Discurso durante a 154ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Importância do papel do PMDB na sustentabilidade do Governo Lula. Satisfação com os resultados da eleição no Estado do Rio Grande do Sul, principalmente na condução do ex-Senador Fogaça à Prefeitura de Porto Alegre.

Autor
Pedro Simon (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/RS)
Nome completo: Pedro Jorge Simon
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA PARTIDARIA. ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Importância do papel do PMDB na sustentabilidade do Governo Lula. Satisfação com os resultados da eleição no Estado do Rio Grande do Sul, principalmente na condução do ex-Senador Fogaça à Prefeitura de Porto Alegre.
Aparteantes
Antonio Carlos Magalhães.
Publicação
Publicação no DSF de 09/11/2004 - Página 35625
Assunto
Outros > POLITICA PARTIDARIA. ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • ELOGIO, NOMEAÇÃO, VICE-PRESIDENTE DA REPUBLICA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA DEFESA.
  • ANUNCIO, REUNIÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), RECONSIDERAÇÃO, DECISÃO, APOIO, GOVERNO FEDERAL, DEFESA, POSIÇÃO, INDEPENDENCIA, POLITICA.
  • COMENTARIO, HISTORIA, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), DESENVOLVIMENTO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS).
  • CRITICA, ATUAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT), GOVERNO FEDERAL.
  • COMENTARIO, PARTICIPAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), ELEIÇÃO MUNICIPAL, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ELOGIO, ELEIÇÃO, PREFEITO, CAPITAL DE ESTADO.
  • ANALISE, HISTORIA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), IMPORTANCIA, PARTICIPAÇÃO, POLITICA, BRASIL.
  • DEFESA, EXISTENCIA, FUNDOS PUBLICOS, UTILIZAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL.
  • COMPARAÇÃO, CAMPANHA ELEITORAL, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, antes de falar sobre o assunto que me traz à tribuna, quero referendar o pronunciamento do Senador Marcelo Crivella.

Não há dúvida de que foi profundamente feliz a atitude de o Presidente da República entregar ao Vice-Presidente, José Alencar, o Ministério da Defesa. Aliás, no Governo anterior, falava-se muito que o Ministro da Defesa deveria ter sido o Sr. Marco Maciel, Vice-Presidente do Governo de então. Mas, mencionou-se que não se deve nomear alguém que não se pode demitir. E o Vice-Presidente da Republica não se pode demitir. Como o Presidente vai demitir o Vice-Presidente da República? Nisso está o espírito do ato do Presidente Lula. Sua Excelência fez questão de nomeá-lo com a convicção de que o Vice é para ficar. Escolheu um homem honrado, competente, decente, digno, que tem a credibilidade de toda a sociedade e não tem nenhuma dúvida com relação às Forças Armadas. Tenho a certeza de que Sua Excelência encontrou o homem exato para debater, discutir, conviver, para promover o diálogo entre as Forças Armadas, o Congresso, o Presidente e a sociedade brasileira. Íntegro, competente, sério e capaz, José Alencar já era um homem exemplar como Vice-Presidente, e exerce agora uma missão, a mais importante, como Ministro da Defesa deste País.

Sr. Presidente, venho à tribuna trazer uma decisão do PMDB do Rio Grande do Sul e também dos Governadores do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, do de Santa Catarina, Esperidião Amin, do Paraná, Roberto Requião, do Rio de Janeiro e, ao que me consta, também o de Brasília e de Permambuco de que o PMDB deve fazer uma reunião na quarta-feira e, provavelmente, convocar uma convenção, que será feita logo após.

Trata-se da posição do PMDB junto ao Governo Federal. Desde o início, defendi que nós, do PMDB, deveríamos dar cobertura praticamente total ao Governo Lula. Fui daqueles que olhei com paixão e com esperança imensa o Governo Lula, com a convicção de que Sua Excelência, pela sua biografia, pela sua história, pela sua campanha, pelas suas idéias, era o homem exato no momento exato. Entendia eu que deveríamos dar apoio à governabilidade, mas não deveríamos participar do Governo. Até defendi, antes da campanha eleitoral, a possibilidade de uma aliança do PMDB com o PDT, com o PMDB dando o vice-presidente. Considerei, na época, que isso seria uma revolução social pacífica, e que faríamos realmente sacudir o País. Lamentavelmente, dentro do meu Partido, não tive cobertura. Não tive cobertura nem para essa posição, nem para a tentativa de me apresentar como candidato disposto a concorrer e salvaguardar a dignidade e a honra do meu Partido. Mas a decisão foi apoiar o candidato do PSDB, dando-lhe o vice-presidente. Tanto que, na hora da convenção, a cédula que foi votada foi a que dizia: “O senhor é a favor ou é contra a chapa Serra/Vice do PMDB”.

Mas passou. O PMDB perdeu a eleição apoiando o Sr. Serra. Embora eu fosse dos que defendesse e respeitasse a candidatura Lula, acreditava que o PMDB faria um grande papel, indo para a Oposição. Mentira minha. Indo para uma posição de independência, com apoio crítico, mas sem ocupar cargo. O PMDB decidiu pelos cargos e está lá nos Ministérios.

Agora, o que estamos reconsiderando é se essa posição do PMDB é boa para nós, é boa para a Nação, é boa para o Presidente Lula. Cremos que não! Para o PMDB, não é boa essa posição. O PMDB tem os seus Ministérios, com pessoas ilustres, competentes, capazes, grandes companheiros, inclusive com Amir Lando, nosso companheiro de Senado, fazendo um belo papel, mas não tem participação no governo. O governo tem uma linha. Aliás, se analisarmos, não é todo o PT que tem participação no governo. O governo é um grupo que se constituiu dentro do PT, das pessoas que formam aquilo que tem sido chamado de núcleo do poder. Lá não está muita gente. A Senadora querida que saiu da tribuna, pelo jeito, não faz parte, assim como os Senadores Eduardo Suplicy e Paulo Paim. Há muita gente do PT que não faz parte desse grupo dominante que está lá. Quanto a nós do PMDB, então, não tem significado algum! Como se pode participar de um governo se não se é ouvido?

Outro dia, o Ministro da Previdência disse que os cargos de confiança que detém foram designados, que S. Exª não tem conhecimento, e que as decisões da Previdência, como sabemos, foram tomadas pelo Governo, à margem da presença do nosso Ministro. Então, se é para ter dois Ministros que não têm representatividade, que não fazem parte do núcleo do poder, se o PMDB não tem nada que ver com as decisões de Governo, se nunca o Presidente do PMDB ou o Líder do PMDB foram chamados para uma reunião para decidir uma medida provisória ou caso semelhante, participar do Governo, cá entre nós, é para ter cargos.

Eu sou contra o PMDB ir para a Oposição. Eu acho que o PMDB tem uma posição de grande responsabilidade neste momento e deve respeitá-la. A Oposição está muito bem representada pelo PSDB, pelo PFL e pelo PDT. Esses partidos e outros menores estão lá cumprindo sua parte, fazendo oposição. Acho que nós do PMDB, se entrarmos, se ingressarmos na Oposição, criaremos uma maioria tão grande na Oposição que poderíamos pôr em risco a governabilidade. Poderemos, pelo espírito que estamos sentindo em alguns líderes oposicionistas, fazer um entrave tão radical que praticamente afaste o Brasil do caminho que queremos.

Então, acho que o grande papel do PMDB é o de independência crítica. É o papel de ser - perdoem-me a sinceridade - a consciência cívica da Nação, de ter a independência de votar a favor do que for bom para o nosso País e de votar contra o que for errado. E o PMDB tem que ver se supera isso e se consegue ter essa posição de independência à margem dos favores, das vantagens e das pressões do Governo.

Falo isso com tranqüilidade. Fui Líder do Governo, Líder da Oposição na Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul durante muito tempo. E, durante muito tempo, éramos maioria ampla, total na Assembléia Legislativa, e o Governo era nomeado, porque era o único Estado do Brasil onde a Arena não tinha maioria; a Arena não podia governar. Se fosse a Assembléia Legislativa eleger, em 1966 e 1970, o Governador era do MDB. Então, cassaram tantos Deputados quantos necessários para eleger um Governador da Arena, embora a maioria fosse do MDB.

E nós, machucados, cassados, sofridos, magoados, mesmo assim, o MDB do Rio Grande do Sul fazia oposição sistemática, radical, dura, denunciando - enquanto no Brasil todos calavam - a tortura, a morte, a violência. Mas, quando se tratava do interesse do Rio Grande do Sul, o MDB dizia: o que é bom para o Rio Grande do Sul é bom para o MDB.

O pólo petroquímico que está lá no Rio Grande do Sul, que era para ter ido para sua terra, Rio de Janeiro, gerou uma luta enorme, o Presidente da Comissão do Pólo era o Líder da Oposição, Pedro Simon. Na hora da Aços Finos Piratini, que o Brasil achava que o Rio Grande do Sul não podia ter uma fábrica de aços finos - não tem produção e não tem aço, por que produzir aços finos? - dizíamos que, se dependesse dos senhores técnicos, o Japão devia ser um conjunto de ilha vulcânica, porque não tem material de consumo nenhum, não tem absolutamente nada e, no entanto, é produtor mundial desse produto. Conseguimos a Aços Finos Piratini.

Pois acho que o PMDB aqui deve adotar uma posição dessa natureza.

Vamos ganhar a credibilidade desta Nação, vamos voltar a ser o velho MDB. Falam até na possibilidade de se tirar o “P” e voltar a ser MDB. Acho que seria ótimo. Vamos restabelecer a confiabilidade, vamos fazer a crítica necessária ao Governo Lula, vamos apresentar as propostas necessárias ao Governo Lula, mas vamos ficar em uma posição independente, sem os cargos e sem fazer oposição radical.

Ouvi agora a ilustre e querida Senadora de Mato Grosso referindo-se ao esforço que o PT faz para trazer maioria, para trazer gente de outros partidos, e que ele não deveria fazer isso. Na verdade, verificamos que o PT está fazendo com que alguns partidos, linhas auxiliares, dobrem a sua capacidade, o seu número. A informação que temos, e alguns companheiros do PMDB dizem, é que o PT poderá fazer duas coisas: ou tirar metade da bancada do PMDB e levar para os partidos paralelos do PT ou deixar aquela gente dentro do PMDB, mas na verdade a cada votação votar contra. Pode acontecer. Na verdade, a essa altura, quero expressar o que penso em relação à corrupção: o corruptor é mais velhaco do que o corrupto. Se acontecer isso, se o Governo continuar nessa suposição de a cada votação ir às compras e verificar o número de Senadores e Deputados necessário, se o Governo continuar nessa caminhada vai ser muito triste, muito dramático, vai exercer um papel realmente difícil de ser compreendido. Creio que o Governo deveria mudar o seu diálogo nesta Casa. Em vez de o diálogo ser feito entre os membros do Governo, que vão às compras com Deputados e Senadores, por emendas, por cargos e favores, deveria ser feito um acordo na base das lideranças para que o que é bom seja votado e o que é ruim seja rejeitado. Nós, do PMDB, temos condições de fazê-lo.

Na próxima reunião, quarta-feira, com os presidentes de todos os diretórios regionais, com a bancada federal, com Senadores e Deputados, com a Executiva Nacional, deveremos debater a matéria. Falo sem mágoa, sem ressentimento. Não estou tomando uma posição de afastamento em relação ao Governo Lula, não estou querendo boicotar ou dificultar a vida do Governo. Ao contrário, trago esta palavra com muita fé, com muita compreensão. Trago esta palavra com a experiência de quem vem de longe e quer realmente buscar uma vida política com mais respeito, com mais seriedade, com mais dignidade. Se as questões se encaminharam nesse sentido, se o PT fez alianças com partidos agregados, formando quase uma maioria, se a Oposição já existe, o PMDB tem que exercer o seu papel, tem que entender a sua origem, a sua história. Os líderes atuais do Partido - o nosso ilustre Presidente Temer, os Líderes no Senado e na Câmara, nossos grandes nomes como o Presidente Sarney - têm que entender o nosso papel. Temos uma história.

Afinal de contas, fomos o Partido da construção deste País, aquele em que, na hora mais dramática, mais difícil, a sociedade acreditou e conosco foi às ruas em busca da democracia. Os senhores que estão no PT, no PDT, em vários Partidos de Oposição ou estavam no MDB ou na Arena, ou estavam na luta armada, ou no aconchego de suas vantagens. O PMDB exerceu seu papel, sua caminhada, desempenhou com brilhantura seu trabalho.

Alguns companheiros estranham que o PT, no poder, não é, na Oposição, aquilo que imaginavam que seria. Refiro-me àquele trabalho fantástico, que o PT exerceu, de estilingue, de denunciador de escândalos, irregularidades e absurdos, na posição de defesa das questões sociais. A Senadora que discursou há poucos minutos dizia que se tem de buscar essa luta; que se tem de tomar esse caminho, o que não está acontecendo.

Também vivi isso. Na época de guerra do MDB, do Dr. Ulysses, de Teotônio, lutávamos para trazer a democracia, todos do mesmo lado, contra a ditadura, o arbítrio, a tortura, a cassação, a violência. A mim me parecia que o MDB era constituído de homens santos, de pessoas excepcionais, fantásticas. Eu me sentia quase um cruzado na caminhada em que estava.

Lamentavelmente, no Governo Sarney, quando morreu Tancredo Neves e fomos para o Governo, vi que as coisas não eram bem assim. Vi, lamentavelmente, que muita gente que era 100% na hora de combater, no momento em que chegava ao Governo, era igual ou pior do que os que lá estavam.

Então, para mim não é novidade que exista, no PT, gente que era fantástica e lutadora, homens que eram da guerrilha ontem e que hoje estão vivendo de uma forma e com uma visão completamente diferentes: com soberba, como vejo ocorrer com alguns - algo que me causa estranheza, porque nunca pensei que chegariam a tal.

Mas, se o PT está nessa situação, nós, que fomos do velho PMDB e que viemos decaindo desde a morte do Dr. Tancredo, temos de ter a coragem de saber se queremos reencontrar-nos, se desejamos realmente desempenhar um papel. Esse papel pode ser desempenhado.

Se o PT estivesse fazendo aquilo que disse que faria; se fosse hoje um Partido que estivesse implementando a reforma agrária e o Fome Zero; se tivesse um projeto social, um plano ético que nos permitisse dizer “que gente séria é essa!”, eu diria que o PMDB não teria mais o que fazer, porque teria feito a parte da busca da democracia, e o PT, a do social e da ética.

Como isso não está acontecendo - e está provado que não é fácil que aconteça -, o PMDB tem um papel. Pode desempenhar seu papel e dizer: “vamos voltar ao velho MDB”. Para isso, temos de esquecer os cargos, as vantagens, o favor pelo favor, o cargo pelo cargo. Se o PMDB tiver um plano, um objetivo; se clamar pelo povo; se chamar seus técnicos e reunir-se com o Governo, o Congresso Nacional e outros Partidos, para encontrar um caminho, tudo bem. Entretanto, não se reúne com ninguém, não sabe nada: o que o Governo quer ou não; que medida provisória será editada amanhã ou depois de amanhã. Fica nessa posição boba e sem futuro perante a opinião pública.

A rigor, a imprensa diz que o candidato do Governo às eleições de 2006 será o Presidente Lula, e o da Oposição, o Governador de São Paulo. A campanha eleitoral, daqui a dois anos, já está certa, repito: Lula será candidato à reeleição, e o Governador de São Paulo, o candidato da Oposição. Talvez, não estou discutindo isso. Tenho a maior admiração pelo Governador de São Paulo. Eu, amigo fiel e íntimo de Mário Covas, pude acompanhar o carinho e a dedicação de Alckmin por ele, o que é muito difícil, quase impossível de acontecer. Mário Covas, durante muito tempo, ficou impossibilitado de desenvolver o que podia e devia, mas se apegava à vida. Sua esposa dizia ao médico que pensava que o marido deveria renunciar para cuidar da própria saúde. O médico, por sua vez, replicava que ela estava enganada, pois a obrigação que Mário Covas julgava ter de governar lhe dava condições de suplantar a doença. Mário Covas cumpriu sua missão durante tempo; dormia até às 10 horas, recebia as pessoas, assinava documentos e voltava à tarde. E Alckmin desempenhava o Governo, mas nunca se ouviu dele uma palavra no sentido de alegar que era Mário Covas quem governava. Ele ficou em ato de grandeza excepcional, mostrando que é um homem de bem. Acho que é um grande homem e que Lula é um grande candidato à reeleição. Mas nós, do PMDB, temos que saber a nossa posição. Não podemos ficar nessa posição de brincadeira, até porque, a essa altura, talvez fiquemos pior do que na vez passada. O PMDB, se quisesse, poderia ter escolhido o Vice-Presidente de Lula; essa teria sido uma solução. No entanto, quis escolher o de José Serra e o fez. Daqui a dois anos, pode ser que não tenha nem o Vice-Presidente do Lula, nem o de Alckmin e esteja na posição de pião, no tabuleiro, que só pode caminhar para frente, uma casa.

O PMDB tem o direito de pensar em uma campanha sucessória. E nós temos nomes: o Governador de Santa Catarina, o Governador do Paraná, o Governador de Brasília, o ex-Governador do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, o ex-Presidente José Sarney, o ex-Presidente Itamar Franco, o Governador Jarbas Vasconcelos; isso não é problema. Não é uma questão de já falar em nomes, mas de apresentar-se perante à sociedade. É impressionante observar, quando se anda pelo Rio Grande do Sul, que algumas pessoas, embora não sejam do PMDB, olham com mágoa para ele: “Que pena que o PMDB não é mais o mesmo!”; “Que pena que não posso estar no PMDB!”; “Que pena que o PMDB não é mais aquele a que pertenci, pelo qual lutei, que defendi, com que sonhei, em que votei!”.

Por isso, acho que o PMDB deve refletir com muita profundidade. Depois da reunião de quarta-feira, a convenção geral de assembléia, devemos pensar nesse assunto. Por isso, digo que é bom para o PMDB e para Lula, que terá pastas ocupadas por pessoas mais ligadas a seu Governo e o manterá mais solidificado. E é bom para o Brasil, que terá um Partido como o PMDB unido, coeso, mostrando uma posição que é necessária, porque o debate está sendo em preto-e-branco: o PT mostra sua realidade, e o PSDB e o PFL mostram a contra-realidade.

Assim, se o PMDB exercer a posição do diálogo, do entendimento, da análise; se apontar para onde devemos caminhar e avançar, para não ficarmos como agora, estacionados há três meses, sem nada produzir, desempenhará um grande papel.

Nós nos saímos bem no segundo turno das eleições. O PMDB ganhou a Prefeitura de Caxias, com um grande companheiro, o Deputado Sartori. O PPS, ganhou a Prefeitura de Pelotas, com o Deputado Bernardi e com o apoio de todos os Partidos versus PT. Mas, principalmente, ganhamos em Porto Alegre, com a figura extraordinária de José Fogaça, um homem de dignidade, cultura, competência e seriedade, hoje inscrito no PPS. Com o apoio de todos os Partidos, ele fez uma campanha memorável pela grandeza, pelo espírito público, mostrando suas obras, pois foi um grande Senador, e, contando com o apoio de praticamente toda a sociedade, José Fogaça teve uma vitória importante na cidade onde o PT governava há dezesseis anos. Até então, em Porto Alegre, como no Rio Grande do Sul, nunca um Partido se repetiu no poder, pois a Oposição sempre ganhava. Entretanto, o PT conseguiu isso por dezesseis anos e iria completar vinte anos no Governo. José Fogaça foi o grande nome que serviu para abrir caminho nessa hora e lá fará uma grande administração.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - V. Exª me permite um aparte?

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Não somente lhe darei um aparte, como quero lhe dizer da alegria por ver aqui V. Exª. Os jornais andaram intrigando. Aliás, rezei muito por V. Exª, para que pudesse vê-lo como o estou vendo agora. Graças a Deus, V. Exª está vendendo saúde, para alegria de todos nós.

Com o maior prazer, concedo-lhe um aparte.

O Sr. Antonio Carlos Magalhães (PFL - BA) - Muito obrigado, Senador Pedro Simon, que é uma das maiores figuras desta Casa. V. Exª está fazendo um grande discurso, dentro das suas teses. É claro que posso discordar de um ponto ou de outro, mas V. Exª está coerente com seu pensamento de muito tempo. Entretanto, eu não poderia deixar de dar uma palavra, quando V. Exª faz um elogio justo ao ex-colega José Fogaça. Realmente, José Fogaça foi das melhores figuras que vi neste Parlamento. Quando fui Presidente da Casa, em todas as missões mais importantes que eu tinha, sempre pedi o conselho dele, obtendo a sua colaboração. Se o seu discurso já era uma peça, como todos que faz, V. Exª ainda faz justiça ao ex-colega, seu conterrâneo, que V. Exª ajudou, sendo a primeira pessoa a dizer, no Parlamento, que José Fogaça seria o Prefeito de Porto Alegre.

O SR. PEDRO SIMON (PMDB - RS) - Senador Antonio Carlos Magalhães, agradeço o aparte de V. Exª.

V. Exª não imagina, mas tocou em um ponto que foi realmente uma das questões abordadas na campanha de José Fogaça. No meio do debate, no momento em que me coube fazer a análise da atuação de José Fogaça nesta Casa, eu disse que, durante dezesseis anos, apelamos a José Fogaça nas horas difíceis para resolver projetos complicados. Na véspera do buraco negro, chamávamos Fogaça, que encontrava uma solução comum a todos os Partidos.

Posso citar o caso de um projeto de minha autoria sobre a questão da não-necessidade de darmos licença aos Parlamentares para processá-los. Atualmente, os Parlamentares podem ser processados sem a necessidade do afastamento da Câmara ou do Senado. Naquela época, havia vários outros projetos. José Fogaça reuniu esses projetos e conseguiu a aprovação do seu projeto. Não aprovou o meu, que previa apenas que não era necessária a licença. O projeto dele estabelecia que não era preciso licença, mas a Casa, se julgasse que estava havendo injustiça, por ser a eleição aberta, poderia decidir trancar o processo. Foi um termo que apenas Fogaça conseguiu encontrar. Eu iria ficar discutindo esse projeto a vida inteira e não conseguiria aprová-lo. Os outros também lutariam por seus projetos, mas nada ocorreria. José Fogaça, com bom senso e com equilíbrio, encontrou a solução.

Quanto à questão das medidas provisórias, sempre houve uma grande confusão. Inclusive, eu disse ao Fogaça que votei contra o projeto dele porque eu era contra as medidas provisórias e queria acabar com elas. Mas ele argumentou que não seria possível fazer isso, porque não passaria, o Governo não deixaria; teríamos que criar uma fórmula. Ele me disse que eu ainda iria agradecer-lhe, porque aquela medida que o Governo estava aprovando correndo geraria uma confusão, de forma que o Governo ou diminuiria as medidas provisórias ou pagaria um preço. É o que está acontecendo. Esse projeto foi do Fogaça, que dizia o que está acontecendo. O Governo do PT, que era o Partido que mais lutava contra as medidas provisórias, o mais radical, está apresentando o dobro do número de medidas provisórias do Governo Fernando Henrique e está pagando um preço agora.

Não adianta o PT dizer à imprensa que é a Oposição que está impedindo o Parlamento de andar. São as medidas provisórias. Quando quiserem a votação do fórum privilegiado para o Presidente do Banco Central, é claro que a Oposição terá o direito de não querer votar.

Encerro, Sr. Presidente, voltando a dizer que sou do antigo MDB, quando da sua criação, daquela época tão difícil e tão heróica, quando vivemos momentos tão bonitos da história deste Brasil, no qual os partidos praticamente não existem, não têm biografia, não têm obra, não têm realização. Desde o descobrimento, passando pela Independência e pela República, pelas leis sociais, tudo que existe neste País se deve a quem quer que seja, mas nada se deve a um partido político, a não ser o restabelecimento da democracia em que o MDB esteve na cabeça.

Esse MDB passou a ser diferente quando morreu Tancredo. Não faço nenhuma injustiça com o Presidente Sarney, que foi um grande homem, é um grande brasileiro - não há dúvida alguma sobre isso. Mas o povo havia escolhido o Tancredo. O homem que ali estava preparado para exercer a Presidência com autoridade, com mão firme, era o Tancredo. O homem que era por dentro do MDB e que podia controlar o Dr. Ulysses, o Teotônio e tudo o mais era o Tancredo.

O MDB foi crescendo, crescendo, crescendo, e liberou, terminou com a ditadura, terminou com o AI-5, terminou com as cassações - veio a anistia, vieram os exilados -, terminou com a tortura. Convocaram a Assembléia Nacional Constituinte. Diga-se de passagem, o Sarney fez tudo o que deveria ser feito; só não podia controlar o MDB, onde era a figura nova, era o cristão novo que tinha chegado.

E ali, Sarney de um lado e Ulysses do outro, começamos a descer e fomos descendo. Isto é o que digo hoje para o PT: “Cuidado, meus irmãos do PT, o maior patrimônio que vocês têm é o patrimônio ético. É o patrimônio ético que vocês têm! É a dignidade, é a seriedade que tiveram. É o Lula vindo de lá, nordestino, cidadão operário que veio, que cresceu, que avançou. Os companheiros de vocês iam para as ruas, com bandeiras, sem receberem nada, dando um terço do salário. Essa é a grandeza que vocês têm!”

Mas o PT pensa que a sua grandeza é ter um Presidente da República, é ter um Presidente do Banco Central, é ter cargos, é ter favores! O MDB pensou assim e foi aí que começou a cair. Foi aí que começou a cair! Dois terços e mais não sei quantos do Governo Sarney eram do MDB. O MDB tinha cargos à vontade, tinha vantagens, mas não tinha bandeira, não tinha o espírito, perdeu a tradição, a garra, o esforço de ir adiante, e depois ainda brigou com o Sarney. Havia um pé do MDB no Governo; o outro, na Oposição. Não era nem Governo nem Oposição! E Dr. Ulysses, um herói, teve o destino triste da sua candidatura.

O MDB foi caindo, caindo, e perdeu o respeito, perdeu a credibilidade da sociedade. Não sei se é MDB ou não, mas, na verdade, é impressionante o número de pessoas de todos os partidos que não estão contentes onde estão. É impressionante o número de pessoas com quem conversamos e que gostariam que a coisa fosse diferente. Fomos nos amarrando, criando circunstâncias e nos complicando. E chegamos a essa situação. No próprio PT, há um grupo grande que está amarrado, chocado, sofrendo.

Por isso, se Deus olhasse, se a nossa gente tivesse um pouco de grandeza, se José Sarney, que já foi Presidente da República e, por quatro anos, Presidente desta Casa, não desse importância para a reeleição - o que é a reeleição para uma pessoa como José Sarney? - e tirasse a dúvida que existe por aí de que uma das coisas que divide o PMDB são Sarney e Renan, e se o Renan parasse com a vaidade de querer ser Presidente do Senado - ele pode ser e pode não ser; eu, nesta Casa, nunca fui nada; nunca fui Presidente de nenhuma Comissão, nunca fui membro da Mesa, nunca fui Líder, nem por isso deixo de ser o cidadão que sou -, se o Senador Renan Calheiros, que já ocupou tantas posições, abrisse mão desse seu sonho e se nosso Presidente do Partido tivesse a grandeza de conduzir...

No Partido, hoje, não temos um Tancredo Neves, não temos um Ulysses Guimarães, não temos um Teotônio Vilela, não temos um Franco Montoro, não temos um Mário Covas, não temos um Miguel Arraes; não temos aquelas grandes figuras que eram o PMDB de que estou falando. Não temos. Não temos Severo Gomes. Não temos. Mas se nós, não tendo essas figuras grandiosas e irradiantes, tivermos a humildade de nos reunir e, com nossa sensibilidade, com a soma de todos nós, com o espírito de querermos fazer nosso conjunto, nossa homogeneidade, podemos seguir essa parcela e podemos desempenhar esse papel. Podemos fazer isso.

Que bom para o Governo Lula se houvesse um partido aqui que, independente de cargo, favores ou vantagens, não quisesse fazer oposição, mas também não fosse um cachorrinho, de votar sim, independente de posição. Cada posição seria uma posição. Que bom para o Brasil se, no meio desses dois lados que estão se bicando, cada um com a sua lógica e a sua razão, tivesse alguém que permeasse isso. E que missão bonita para o PMDB, já que ele perdeu o comando. Cá entre nós, fez o maior número de prefeituras, o maior número de vereadores, mas, na realidade, repito: se formos analisar hoje, é Lula candidato a Presidente e o Governador de São Paulo candidato a Presidente. O resto, vamos ver.

E, se olharmos de certa forma, até vemos que, daqui a pouco, surge um entendimento entre PDT, PPS, etc. e tal, e já se fala até na candidatura de um grande candidato, que é o Senador Jefferson Péres. Quer dizer, as posições estão se forjando, e o PMDB vai ficando numa posição ridícula, para não dizer profundamente infeliz, se não se decidir nessa matéria.

Era isso o que eu faria, levando um abraço aos companheiros do PMDB. Aos que ganharam, aos que perderam, aos que estão contentes, aos que não estão contentes, aos que gostariam de ficar no Governo - porque é bom ser Governo, sempre se tem uma vantagenzinha aqui, alguma coisa lá -, aos que gostam de estar na Oposição - pois também é bom ser Oposição, com independência de falar e fazer. Mas, por amor de Deus, que alguém tenha amor pelo próprio Partido!

Na minha opinião, a primeira tese que devemos levar adiante é procurar os outros partidos. Voltarei a esta tribuna em outra oportunidade. Não tenho nenhuma dúvida. Entrei com o primeiro projeto nesta Casa de gastos públicos de campanha. Quando entrei pela primeira vez, fui bombardeado por todos os lados: “Vocês, Parlamentares, vigaristas, ganham, não fazem nada, pegam dinheiro, e ainda querem fazer campanha com o nosso dinheiro?” Levei muita paulada, mas hoje há um consenso. Hoje, quando o PT fez uma campanha que não deixa nada a desejar à antiga Arena, aos antigos partidos do poder, em que aparece em minha terra, Caxias, por duas vezes, um show de cantores de São Paulo, do Rio de Janeiro, de R$80 mil o show, vemos que só se tivermos gastos públicos de campanha, em que cada um só pode gastar aquilo que tiver, é que teremos o controle das campanhas políticas, porque essa campanha, meu Deus! Essa campanha municipal, meu Deus! Se, daqui a dois anos, para governador, deputado, senador, presidente da República for igual, no mesmo estilo, não sei quais serão as conseqüências. Gasto público de campanha, acho muito importante.

Vejam agora a eleição americana. Que coisa fantástica os debates entre o Bush e o candidato democrata! Houve quatro debates abertos, um de frente para o outro. Não havia Duda de um lado nem de outro. Não tinha nem a legenda do partido. Cada um falava na sua vez. Não havia perguntas. Cada um falava o que queria falar e respondia o que queria responder. Os Estados Unidos todos estavam olhando. De certa forma, se Bush ganhou foi porque o candidato democrata não teve a competência necessária, não teve o galardão de isolar o Bush como um ultra-radical e mostrar uma esperança do que ele faria. Bush tinha uma tese: a luta contra o terrorismo, a religiosidade, contra uma série de fatos. E o nosso querido democrata ficou naquela... Isso foi mostrado onde? No debate entre os dois. Foi o debate de um contra o outro. Não foi o Duda Mendonça do lado de cá e outro do lado de lá. Não houve isso. Os dois falaram uma hora e meia para os Estados Unidos. Lá, o candidato era ele mesmo, era o seu destino. Tinha que falar o que pensava. Como disseram os analistas, o candidato democrata não soube expressar, não soube mostrar o caminho pelo qual queria conduzir o povo americano. Por isso, não ganhou.

Vou ser muito sincero: se o Duda Mendonça tivesse feito a campanha do Partido Democrata, o resultado seria diferente. Duda Mendonça substituiria a timidez, a forma de ser do candidato democrata. Aquela foi uma campanha! Assustei-me ao observar que 65 milhões de americanos votaram nas idéias de Bush. Mas votaram. E votaram querendo, sabendo o que faziam.

Em nossa campanha, vamos debater com tranqüilidade e serenidade. Vamos ter coragem de fazer as reformas políticas. Creio que está na hora de dizer que a fidelidade partidária é uma realidade. Se o político é do partido, é do partido. É verdade que, nos Estados Unidos, não há fidelidade partidária, mas também lá, se o cidadão sai de um partido e vai para outro, ele nunca se reelege. A coisa mais rara nos Estados Unidos é alguém ter mudado de partido, como é a coisa mais rara na Inglaterra, na Alemanha, na Itália. Ali na Argentina, a coisa mais rara é alguém sair do Partido Radical e entrar no Partido Judicialista. Mas, no Brasil, pegou essa convivência fraterna - são todos iguais -, que mudar de partido não representa nada.

Acredito que vamos fazer essas reformas; precisamos fazê-las, e o PT e o seu Presidente têm de colaborar. Uma das coisas graves que vejo nessa campanha, Sr. Presidente, e com a qual não concordo de jeito nenhum, mas que alguns querem começar a bater para a sociedade é quando dizem que o PT não tem projeto de governo - é verdade -, mas tem projeto de poder. É um grande projeto de poder, para ficar. Quando o nosso amigo Serjão dizia isso do PSDB, gritávamos como se fosse um escândalo, mas espero que o PT apresente ainda o seu projeto de governo.

Obrigado pela tolerância, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 09/11/2004 - Página 35625