Pronunciamento de Paulo Paim em 08/11/2004
Discurso durante a 154ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Lançamento do livro "Cumplicidade", de autoria de S.Exa., na quinquagésima Feira do Livro realizada em Porto Alegre/RS.
- Autor
- Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
- Nome completo: Paulo Renato Paim
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
DISCRIMINAÇÃO RACIAL.
POLITICA SOCIAL.:
- Lançamento do livro "Cumplicidade", de autoria de S.Exa., na quinquagésima Feira do Livro realizada em Porto Alegre/RS.
- Aparteantes
- Tião Viana.
- Publicação
- Publicação no DSF de 09/11/2004 - Página 35598
- Assunto
- Outros > DISCRIMINAÇÃO RACIAL. POLITICA SOCIAL.
- Indexação
-
- REGISTRO, PARTICIPAÇÃO, FEIRA DO LIVRO, MUNICIPIO, PORTO ALEGRE (RS), ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), LANÇAMENTO, LIVRO, AUTORIA, ORADOR, APOIO, POPULAÇÃO, LUTA, MELHORIA, SALARIO, PROPOSTA, EMENDA CONSTITUCIONAL, COMPLEMENTAÇÃO, REFORMULAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL, EMPREGO, RENDA.
- ANUNCIO, PREPARAÇÃO, MARCHA, MANIFESTAÇÃO COLETIVA, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), APOIO, LUTA, INCENTIVO, POLITICA, COMBATE, DISCRIMINAÇÃO.
- COBRANÇA, APROVAÇÃO, ESTATUTO, IGUALDADE, RAÇA, PROPOSTA, EMENDA CONSTITUCIONAL, COMPLEMENTAÇÃO, REFORMULAÇÃO, PREVIDENCIA SOCIAL, INSTALAÇÃO, COMISSÃO ESPECIAL, SALARIO MINIMO.
O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, no sábado passado, participei da 50ª Feira do Livro em Porto Alegre, quando lancei o livro Cumplicidade, que escrevi com o patrocínio da Lexmark Internacional. Como não anunciei minha participação de forma muito ampla, eu esperava assinar cerca de 150 livros. Surpreendi-me quando se formou, rapidamente, uma fila de mais de mil pessoas. Felizmente, acionamos a estrutura oferecida pelo estande do Senado e conseguimos mais mil livros. Mil e quinhentas e cinqüenta pessoas ficaram, em média, três horas na fila para receber o livro.
No Rio Grande do Sul, esse fato foi divulgado amplamente, pois marcou a Feira e demonstrou o carinho da população para com este Senador e, principalmente, o seu interesse pelo assunto do livro.
De que trata o livro Cumplicidade? Da cumplicidade com o povo, com a luta pelo salário, com a PEC paralela - cujo Relator foi o Senador Tião Viana -;com emprego, renda e salário. Na capa do livro, Senador Tião Viana, há as figuras do nosso Presidente Lula, do Presidente desta Casa e de Mandela.
Enfim, o livro teve uma aceitação que me surpreendeu. Eu havia feito uma primeira edição de cinco mil exemplares que, entre sexta, sábado e domingo, praticamente esgotou. Por isso, devo relançar uma segunda edição em Brasília.
Por que falo do livro? Essas cerca de 1,5 mil pessoas - em cujas mãos peguei, uma a uma, e a quem fiz dedicatória, uma a uma, Tião Viana, meu Senador, meu Relator - falaram-me muito sobre a PEC paralela, e notei que o fizeram com respeito, com carinho, acreditando que ela ainda será votada. Por isso, estou muito esperançoso de que consigamos selar ou, num linguajar de metalúrgico, soldar o grande acordo de que V. Exª foi o principal líder, porque foi quem o colocou no papel e fez articulações com as Lideranças do Senado e o próprio Governo. Sem isso, não teria acontecido a votação, por unanimidade, na Casa. Na Câmara, a matéria já foi votada em primeiro turno, está na pauta e, acredito, será votada em segundo turno.
Comprometi-me, Senador Tião Viana, na segunda-feira, a falar do livro e também da PEC paralela. Como sempre digo que acordo firmado e palavra empenhada devem ser cumpridos, estou fazendo a minha parte.
Senador Tião Viana, muitos leram o livro, voltaram e - a maioria, sou obrigado a dizer de público - elogiaram o prefácio, escrito pelo membro da Academia Brasileira de Letras e Presidente do Congresso Nacional, Senador José Sarney. Não vou ler o prefácio, porque lá S. Exª me elogia muito, mas o Senador Sarney conseguiu fazer uma ligação de tudo o que escrevi com o que pensa S. Exª a respeito da poesia, da caminhada e da luta pelo social, que une todos nós.
Lerei, se me permitirem, a poesia de que mais gosto, e que, neste momento, tem toda razão de ser devido à nossa militância. Esta poesia, “Carta aos Militantes”, eu a escrevi em um momento muito importante. Agora, farei a sua leitura, a pedido das pessoas que ficaram ali horas e horas para receberem o livro e que deram um destaque especial a essa poesia.
Carta aos Militantes
Companheiros e Companheiras,
Resolvi escrever esta carta a vocês.
Para você, militante das causas populares.
Você que com sol e chuva, de panfletos na mão defende o que vai no coração.
A bandeira é a da emoção, é da razão.
Quanto mais me debruço sobre a sua história, militante,
Heróico, que está sempre à frente do seu tempo,
Mais o respeito.
Você tem um sorriso fácil, o olhar de esperança, de mudança, do sonho.
Nos momentos mais difíceis de nossas caminhadas,
demonstra sempre a garra e a sensibilidade dos grandes líderes.
Militante, você é um anônimo,
mas sem você, que seria de Che Guevara,
de Gandhi, de Zumbi ou de Mandela?
O Militante pulsa o coração do povo.
É terno, é sábio e é generoso.
É um guerreiro, é um valente.
Eu poderia ficar horas falando de você,
que luta contra os preconceitos, defendendo, com a força de um gladiador ou de um grande pensador, os idosos, os negros, os índios, os deficientes, as mulheres, as crianças, os desempregados, os assalariados, os sem-teto, os desgarrados, os condenados.
Parabéns a você, Militante, por tudo o que representa,
pela causa que defende.
Em tempo de guerra ou de paz, o seu amor pelo povo
nos embriaga com a energia carinhosa que paira no ar.
Um dia, quando o tempo passar e a gente lembrar do que foi a nossa história,
nunca esqueceremos as derrotas, mas também os dias de glória.
Será muito bom poder dizer: “Eu fui um Militante! Eu estive lá!
Na trincheira do bem!
Eu acreditei em homens e mulheres,
nesta longa caminhada de nossas vidas,
na construção de um mundo melhor, uma nova nação.”
Lembrei-me das caminhadas de mãos dadas,
eram filhos, eram pais, eram mães,
eram todos irmãos e assim a passeata terminava na praça,
ao som do violão, fazendo da paz uma canção.
Continuarei sonhando e lutando
para provar que um mundo novo é possível.
Um mundo de paz, igualdade, liberdade e justiça.
Um mundo onde a primavera seja lembrada como a mais bela das estações.
A estação das flores,
dos amores, das canções,
do tempo da militância rebelde
e das doces ilusões.
Esta carta-poesia foi a mais comentada na Feira do Livro, realizada em Porto Alegre. As pessoas que pegavam o livro perguntavam às outras: “Você leu a poesia da página 32?” Por essa razão, senti-me na obrigação de lê-la aqui.
O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador Paulo Paim?
O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Pois não, Senador Tião Viana, meu sempre Líder.
O Sr. Tião Viana (Bloco/PT - AC) - Senador Paulo Paim, fico muito feliz em cumprimentar V. Exª e testemunhar um momento bonito da vida do Senado Federal, quando V. Exª expõe essa grande novidade da relação política, que deve nortear o cidadão brasileiro, o agente público, o militante, todos que fazem parte do processo histórico, que impõe um novo questionamento, uma nova decisão e uma nova caminhada na luta política. V. Exª, como um missionário extraordinário da luta política brasileira, um patrimônio efetivo do Partido dos Trabalhadores, apresenta uma tradução distinta do que é acreditar na caminhada política que nos une, do que é acreditar no amanhã do Brasil, do que é acreditar naquilo que é indissociável da personalidade de V. Exª, que é a causa trabalhista. É a luta por dias melhores, um conceito de bem social que V. Exª sempre traduz com muita clareza no seu dia-a-dia parlamentar. E o que me deixa feliz ao testemunhar este momento é que, junto com a poesia, V. Exª deixa claro que não está esgotado nunca um ciclo de visão de Brasil, de entender as responsabilidades sociais e as políticas entre o cidadão e o agente público. V. Exª demonstra, sobretudo, que, mais importante do que imaginar novos caminhos, como diz o poeta Tiago de Melo, é imaginar uma nova maneira de caminhar. E aí está uma expressão viva de uma nova maneira de caminhar na política: a união da poesia com a responsabilidade de um mandato de um agente público da envergadura de V. Exª. Fico muito feliz de testemunhar este momento e, sem dúvida alguma, já que tem um prefácio de um poeta militante como o Senador José Sarney, não tenho dúvida da riqueza do seu livro. Espero ter a oportunidade de lê-lo em detalhes mais adiante. Confesso, também, que não faria maior propaganda, mas estou editando um livro agora, fruto da minha tese de doutorado, e um dos que apresentam meu livro à sociedade é também o poeta Sarney, que o faz com muita grandeza. Parabéns a V. Exª!
O SR. PAULO PAIM (Bloco/PT - RS) - Agradeço-lhe, Senador Tião Viana.
Recebi aqui uma cartinha pedindo que eu leia o prefácio do meu livro, escrito pelo Senador José Sarney. Como ainda tenho nove minutos para o término do meu tempo, lerei o prefácio, que é pequeno, para também prestar uma homenagem ao Senador José Sarney, que, como disse V. Exª, é membro da Academia Brasileira de Letras, um imortal, e, de fato, o poeta maior.
Hoje, transmiti a S. Exª que a comunidade negra nacional fará um grande evento em São Paulo, no próximo dia 12, em que S. Exª o Senador José Sarney irá receber um prêmio, como também o Presidente Lula. Portanto, seria interessante se S. Exª estivesse presente.
Houve quem dissesse que gostou mais do prefácio do que das minhas poesias. Claro, foram amigos nossos, que assim se manifestaram de forma muito carinhosa. A questão aqui não é ideológica. Vou fazer uma homenagem a um membro da Academia Brasileira de Letras.
Diz o prefácio:
Os Versos de Paulo Paim
Os evolucionistas atribuem aos primeiros tempos da vida animal a presença dominante da dicotomia na percepção humana [olhem bem a profundidade]: preto e branco, direita e esquerda, bem e mal. Arte e política parecem ter uma dessas oposições insuperáveis. Mas arte e política não são uma destas visões de ser ou não ser, o cheio e o vazio, e sim opostos que se fazem do mesmo, a instauração, a capacidade de transformar a realidade, criando uma nova realidade. Poiesis, a poesia, é a ação de fazer algo.
Da semelhança nasce a diferença. O gesto da arte é eterno, vai além da utilidade imediata e evidente para se prolongar num espaço espiritual, numa percepção que ultrapassa os sentidos. A política é a arte do possível, a ação sobre o temporal, o que só tem validade no coletivo.
Sr. Presidente, não vou ler o prefácio na íntegra, citarei apenas alguns trechos que considero importantes.
Castro Alves, em seu continuado grito de revolta contra a injustiça, chamava a República de Vôo ousado/ Do homem feito condor! Ela representava o sonho do poeta com a redenção dos negros e com a voz da praça. Dando a palavra ao povo, incorporava sua grandeza, estas asas que levavam longe a expectativa de um mundo melhor.
Cumplicidade [o livro que apresentei] é também um protesto do homem do povo, das pessoas humildes, dos negros, dos trabalhadores. É, em poesia, o mesmo discurso com que Paulo Paim teima em não se conformar com a injustiça social, em querer um mundo novo.
Termina dizendo:
Paulo Paim, assim, utiliza o instrumento do verso, a veia poética para viver e eternizar os sentimentos e melhor conviver com sua calma sensível de humana bondade.
Não li na íntegra, Sr. Presidente, porque quero que as pessoas tenham curiosidade ao receber o livro. Cada Senador, claro, vai recebê-lo. Em resumo, o livro fala da vida do nosso povo. Por isso, teve uma aceitação tão grande. Vi uma fila de pessoas portadoras de deficiência. Há poesias escritas por pessoas portadoras de deficiência. Vi pessoas, na fila, com mais de 70 anos. Queriam aplicar o Estatuto do Idoso, reivindicaram o privilégio de atendimento. Claro que foi dado aos idosos um atendimento preferencial. Há poesias escritas por pessoas idosas que falam do Estatuto do Idoso. Falam do Estatuto das Pessoas Portadoras de Deficiência e do Estatuto da Igualdade Racial.
Para o ano que vem, Sr. Presidente, o Movimento Negro está preparando uma grande marcha sobre Brasília: a Marcha Zumbi + 10, para a qual esperam 150 mil pessoas. Será um instrumento de aprovação de políticas públicas contra todos os preconceitos. Espero que o Estatuto da Igualdade Racial nesse dia, ano que vem, já esteja sancionado ou que seja sancionado no citado dia pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Termino, Sr. Presidente, também falando dessa caminhada de todos nós em relação ao salário mínimo. Que consigamos efetivamente fazer o debate desse assunto já no Orçamento, que seja instalada a comissão especial tão conclamada por nós, que será composta por Deputados e Senadores, para aprofundarmos o debate e chegarmos em 1º de maio com um novo salário mínimo, fruto do trabalho dessa comissão.
Tomara que, antes do fim do ano, antes do recesso, aprovemos a PEC paralela, em torno da qual há uma expectativa muito grande dos servidores públicos, por tudo que representa, e é a vontade unânime desta Casa e tenho certeza de que também do Governo, que concorda com a redação dada à PEC paralela. Falta apenas a Câmara cumprir a sua parte.
Ainda esta semana eu falava com um Ministro importante que me dizia: “Paim, damos todo o aval para que o acordo firmado no Senado seja cumprido”. Então, falta somente a Câmara, que já votou a matéria em primeiro turno. Quero aqui resgatar os fatos, e é importante esse dado. O único problema está numa redação sobre o teto. Isso se resolve com tranqüilidade. Ninguém aceitará em hipótese alguma - e nós no Senado apontamos esse caminho - que se ganhe mais do que o teto. Então, isso se resolve com tranqüilidade.
Por isso espero que, ao chegar o Natal e 1º de janeiro, estejamos já com a PEC paralela aprovada e a redação da construção que queremos para o salário mínimo, sem excluir os aposentados, esteja definitivamente escrita, já apontando um novo salário mínimo para o dia 1º de maio do ano que vem.
Obrigado, Sr. Presidente.