O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, aproveito a oportunidade para ocupar a tribuna nesta sexta-feira, com o plenário quase vazio, mas num dia auspicioso para esta Casa. É que vamos receber, dentro de algumas horas, o Presidente da China, que veio ao Brasil estreitar relações, não só culturais, mas também relações de natureza econômica e financeira. Aponta para os brasileiros com um volume de recursos talvez nunca visto num país do Oriente, como é a China, que pode propiciar ao nosso País a oportunidade de negociarmos, num comércio sólido, tudo o que temos e que não temos para quem vender, por exemplo, o excedente de aço, soja. Eles se propõem, com a aprovação do projeto das PPAs, a empregar mais de US$5 bilhões em ferrovias em nosso País.

Aproveito este instante para lembrar - claro que o Governo brasileiro vai fazer uma lista de necessidades ou de interesses dos empresários brasileiros - do que devemos fazer, aproveitando a visita do Presidente da China. Tenho certeza de que lá serão incluídos portos, ferrovias. No comércio de frangos, eles exigem sanidade, e nós podemos fazer isso, porque temos capacidade técnica para colocar frango e carne de qualidade no mercado da China; temos estrutura científica e tecnológica para isso. Enfim, abrem-se oportunidades com a presença do Presidente da China no Brasil, que receberemos daqui um pouco, sob o comando do nosso Presidente Sarney. Na qualidade de Presidente da Frente Parlamentar Brasil-China no Senado, sinto que é uma oportunidade única para o nosso País e para o meu Estado, o Piauí.

Por isso aproveito, aqui com a presença do nosso ex-Governador, Senador Mão Santa, para dizer que temos uma reivindicação que podemos e devemos colocar na lista das reivindicações brasileiras, com a presença do capital chinês no Brasil, através das PPAs: que se inclua a ligação ferroviária Teresina-Parnaíba-Luís Correia, uma ferrovia que tem história e que promoveu o desenvolvimento das cidades piauienses, principalmente a nossa cidade natal, Parnaíba, onde fui prefeito por duas vezes, à época em que era próspera e que havia trens, locomotivas, emprego, trabalho, desenvolvimento. Que volte essa época de desenvolvimento.

Aproveito para trazer notícias auspiciosas. Não é só o cerrado piauiense que pode promover o desenvolvimento do Piauí com o plantio de soja e agora também de algodão. Experimentaram plantar soja no norte piauiense, e alguns argentinos já estão lá com 5 mil hectares, nos Municípios de Piracuruca, Piripiri e Joaquim Pires. Tive a informação de que lá se pode colher 3 toneladas de soja por hectare, o que não se consegue no cerrado, e não se precisa de tanto calcário quanto no cerrado. O norte do Piauí tem a maior rede de estradas entre as diferentes cidades. O rio Parnaíba é perene e o Longá pode ser perenizado, o que já está sendo feito, com a construção de barragens. Temos aí 2 ou 3 milhões de hectares próprios para essa cultura.

Falei com o Embaixador da China que vamos apresentar uma proposta. A China assinou o Tratado de Kyoto e quer também ajudar a despoluir este ar que os habitantes do planeta Terra estão respirando e que estão com medo que acabe, porque o CO₂ pode tomar o lugar do oxigênio na atmosfera. Para isso, eles querem álcool etílico, e nós podemos ter. Temos uma fábrica em Teresina - pequena, é claro -, que agora produz açúcar. Mas se aproveitarmos os rios e a terra que temos, quem sabe, poderemos produzir um bilhão de litros de etanol, de álcool etílico, entre Teresina e Parnaíba, naqueles Municípios que V. Exª tão bem conhece e onde se pode produzir a riqueza do Piauí, sem dependermos imediatamente do Sul.

Sempre tive o receio de que, com aquela multinacional que existe lá, estimulando o desenvolvimento do cerrado piauiense, se queira criar o Estado do Gurguéia. Há muita gente desejando isso, que aconteça como aconteceu com Goiás, com a criação do Estado do Tocantins. E se acontecer, as pessoas que não têm trabalho na capital e nas cidades do norte correrão todas para o novo Estado. E o que ficaria em Teresina? O Palácio do Karnak, o Tribunal de Justiça e a Assembléia Legislativa. Os jovens, os professores, a universidade e aquelas empresas se transportariam para o novo Estado. Que seja, que aconteça, isso é bom para o Brasil. E para o Piauí, será bom? Creio que não. O Piauí deve continuar unido porque tem um rio que liga o sul ao norte.

Quando fiz a estrada, ligando Luís Correia até Corrente, integrei o sul do Piauí com o norte e com a capital. Essa estrada foi denominada o grande Y e recebeu outras denominações. Mas o que deve nos unir é o rio Parnaíba, que nasce nos últimos contrafortes da serra das Mangabeiras, de onde desce e une o Piauí ao Maranhão. Ele não separa, é o limite. Ele é o rio de nossa esperança, todo assoreado e não navegado.

Que as PPAs tragam o capital chinês também para transformar essa via líquida no grande fator de desenvolvimento do Piauí; quem tragam a soja do cerrado para Teresina, industrializando-a e levando-a para o porto de Luís Correia. Assim realmente aproveitaremos a presença do Presidente da China no Brasil para o País como um todo.

Que as estradas de ferro sejam feitas, que os minérios sejam aproveitados, que os portos brasileiros sejam atualizados. Mas que o nosso Piauí receba uma fatia do desenvolvimento promissor que estamos enxergando e que, com a ferrovia Teresina-Parnaíba-Luís Correia e com a abertura do porto, receba grandes investimentos de exportação de álcool e importação de bens e serviços.

Concedo o aparte ao nobre Senador Mão Santa.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Senador Alberto Silva, primeiro, gostaria de dizer que ainda estamos comemorando o aniversário de V. Exª nos dias 10, 11 e 12 de novembro.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Muito obrigado.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Eventos como esse são grandiosos. Consideramos V. Exª, com inteligência privilegiada, uma benção ao Senado e ao Piauí. Conheço-o e o apóio desde 1948, quando foi eleito e foi o melhor Prefeito da cidade de Parnaíba. Contento-me em ser o segundo. Além de homem empreendedor e realizador, V. Exª tem uma marca muito importante que o Piauí reconhece, a qual o Brasil deve agradecer. Esse negócio de biodiesel, Senador Luiz Otávio, foi Alberto Silva quem começou. Foi ele, somente ele, buscando apoio na Universidade do Ceará.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Exato.

O Sr. Mão Santa (PMDB - PI) - Depois, na Universidade da Bahia. E está aí o uso da mamona como um dos avanços da humanidade. Mas quero apenas lembrar a ferrovia, pois sou testemunha de que o V. Exª foi o melhor diretor. Penso que V. Exª devia ser era Ministro. O PMDB errou quando não o apontou para ser um Ministro, porque a Pasta estaria bem representada. Mas quero lembrar o porto, uma vez que V. Exª é o Presidente da Comissão Brasil-China. Deveríamos ser mais nacionalistas. Sei e reconheço o valor do Presidente Lula neste intercâmbio, mas também temos que buscar aqueles homens nacionalistas como João Goulart, que, antes dele, foi um artífice dessa ligação. Quando o Presidente Jânio renunciou, ele estava na China. Então, que exista aqui esse espírito de nacionalismo de Getúlio, de João Goulart, de Brizola, de Juscelino, que V. Exª também representa. Para que haja esse nacionalismo, de início, busquemos a conclusão do porto de Luís Correia. V. Exª conhece o histórico do porto; faltam apenas 10% para a sua conclusão. Creio que essa é a hora de fazer esse encaminhamento e unir o Piauí, o Brasil e o Presidente da República, que deve ser agradecido ao Piauí e viabilizar o nosso povo.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Agradeço a V. Exª as palavras elogiosas. Referente a meu aniversário, que V. Exª propõe três dias, seria mais interessante darmos sete dias. Agradeço. Gostaria também de dizer que o PMDB nesta Casa mantém a solidariedade de apoiar o Governo para que possa governar. Assim, podemos e devemos, na presença aqui de nosso Líder Aloizio Mercadante, pedir seu apoio no sentido de que, na lista que o Presidente seguramente fará aos empresários chineses, figure a recuperação da estrada-de-ferro Teresina até Luís Correia, além do investimento no porto, que pode se transformar, por exemplo, num porto de transação comercial de grãos, de granéis líquidos como o petróleo, ou derivados como o óleo diesel, a gasolina, e exportemos álcool e biodiesel.

Quero aproveitar, Senador Mão Santa, para agradecer-lhe a referência ao biodiesel, sobre o qual tenho uma notícia altamente alvissareira para nosso Estado. Como diz V. Exª, há 30 anos, fizemos biodiesel, quando eu era o Presidente da Empresa Brasileira de Transportes Urbano (EBTU), por recomendação do Presidente Geisel à época. Fizemos o biodiesel na Universidade Federal do Ceará, e a EBTU empregou US$1milhão em pesquisas naquela época e daí surgiu o biodieseI. Depois, isso foi patenteado, foi considerado de segurança nacional, e há cinco anos consegui reaver aqueles projetos, convocar os técnicos da universidade e dizer: “Vamos voltar o biodiesel à lista das conquistas brasileiras”. Começamos nessa época e agora temos uma usina de biodiesel em Teresina para servir de exemplo ao Brasil.

Mas gostaria de dizer, Senador Mão Santa, Senador Mercadante, que quando pude recuperar a idéia do biodiesel estava olhando para o homem do campo, porque mamona nasce em todo lugar, inclusive no semi-árido.

(O Sr. Presidente faz soar a companhia)

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Termino já, Sr. Presidente. Obrigado pela tolerância.

Quero apenas dizer que agora temos o apoio do Sebrae. Aquela proposta de fazer uma sociedade rural que, com apenas três hectares, gere ao produtor um salário de até R$800,00 por mês foi apoiada pelo Sebrae Nacional. Vamos fazer a primeira experiência em São Raimundo Nonato, com 1.700 lavradores, depois em Teresina, com 500, depois em Parnaíba, com mais 500.

Se me permite o Sr. Presidente, vejo que o Senador Aloizio Mercadante pede um aparte e com muito prazer ouço a palavra do grande Líder do Partido do Presidente Lula.

O Sr. Aloizio Mercadante (Bloco/PT - SP) - Senador Alberto Silva, associo-me às manifestações do Senador Mão Santa e ao seu pronunciamento, fazendo três menções indispensáveis. Primeiro, ressalto o privilégio desta Casa de contar com a experiência de vida, com a sabedoria, com a trajetória política de V. Exª, que fez 86 anos. V. Exª é o nosso patriarca e um exemplo de presença, de dedicação à vida pública, de energia, de vitalidade, de iniciativa; um exemplo e uma referência para todos nós. Em segundo lugar, felicito-o na condição, também, de Presidente da Frente Parlamentar Brasil-China. V. Exª esteve à frente de todo o esforço para a sessão solene que teremos hoje, ajudando a construir esse espaço, a aproximar os povos dessas duas grandes nações, do ponto de vista econômico, comercial, científico, tecnológico e cultural. V. Exª tem se dedicado muito a esse tema, com resultados muito importantes para o nosso País. Em terceiro lugar, quero saudá-lo com muito entusiasmo, porque V. Exª, de fato, como disse o Senador Mão Santa, foi o primeiro que nesta Casa - e talvez neste País - deu ênfase ao tema do biodiesel. V. Exª tem uma vivência muito grande, abrangente e inovadora na área do transporte público. Gostaria inclusive que o Governo o ouvisse mais do que tem ouvido. Na questão do biodiesel, da experiência do óleo de mamona, V. Exª me falou desde o início da legislatura sobre o assunto, trouxe o projeto, mostrou a experiência e, recentemente, tanto no Salão do Automóvel quanto em vários outros momentos, inclusive na posse da Fiesp, em São Paulo, o Presidente Lula tem colocado a questão do biodiesel como uma das grandes prioridades do Brasil. Já temos automóvel, utilizando o biodiesel, com mais de cem mil quilômetros percorridos, com êxito. Tivemos também, na Fórmula I, caminhão de biodiesel circulando lá, inaugurando essa experiência. E isso vai abrir uma perspectiva muito grande para o semi-árido. Então, hoje, uma parte da soja está chegando ao Piauí e será uma experiência muito importante para a pequena agricultura familiar. Estamos juntando uma nova fonte de energia, numa crise que vivemos do petróleo, que gera emprego, que é renovável e que chega às regiões mais sofridas deste País. E, seguramente, V. Exª tem um papel decisivo na atenção que o Governo está dando a isso, na dedicação que o Presidente Lula vem dando, porque para ele esse tem sido um dos projetos prioritários. Quero parabenizá-lo também por essa contribuição inestimável ao nosso País.

O SR. ALBERTO SILVA (PMDB - PI) - Muito obrigado, Senador Aloizio Mercadante. V. Exª marca a sua presença como o grande Líder do Governo Lula. E transmita ao Presidente que pode contar conosco. Até diria que ele me use mais, pois estou à disposição do governo dele. Por que não? Com a presença e a ajuda de V. Exª, que é Líder do Governo Lula nesta Casa, quem sabe todos nos juntemos e façamos desse projeto uma das fontes de geração de renda, de riqueza e de emprego.

            Obrigado pelas palavras generosas. Obrigado ao Presidente pela tolerância. Muito obrigado ao Brasil por estar me ouvindo.