Discurso durante a 159ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à matéria publicada pela revista Época sobre a possibilidade de reeleição do Presidente Lula. (como Líder)

Autor
Arthur Virgílio (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/AM)
Nome completo: Arthur Virgílio do Carmo Ribeiro Neto
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • Críticas à matéria publicada pela revista Época sobre a possibilidade de reeleição do Presidente Lula. (como Líder)
Publicação
Publicação no DSF de 17/11/2004 - Página 36498
Assunto
Outros > ELEIÇÕES. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CONTESTAÇÃO, DECLARAÇÃO, DIRETOR PRESIDENTE, INSTITUIÇÃO DE PESQUISA, ENTREVISTA, PERIODICO, EPOCA, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), PREVISÃO, REELEIÇÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA.
  • CRITICA, CONDUTA, GOVERNO FEDERAL, TENTATIVA, MANIPULAÇÃO, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DO MOVIMENTO DEMOCRATICO BRASILEIRO (PMDB), CONGRESSO NACIONAL, OPINIÃO PUBLICA.
  • PROMESSA, APRESENTAÇÃO, REQUERIMENTO, COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUERITO (CPI), AUTORIA, ORADOR, INVESTIGAÇÃO, INSTITUIÇÃO DE PESQUISA.

O SR. ARTHUR VIRGÍLIO (PSDB - AM. Como Líder. Com revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, eu estava de licença, acompanhando minha mãe, que teve um momento muito delicado de sua vida de quase nonagenária, e por isso parece que se trata de matéria vencida. Por outro lado, a revista Época da semana retrasada traz uma de entrevista com o sociólogo Marcos Coimbra, que é Diretor Presidente do Instituto Vox Populi, figura com quem sempre tive boa relação pessoal, e, ademais, inteligente, culto. Por isso mesmo, o estranhamento é maior quando ele diz, Senador Mão Santa, que Lula é imbatível para 2006. Aliás, o grave é que ele dissera que Lula era imbatível para 2006, em 2002, tão logo se haviam fechado as urnas da eleição passada. Ou seja, segundo o sociólogo, eu depreendo, se Lula nomeasse para Presidente da Comissão de Ética Federal o Sr. Waldomiro Diniz, ele ainda assim iria se eleger, porque a Cassandra diz que sim, a bola de cristal prevê que sim. Nada poderia turvar esse resultado. Isso é uma temeridade. Revelaria, estupidez política, e nela não creio; revelaria, por outro lado, má-fé, e nesta eu não gostaria de acreditar.

Mas leio alguns trechos do que diz o Sr. Marcos Coimbra: “A eleição municipal não vai influenciar os rumos da disputa presidencial em 2006”. Está convencido ele de que o resultado do pleito, em São Paulo, não tem o peso que os políticos lhe atribuem, e afirma que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva é quase imbatível à reeleição.

Talvez, então, se tivesse vencido em São Paulo a Srª Suplicy, talvez aí o sociólogo achasse que Lula corresse algum perigo. Como perdeu, ele deve achar que as vias são travessas.

Então, ele justifica que o PT jamais ganhou algo sozinho em São Paulo e diz que o Presidente Lula é o favorito para 2006, que a vitória na primeira eleição dá impulso para a segunda, como se o povo não tivesse a menor capacidade analítica.

E diz mais: “O que se vê agora é um grande favoritismo de Lula. As motivações são diferentes, mas o resultado é o mesmo”. Mais adiante: “A se confirmar o favoritismo, só disputa com ele quem for obrigado”. Ou seja, pode-se ser condenado por estupro, pode-se ser condenado por roubo, pode-se ser preso como o foi recentemente o Prefeito de Macapá, e uma das penas que deveria constar do Código Penal Brasileiro, segundo o sociólogo Marcos Coimbra, deveria ser enfrentar o Presidente Lula. Ou seja, só vai disputar a Presidência da República quem for obrigado. É muita vontade de prestar serviços.

Aí ele diz:

Quem não tiver de concorrer agradecerá, para não ter de contabilizar uma possível derrota no currículo. Quem hoje não tem opção é, fundamentalmente, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin: ele não pode mais concorrer à reeleição.

E diz que o Governador tem uma eleição muito difícil diante do Senador Suplicy. Quer dizer, ele condena o Governador Geraldo Alckmin, que venceu tantas eleições na vida, à derrota para o Senado Federal e para a Presidência da República. Estou desconhecendo meu patrício Marcos Coimbra, do Vox Populi.

Eu queria trazer à Casa um certo estranhamento e, a propósito, estou pensando em propor uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar esse instituto de pesquisa, até porque o Vox Populi em meu Estado previu na véspera do pleito uma vitória do candidato Amazonino Mendes contra o candidato do PSB, Sr. Serafim Corrêa, candidato com o qual não tenho a menor afinidade pessoal nem política, portanto fico muito à vontade para falar. O Vox Populi previu que o Sr. Amazonino Mendes venceria por 11 pontos, e na verdade o Sr. Amazonino Mendes perdeu por três pontos, mais ou menos, foram dois pontos e alguma coisa. Ou seja, com toda essa autoridade de quem falha em pesquisas na véspera das eleições, o Sr. Marcos Coimbra ignora, por exemplo, os seguintes dados que acabo de ver arrolados aqui, pela minha assessoria:

O Presidente da Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, João Pinaud, pede demissão, alegando frouxura do Governo para tratar da questão da anistia.

Derrotas eleitorais. Onde o PT governava, Senador Luis Otávio, ele foi derrotado; na terra de V. Exª, Belém, em São Paulo, em Porto Alegre e em Goiânia.

Essa crise Lessa e BNDES me dão três hipóteses, Sr. Presidente, para sobre elas arrazoar: ou cai Lessa, ou cai Palocci/ Furlan - coisa que eu não desejaria -, ou a gente conclui que não tem governo neste País. O que não pode é continuar essa mazorca.

A crise parlamentar. É visível que o Governo não tem capacidade de votar nada aqui por conta própria. Nada. Há uma crise parlamentar que tem efeitos sobre a governabilidade? Evidente.

Crise no PMDB. O Governo está inconformado com o fato de que o PMDB, de maneira inteligente, resolve procurar o seu caminho. Seu caminho de independência, seu caminho de partido que tem obrigação de buscar o poder; e o simples fato de anuncia independência já choca um Governo que gosta de ver os partidos submissos, cabisbaixos, ajoelhados, agachados e dependentes.

Imposto de renda. O Governo fala em reconquistar a classe média e continua amesquinhando os rendimentos da classe média, não reajustando a tabela de imposto de renda.

Medidas provisórias. O Governo legisla de maneira voraz, Senador Mozarildo, entope a pauta da Câmara e a pauta do Senado e as medidas provisórias do Presidente Lula obstrui mais a pauta do que o PMDB inconformado ou do que a obstinação da Oposição de PFL/PSDB.

Fala em reconquistar a classe média. Quem quer reconquistar alguma coisa é porque perdeu. Se perdeu é porque não ganhou eleição; e se não ganhou a eleição é porque está sem povo; se está sem povo, como é que o Sr. Marcos Coimbra diz que o Senhor Presidente Lula é imbatível?

Quero um pouco de respeito à inteligência dos brasileiros! Não me conformo mais com essa manipulação, que espero que não tenha nada de subalterno nela, porque conheço o Sr. Marcos Coimbra, sei que é um homem preparado intelectualmente. Isso aqui é próprio ou de um beócio político ou de alguém que tem algum interesse escuso a defender.

Então, a marca do Governo Lula seria o social. Fracassa o bolsa-família, fracassa o fome-zero, fracassa o Governo Lula no plano social. Essa é uma verdade que qualquer pessoa de bom senso, dentro ou fora do Governo, haverá de reconhecer.

Votação na Câmara. O ritmo tartaruga mostra que em função, inclusive, de termos hoje vinte e cinco medidas provisórias encalhadas na pauta da Câmara, além dos projetos importantes, como biossegurança, Lei de Falências, agências reguladoras, isso tudo está inibindo a entrada de investimentos estrangeiros diretos no Brasil. Ou seja, sem isso não se pode pensar em sustentar o crescimento econômico.

Congresso Nacional. Temos uma crise séria no Orçamento. O Senador Sérgio Guerra trouxe-me há pouco uma posição sem a qual não facilitaremos a votação de coisa alguma hoje já, em solidariedade à posição que trouxe o Senador Sérgio Guerra e em solidariedade ao Senado, que estaria sendo desprestigiado nessas tratativas sobre o Orçamento.

Senado Federal. Aqui as coisas têm andado, e têm andado única e exclusivamente pela boa vontade da Oposição. Esse é um fato. A boa vontade da oposição, a compreensão da Oposição tem facilitado a aprovação de projetos de interesse do Governo e de interesse da Nação. Sempre que de interesse da Nação, pode até não ser de interesse do Governo, a Oposição tem votado a favor. Evidentemente que aqui no Senado está constatado que o Governo não tem autonomia para andar com as próprias pernas, depende das nossas pernas, dos nossos cérebros e dos nossos corações para permitirmos ou não o andamento das votações. E falam em mar de rosas.

Vaias. O Presidente Lula - já concluo, Sr. Presidente - tem sido vaiado por onde anda. Falam da tal popularidade dele, enfim uma política externa inconseqüente, falida no social, uma política econômica excessivamente conservadora no macro, inexistente no micro; o Presidente é vaiado nas ruas e me aparece um estatístico e diz assim: “Lula é imbatível para 2006”.

Sinceramente? Estou, Sr. Presidente, redigindo um requerimento pedindo uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigarmos a fundo, por dentro, nas entranhas, na contabilidade, por dentro, esse instituto de pesquisa, porque conheço o Sr. Marcos Coimbra. Se não o conhecesse, eu diria que é um beócio; se não o conhecesse, eu diria que se trata de um pobre coitado, um ignorante que não tem a menor noção do que seja a política nacional. Como não é, trata-se de uma figura de sofisticada formação intelectual, de enorme competência como estatístico, de enorme compreensão como sociólogo, até se distingue de outros pesquisadores, porque eu diria que é mais culto do que os demais, leu mais que os outros, tem uma formação acadêmica mais sólida do que a dos demais, estranho muito, estranho muito.

Então, haja o que houver, Sr. Presidente, - e concluo - nada muda. Se o Presidente Lula resolver nomear, agora, para Ministro da Justiça o Sr. Waldomiro, vai ganhar a eleição em 2006, porque o Marcos Coimbra quer. Se resolver colocar o Lessa como Ministro da Fazenda, vai ganhar, porque quem quer é o Marcos Coimbra. Se resolver pura e simplesmente desativar o Ministério do Planejamento, não muda nada, vai ganhar o Lula, porque o Marcos Coimbra quer.

Ou seja, quem vai decidir a urna de 2006 é o povo; o mais é prestar serviços. E se o serviço é gratuito, é dispensado; se é pago, é o que temos que ver numa comissão parlamentar de inquérito que tem que ser composta para acabar com esse desrespeito ao povo brasileiro e com esse jogo que prejudica candidatos ao longo da eleição e, ao final das contas, termina desinformando ou tentando desinformar o povo brasileiro, Sr. Presidente.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 17/11/2004 - Página 36498