Discurso durante a 154ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Resultados alcançados pelo PDT nas últimas eleições municipais.

Autor
Osmar Dias (PDT - Partido Democrático Trabalhista/PR)
Nome completo: Osmar Fernandes Dias
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. HOMENAGEM.:
  • Resultados alcançados pelo PDT nas últimas eleições municipais.
Publicação
Publicação no DSF de 09/11/2004 - Página 35614
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. HOMENAGEM.
Indexação
  • ANALISE, PARTICIPAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DEMOCRATICO TRABALHISTA (PDT), ELEIÇÃO MUNICIPAL, ESPECIFICAÇÃO, ESTADO DO PARANA (PR).
  • REGISTRO, APOIO, PREFEITO, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO PARANA (PR), HOMENAGEM POSTUMA, JOSE RICHA, EX SENADOR.
  • CRITICA, CONDUTA, ROBERTO REQUIÃO, GOVERNADOR, ESTADO DO PARANA (PR), ELEIÇÃO MUNICIPAL.

O SR. OSMAR DIAS (PDT - PR. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, pelos discursos, todos os partidos ganharam as eleições. Não vi ninguém vir à tribuna e dizer: “Meu Partido saiu derrotado”. Todos ganharam. Ou houve aumento do número de Municípios no Brasil ou alguém aqui não está falando a verdade, porque não é possível que todos tenham ganho, e ninguém, perdido.

No meu Estado, já vi o pessoal do Governo dizer: “Ganhamos as eleições e aumentamos nosso patrimônio político”. Com o PT, a mesma coisa: o Governo Federal se disse vencedor no meu Estado. E eu, que sou de um Partido pequeno, fiquei pensando: “Sobrou alguma coisa para o PDT?” O Partido do Governo Estadual disse que ganhou; o Partido do Governo Federal disse que ganhou; o PSDB disse que ganhou; o PFL também; enfim, todos disseram que ganharam as eleições. Resolvi analisar o que aconteceu com o PDT, já que haviam feito um prognóstico sombrio sobre o meu Partido, depois da morte do grande líder Brizola - cuja imagem e carisma eram tão fortes e preciosos que foi homenageado por todos os partidos. Cheguei à conclusão de que o PDT também ganhou no Paraná, e essa análise tem de ser feita com números.

O PDT me incluiu como um de seus militantes em setembro de 2001, quando deixei o PSDB, por razões conhecidas nesta Casa: ao assinar a CPI da corrupção, proposta na época pelo PT, fui convidado a deixar o PSDB. Depois, atendi o convite do próprio Presidente Brizola para ingressar no PDT.

A minha luta no PDT sempre foi a de renovar os quadros, atualizar o Partido. Nós conseguimos, no Paraná, convencer Brizola de que era necessária essa modernização do Partido apenas em julho de 2003, depois das eleições de 2002, quando, estando no PDT, recebi a maior votação que um político já recebeu na história do Paraná, reelegendo-me Senador com quase três milhões de votos. Mas aquela foi a primeira demonstração de que as coisas estavam mudando e que a população desejava um novo ciclo na política do Paraná.

Mesmo com pouco tempo para organizar o PDT, conseguimos crescer de 19 Prefeituras, em 2000, para 44, em 2004. São 27 Vice-Prefeitos, 335 Vereadores e muitas alianças vitoriosas, que decidimos priorizar, porque, pequeno, o Partido não tinha como lançar candidatos próprios em todos os Municípios. Conversamos com a população, identificamos o desejo de mudança, principalmente para 2006, e trabalhamos com os partidos que tinham esse mesmo pensamento e objetivo, construindo alianças em vários Municípios.

Mas não é só o número de Prefeituras que indica o nosso crescimento. Elegemos Prefeitos em cidades-pólo, que concentram grande número de eleitores, como, por exemplo, Foz do Iguaçu, onde o PMDB detinha o poder há dois mandatos. Conseguimos a vitória com o candidato Paulo Mac Donald, Prefeito eleito, que enfrentou todas as dificuldades que se esperam e que não se esperam numa eleição. Foi uma disputa que ficou muito longe de ser normal, porque o que ocorreu em Foz do Iguaçu nas eleições foi, sem dúvida, uma verdadeira guerra. Até parece que a cidade, que vive um clima de insegurança por falta de uma ação mais efetiva do Governo Federal e do Governo do Estado para debelar a violência nas ruas, apresentando o maior índice de criminalidade do interior do País, transferiu isso para o processo eleitoral. Não me senti bem participando da campanha em Foz do Iguaçu. É claro que comemoramos a vitória do nosso candidato, mas acredito que dá para fazer diferente, sem o nível de agressividade que tomou conta da campanha eleitoral em Foz do Iguaçu, onde o mais agredido foi o eleitor, por ver tanta agressividade. O nosso candidato foi muito agredido, mas, assim mesmo, venceu as eleições, porque priorizou as propostas.

Em Paranaguá, onde o PT tinha um reduto e era o favorito - pois o porto de Paranaguá congrega 27 sindicatos -, nosso candidato venceu com quase 60% dos votos. Fomos vitoriosos, contrariando exatamente o discurso, que ouvi de alguns Senadores e de alguns cientistas políticos, de que não se federaliza a eleição municipal. Depende. Em Paranaguá, as pessoas estão muito insatisfeitas com a atuação do Governo do Estado e do Governo Federal, porque o porto de Paranaguá, um exemplo, no passado, de eficiência e qualidade na prestação de serviços, hoje o é de deficiência, de atuação precária no desenvolvimento econômico do Estado e da região. O porto de Paranaguá foi, sem dúvida, a referência da campanha, no sentido de que há, sim, uma influência grande e direta do tipo de governo existente, da linha de pensamento instalada no Governo Federal e no Governo do Estado. Aquela cidade manifestou-se, portanto, contra essa corrente de pensamento e a forma de gerenciar o porto, seu maior patrimônio depois dos recursos naturais, que, evidentemente, são sua maior riqueza.

Vencemos em outras cidades importantes, como Paranavaí, Pato Branco, Laranjeiras do Sul, Cornélio Procópio e Goioerê. Vencemos com as alianças que fizemos com o PFL, o PSDB, o PSB e o PP em vários Municípios. No segundo turno, obtivemos uma vitória extraordinária em Maringá, minha cidade, onde votei, localizada no norte do Paraná. Maringá é uma das mais belas cidades do País e sua principal característica é a preservação dos recursos naturais.

A beleza natural é o que atrai muitas pessoas para Maringá. Tivemos uma vitória ali com o candidato do PP, que é irmão do nosso companheiro de Congresso Nacional, Deputado Ricardo Barros. Com o nosso apoio, foi eleito o Prefeito Sílvio Barros, do PP; e o Sr. Carlos Roberto Pupim, que é de Maringá, o nosso representante, foi eleito vice. Portanto, tivemos uma participação nessa vitória do Prefeito de Maringá.

Fiquei muito satisfeito por termos derrotado naquele Município, que já tentava a reeleição, o candidato do PT. Fizemos uma eleição com muito respeito ao candidato do PT, e estive na cidade para debater os seus problemas. O Prefeito tem suas virtudes, suas qualidades, mas é claro que queríamos mudar alguns pontos, o que discutimos com os eleitores. Conseguimos a vitória exatamente porque não fomos a Maringá para agredir o Prefeito, mas para conversar sobre os problemas da cidade e sobre os projetos que tínhamos para a cidade. Por essa razão, repito, os eleitores de Maringá nos deram essa vitória.

Em Ponta Grossa, o meu partido cometeu o maior equívoco ao apoiar o Prefeito atual, que foi derrotado. Fui à cidade, mostrei a minha posição e é claro que vou tomar providências em relação à desobediência que houve por parte da executiva municipal. Vamos tomar providências para que a questão da lealdade seja um princípio a ser considerado por aqueles que compõem um partido. Não há como fazer um partido forte e competitivo se não houver lealdade entre os companheiros. Não consigo entender um partido sem a virtude da lealdade. Evidentemente, vou tomar as providências que cabem ao presidente estadual do partido em relação a essa desobediência, essa infidelidade na cidade de Ponta Grossa, uma vez que tínhamos uma decisão, adotada pela Executiva Estadual, que foi desobedecida por alguns integrantes da Executiva Municipal.

Em Curitiba, Sr. Presidente, acredito que a vitória foi emblemática, não do candidato do nosso partido, mas do candidato do PSDB que apoiamos. Tínhamos a possibilidade de lançar candidato próprio, mas entendemos que era importante realizarmos, em Curitiba, uma aliança já projetando uma possível aliança para 2006.

Fomos procurados por Beto Richa, candidato a Prefeito pelo PSDB, filho do ex-Senador José Richa, que passou por esta Casa e deixou aqui um nome e um trabalho respeitados no Brasil inteiro. Falecido no ano passado, ele foi homenageado também por muitos Senadores e por muitos políticos do Brasil, pelo Paraná inteiro, que o respeita muito.

Não lhe pedi, como muitos costumam fazer, secretarias ou participação no Governo. Disse-lhe apenas o seguinte: o PDT vai apoiar a sua candidatura porque acredita que você é o melhor candidato e que está preparado para ser o Prefeito de Curitiba, porque você é honesto e porque é filho de uma pessoa que é respeitada em todo o Estado. É uma homenagem que queremos prestar ao José Richa e ao mesmo tempo a você, pela conduta ética que tem e pelo respeito que dedica às pessoas quando ocupa qualquer função pública.

E fizemos esse apoio político ao Beto Richa, sem dele cobrar nada. E continuamos a não cobrar absolutamente nada. É claro que temos uma projeção do que pode acontecer em 2006, mas não há, da nossa parte, cobrança alguma para retribuir o nosso apoio, porque o fizemos convictos e conscientes de que estávamos no melhor caminho.

Não foi uma campanha normal, uma vez que a agressividade começou a tomar conta, principalmente no segundo turno, partindo de todos os lados. Conversamos muito com o candidato Beto Richa, que fez uma campanha propositiva, em que conversava com os eleitores de Curitiba. Acredito que pode ser e será um grande Prefeito. Mais do que isso, ele significa o início de um novo ciclo político no Paraná. Acredito que uma nova geração de políticos surge no Paraná com essa eleição emblemática do Beto Richa. Ele disputou com o Governo Federal, que esteve lá com Ministros, com o Presidente da República, participando da campanha do candidato do PT, com a presença maciça dos integrantes do Governo do Estado, do próprio Governador, que se licenciou para fazer campanha. Em determinado ponto, tivemos que atuar no sentido de pedir ao Governador que discutíssemos os problemas da cidade, porque as agressões não levariam a nada, não ajudariam a construir. Agressão feita durante a campanha eleitoral não vira creche depois da eleição, não vira hospital - necessitamos muito lá -, não vira segurança pública, problema que precisa ser resolvido em Curitiba. Portanto, tivemos que interferir no sentido de pedir ao Governador para que discutíssemos os problemas da cidade e as propostas dos candidatos, e, sobretudo, para que a agressividade fosse substituída pelo respeito à população.

Respeito o Governador de meu Estado, já que foi eleito. Convivemos por muito tempo, fui seu secretário e companheiro do Sr. Roberto Requião aqui no Senado Federal, e não há de minha parte ingratidão, como foi divulgado em um jornal, já que pedi ao Governador que tivesse gratidão com José Richa. Tanto Roberto Requião quanto eu devemos boa parte de nossa ascensão política a José Richa. A única coisa que pedi a ele é que tivesse gratidão com José Richa, não agredindo ou não deixando agredir aquele que representava o nome Richa em uma campanha eleitoral. Era uma disputa para decidir quem seria o prefeito da cidade. As agressões pessoais não podem fazer parte do contexto político, pois já saturaram a população, muito bem informada, que votou dizendo “não” às agressões e “sim” às propostas, dizendo “não” às promessas feitas de forma irresponsável e muitas vezes não cumpridas, esquecidas durante o mandato de quem se elege. A população demonstrou que deseja mudança, mas uma mudança responsável.

A nova fase política no Estado, com certeza, provará que não há necessidade de grandes marqueteiros para se vencer uma eleição. Afinal de contas, o candidato do PT em Curitiba contou com a orientação de Duda Mendonça em sua campanha - claro que não nos dias em que freqüentava rinhas de galo -, e foi derrotado. Peso do Governo Federal, peso do Governo do Estado, a ponto de, num certo momento da campanha, num discurso infeliz, nosso amigo Requião dizer: “se vocês elegerem o candidato adversário, não vamos fazer uma parceria de trabalho aqui, não vamos poder fazer a segurança integrada”. A segurança em Curitiba, então, dependia da eleição do candidato do PT? Ora, temos que respeitar a população. A população merece, sobretudo de quem está no Governo, respeito absoluto. Seja quem for o Prefeito eleito, a cidade tem o direito, porque paga impostos, de receber o apoio tanto do Governo do Estado quanto do Governo Federal.

E tivemos uma demonstração do nível de informação em que o eleitor brasileiro se encontra hoje, quando rechaçou todas essas insinuações, as agressões, a hostilidade, dizendo não à arrogância e a tudo isso, numa atitude de dar início a uma nova etapa na política do Paraná, deixando para trás a vaidade pessoal - que também me parece ter sido derrotada durante esse processo eleitoral - a vaidade de muitos que se colocam como donos da verdade e que não têm a capacidade e a humildade de ouvir as pessoas que querem dar sua opinião e ajudar a construir uma cidade melhor, um Estado melhor.

Faço essa análise porque, lá no meu Estado, muita gente se coloca, quando vence a eleição, como o grande cabo eleitoral que deu a eleição para determinado candidato.

Com muita franqueza: o candidato Beto Richa ganhou a eleição porque era o melhor candidato. Ganhou a eleição porque se preparou, porque estudou. Claro que os apoios são importantes, mas ninguém pode denominar-se dono da eleição e dono da vitória de um candidato, seja ele da capital ou de uma cidade pequena do interior. O eleitor demonstrou que vota numa corrente de pensamento pregada pelo candidato; vota para mudar uma situação, querendo um projeto novo para sua cidade, para seu Estado; vota nas qualidades pessoais do candidato, que, com as suas virtudes e méritos, vence as eleições. Aquele que se apresenta melhor durante a campanha eleitoral, aquele que discute mais os problemas e apresenta melhores propostas sempre sai vitorioso.

Não é possível que ainda tenhamos de suportar esse nível de vaidade das pessoas que querem tirar o mérito da vitória de companheiros políticos que se dedicam dia e noite para ganhar uma eleição. O político passa quinze minutos na cidade, faz um discurso e depois fala que sua passada por lá deu a vitória a determinado candidato. Isso é desrespeito àquele que construiu a sua vitória trabalhando, estudando, fazendo projeto, elaborando seu plano, debatendo. Muitas vezes, fica sem dormir durante três meses, porque uma campanha eleitoral é desgastante, exigindo física e mentalmente muito do candidato. E a pessoa dá uma entrevista e diz: “Vencemos em tais cidades, e o meu apoio foi decisivo”. Isso não existe. O eleitor vota naquele que se candidata e se apresenta como candidato. Ninguém é dono dos votos dados a determinado candidato. É preciso respeitar a inteligência dos eleitores, respeitando aqueles que se colocam como candidatos e vencem as eleições por seus méritos.

Sr. Presidente, foi uma boa eleição para o PDT. O Partido cresceu no Paraná, vai continuar crescendo e, sem dúvida nenhuma, apresentará o seu projeto para o Estado do Paraná em 2006. O PDT estará vivo e forte nas eleições de 2006, se Deus quiser.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/11/2004 - Página 35614