integrar este pronunciamento.

Era o que tinha a dizer.

 

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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR EDUARDO AZEREDO EM SEU PRONUNCIAMENTO.

(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)

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O ESTADO DE S.PAULO

Quinta-feira, 21 de Outubro de 2004

Honrado seja o indignado espanto

Dora Kramer

O PT não tem motivo para reclamar, ou se considerar vítima de injustiça, quando criticado por causa do novo jeito (federal) petista de governar: desabrido e sem cerimônia tanto nas companhias que escolhe quanto nos métodos que emprega.

O PT, ao contrário, tem tudo para se sentir lisonjeado e aproveitar enquanto as pessoas ainda estranham, ainda exibem indignação e cobram do partido atitudes condizentes com seu histórico.

No momento em que os modos (ou a falta deles) petistas deixarem de causar estranheza será o fim do diferencial do partido.

Quando o País se habituar plenamente ao uso da máquina estatal e aos costumes públicos, digamos assim, liberais, aí sim o PT terá completado o serviço de fazer tábula rasa de sua trajetória.

Não tem, aliás, medido esforços para tal. Os grandes momentos dessa empreitada são aqueles em que o PT envereda pelo perigoso terreno do desvio de conduta ética e apresenta como justificativa o fato de que outros partidos sempre fizeram o mesmo.

Fizeram não, à exceção dos corretos e dos puramente inibidos, os políticos ainda fazem. Mas há os que fazem e provocam espanto e outros que fazem e não causam espécie.

Tomemos, por exemplo, a performance do casal que governa o Rio de Janeiro. No primeiro turno, Anthony Garotinho e Rosângela Matheus mantiveram razoável compostura até certa altura do certame.

Quando, porém, o eleitor começou a dar sinais de que não corresponderia às expectativas de, apesar da derrota na capital, dar a ambos vitórias expressivas no interior, a dupla invocou ajuda divina, recorreu ao instrumento terrestre mais ao seu alcance - a estrutura do Estado - e partiu para a falta de cerimônia completa.

Aos primeiros acordes da campanha do segundo turno, a governadora oferece casas populares a R$ 1 real e simplesmente transfere para a terra natal - Campos - o gabinete governamental.

Rosângela Matheus pinta, borda e distribui cestas básicas dias antes da eleição, mas ninguém estranha. As pessoas falam, registram aqui e ali um "absurdo", mas é como se o gesto fosse parte integrante de um roteiro muito bem conhecido.

É um caso típico de integração da peça ao desempenho do ator e à adequação do cenário.

Já a Marta Suplicy, em São Paulo, ou ao presidente da República País afora, não se confere o mesmo grau de tolerância. Por muito menos que o desinibido clientelismo posto em prática no Rio, o PT vem perdendo pontos perante a sociedade.

Marta até se licenciou da Prefeitura para fazer campanha mais à vontade. Mas invalida o ato quando sai dizendo que São Paulo só terá verbas federais se ela for reeleita.

No Rio, Anthony Garotinho e Rosângela Matheus asseveraram pessoalmente que não viam razão para o Estado fazer convênios com prefeitos politicamente inimigos, mas a fala de Marta soou muito mais esquisita que a dos Garotinho.

A prefeita, e seu partido, deveriam encarar esse fenômeno como altamente elogioso. Afinal, a opinião pública ainda não incorporou na alma o malfeito como hábito no conjunto dos feitos petistas.

Mas poderiam também examinar o quadro com cautela, aprender a vê-lo como sinal de alerta e se aprumar, voltar ao rumo original - no campo da ética, pelo menos, já estaria ótimo do ponto de vista de quem gosta do PT e não quer assistir ao partido rolar na lama até a vala comum onde chafurdam o leitor sabe perfeitamente "quens".

Seria bom tomar essa providência logo. Antes que as pessoas se acostumem e não vejam mais nada de espantoso no fato de o PT entregar fagueiro ao exercício do poder na base da terra arrasada e sem lei.

Marina

Digamos que o estado de espírito do presidente Lula com a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, não seja muito diferente daquele que levou Dorival Caymmi a declarar-se "de mal com você" para a musa Marina morena.

Esta se maquiou e irritou o poeta; aquela se mantém fiel aos princípios ambientalistas mais radicais e anda enervando o chefe.

Não é novidade que qualquer ministério que dependa do Meio Ambiente para tocar obras está "por aqui" com Marina Silva e sua intrépida trupe verde.

Mas agora é o próprio presidente quem está dando sinais de impaciência aguda. Há dez dias Marina passou horas tentando ser recebida por Lula e acabou chegando no máximo até José Dirceu.

O presidente assinou a medida provisória da soja transgênica à revelia da ministra e está para assinar, nos próximos dias, um decreto dispensando as obras de recuperação de estradas de projetos de impacto ambiental, a fim de liberar o Ministério dos Transportes para o trabalho.

Isso não quer dizer que o presidente Lula pense dia e noite em demitir Marina Silva.

Mas também não significa que chorará lágrimas de esguicho se porventura a ministra tomar a iniciativa de pensar a respeito e resolver que reassumir o mandato de senadora pode ser uma opção mais adequada e menos dolorosa que a experiência de colecionar um dissabor atrás do outro.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/11/2004 - Página 35376