Discurso durante a 157ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Visita oficial do Presidente da República Popular da China ao Brasil.

Autor
Antonio Carlos Valadares (PSB - Partido Socialista Brasileiro/SE)
Nome completo: Antonio Carlos Valadares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA. COMERCIO EXTERIOR.:
  • Visita oficial do Presidente da República Popular da China ao Brasil.
Publicação
Publicação no DSF de 12/11/2004 - Página 36117
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA. COMERCIO EXTERIOR.
Indexação
  • IMPORTANCIA, VISITA, PRESIDENTE DE REPUBLICA ESTRANGEIRA, CHINA, CONSOLIDAÇÃO, PRESENÇA, BRASIL, POLITICA INTERNACIONAL, OPORTUNIDADE, CRESCIMENTO, COMERCIO EXTERIOR, INCLUSÃO, PRODUTO INDUSTRIALIZADO.
  • ANALISE, EXPECTATIVA, ESTUDO, ACORDO, BRASIL, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, IMPEDIMENTO, CONCORRENCIA DESLEAL, PREVENÇÃO, PENDENCIA, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMERCIO (OMC), REGISTRO, DADOS, EXPORTAÇÃO, COMPANHIA VALE DO RIO DOCE (CVRD), EMPRESA BRASILEIRA DE AERONAUTICA (EMBRAER).
  • COMENTARIO, DADOS, CRESCIMENTO ECONOMICO, REDUÇÃO, DESIGUALDADE SOCIAL, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA.

O SR. ANTONIO CARLOS VALADARES (PSB - SE. Pela Liderança do PSB. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Senado Federal e todo o Governo brasileiro recebem a visita oficial do Presidente da China. Trata-se de um momento importante para a consolidação do espaço político internacional do Brasil, especialmente nessa época de unilateralismo.

Mas, Sr. Presidente, o que eu gostaria de abordar dessa visita não é a política internacional brasileira, que está dando lição de austeridade, independência, racionalidade e equilíbrio. Gostaria de falar da oportunidade econômica para o Brasil em manter relações comerciais com a China.

É que a estratégia e os esforços para reduzir obstáculos específicos às exportações brasileiras que existem nos mercados europeu e americano, por um certo ângulo, é afetada pela concorrência de outros produtores, como a China. Daí que num primeiro momento os protocolos de intenção e acordos internacionais que serão firmados entre o Brasil e a China poderiam também abarcar estudos que impeçam a concorrência desleal às exportações desses países. Estaríamos evitando, quem sabe, num futuro, pendências na organização Mundial do Comércio com um parceiro importante como a China.

Para se ter uma idéia da relevância de se proceder a estudos que conciliem o comércio internacional do Brasil e da China, dados publicados no primeiro semestre deste ano apontam que a China se manteve no primeiro lugar entre os países mais processados no âmbito da OMC por práticas consideradas anticompetitivas.

Entretanto, a grandeza da China para a economia brasileira não pode ser subestimada. O Presidente Lula, em maio de 2001, publicou um artigo que foi veiculado em diversos jornais, relatando sua viagem oficial à China, quando ainda era somente Presidente do Partido dos Trabalhadores. Estava ele a convite do Governo chinês e naquela época escreveu que:

A China é um gigante que está dormindo. Deixem-no dormir, pois quando acordar ele irá sacudir o mundo. Foi Napoleão Bonaparte quem disse isso. Se estivesse vivo hoje, tenho certeza de que ele diria que o gigante já acordou.

A China, como o Brasil, é um país continental. Uma das diferenças básicas é que o gigante asiático tem 1,3 bilhão de habitantes, cerca de 23% da população mundial, mas apenas 7% das terras agricultáveis do planeta. (...) O Produto Interno Bruto é de 1,1 trilhão de dólares e deve crescer 8% este ano. Na verdade, a China detém as maiores taxas de crescimento do mundo nas últimas duas décadas. Isso com a renda per capita crescendo 6% ao ano, o que significa que o país, além de crescer em ritmo invejável, tem diminuído significativamente a desigualdade social.

O Banco Mundial divulgou recentemente um relatório afirmando que, consideradas as estatísticas internacionais como um todo, a China foi, nos últimos anos, o principal país responsável pela diminuição da pobreza no mundo. Descontados os chineses, a pobreza teria crescido.

A principal razão para esse contraste é que a China está se modernizando e se integrando à globalização, mas busca fazê-lo de modo autônomo e soberano. (...)

A diferença entre a participação da China e a do Brasil na globalização salta aos olhos. Nosso País não tem praticamente autonomia nenhuma, o desenvolvimento econômico vem sendo sistematicamente sacrificado e a desigualdade social é crescente. Enquanto isso, as determinações do FMI continuam sendo seguidas à risca pelo governo brasileiro.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, apesar de passados três anos, os dados relatados pelo Presidente Lula são atuais. Se é verdade que “as determinações do FMI continuam sendo seguidas à risca pelo governo brasileiro”, sem dúvida alguma, passos importantes para nossa autonomia estão sendo dados; e hoje já colhemos alguns frutos da mudança de rota adotada pelo Governo do Presidente Lula. É que, como todos sabem, as exportações brasileiras são condições essenciais para que o Brasil não precise buscar empréstimos no FMI e possa crescer economicamente.

Com o forte crescimento do comércio bilateral entre Brasil e China, não são poucas as empresas brasileiras que descobriram o poder do país. O mercado consumidor chinês tem forte potencial, mas é preciso saber “conquistar” os chineses. O consultor Wladimir Pomar afirma que “é possível fazer negócios em escalas inimagináveis com os chineses, mas eles são duros na negociação. É preciso, antes de tudo, conquistar a confiança deles”.

Foi assim que duas grandes exportadoras brasileiras, a Vale do Rio Doce e a Embraer, conseguiram abrir portas no mercado chinês. Em 2000, a Embraer fez sua primeira incursão em território chinês, vendendo aeronaves a empresas locais. Depois de dois anos e cinco aviões entregues, foi firmada a joint venture com a Avic II na montadora de aeronaves da qual a Embraer tem 51% de participação acionária.

Com a Vale, o período de convencimento foi bem mais longo. A mineradora desembarcou no país em 1978 e só recentemente a Vale e os chineses têm uma sólida relação, que inclui joint ventures e longos contratos de fornecimento de minério.

Uma das grandes dificuldades para que haja mais negócios entre o Brasil e a China é a falta de conhecimento dos potenciais pelo mercado brasileiro e chinês.

O desafio não é apenas aumentar as exportações, mas sim aumentar as exportações não apenas de produtos primários, isto é, agregar valor, diversificar a pauta, conquistar novos mercados. É isso que gera renda e trabalho ao povo brasileiro!

É que as exportações brasileiras de produtos primários estão sujeitas à crescente competição de terceiros países, às flutuações de preços devidas a fenômenos climáticos, à concorrência de novos substitutos nos mercados desenvolvidos.

Na realidade, há fatores ainda mais importantes, como o protecionismo de países desenvolvidos, lembrado apenas quando se refere à agricultura ou quando ele se torna gritante; as políticas de subsídio direto ou indireto à produção e à exportação.

A oportunidade está lançada. O Brasil está diante de uma oportunidade que não deverá deixar passar. Nossos empresários precisam aproveitar o espaço criado pelo Governo brasileiro para entrar em um mercado promissor, como é o caso do mercado chinês, e o Governo brasileiro deverá fazer com que a política comercial externa viabilize crescimento econômico e melhoria para a população.

Somente a diversificação industrial e a agregação de valor aos produtos, assim como novas estratégias em capital estrangeiro, permitirão, eventualmente, avanços significativos nos mercados dos países altamente desenvolvidos.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/11/2004 - Página 36117