Pronunciamento de Ana Júlia Carepa em 10/11/2004
Discurso durante a 156ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Regozijo pela assinatura, dia 8 novembro, dos decretos que criam as reservas extrativistas Riozinho do Anfrísio, , no município de Altamira, no Pará, e Verde para Sempre, em Porto do Moz, no baixo Amazonas.
- Autor
- Ana Júlia Carepa (PT - Partido dos Trabalhadores/PA)
- Nome completo: Ana Júlia de Vasconcelos Carepa
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
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DESENVOLVIMENTO REGIONAL.:
- Regozijo pela assinatura, dia 8 novembro, dos decretos que criam as reservas extrativistas Riozinho do Anfrísio, , no município de Altamira, no Pará, e Verde para Sempre, em Porto do Moz, no baixo Amazonas.
- Publicação
- Publicação no DSF de 11/11/2004 - Página 35916
- Assunto
- Outros > DESENVOLVIMENTO REGIONAL.
- Indexação
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- SAUDAÇÃO, CRIAÇÃO, RESERVA EXTRATIVISTA, ESTADO DO PARA (PA), RECONHECIMENTO, DIREITOS, CULTURA, COMUNIDADE, COMBATE, VIOLENCIA, CONFLITO, TERRAS, FAVORECIMENTO, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, ELOGIO, MOBILIZAÇÃO, POPULAÇÃO, GOVERNO FEDERAL.
A SRª ANA JÚLIA CAREPA (Bloco/PT - PA. Sem apanhamento taquigráfico.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é com grande orgulho que venho saudar a assinatura, dia 8 de novembro, dos decretos que criam as reservas extrativistas Riozinho do Anfrísio, no município de Altamira, sudoeste do Pará, e Verde para Sempre, em Porto do Moz, baixo Amazonas. Esse decreto coroa os esforços que empreendemos para aplacar a violência naquelas regiões do Pará, para reconhecer os direitos legítimos das comunidades ribeirinhas, e para dar-lhes a perspectiva de um futuro claro que se desenha no horizonte. A luta contínua dessas comunidades vai além da demanda por reconhecimento territorial. É a luta pelo reconhecimento de uma cultura, de modos de ver e fazer, que podem e deverão orientar a forma de desenvolvimento que desejamos para a Amazônia - integrando homem, cultura, natureza, desenvolvimento. E esse deverá ser não somente o modelo para a Amazônia: será o modelo a ser seguido pelas civilizações para que, afinal, sejamos autores e protagonistas de um mundo melhor, mais justo, mais humano.
Há décadas essas áreas são dominados pelo medo, pelas ameaças de grileiros e madeireiros que se autodenominam proprietários das terras, e estamos envolvidos na temática há algum tempo. Em dezembro de 2003, por exemplo, estivemos em audiência com o Ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, para entregar denúncias que moradores de Porto de Moz nos encaminharam. Nos últimos dias, a tensão cresceu a tal ponto que houve a necessidade de nos reunirmos novamente - nós que pensamos na problemática de uma maneira ampla e inclusiva - com movimentos sociais e o governo para a resolução do impasse. Fundamental foi a participação dos agricultores, como foi também de capital importância a predisposição do governo para ouvir e solucionar. No diálogo, foi possível chegar ao acordo e ao decreto, que define a maior reserva extrativista do país, com 1,288 milhão de hectares - a “Verde para Sempre”. "Riozinho do Anfrísio", por sua vez, conta com aproximadamente 736 mil hectares, e ambas beneficiarão milhares de famílias.
Entretanto, ainda há caminho a trilhar. Como sabemos todos, décadas de abandono e precariedade não se resolverão por meio de decreto. Mas o reconhecimento legal dessas áreas é uma vitória necessária, primeira, que permitirá avanços nas áreas de educação, saúde, transporte, infra-estrutura básica. A exploração ilegal da madeira, que foi a tônica durante décadas do desenvolvimento irracional da região, deverá agora ser controlada, e um modelo sustentável adotado.
Lembro que o problema da reserva Verde para Sempre poderia ter sido resolvido em 2002. Mas Fernando Henrique Cardoso vetou sua criação, a pedido do então governador do Estado do Pará, Almir Gabriel.
Quero saudar o espírito guerreiro dessas populações ribeirinhas e extrativistas, e a resposta firme e positiva do governo, que assim freia ações ilegais, reconhece direitos populares legítimos e, com isso, anuncia uma forma nova de tratar os conflitos na região. Uma forma que privilegia a justiça e o Estado de Direito, ao acenar a criminosos que sua ação não encontra respaldo nessa Administração Federal.
Nem armas, nem o poder econômico astuto vencerão. É chegado o momento daqueles a quem realmente se deve dar a proteção do Estado: essas populações esquecidas, tão ricas nas suas trajetórias e contribuições. Quem está de parabéns é o Brasil.