Pronunciamento de Leonel Pavan em 08/11/2004
Discurso durante a 154ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal
Descaso do governo com os usuários do programa Bolsa Família.
- Autor
- Leonel Pavan (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/SC)
- Nome completo: Leonel Arcangelo Pavan
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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POLITICA SOCIAL.:
- Descaso do governo com os usuários do programa Bolsa Família.
- Publicação
- Publicação no DSF de 09/11/2004 - Página 35632
- Assunto
- Outros > POLITICA SOCIAL.
- Indexação
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- SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), DENUNCIA, IRREGULARIDADE, PROGRAMA, GOVERNO FEDERAL, BOLSA FAMILIA, DESVIO, VERBA.
O SR. LEONEL PAVAN (PSDB - SC. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, volto à tribuna neste momento para continuar a discussão sobre o descaso do atual Governo com os usuários do programa Bolsa Família.
O jornalista Arthur Xexéo, em artigo intitulado “O Brasil de gabinete e o Brasil do ‘Fantástico’”, publicado no jornal O GLOBO de 20 de outubro do corrente, volta à reportagem do “Fantástico” que denunciou as distorções existentes no programa Bolsa Família.
Estas são as palavras do jornalista:
Ficou claro que vivemos em dois países. Um é o país de Lula, aquele em que as questões sociais são resolvidas em gabinetes. Este é o Brasil que Lula conhece. Um Brasil cheio de estatísticas, que se orgulha de seus programas sociais. O outro é o Brasil que o "Fantástico" mostrou. Um Brasil em que basta alguma relação com o prefeito de uma cidadezinha qualquer para ser cadastrado no programa Bolsa Família.
E, além disso, vale a pena recordar:
Logo após tomar posse, o presidente comandou uma caravana da fome que visitou a Vila Irmã Dulce, em Teresina; a Favela Brasília, em Recife; e a miserável Itinga, no Vale do Jequitinhonha. O presidente anunciou que aquela excursão seria apenas a primeira de um série que ele faria com seu gabinete para não deixar de ter sempre contato com a realidade brasileira. Não se tem notícia da segunda caravana da fome, apesar de Lula e seus ministros continuarem viajando. Mas agora eles preferem o circuito Elizabeth Arden - Roma, Paris e Nova York. Cáceres, Pedreiras e Piraquara, nunca mais!”
É isso, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores: parece que hoje em dia as questões sociais são perfeitamente solucionadas nos gabinetes; enquanto isso, as pessoas continuam aguardando que essas soluções cheguem até elas.
Para que conste dos Anais do Senado, requeiro, Sr. Presidente, que o artigo acima citado, e que encaminho em anexo, seja considerado como parte integrante deste pronunciamento.
Era o que eu tinha a dizer.
Obrigado.
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DOCUMENTO A QUE SE REFERE O SR. SENADOR LEONEL PAVAN EM SEU PRONUNCIAMENTO.
(Inserido nos termos do art. 210, inciso I e § 2º, do Regimento Interno.)
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O Globo, 20 de outubro de 2004
O Brasil de Gabinete e o Brasil do “Fantástico”
Arthur Xexéo
Um ministro sem noção, um prefeito teimoso, uma força de pacificação e uma atriz surpreendente. Espectadores assíduos de televisão estão acostumados a ver cenas patéticas. Nos programas vespertinos policiais, nos programas matutinos femininos, nos programas noturnos de variedades, o que não falta são cenas patéticas. Mas poucas vezes a cena foi tão patética quanto a do depoimento do ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, durante a brilhante reportagem do “Fantástico” sobre a displicência do Governo com o cadastramento dos usuários do programa Bolsa Família.
O ministro, sem esconder um leve sorriso nos lábios, dizia que a freqüência à escola -- uma das condições para que famílias pobres ganhem a ajuda financeira do Governo -- iria ser controlada através de cartões com tarjas magnéticas. Seria cômico se não fosse sério. O ministro falando, orgulhoso, de tarjas magnéticas, e a gente ali, paralisado diante das imagens de escolas sem carteiras, sem mesas, sem luz elétrica, sem espaço para mais de uma turma. Como imaginar, por exemplo, uma catraca eletrônica nestes ambientes? O ministro pensa que as escolas brasileiras são parecidas com a rede de cinemas Cinemark.
O depoimento do ministro, assim como toda a reportagem, foi o mais fiel retrato tirado nos últimos tempos da atual administração do país. Ficou claro que vivemos em dois países. Um é o país de Lula, aquele em que as questões sociais são resolvidas em gabinetes. Este é o Brasil que Lula conhece. Um Brasil cheio de estatísticas, que se orgulha de seus programas sociais. O outro é o Brasil que o “Fantástico” mostrou. Um Brasil em que basta alguma relação com o prefeito de uma cidadezinha qualquer para ser cadastrado no programa Bolsa Família. Um Brasil em que a ajuda financeira do governo é usada para encher o tanque de gasolina da motocicleta, enquanto os cartões com tarja magnética dos que realmente precisam mofam nas gavetas das agências da Caixa Econômica Federal. Deste Brasil, Lula parece ter se esquecido.
Mas quando iniciou seu governo, Lula parecia disposto a conhecer e, melhor ainda, apresentar a seus ministros o Brasil que o “Fantástico” mostrou. Logo após tomar posse, o presidente comandou uma caravana da fome que visitou a Vila Irmã Dulce, em Teresina; a Favela Brasília, em Recife; e a miserável Itinga, no Vale do Jequitinhonha. O presidente anunciou que aquela excursão seria apenas a primeira de um série que ele faria com seu gabinete para não deixar de ter sempre contato com a realidade brasileira. Não se tem notícia da segunda caravana da fome, apesar de Lula e seus ministros continuarem viajando. Mas agora eles preferem o circuito Elizabeth Arden -- Roma, Paris e Nova York. Cáceres, Pedreiras e Piraquara, nunca mais!
A reação do governo às denúncias do “Fantástico” também não foi das mais felizes. A Caixa Econômica Federal anunciou um mutirão para entregar as carteiras que por nenhuma razão cabível estão guardadas em suas agências. Agora, me explica, por que não fizeram isso antes?
E enquanto o povo de Cáceres, Pedreiras e Piraquara sofre, o presidente Lula vai a São José dos Pinhais, na periferia de Curitiba, para inaugurar um laboratório inacabado. É parte da campanha para a eleição do candidato do PT à prefeitura de Curitiba. É o Brasil em que obras públicas só ficam prontas nos gabinetes.