Discurso durante a 160ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Cobranças de ações do governo do PT.

Autor
César Borges (PFL - Partido da Frente Liberal/BA)
Nome completo: César Augusto Rabello Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.:
  • Cobranças de ações do governo do PT.
Aparteantes
Heráclito Fortes.
Publicação
Publicação no DSF de 18/11/2004 - Página 36667
Assunto
Outros > GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO. POLITICA PARTIDARIA.
Indexação
  • COMENTARIO, FRUSTRAÇÃO, POPULAÇÃO, DESCUMPRIMENTO, GOVERNO FEDERAL, DIVERSIDADE, PROMESSA, CAMPANHA ELEITORAL, MELHORIA, SITUAÇÃO, PAIS.
  • CRITICA, INCOMPETENCIA, ATUAÇÃO, GOVERNO FEDERAL, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, POLITICA FISCAL, POLITICA SALARIAL, POLITICA DE EMPREGO, POLITICA DE TRANSPORTES.
  • QUESTIONAMENTO, INCOERENCIA, POSIÇÃO, CONDUTA, PARTIDO POLITICO, PARTIDO DOS TRABALHADORES (PT).
  • NECESSIDADE, GOVERNO FEDERAL, PROVIDENCIA, RETOMADA, CRESCIMENTO ECONOMICO, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, PAIS.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é uma honra participar desta sessão presidida pela Senadora Heloísa Helena, que, ao longo do seu mandato, tem demonstrado tanta garra e determinação na defesa dos interesses do Brasil e do povo brasileiro.

Srªs e Srs. Senadores, raras vezes a nossa história registrou uma mudança de governo cercada de tanta expectativa quanto a que ocorreu no ano passado, com a posse do Presidente Luís Inácio Lula da Silva. A expectativa era muito grande quanto às mudanças prometidas no período eleitoral.

Prometeu-se muito: mais empregos, melhores salários, juros menores, redução da carga tributária, ampla reforma agrária, mais investimentos em saúde, em segurança, em educação e tantas outras promessas que seduziram naquele momento, nas eleições de 2002, o eleitor brasileiro. Seria, como foi dito durante a campanha eleitoral, uma “vitória da esperança contra o medo”. Tínhamos que vencer o medo de uma mudança - uma mudança que se temia radical. Era preciso ter esperança de que essa mudança seria para melhorar, e muito, o nosso País.

Entretanto, Srªs e Srs. Senadores, infelizmente, o que se viu foi uma vitória das bravatas de um Governo que vai, a cada dia, se tornando mais autoritário por conta de suas posições - cito, a propósito, a tentativa até de cercear a imprensa com a proposta de criação de um conselho federal de jornalismo.

A incompetência é flagrante, a desilusão é muito grande, e até determinados membros do próprio PT o criticam. Aqui, a Presidente Heloísa Helena é a melhor prova da decepção com este Governo, mas não só ela, pois até membros do Governo, pessoas que participavam da máquina federal, começam a se afastar - recentemente foi o Secretário Executivo do Ministério da Saúde, e agora também houve uma baixa na Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Há críticas dentro do próprio Partido dos Trabalhadores: os economistas se reuniram e publicaram um artigo contra a política macroeconômica adotada, que é claramente neoliberal; é a continuidade da política do Governo anterior mais aprofundada, com mais ou melhor aplicação se a compararmos àquilo que praticava o Governo anterior.

Passados praticamente dois anos - falta um mês e pouco para a comemoração dos dois anos de governo -, parece estar o Governo Federal muito mais preocupado em cumprir os compromissos fixados com o FMI, o Fundo Monetário Internacional, do que cumprir as promessas que fez para conquistar o voto, a confiança e a esperança do povo brasileiro.

Temas como o salário mínimo, taxas de juros, antes resultado de simples vontade política segundo o Partido dos Trabalhadores, agora representam assuntos delicados e complexos que dependem de questões “técnicas” e que estão fora do alcance da vontade política do Presidente da República. O Presidente da República não tem mais condições de impor sua vontade política nem de fazer valer seus compromissos com a população brasileira assumidos na época da campanha eleitoral. Agora a história é outra. PT de oposição é um; PT de governo é outro. O brasileiro continua como nos versos de Chico Buarque: esperando, esperando, esperando.

Este Governo, que já está aí, como disse, há quase dois anos, continua falando em esperança, continua falando em futuro, mas há que se perguntar, Senadora Heloísa Helena, que futuro se pretende com essa política que aí está. O povo se cansou de dar tempo, o povo se cansou de esperar. O povo quer e, mais do que isso, precisa de resultados desta administração. Afinal de contas, como diz a brincadeira popular, a esperança é a última que morre, mas morre também.

Apesar das constantes justificativas oficiais de que tudo o que está ocorrendo, todo o mal, é culpa ainda dos governos anteriores ou de circunstâncias externas incontornáveis, a verdade é que a paciência vai se esgotando, e as últimas eleições estão demonstrando isso. O Partido dos Trabalhadores e Governo Federal perderam o seu principal apoio, que se dava na classe média dos centros urbanos, com derrotas em São Paulo, Porto Alegre e em tantas outras cidades dos Estados brasileiros.

Enquanto o povo espera, tenta entender o porquê de tantas contradições entre o discurso do passado e o comportamento do atual Governo. Antes, tudo parecia muito simples, bastava vontade política. Se houvesse vontade política, tudo seria transformado.

Pois bem, estamos assistindo hoje a um discurso envelhecido, incoerente, que cada dia frustra mais o povo brasileiro. E, o que é pior: sem nenhuma explicação, sem um pedido de desculpas aos eleitores que tanto confiaram naquelas promessas de que bastaria vontade política para resolver todos os males do nosso País.

Vejam bem, Srªs e Srs. Senadores, qualquer partido que se preze, para mudar tão rapidamente e tão drasticamente, como se fosse da água para o vinho, teria que fazer um congresso aberto para a rediscussão de posições. É possível mudar, a população entende que um partido ou um político podem mudar de posição - é dado a ele esse direito. Porém, há que se fazer isso publicamente, perante seus eleitores e, principalmente, perante seus correligionárias, seus membros. O PT não fez nenhuma revisão histórica, usando o mecanismo adequado: uma convenção nacional para revisar a sua posição.

A suposta “vontade política” não resolveu os problemas, que agora estão ainda mais agravados pela inoperância de um Governo que é hesitante e, em grande medida, é incompetente para resolver os males do nosso País. A verdade é que o PT vive hoje num mar de contradições. Contradições que paralisam o Governo, paralisam o País e estão confundindo o povo brasileiro, que não sabe em que PT acreditar, se naquele da campanha eleitoral ou nesse que está no Governo. Assumir ou não que é ainda mais neoliberal que o Governo anterior, essa é a grande questão. Eles não assumem, mas praticam uma política neoliberal, que é uma política mais drástica do que a política do Governo anterior.

Vejamos o superávit fiscal - é um grande exemplo -, que foi duramente criticado no passado pelo atual Presidente da República e hoje é idolatrado, é um ícone para o Ministro da Fazenda Antônio Palocci, que só faz aumentar o superávit primário. Vamos chegar a um ponto em que não vamos nem ter déficit: o superávit primário será tão grande, que vamos conseguir pagar os juros diante da compressão dos investimentos que o Governo Federal tem feito - compressão de investimentos essenciais à vida da população brasileira.

Naquela época, quando era oposição, o próprio Antônio Palocci subia a rampa do Palácio com um carrinho de compras para protestar contra o baixo poder aquisitivo do salário mínimo, mas hoje não o prioriza: prioriza, sim, o superávit fiscal, basta ver o que aconteceu no ano passado com o salário mínimo - e não será diferente com o salário mínimo de 2005, pois já se prevê um aumento de apenas de 8,7%.

Ora, a população brasileira merece mais atenção, inclusive merece mais respeito e, pelo menos, um pedido de desculpas de quem prometeu mudar tantas coisas com vontade política e que, efetivamente, ao chegar ao Governo, não o fez.

O brasileiro já constatou que, em matéria de política econômica, o Brasil ainda continua vendo o mesmo filme. Voltamos a nos deparar com a antiga e temida situação: a política de elevação dos juros. É uma velha praga e sabemos de seus efeitos: juros altos, redução dos investimentos, economia paralisada, mais desemprego ou, no mínimo, adiamento da tão necessária criação de novos empregos.

Assistimos, ao longo deste ano, a uma breve reação da economia, lentamente, aumentando um pouco a criação de empregos e, conseqüentemente, diminuindo também um pouco o nível de desemprego. Mas logo que a inflação retoma com algum vigor, o Governo volta a fazer a política da alta de juros.

Provavelmente, o Copom, hoje, deve elevar em pelo menos 0,5% a taxa de juros. E essa política já vem há mais de três meses. Assim, voltamos a elevar os juros para matar o crescimento da economia e gerar menos empregos para o povo brasileiro.

A lógica que rege a elevação de juros é conhecida: diante da ameaça de aumento da inflação ou diante de desestabilização que ameace gravemente a economia, o Governo Federal ergue o tacape dos juros altos, golpeia a economia no cabeça e a faz novamente desmaiar. Será essa a única alternativa de que dispomos? Será que, para conter a inflação, o Brasil precisa de uma das maiores taxas de juros do planeta?

Cito um simples exemplo: segundo pesquisa do Procon de São Paulo, a taxa média de juros do empréstimo pessoal atingiu, em outubro, 83,5% ao ano. Não há economia que cresça de forma saudável com juros nesse nível.

Temos também um outro grave assunto. Na televisão, vi, hoje, os empresários brasileiros discutindo a carga tributária. Há, na economia, 62 tipos de impostos e taxas. O Ministro Antonio Palocci veio ao Senado Federal afirmar que não havia política de aumento de carga tributária. E dizíamos que todas as ações eram no sentido de aumentar a carga tributária. Agora, os números estão demonstrando e o Ministro reconhece que a carga tributária aumentou, depois de dois anos de Governo. E para onde vão os recursos provenientes do aumento da carga tributária? Para investimentos em saúde? Para investimentos em educação? Para investimentos em melhoria de nossas estradas? Não. O aumento da carga tributária - com o recorde batido a cada dia na arrecadação de tributos federais - vai para o superávit primário, para o pagamento de juros, para satisfazer o FMI.

Eu gostaria de dar um aparte ao nobre Senador Heráclito Fortes.

O Sr. Heráclito Fortes (PFL - PI) - Senador César Borges, permita V. Exª que eu cometa a petulância de discordar de uma afirmativa sua, qual seja, a de que o PT não fez uma revisão histórica de suas posições. Entendo que fez, sim, e o mal está aí: jogou no lixo tudo o que pregou durante 20 anos. O problema do PT é exatamente esse. Vejo aqui, por exemplo, a cara de guerrilheiras e guerrilheiros que usavam roupas próprias da luta e, hoje, vêm ao plenário com roupas de grife. Que esqueceram tudo aquilo que pregaram! Fico imaginando como é que essas pessoas enfrentam a Igreja, uma vez que a colocaram na rua para apoiar o rompimento com a Alça. E, hoje, o Presidente da República é um dos cabos eleitorais da Alca pelo mundo afora. Fico imaginando como é que esse pessoal enfrenta os militantes espontâneos, que acreditavam que o Brasil não ia para frente porque tudo o que recebíamos era para pagar o FMI - o americano, o famigerado americano, nos termos deles. Mas o Governo, em dois anos - não completados ainda -, já pagou ao FMI, proporcionalmente, o mesmo que todos os governos passados. O PT mudou, e muito. Senadora Heloísa Helena, foi com grande rapidez, por exemplo, que trocaram a Casa Colombo, com ternos a partir de R$100, pela loja do Ricardo Almeida; o Hotel Torre, que está caindo aos pedaços, pelo Blue Tree, onde pessoas importantes tomam uísque de selo preto com coca-cola, coisa de muito mau gosto! O PT mudou muito, e agora começam a aparecer as vítimas. A queda do Sr. Casseb representa, no meu modo de entender, Senadora Heloísa Helena, uma nova fase do PT. Estava dizendo agora para o Senador Efraim Morais: destampou-se a chaleira do ressentimento. É como a história em que você joga um cesto de pedras para cima e se esquece de sair de baixo: elas ainda estão caindo. V. Exª sabe o que motivou a crise do Casseb? Criou-se a CPI do Banestado, cujo objetivo inicial era uma questão de política localizada no sul do País, e aí descobriram que todo brasileiro que tinha conta CC-5 no exterior era bandido, lavador de dinheiro, ladrão. Isso foi dito. Meses depois, descobriram que o Sr. Casseb, quando empresário, gostava da CC-5, ele e um colega dele do Banco Central. E ele foi para a vala comum da própria calúnia que o PT criou contra o empresariado brasileiro. Senador César Borges e Senadora Heloísa Helena, o homem público brasileiro recorre sucessivamente ao mesmo erro: ele confunde crédito de confiança com popularidade. O que o Presidente Lula recebeu da Nação brasileira, e de uma maneira consagradora, foi um crédito de confiança. Mas transformar esse crédito de confiança em popularidade, só com o exercício do mandato. Só que mandato de presidente ou o exercício de qualquer cargo executivo é uma corrida de resistência e não de velocidade. Esse filme, Senadora Heloísa Helena, V. Exª, que é de Alagoas e conhece muito bem, começa a se repetir: o Presidente começa a ser vaiado. Com o Collor foi assim. E já está dizendo aqui, maldosamente, o Senador Efraim Morais, que V. Exª, Senadora Heloísa Helena, estava por trás das vaias de Alagoas. Discordo, lanço aqui o meu protesto, mas é um fato histórico. Senador César Borges, vamos ver, a partir de agora, um fato que foi antecipado no País, pois defeito de Governo só começa a aparecer quando se dobra o Cabo da Boa Esperança, ou seja, a metade do mandato - que será em 1º de janeiro. Mas as coisas estão começando a acontecer: as brigas internas, em desrespeito inclusive à autoridade do Presidente da República, problemas com o Presidente do BNDES, a queda do Casseb - que foi resultado de fogo amigo. Aliás, para finalizar, não existe uma crise no Governo atual que não tenha sido provocada pela ambição de alguns militantes do Partido, que querem governar São Paulo daqui a dois anos e, com isso, colocaram de lado a sucessão de D. Marta, a privacidade do próprio Presidente da República e priorizaram São Paulo. Só que São Paulo é grande demais e é quem tem o poder hoje. Assim, todos são candidatos a Governador do Estado. Durma-se com um barulho desses! Esse Governo, Senadora e brilhante Líder Ideli Salvatti, vai ser comido pelo fogo amigo, é só esperar para ver.

O SR. CÉSAR BORGES (PFL - BA) - Agradeço o aparte, Senador Heráclito Fortes. Não discordamos. Concordamos plenamente que o PT mudou muito: o PT de Oposição e o PT do Governo são inteiramente diferentes. Apenas o que eu disse é que o PT não fez um congresso nacional público para mostrar sua mudança de posição; que, quando cobrado pelo que não fez, diz que fez uma carta ao povo brasileiro durante o período eleitoral, que ficou escondida e poucos viram, e continuou fazendo aquele discurso populista, de que a esperança venceria o medo. Mas que o PT mudou, mudou. Cobro porque ele não fez isso de forma transparente, clara, honesta, para a população brasileira, e, sim, escamoteada, pregando que ainda é um Partido que olha para o social, o que não é verdade. O compromisso do PT é com o grande capital nacional e internacional, mas ele não tem coragem de assumir essa posição neoliberal. É neoliberal. Sou liberal e vou dizer que sou; não sou neoliberal. Penso que devemos fazer uma economia de mercado, com intervenção do Governo sempre que necessário. Isso vamos sempre defender. Mas o PT, não. O PT tinha um viés socialista, centralizador, voltado para o social, e não pratica essa política no governo. Assim, o PT traiu os seus próprios ideais e seus próprios princípios, e não fez isso de forma aberta, transparente para a população brasileira.

Como eu dizia, vivemos hoje a praga do aumento da carga tributária que, é bem verdade, não vem apenas deste Governo. Ela já vem do Governo passado, mas o PT aprofundou esse problema antes de assumir o poder. Isso porque, no período de transição, solicitou ao Governo anterior que mantivesse a alíquota de 27,5% do Imposto de Renda, que mantivesse congelados os descontos do Imposto de Renda que tanto atingem a população brasileira. Atualmente no Governo, criou a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, manteve a CPMF no limite máximo de 0,38, dobrou o PIS, dobrou a Cofins.

É por isso que hoje o Governo está a comemorar os recordes de aumento de arrecadação. Mas não são aumentos de arrecadação por melhoria da economia e sim por aumento da carga tributária, que impede a retomada do crescimento econômico do País.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, a carga tributária dos primeiros semestres de 2004 atingiu a marca recorde de 38,1% de tudo que se produz no País; ou seja, do Produto Interno Bruto. Isto é, 1, 2% a mais que no mesmo período de 2003. Portanto, há aumento de carga tributária.

Srªs e Srs. Senadores, apesar das várias advertências que muitos dos Srs. Senadores fizeram aqui - inclusive eu o fiz no ano passado, na presença do Sr. Ministro da Fazenda -, o Governo sempre fez questão de dizer que não tinha aumento de carga tributária, mas agora reconheceu, porque os números são insofismáveis.

Muitos pensam que esse crescimento de arrecadação pode aliviar a grave situação fiscal de Estados e Municípios. Esse é um outro problema, é um ledo engano. Quase 65% do aumento da carga tributária estão concentrados nos tributos federais, principalmente nos não compartilhados com Estados e Municípios, como é o caso da Cofins, cuja receita cresceu 21,4% do ano passado para este ano, em termos reais, nos primeiros nove meses de 2004. Nós aqui fomos contra o aumento da Cofins, feito por meio de medida provisória.

Isso mostra que, apesar de o Governo ter prometido caminhar no sentido exatamente oposto, continua o processo muito grave de destruição do pacto federativo. Isso significa que as receitas arrecadadas da população brasileira - principalmente no consumo e não na renda, o que seria correto, o aumento do Imposto de Renda - advêm do consumo. Por exemplo, num litro de gasolina, 53% são de impostos e tributos. Em todos os consumos, inclusive da cesta básica, há uma carga tributária elevada, mas não é distribuída de forma equânime entre Estados, Municípios e União. A cada dia mais, essas taxas e tributos estão se concentrando na mão do Governo Federal, da União. Hoje, Municípios e Estados estão próximos da falência. Poderá haver uma grave crise fiscal no País. Governadores e prefeitos, invariavelmente, dirigem-se a Brasília de pires na mão, mas sempre se deparam com a insensibilidade do Governo Federal em relação às parcerias na distribuição da carga tributária com Municípios e Estados.

O que temos hoje são prefeituras com pouca ou nenhuma capacidade de investimento, o que certamente traz reflexo negativo sobre a população carente, que mais depende dos serviços públicos.

Srª Presidente, não podemos deixar de mencionar também o caso do salário mínimo. Prometeu-se dobrar seu poder de compra em quatro anos, ou seja, dar um ganho real de 100%. A realidade, no entanto, é bem diferente do que foi vendido na campanha eleitoral. O ganho médio real do salário mínimo no Governo Lula é de apenas 1,2% ao ano, ou seja, quatro vezes menor que a média do Governo anterior - tão criticado -, que foi de 4,7% ao ano e que muitos nesta Casa costumam chamar de herança maldita.

Ora, se o Governo do PT não consegue se igualar à marca do aumento do poder aquisitivo real do salário mínimo do Governo anterior, o que podemos esperar de resultado ao final do seu período de quatro anos? Pergunto à querida Senadora e amiga, Ideli Salvatti, Líder do PT nesta Casa, que aumento real o Governo dará ao salário mínimo? Será que o próximo Governo que assumirá o Brasil terá, em qualquer aspecto, alguma melhoria? Será que o PT poderá dizer que, ao final do seu mandato, deixará alguma melhoria real no salário mínimo, na distribuição de renda ou na melhoria das desigualdades sociais e regionais? O Presidente Lula prometeu, solenemente, que recriaria a Sudene. Até hoje ela não foi recriada e esse assunto já foi esquecido.

A verdade é que, infelizmente, não temos grandes esperanças de que, ao final deste Governo, haja ganhos reais para o trabalhador brasileiro. O ganho médio real do salário mínimo é irrisório, é risível. E parece-me que essa política será permanente neste Governo.

Cumprimos com o nosso papel no Senado Federal. Fui Relator do salário mínimo de R$275,00, mas o Governo, utilizando-se da sua larga base na Câmara dos Deputados, retornou o salário mínimo aos míseros R$260,00 que queria aprovar, respaldado no discurso da responsabilidade fiscal que, quando era Oposição, tanto combateu. Naquela época, chegou a propor - eu diria que de forma até irresponsável - a redução da taxa de juros como fonte de recursos para o reajuste do salário mínimo. E, hoje, não pratica nada do que pregava.

Em relação aos investimentos, o imobilismo do Governo se repete. O Governo não investe nem consegue atrair os investimentos necessários à geração de empregos e à realização de obras. Enfim, este Governo não se dedica a trazer o desenvolvimento de volta à pauta nacional.

Dizem que a solução dos investimentos será a PPP - parceria público-privada. Ora, sabemos que a parceira público-privada é importante, mas será restrita a determinadas regiões do País, a determinados setores de investimentos. Os setores sociais necessitarão de investimentos da área governamental, como saúde e, principalmente, educação. Precisávamos avançar na pré-escola, no financiamento do ensino médio, como desejava o ilustre Senador Cristovam Buarque, que, por defender essa idéia, não é mais Ministro da Educação do PT.

Hoje, o Ministro da Educação, Tarso Genro, volta-se apenas ao ensino universitário, esquecendo-se de que é importantíssima a pré-escola, o ensino fundamental e o ensino médio, para aumentar o número de anos do nosso trabalhador e do povo brasileiro nas escolas.

Em relação a esses investimentos, eu diria que as estradas, hoje, invariavelmente, estão esburacadas; os portos, sobrecarregados; as hidrovias e ferrovias, paralisadas. Esse é o quadro da infra-estrutura brasileira, e tudo isso representa o custo Brasil, que vai impedindo a retomada do crescimento econômico. Um custo que reduz essa competitividade internacional e prejudica, sem sombra de dúvida, o crescimento do País.

Vejam, Srªs e Srs. Senadores, que, pela primeira vez, o BNDES não cumprirá uma meta de concessão de créditos. Segundo o próprio Presidente do BNDES, a meta de aplicação de recursos, este ano, está muito aquém do que foi previsto. Ela não estava chegando nem sequer a 60% do previsto para ser aplicada até este momento. Então, teremos recursos fundamentais para o desenvolvimento do País, como o do Fundo de Amparo ao Trabalhador, que não serão aplicados na retomada do crescimento econômico, na nossa economia, para gerar emprego e renda.

Em relação aos investimentos estrangeiros, a situação não é diferente. Os números do Banco Central mostram investimentos estrangeiros de U$12 bilhões até o mês de setembro. Um número que, a princípio, parece bom, mas que está inflado por uma operação extraordinária de quase R$5 bilhões, referente à troca de ações da empresa AmBev, o que nos leva então a um número bastante medíocre, senão a um número inaceitável para um País do porte do Brasil, de apenas US$7,4 bilhões de investimentos estrangeiros. Ou seja, o País perde também a atratividade para investimentos externos.

Não é à toa que o Brasil despencou várias posições entre os países que constituem os melhores destinos para investimentos, segundo o ranking elaborado pela consultoria norte-americana AT Kearney. Saímos da 9ª posição, em 2003, e passamos para a 17ª, em 2004.

Srª Presidente, é desejo de todos os brasileiros que o Brasil retorne imediatamente ao caminho da prosperidade. O Brasil precisa inaugurar um novo tempo, em que os brasileiros possam efetivamente viver com mais paz, mais alegria e, principalmente, com mais dignidade, para que os filhos da pobreza da Senadora Heloísa Helena vivam com mais dignidade. Para isso, são necessárias políticas consistentes de redistribuição de renda nas áreas da educação, da saúde e nos setores sociais. O que este Governo concede é simplesmente uma “bolsa-esmola”, e ele acredita que isso resolve o problema da pobreza brasileira.

O Brasil precisa inaugurar esse novo tempo. Não adianta gastar com campanhas publicitárias para dizer que “fulano é brasileiro e, por isso, não desiste nunca”. Casos como aqueles citados na propaganda são exceções. O brasileiro comum, o cidadão brasileiro tenta não desistir nunca, mas encontra decepção atrás de decepção. Ele não recebe incentivo, ele se depara com a incompetência de um governo que deveria servir a ele de exemplo, na ascensão de um homem comum ao poder, como foi o caso do Presidente Lula. Ao contrário, a sensação que se tem do povo nas ruas é: “Não adianta fazer nada, ele veio do povo, mas é como os outros. Não resolve os nossos problemas. Está preocupado com o novo avião, comprado para as viagens da Presidência da República”.

Para resolver os problemas do povo e não frustrar ainda mais as suas expectativas, é preciso que o Governo enfrente suas contradições e diga realmente a que veio. Ao contrário do que esperava o povo brasileiro, o que estamos presenciando é uma inquietante deterioração das condições de vida do nosso País. Recentemente, foram divulgados números de redução da classe média e do aumento da classe pobre do nosso País.

Parafraseando a publicidade, o melhor do Brasil, sem dúvida, é o brasileiro, mas o Governo precisa ajudar o brasileiro a se sentir, efetivamente, o melhor dentro do Brasil.

Agradeço pela sua compreensão. Sei que V. Exª gostou deste discurso e, por isso, teve tolerância em relação ao tempo.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 18/11/2004 - Página 36667