Discurso durante a 157ª Sessão Deliberativa Extraordinária, no Senado Federal

Homenagem de pesar pelo falecimento do Presidente da Autoridade Nacional Palestina, Yasser Arafat.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • Homenagem de pesar pelo falecimento do Presidente da Autoridade Nacional Palestina, Yasser Arafat.
Publicação
Publicação no DSF de 12/11/2004 - Página 36121
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, YASSER ARAFAT, LIDER, ORGANIZAÇÃO DE LIBERTAÇÃO DA PALESTINA (OLP), ELOGIO, EMPENHO, OBTENÇÃO, PAZ, ORIENTE MEDIO.

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Senador Eduardo Siqueira Campos, Srªs e Srs. Senadores, juntamente com o Senador Pedro Simon, com as Senadoras Ideli Salvatti e Heloísa Helena, com o Senador Tião Viana e também em nome da Liderança do Partido dos Trabalhadores e do Bloco - a Senadora Ideli Salvatti já se pronunciou hoje -, gostaríamos de inserir esse voto de pesar pelo falecimento do líder palestino, Presidente da Autoridade Palestina, Yasser Arafat, falecido hoje na França, aos 75 anos. Solicitamos também que essa manifestação seja encaminhada ao Embaixador da Autoridade Palestina no Brasil e às autoridades palestinas.

            Nascido em 1929, com o nome de Mohammed Abdel-Raouf Arafat Al Qudwa Al Husseini, Arafat foi casado com Suha, com quem teve uma filha Zahwa, hoje com 9 anos de idade.

            Arafat participou da resistência palestina à criação de Israel em 1948. Tornou-se o principal líder dos palestinos na luta pela criação de seu Estado independente, tanto no campo de batalha quanto nas negociações.

            Exilado no Kuait, em 1959, fundou o Fatah, movimento nacionalista que se tornaria nos anos 60 o núcleo principal da Organização para a Libertação da Palestina, a OLP.

            Sua autoridade permaneceu intacta durante os anos 60 e 70, mesmo quando foi criticado por segmentos da comunidade internacional por comandar ações de resistência em favor da criação do Estado da Palestina.

            Ao fim da guerra árabe-israelense, de 1967, Arafat reapareceu após dois anos na clandestinidade usando o nome de Abu Ammar, pelo qual é chamado até hoje pelos palestinos.

            Instalou-se na Jordânia, país com grande população palestina, comandando milícias que realizavam ações contra Israel, atentados contra alvos israelenses ao redor do mundo. As ações deram grande destaque à causa palestina. Em 1970, entrou em choque com o Rei Hussein, da Jordânia, gerando os sangrentos combates do “setembro negro”. Ele e a OLP acabaram expulsos do país. Estabeleceram-se no Líbano, usado como plataforma para ataques contra o norte israelense. Israel ocupou o país em 1982, e Arafat e a OLP novamente foram expulsos para a Tunísia.

            Arafat valeu-se de estratégias muitas vezes discutíveis para consolidar a sua liderança no Movimento Palestino. Em nome de sua causa, com freqüência, fez uso de intimidações para garantir que o poder permanecesse em suas mãos. Uma de suas decisões mais controvertidas ocorreu no começo dos anos 90, quando apoiou Saddan Hussein na Guerra do Golfo, em 1991. Essa decisão privou a OLP de grande parte de suas fontes de renda, já que a entidade era financiada por governos de países árabes que se opuseram ao expansionismo de Saddan.

            Com a derrota do Iraque, a OLP ficou sem aliados e sem dinheiro, e Arafat foi obrigado a fechar acordos com Israel sob termos nem sempre considerados aceitáveis por seus comandados. Tanto ele como o Premier israelense Yitzhak Rabin e o Ministro do Exterior receberam o Prêmio Nobel da Paz, pelos acordos de Oslo, de 1993. Arafat retornou à Faixa de Gaza no ano seguinte.

            Como Presidente da Autoridade Nacional Palestina teve dificuldades para definir seu papel e manter tanto israelenses quanto palestinos comprometidos com o que ele chamou de “paz dos bravos”.

            Anos depois, um plano oferecido pelo então Primeiro-Ministro de Israel, Ehud Barak, foi o mais próximo que palestinos e israelenses chegaram de um acordo definitivo de paz. Mas, por causa da falta de garantia de retorno de refugiados palestinos a Israel e de uma solução negociada para o Estado de Jerusalém, Arafat recusou os termos do acordo.

            Em meados de 2000, fracassou a tentativa de assinatura de um acordo final de paz com Israel. Seguiu-se a Intifada, a revolta palestina. Desgastado com o desastroso saldo da Intifada, Arafat vinha perdendo popularidade, até Israel aumentar a pressão sobre ele. O que um dia havia sido um processo de paz transformou-se, praticamente, numa guerra aberta, com uma série de atentados à bomba contra civis israelenses, seguidos de incursões do Exército de Israel em áreas palestinas.

            Desde setembro de 2000, o conflito gerado com a nova Intifada já deixou quase 3.000 palestinos e quase 800 israelenses mortos. O conflito levou o Governo israelense a confinar Arafat em seu escritório em Ramallah, na Cisjordânia, onde ele viveu por quase três anos.

            A maior ameaça recente ao seu controle total sobre os palestinos ocorreu em maio de 2003, com a pressão americana para que a reforma da Autoridade Nacional Palestina e a indicação de Mahmoud Abbas, conhecido como Abu Mazen, colegas dos tempos de exílio da OLP, para o cargo de Primeiro-Ministro. Mazen era apoiado pelos americanos, que se recusavam a dialogar com Arafat. Arafat não aceitava a elevação de Mazen a Primeiro-Ministro e entrou em confronto com ele sobre a entrega do controle de serviço de segurança. Mazen estaria querendo aumentar a repressão aos grupos militantes com o Hamas e o Jihad Islâmico. Arafat acabou vencendo, e Mazen renunciou, sendo substituído por Ahmed Korei.

            Com isso, a idéia americana de um assessor para Arafat em vida perdeu força. A própria relação de Arafat com Korei teve seus momentos difíceis este ano, por causa do controle das forças de segurança palestina. Korei pediu demissão do cargo de primeiro-ministro duas vezes - uma crise sem precedentes na autoridade palestina.

            Um acordo entre Arafat e Korei, em que este obteve controle de parte das forças palestinas, pôs um fim à crise.

            Tive a oportunidade de dialogar pessoalmente com o Presidente Yasser Arafat em três ocasiões. A primeira por ocasião de sua visita a Brasília na segunda metade dos anos 90, quando dialogou com inúmeros parlamentares.

            A segunda ocorreu por iniciativa do rabino Henry Sobel em junho de 1998, quando em companhia da então Deputada Federal, hoje Prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, fizemos uma visita a Israel e à Palestina. Tivemos um diálogo com o ex-Primeiro-Ministro Shimon Perez e a viúva de Yitzhak Rabin e com Arafat.

            O terceiro encontro foi em julho do ano passado, ocasião em que lhe entreguei uma mensagem do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o seguinte teor:

Apresento-lhe meus mais cordiais cumprimentos e votos de boa saúde e felicidade. Por intermédio do Presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal, Eduardo Suplicy, que participa do Seminário para Parlamentares da América Latina organizado pelo Ministério das Relações Exteriores de Israel, desejo transmitir-lhe sincera e calorosa mensagem de amizade do povo brasileiro.

O Brasil acompanha com atenção e esperança os esforços de paz que vem sendo empreendidos pela Autoridade Nacional da Palestina e pelo Governo de Israel com vistas à obtenção de uma paz justa e duradoura na região. Exortamos palestinos e israelenses a perseverarem na busca do fim do conflito e na criação de condições para que se estabeleça um Estado Palestino independente que conviva lado a lado com o Estado de Israel, em harmonia e segurança dentro de fronteiras internacionalmente reconhecidas.

O Governo brasileiro acredita que o exemplo de convivência pacífica, em nosso País, entre os brasileiros de origem árabe e judaica indica o caminho para o estabelecimento de uma era de tolerância e entendimento no Oriente Médio que beneficie todos os povos da região e propicie a intensificação de suas relações com todos os povos amigos.

            Nessa ocasião, Yasser Arafat encontrava-se relativamente bem de saúde. Recebeu-me com bom humor e muita disposição. Agradeceu ao Presidente Lula a atenção de ter-lhe enviado a carta que citei.

            Quando eu lhe perguntei como via os esforços de paz e se acreditava que havia possibilidade desse esforço mais recente ser bem-sucedido, disse que dependeria muito do controle, da vigilância e do acompanhamento por parte do denominado Quarteto, composto pelo Governo dos Estados Unidos, pela União Européia, pelo governo da Rússia e pelas Nações Unidas. Disse que era preciso acompanhar o processo passo a passo.

            Yasser Arafat então sugeriu que o Presidente Lula pudesse passar o Natal em Belém, o que daria a ele muita alegria.

(O Sr. Presidente faz soar a campainha)

            O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT - SP) - Concluo, Sr. Presidente. Espero que a memória do Presidente Yasser Arafat possa significar um grande empenho de todo o povo palestino, para que se estabeleça a paz no Oriente Médio e para a superação dos obstáculos entre Israel e a Palestina, com o reconhecimento de ambos os povos em termos os mais justos de terem o direito à sua nação.

            Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/11/2004 - Página 36121